O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

20 de outubro de 2010

Padre Zezinho - ENTRE A GRÁVIDA E O FETO

Pe. José Fernandes de Oliveira (Padre Zezinho)
Entre os humanos, grávida é mãe que ainda não deu à luz e feto é filha ou filho que se desenvolve no ventre da mãe. Trata-se de concepção, gestação e geração. É o pequeno ser humano concebido, gestado e gerado; ou interrompido...

Quando uma sociedade discute a regulamentação ou a proibição do aborto, sem rodeios e eufemismos discute a vida ou a morte do feto, os pais como protagonistas, os médicos e o Estado como cúmplices ou auxiliares, os crentes ou os não crentes como conselheiros. Aí a raiz do magno conflito entre mãe e feto. Deve a mulher ir até o fim e dar à luz o feto traz no ventre? Não pode escolher? Pode-se eleger um candidato que é a favor da mãe e, pelo bem da mãe, em algumas circunstâncias admite provocar a morte do filho dela? Pode-se eleger alguém que, entre a mãe indefesa e em risco de vida e o feto sadio, mas também indefeso, escolheria o feto?

O debate vai longe porque, como não poderia ser diferente, mexe com o conceito de liberdade, pessoa, vida e morte. Alguém pede uma lei que favorece a mulher; alguém luta contra esta lei, porque abrirá espaço para a mortandade financiada de milhões de fetos indesejados. Aparecerem os amenizadores a dizer que se trata de apenas alguns casos. Rebatem os éticos que, em questão de vida e morte, não existem isto de "apenas alguns"!

Declarar-se contra o aborto e garantir que jamais assinará uma lei do congresso em favor da interrupção da gravidez é ir contra o segmento que não ver o feto como filho ou como pessoa em formação. E há muitos que assim pensam. Para eles o dono da vida é o casal. Deus, ou não existe ou não se mete nisso! Declarar-se a favor da mãe que não quer ou não pode ter o filho agora e por questão de saúde permitir que ela aborte seu filho com assistência do Estado é bater de frente contra milhões de crentes das mais diversas religiões que afirmam que o dono da vida é Deus: o casal é o guardião. O tema vida resvala para o conceito de criação e criador e acaba em debate crentes x ateus. Divide a sociedade e assume conotação ideológica e, por isso, política.

O aborto legalizado favorece alguém e prejudica alguém. Os que pensam que o feto ainda não é alguém tomam a defesa da mulher que o concebeu e quer interromper sua macha para a luz. Os que o consideram alguém em formação tomam sua defesa: está vivo e tem o direito de nascer.

Depois aparecem os adjetivos: retrógrado, fanático, ateu, materialista, conservador, direitista, progressista... Tudo por causa da mulher que não deseja hospedar aquela vida ou daquela vida que não pode ser descartada nem por ela nem por ordem do juiz.

No meio do debate virão as manipulações de cunho político e religioso e as ofensas. Há quem discuta o tema com maturidade e há os que descambam para os gritos, as altercações e atos de violência. O Brasil caminha nesta direção. Se o debate não for enfrentado de maneira serena fará mais vítimas do que faz agora. O aborto já existe. Regulamentá-lo é admitir que prossiga, mas de maneira mais higiênica. Condená-lo é manter a clandestinidade. Cabe aos crentes motivar os fiéis a não matar seus fetos e cabe aos não crentes admitir que ao tomar a defesa da mulher estão aceitando a morte de uma vida humana, por menor que seja o seu tamanho. Acontece que o tamanho da vítima ao invés de diminuir, às vezes agrava o crime, ainda que não se chame o crime de crime! Só que tem que é! Alguém morreu e alguém matou!

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