O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

17 de agosto de 2012

TAIZÉ - Sete anos que São Roger fundador da Comunidade de Taizé foi assassinado.


Hoje, completam-se  sete anos que o irmão Roger Shultz, fundador da Comunidade de Taizé, morria apunhalado por uma jovem romena na Igreja da Reconciliação, na pequena localidade francesa, berço do ecumenismo após a Segunda Guerra Mundial, e que hoje une milhares de jovens (e não jovens), de todo o mundo, em torno da mesma fé.
Tudo começou numa grande solidão. Em 1940, com 25 anos, o irmão Roger deixou a sua terra natal, na Suíça, para ir viver em França, o país de sua mãe.
No dia 20 de agosto de 1940, depois da derrota do exército francês e da ocupação de parte da França, pelo exército alemão, Roger Schultz se estabeleceu em Taizé (Borgonha).
 Há já vários anos, trazia dentro de si o chamamento para criar uma comunidade onde se concretizasse todos os dias a reconciliação entre cristãos, «onde a bondade do coração fosse vivida de forma muito concreta e onde o amor fosse o coração de tudo». Ele desejava que esta comunidade estivesse presente no meio do sofrimento daqueles tempos e foi assim que, em plena 2ª guerra mundial, se estabeleceu na pequena aldeia de Taizé, na Borgonha, a alguns quilómetros da linha de demarcação que dividia a França ao meio. Começou então a esconder refugiados (principalmente judeus), que sabiam que, quando fugiam da zona ocupada, podiam encontrar refúgio em sua casa.
Mais tarde juntaram-se-lhe alguns irmãos. Foi no dia de Páscoa de 1949 que os primeiros irmãos se comprometerem para toda a vida no celibato, na vida comunitária e numa grande simplicidade de vida.
No silêncio de um longo retiro, durante o Inverno de 1952-1953, o fundador da comunidade escreveu a Regra de Taizé, onde expressava para os seus irmãos «o essencial que permitira uma vida comunitária».
A partir dos anos 50, alguns irmãos foram viver para lugares desfavorecidos para ficarem mais perto daqueles que sofrem.
Desde os finais dos anos 50, o número de jovens que vem a Taizé cresceu sensivelmente. A partir de 1962, irmãos e jovens enviados por Taizé não cessaram de ir e vir dos países da Europa de Leste, com a maior discrição, para não comprometer as pessoas que estavam a ajudar.
Entre 1962 e 1969, o próprio irmão Roger visitou a maior parte dos países da Europa de Leste, por vezes para encontros de jovens, autorizados mas muito vigiados, outras vezes para simples visitas, sem permissão para falar em público («Calar-me-ei convosco», costumava dizer aos cristãos desses países).
Foi em 1966 que as irmãs de Santo André, comunidade católica internacional fundada há mais de 7 séculos, vieram habitar para a aldeia vizinha e começaram a assumir uma parte das tarefas do acolhimento. Mais recentemente, algumas irmãs ursulinas polacas vieram também dar a sua colaboração.
A comunidade de Taizé junta hoje uma centena de irmãos, católicos e de diversas origens evangélicas, vindos de mais de 25 países. Pela sua própria existência, ela é um sinal concreto de reconciliação entre cristãos divididos e povos separados.
Num dos seus últimos livros, intitulado «Deus só pode amar», o irmão Roger descrevia deste modo a sua caminhada ecuménica:
«Poderei recordar aqui que a minha avó materna descobriu intuitivamente uma espécie de chave para a vocação ecuménica e que me abriu uma via para a concretizar? Marcado pelo testemunho da sua vida, e ainda muito jovem, encontrei a minha própria identidade de cristão ao reconciliar em mim mesmo a fé das minhas origens com o mistério da fé católica, sem ruptura de comunhão com ninguém.»
Os irmãos não aceitam doações nem ofertas. Nem sequer aceitam para si mesmos as suas próprias heranças pessoais, mas oferecem-nas aos mais pobres. É pelo seu trabalho que ganham a vida e partilham com os outros.
Existem agora pequenas fraternidades em bairros desfavorecidos da Ásia, da África e da América do Sul e do Norte. Os irmãos tentam partilhar as condições de vida daqueles que vivem à sua volta, esforçando-se por serem uma presença de amor junto dos mais pobres, dos meninos de rua, dos prisioneiros, dos moribundos, dos que ficam feridos mesmo no mais profundo de si mesmos por rupturas de afeição, pelos abandonos humanos.
Hoje, vindos do mundo inteiro, muitos jovens encontram-se em Taizé, durante todas as semanas do ano, para encontros que podem juntar de um domingo ao domingo seguinte até seis mil pessoas, representando mais de 70 países. Com os anos, centenas de milhares de jovens passaram por Taizé, meditando sobre o tema «vida interior e solidariedade humana». Nas fontes da fé, procuram descobrir um sentido para a sua vida e preparam-se para assumir responsabilidades nos lugares onde vivem.
Também homens da Igreja se deslocam a Taizé; assim, a comunidade acolheu o papa João Paulo II, três arcebispos de Cantuária, metropolitas ortodoxos, catorze bispos luteranos suecos e numerosos pastores do mundo inteiro.
Para apoiar as gerações mais jovens, a comunidade de Taizé anima uma «peregrinação de confiança através da terra». Esta peregrinação não organiza os jovens num movimento centrado na comunidade, mas estimula-os a serem portadores de paz, de reconciliação e de confiança, nas suas cidades, universidades, nos seus locais de trabalho, nas suas paróquias, e isto em comunhão com todas as gerações. Como etapa desta «peregrinação de confiança através da terra», um encontro europeu de cinco dias reúne no fim de cada ano várias dezenas de milhares de jovens numa metrópole europeia, no Leste ou no Ocidente.
Por ocasião do encontro europeu, o irmão Roger publicava todos os anos uma «carta», traduzida em mais de cinquenta línguas, retomada e meditada depois durante todo o ano pelos jovens, em suas casas ou nos encontros em Taizé. O fundador de Taizé escreveu muitas vezes esta carta a partir de um lugar pobre onde ia viver durante algum tempo (Calcutá, Chile, Haiti, Etiópia, Filipinas, África do Sul...)
Hoje, no mundo inteiro, o nome de Taizé evoca paz, reconciliação, comunhão e a espera de uma Primavera da Igreja: «Quando a Igreja escuta, cura e reconcilia, ela torna-se naquilo que é no mais luminoso de si mesma: límpido reflexo de um amor» (irmão Roger).
Fontes:
oraetlabora.com.br  &  ihu. Unisinos.Unisinos.br

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