O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

5 de agosto de 2011

Lídia, por uma outra economia

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Mais um excelente artigo  do amigo Julio Lázaro Torma de Pelostas/RS, e que vem  nos mostrar o grande abismo que existe entre o verdadeiro cristianismo dos três primeiros séculos e o que se tornou a igreja católica.
O texto salienta muito mais do que o papel da mulher na proposta da construção do Reino, objetivo inicial e principal de Jesus e dos apóstolos,  deixa claro a presença das diaconisas e um tipo de "igreja" que se reunia nas casas como indiscutivelmente S. Lucas deixa registrado no início do livro dos Atos dos Apóstolos..
Quando vejo gente jovem estudando e debatendo essa perspectiva me encho de alegria e esperança de que  o caminho seja retomado e voltemos algum dia à proposta do mestre e que os cristãos voltem a ser distinguidos pelo amor e pela solidariedade. E Não pela tradição, a pompa e a rigidez.
Parabéns Julio!
Zeh


                                       Lídia, por uma outra economia
                                                              Júlio Lázaro Torma
                                                
                                     "Passa a Macedônia,vem em nosso auxilio" ( At 16,9)   
                                                                                                 
   Olhando a história do cristianismo,não podemos deixar de lado o importante papel desempenhado pelas mulheres,principalmente no primeiro século.Onde tiveram papeis importantes como missionárias e organizadoras de comunidades.
  O livro dos Atos dos Apóstolos,nos fala de uma mulher que teve papel significativo para a expansão do movimento de Jesus,além do mundo judaico-palestino,da Ásia e das comunidades judaicas,que viviam em outras localidades do império romano,como em Roma. A comunidade cristã estava inserida no mundo judaico e seguia a linha de Tiago Maior, de um cristianismo judaizante ( At15;Gl2,1-14).
  Na segunda viagem missionária Paulo, Silas e Lucas, saem da Galácia (Turquia),província da Ásia Menor, pelo ano 49-50 d.C, chegam a cidade de Filipos, importante cidade da Macedônia. Ao chegar em Filipos,procuram como de costume a comunidade judaica e depois os gentios (pagãos), na cidade não havia sinagoga e a oração era feita as margens do rio.
   Eles conversam com algumas mulheres entre elas havia uma mulher de Tiatira ( Akissar); " Uma mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura"( At 16,11-15).
   Lídia era gentia (grega), que adorava o Deus verdadeiro, pagã que simpatizava com a fé dos judeus. Na cidade de Tiatira, praticavam a arte da tintura roxa, onde exportavam grandes quantidades de gênero escarlate. Lídia tinha uma fábrica em casa.
  No mundo greco-romano,as mulheres podiam desempenhar as funções de chefe de familia, isto é, elas podem comprar ou alugar,parreiras,cassas,pomares,olivais e trabalhar por conta própria ou direto na fábrica artesanal.Isso não discutiu com a proposta do cristianismo-judaismo ou Prov 31;10-31.Essas atividades permitem que as pessoas exercem o seu potencial desenvolvimento de forma sistemática.
   Na Bíblia a cassa era o centro de ensino,a escola era o  centro religioso.Na casa da mulher foi um lugar de vida,onde se prática a solidariedade e a recuperação da memória.
   As comunidades cristãs nascem nas casas em oposição aos templos oficiais de Jerusalém ou dos deuses oficiais do império.Na casa  se prática na mesa, no culto doméstico a solidariedade.
  Lídia era vendedora de púrpura (porphyra),não sabemos se era viúva ou mãe solteira.Alguns estudiosos falam que era rica,empresária,morava em casa grande,porque hospedou Paulo.
  Poderia ser pobre e o seu trabalho sustentava a casa,a familia,como muitos artesãos.Os pobres também gostam de receber e hospedar visitas.A familia de Lídia e a comunidade dos Filipenses é a primeira comunidade cristã da Europa.
  Ela  é a responsavel pela nascente comunidade,exercendo o papel de coordenadora da comunidade que se reúne em seu lar.Em Lídia e a comunidade que se reúne  em seu lar,o movimento de Jesus deixa o mundo semita e se torna universal.
   Ao olhar o protagonismo de Lídia nos remete,as mulheres de nossas comunidades,moradoras de bairros da periferia ou das áreas rurais, que constroem alternativas, ao sistema econômico,que as exclui.Podemos ver de forma individual,através de uma economia doméstica( ambulantes ou comércio familiar),através dos grupos de mulheres em nossas comunidades.
  Os empreendimentos de economia popular solidária, que é sua maioria constituído por mulheres,que administram e trabalham em conjunto.Onde elas decidem o que vão comprar,produzir,vender,repartir os lucros da produção de forma igualitária.
  Participam de cursos de formação profissional e pessoal.Elas são em sua maioria moradoras do mesmo local," chefes de familia"  ou "ajudam os esposos", nos grupos de amigas,elas partilham os sonhos,alegrias,tristezas de cada dia.
  Ao mesmo tempo em que mostram a sua forma de organização, de suprir as suas necessidades.Ganham o respeito de seus familiares e apreendem a viver, a solidariedade,constroem novos valores humanos e ajudam no desenvolvimento econômico das localidades em que vivem,com pouca tecnologia e muita criatividade.
  Vemos assim um projeto de produção doméstica que vai desde o local,o micro, conquista o macro,gerenciada por uma forma alternativa de organização produtiva e de atividade de trabalho,que dá origem a uma surpreendente diversidade de estratégia de sobrevivência.
   Ao resgatar o papel de Lídia nas nossas comunidades,devemos, resgatar e valorizar o protagonismo das mulheres que em meio aos seus afazeres domestico,chefes de familia,constroem,uma nova forma de economia popular solidária,não medem esforços em levar adiante e manter as nossas comunidades e serviços pastorais.
  Elas resistem e gesta uma nova economia, que seja de fato mais humana,igualitária,onde todos posam de fato viver com dignidade.
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                      Referencia bibliografica
 Bíblia Sagrada: ed. Ave Maria, São Paulo, 1993
 Aida Soto B; Lídia, a vendedora de púrpura, uma alternativa doméstica, in Economia: Solidariedad y Cuidad. Rev, RIBLA, Nº 51
Richard, Pablo: O movimento de Jesus depois da ressurreição. Ed Paulinas, São Paulo, 1999


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