O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

27 de abril de 2013

Fora da igreja não há salvação ?

A necessidade da Igreja para a salvação

       Pe. Antônio Piber
O tema da necessidade da Igreja para a salvação impõe-se com urgência quando alguns usam o axioma “Extra Ecclesiamnullasalus”(escrevendo errado o latim e atribuindo-o, com equivoco, a Santo Agostinho) numa perspectiva excludente e negativa, o que é surpreendente, pois se compreendermos de fato que “fora da Igreja não há salvação”, cabe a pergunta: onde está a verdadeira Igreja que salvaria?Nos ortodoxos? Nos romanos? Nos Brasileiros? Nos Reformados? Se é um fato, como fica o “onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles” (Mt 18,20)?
E qual igreja é a tal que fora dela não há salvação? Já que são muitas as denominações (mesmo católicas), cada uma se arvorando a mais “única” e a mais “verdadeira”. Jesus disse que viriam alguns “falsos profetas” que diriam que “o Reino de Deus está aqui, o Reino de Deus está ali”, mas o que não compreendem, não querem perceber, na sua soberba e egoísmo, é que “o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,20-25).
Importa perguntar-nos se, de fato, compreendemos Jesus como pleno e suficiente Salvador, ou se continuamos buscando subterfúgios idolátricos para não O aceitarmos de fato? Importa também nos interrogarmos sobre a posição da cristandade em face do mundo que a rodeiae que serviço ela, e nós, como Seus ministros, queremos ou não prestar, se estamos no mundo imitando Jesus “como aquele que serve” (Lc 22,26) ou se queremos nos servir, condenando-nos nós mesmos ao inferno?
Este é um problema teológico que suscita um inquérito histórico positivo. Assim que, ao citarmos “extra Ecclesiamnullasalus”, deveríamos ser levados a interrogar-nos sobre o seu sentido e contexto original, se não correremos o risco de que nos seja imputada a pecha da ignorância, da arrogância e da má vontade e de usarmos um dos Santos Padres, um dos Bispos Mártires da maior grandeza, para apenas tentar justificar nossos preconceitos anti-ecumênicos.
Pois bem, vamos a São Cipriano: esta fórmula surgiu no contexto das perseguições, das provações infligidas pelo Impero Romano aos cristãos e às cristãs, e ela se situa na perspectiva da parusia iminente. O contexto é o conflito entre a igreja do Norte da África e a igreja de Roma a proposito da validade dos Sacramentos administrados por hereges e cismáticos. São Cipriano defende firmemente a não validade destes Batismos e o dos “relapsos” e justifica sua posição, declarando que “fora da Igreja não há salvação”. Logo, como se poderia pôr o problema dum Batismo válido fora da Igreja? Essa atitude rigorista apoia-se, no entanto, a despeito da formula, sobre um elemento positivo: foi em Cristo que Deus deu a salvação ao mundo; Cristo prolongou esta salvação com a fundação da Igreja; a unidade e a comunhão da Igreja reunida em volta do Bispo é o instrumento da salvação, porque a comunidade dos cristãos é precisamente o local onde se comunicam o Pai, o Filho e o Espirito Santo. Fora dessa unidade, também constituída pela fides integra, não há lugar senão para a obra do anti-Cristo, que semeia a desunião, a discórdia, o ódio, a arrogância e o egoísmo, semeando assim a perdição e anunciando a proximidade do fim do mundo.
A reconstituição exata da origem histórica de um adagio patrístico não traz ainda a clareza desejada, se ao mesmo tempo não se alargar o inquéritoà sua base escriturística e a sua proclamação pelo Magistério. Não basta um dos Santos Padres ter falado, para que tal coisa se torne uma verdade de fé. No que diz respeito a Escritura, ela diz claramente da necessidade da fé e do Batismo, mas também da Vontade salvífica de Deus. O próprio São Paulo ensina que, embora a salvação nunca seja proposta independentemente da Igreja, os não batizados podem misteriosamente participar da redenção de Cristo. Além disso, saliento queexiste uma espécie de pertença anônima a Cristo, pois em Mateus 25,34-40 o Juiz diz àqueles que se encontram à Sua direita: “Vinde benditos de meu Pai, e recebei o reino que foi preparado para vós desde a fundação do mundo. Porque eu tive fome e vós me destes de comer”. A reação dos eleitos merece ser sublinhada: “Senhor, quando foi que o vimos com fome?”. Eles não se lembraram de ter encontrado o Cristo. Então o Rei responde: “Àquilo que fizestes aos mais humildes dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes”. Existe, pois, um encontro não explicito, de Cristo, que se produz no momento do encontro com o próximo”. A favor deste cristianismo “implícito”, citamos também o discurso de São Paulo no Aerópago “Venho vos anunciar aquele a quem honrais, sem o conhecerdes” (At 17,23).
A necessidade da igreja romana para a salvação foi formalmente declarada pelo papa Inocêncio III (cf. Denz. 423), mas alguém, em sadia consciência considera válido ou relevante o que este Papa declarou? Também o concilio do Latrão IV (cf. Dens. 430) e Bonifácio VIII, na bula Unam Sanctam, ondeafirmou que quem não se sujeitasse a ele, não iria para o Céu... O concílio de Florença (Denz 570b) afirma: “Nem os pagãos, nem também os judeus, os heréticos, os cismáticos possuirão a vida eterna”, no entanto, Jesus Cristo afirmou: “Bem aventurado os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. Bem aventurado os puros de coração, porque varão a Deus. Bem aventurado os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,7-10). Não é uma questão de opinião, mas sim de opção...
Para São Cipriano, não havia validade dos Sacramentos ministrados pelos que não estavam em comunhão com a Igreja Católica que ele representava e que era, naquele tempo, a do Norte da África; o Bispo de Roma, para ele, era o lado oposto, a não ortodoxia liberal e moderna. Um clérigo de qualquer denominação separada das outras, que publica esta frase, é no mínimo um equivocado..., se aceitarmos (e publicarmos) o axioma de São Cipriano, devemos aceitar (e publicar) que, de fato, os Sacramentos que ministramos são inválidos e ilícitos e que não somos a Igreja, mas sim um arremedo e que, decididamente, não estamos na salvação...
É preciso com urgência que se coloque a lume a doutrina do Evangelho, que os novos tenham humildade para aprender dos mais velhos e que todos estudemos, estudemos a sadia Teologia e, sobretudo, que tenhamos uma radical experiência ecumênica e arregacemos as mangas, colocando os pés no chão na pastoral e na missão, parando de perder tempo com picuinhas na internet... Que façamos sempre de novo, diuturnamente, uma leitura orante da Bíblia, como lectio divina, principalmente dos Escritos Apostólicos. E que no estudo da Teologia, se tome muito a serio a teologia do Batismo como incorporação em Cristo, na Ireja de Cristo, independente do nome que ela assuma.
Ora, todos os batizados em Cristo, ficam incorporados á Igreja de Cristo, independente do nome que ela tenha. Isto alarga a perspectiva da problemática respeitante aos membros da Igreja e á salvação “fora” da Igreja, se não for assim, somos obrigados a reconhecer que as Igrejas não romanas, não são verdadeiramente a Igreja, mas sim, para usar uma expressão do então cardeal Ratzinger: “São apenas comunidades religiosas” (Dominus Iesus, 3).Cito aqui a feliz expressão do papa Pio XI, quando em alocução a 9 de janeiro de 1927, lembrava que “os pedaços arrancados a uma rocha aurífera, contém também ouro” (Osserv. Romano, 10-11, jan. 1927).
Convido a que reconheçamos o agir de Deus nas outras Igrejas e nas outras religiões, e a sabermos que “o Espirito sopra onde quer” (Jo 3,8).
Mas o que a Bíblia diz exatamente sobre os aspectos subjetivos exigidos pela obtenção da salvação? Em primeiro lugar, aquele e aquela que possui o amor e a caridade, possui tudo, conforme Mateus 22, 35-40; Romanos 13,9ss; Mateus 25,31-46, Primeira aos Corintos 13 (sobretudo o versículo 13) e a Primeira Joao 4. A atitude para com o próximo é decisiva para a salvação, este é o maior ensinamento da Parábola do Bom Samaritano (cf .Lc 10,30-37). Mas a Escritura ensina que nenhum homem ou mulher possui realmente esta caridade, por que todos somos prisioneiros de nosso egoísmo. É esta a razão porque todos e todas deveríamos ser condenados (cf. Rm 3,23). Contudo, isto só não acontece devido a superabundância da graça de Cristo, de Seu amor incondicional por nós todos e todas, os pecadores e as pecadoras. A caridade é, pois, determinante, e quem não tiver amor no coração e não tiver uma caridade prática, não se salva, independente de estar nessa ou naquela Igreja, nessa ou naquela religião; mas como ela, a caridade, não é suficiente, devemos crer, devemos ter fé em Jesus e o aceitarmos como Nosso Salvador. Esta fé é o reconhecimento cheio de amor da impotência do homem e da mulher e é, consequentemente, a abertura à ajuda de um Outro. Toda a humanidade vive desse serviço de complementariedade realizado por Jesus Cristo. A vocação da Igreja é também participar nele, servindo. Ela não é um clube de salvação fechado em sim mesmo, mas sim a comunidade daquelese daquelas que são chamados e chamadas a colocar-se ao serviço da multidão. É isto que São Paulo, os Santos Padres, e os Teólogos da Libertação, tão incompreendidos, tentaram nos ensinar... É impossível negar o discurso inaugural do Evangelho na sinagoga de Nazaré: “O Espirito de Deus está sobre mim, para anunciar uma boa nova de libertação aos pobres” (Lc 4,16-30).
“A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai”, afirma o Apóstolo Tiago “é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção do mundo” (Tg 1,27), “porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e seus ouvidos, atentos a seus rogos; mas a força do Senhorestá contra os que fazem o mal” (Tg 3,12). E o que é a salvação? É livrar-se dos pecados? Se é, “a caridade cobre a multidão dos pecados”( Tg 4,8).
A graça proveniente de Deus não atua só ocasionalmente e para uns privilegiados, Deus não têm preferidos, pois “reconhecemos que Deus não faz acepção de pessoas, mas sim que em todas as nações lhe é agradável aquele que pratica a justiça” (At 10,34). Praticar a justiça é o que a Deus lhe agrada? Isto resolve radicalmente a questão da salvação dos e das que estão “fora” da Igreja e daqueles e daquelas que ignoram a mensagem evangélica. Sim, ele ou ela não é desta nação/igreja, mas “pratica a justiça”, pois bem, ele ou ela agrada mais a Deus do que os e as que dizem “Senhor, Senhor”, “pois não é o que diz Senhor, Senhor que irá para o Céu, mas o que faz a vontade de Deus” (Mt 7,21-23)... Quando uma mulher do povo exclama que “os seios que amamentaram” Jesus são benditos, ele contesta que “mais feliz é quem houve a Vontade de Deus e a pratica” (Lc 8,21). “Quem observa os Seus Mandamentospermanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que ele permanece em nós: pelo Espirito Santo” (1Jo 3,24b).
Naturalmente que a distinção (e não a separação, pois ela não há) entre a ordem natural e a ordem sobrenatural, fica preservada. A salvação é uma graça oferecida, não pela própria existência humana, mas em virtude da Vontade de salvação de Deus, absolutamente livre, mas real, que se estende a todos os homens e a todas as mulheres, sem exceção. Com a morte de Jesus Cristo “o véu do templo se rasgou de cima abaixo” (Mc 15,37-38), demonstrando que não há mais separação entre o Santo dos Santos e o “pátio dos gentios”.
Se não, estão condenadas as crianças mortas sem batismo? E os Profetas e as Santas Mulheres do Antigo Testamento?
Compreendo que a dificuldade em ter um espirito ecumênico e liberto, misericordioso e solidário e usam estas frases isoladas, fora do contexto e da intenção do autor, leva a estes erros. No entanto, peço que tomemos cuidado, pois um dia esta prática poderá se voltar contra nós e poderemos ouvir de Jesus o “afastai-vos de mim, malditos, ide para o fogo eterno, destinado ao demônio e aos seus anjos”... (Mt 25, 41), pois ao “bom ladrão” Jesus disse: “ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43) e perturbadoramente afirmou que “Sodoma, no dia do juízo, será tratada com menos rigor do que Cafarnaum” (cf. Mt 11,24), Sodoma, a que “será tratada com menos rigor”, nós sabemos o que é, mas e Cafarnaum? Além de ser a cidade de São Pedro (cf. Mc 1,29), é a dos “fariseus hipócritas” (cf. Lc 10,13-15). Se os nossos critérios de salvação são esses, estejamos atentos, pois não seria de nós que Jesus Cristo teria dito que “os ladrões e as prostitutas os precederão nos reino dos Céus” (Mt 21,31)?
Penso que Jesus Misericordioso está querendo abrir largamente as portas do Reino, a “Casa do Pai” mas alguns, infiéis porteiros e maus pastores, “servos inúteis” (cf. Lc 17,5-10)insistem em fechá-la... “ai de vós hipócritas, que não entram e não deixam ninguém entrar” (Mt 23,13).
“O amor vem de Deus e todo o que ama conhece a Deus e é nascido de Deus” (1Jo 4,7).
“Caríssimos, se a nossa consciência não nos censura, temos confiança diante de Deus” (1Jo 3,21).

Nossa Senhora, Mãe da Igreja, rogai por nós!

5 comentários:

  1. Eu ñ poderia deixar de agradecer a verdadeira aula de teologia que tive ao ler este texto.
    realmente existem um grande n° de pessoas q ainda pensa q é preciso está em certa igreja para ser salvo e interpreta a Biblia de acordo com o proprio interesse.
    parabéns pela evangelização e o lindo trabalho !
    PAZ E BEM !

    ResponderExcluir
  2. “São apenas comunidades religiosas” (Dominus Iesus, 3)
    ???????????????
    Será que por esse pensamento que foi leda à renuncia????????

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo7/05/2013

      Sabe que eu também me pergunto a mesma coisa, Professor Leonardo...

      Excluir
  3. CONVITE À EDUCAÇÃO
    “Porque só um é vosso Mestre, o Cristo.”
    (Mateus: capítulo 23º, versículo 10.)

    Tarefa de todos nós — a educação.
    Ajusta-se a peça na engrenagem a benefício do conjunto.
    Harmoniza-se a nota musical em prol do poema melódico.
    Submete-se o instrumento ao mister a que se destina.
    O esforço pela educação não pode ser desconsiderado. Todos temos responsabilidades no contexto da vida, nas realizações humanas, nas atividades sociais, membros que somos da Família Universal.
    Ninguém consegue realizar-se isolado.
    Ignorância representa enfermidade carecente de imediata atenção.
    O labor educativo, por isso mesmo, impõe incessantes contribuições, exigindo valiosos investimentos de sacrifício a benefício do conjunto.
    Educa-se sempre, quer se pense fazê-lo ou não.
    Da mesma forma que a imobilidade seria impossível a inércia humana e a indiferença são apenas expressões enfermiças. Mesmo nesses estados criam-se condicionamentos que geram hábitos, educando-se mal, em tais circunstâncias os que se fazem nossos compares.
    A anarquia que distila vapores alucinantes conduzindo à estroinice, fomenta estados de vandalismo educação perniciosa.
    A ordem dispõe à disciplina que promove a equidade, atendendo à justiça — educação edificante.
    A educação, assim examinada, traslada-se dos bancos escolares para todos os campos de atividade, fazendo que todos nos transformemos em educadores, vinculados, sem dúvida, àqueles que se nos transformam em seguidores conscientes ou não, aprendizes conosco dos recursos de que nos fazemos portadores.Jesus, o Educador por Excelência deu-nos o precioso legado vivo da Sua vida que é sublime lição de como ensinar sempre e incessantemente produzindo saúde, harmonia e esperança em volta dos passos.
    E o Espiritismo, que nos concita a incessante exame educativo de atitudes e comportamentos conscientiza-nos sobre a responsabilidade de que, mediante a educação correta, chegaremos ao fanal da caridade perfeita.

    FRANCO, Divaldo Pereira. Convites da Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
    FORMATAÇÃO E PESQUISA: MILTER - 05/02/2017

    ResponderExcluir