O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

20 de setembro de 2013

Carta enviada ao Papa reivindica “mudanças profundas” na estrutura eclesial



Fonte: http://goo.gl/YO6vUB

“Nossa Igreja não parece ser capaz de ler os sinais dos tempos e assim ‘a transmissão da fé’ às gerações futuras é cada vez um desafio maior”. Assim se inicia a “Carta ao Papa e a sua Comissão Assessora”, aderida por milhões de católicos de todo o mundo, pela qual reivindicam a Francisco (foto) e aos cardeais que se reunirão com ele para enfrentar a reforma da Cúria, nos primeiros dias de outubro, mudanças profundas na estrutura eclesial.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítioReligión Digital, 18-09-2013. A tradução é do Cepat.
Desde o sacerdócio feminino até a participação de fiéis na escolha do bispo e de sua duração no cargo, o objetivo da carta é obter da hierarquia “o reconhecimento dos direitos e responsabilidades dos batizados a ter voz influente nos processos de tomada de decisões de nossa Igreja”.
A carta expõe cinco pontos, que “refletem as esperanças e necessidades” do Povo de Deus. Em primeiro lugar, oferecem-se a “construir comunidades livres de opressões, violência, fome, pobreza, e da degradação da criação de Deus”, para alcançar uma Igreja “renovada com alegria” e “que acolhe verdadeiramente o diálogo entre seus membros”.
Após denunciarem que a responsabilidade na Igreja “repousa exclusivamente em sacerdotes ordenados varões e celibatários”, reivindicam a comissão de cardeais que “se realize um estudo canônico da viabilidade de unir a governança ao batismo, ao invés de à ordenação”. Uma mudança de longo alcance na estrutura eclesiástica, muito machista. “Rejeitamos a exclusão sexista das mulheres na participação completa em todos os níveis da Igreja”, acrescenta a nota, que vê como “inaceitável” negar a gays e lésbicas “o acesso à participação completa em todos os aspectos da vida daIgreja e de seu ministério. E é injusto ordenar ministros varões casados de outras denominações, quando se nega a aceitar sacerdotes católicos que deixaram o ministério ativo para se casar”.
Ao mesmo tempo, reivindicam “a participação dos fiéis na eleição dos bispos e na duração de seu mandato”, e “a implementação de estruturas colegiadas” de governo na instituição. Finalmente, a carta convida a Igreja para que “enfrente e previna eficazmente os abusos sexuais”.
Carta ao Papa e Sua Comissão assessora
Santo Padre Francisco
Cardeal Giuseppe Bertello, Presidente da Administração do Estado Cidade do Vaticano
Cardeal Oswald Gracias, Arcebispo de Mumbai, Índia
Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Munique e Freising, Alemanha
Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, Arcebispo de Kinshasa, Zaire
Cardeal Sean Patrick O’Malley, Arcebispo de Boston, Estados Unidos
Cardeal George Pell, Arcebispo de Sydney, Austrália
Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, Arcebispo de Tegucigalpa, Honduras
Setembro de 2013.
Solicitação para introduzir este documento na Ordem do Dia da reunião da Comissão Assessora, nos dias 1-3 de outubro de 2013: Reconhecimento dos direitos e responsabilidades dos fiéis batizados a ter voz efetiva nos processos de tomada de decisões de nossa Igreja.
Querido papa Francisco e Irmãos Cardeais,
Nossa grande preocupação com a Igreja católica, diante de suas muitas crises, levou-nos a colaborar na redação desta carta, representando a milhões de católicos de todo o mundo. Enche-nos de esperança que a governança da Igreja será discutida em sua reunião de outubro, e pedimos respeitosamente que prestem atenção primordial ao reconhecimento dos direitos e responsabilidades dos batizados a ter uma voz influente nos processos de tomada de decisões de nossaIgreja.
Assim como vocês, experimentamos a perda catastrófica de confiança em nossa Igreja, em razão do conhecimento global dos abusos sexuais de sacerdotes católicos e de seu acobertamento pela hierarquia. Os abusos de poder nobanco do Vaticano, como também a prejudicial marginalização e desconsideração experimentada pelos leigos são responsáveis por muitos de nossas irmãs e irmãos abandonarem o catolicismo. Nossa Igreja não parece ser capaz de ler os sinais dos tempos e assim ‘a transmissão da fé’ às gerações futuras é cada vez um desafio maior.
Entendemos que os efeitos destrutivos do clericalismo são o que está no fundo de todos estes problemas. Apoiamos seu desejo, papa Francisco, de eliminar o clericalismo de nossa Igreja para que sejamos uma comunidade de iguais, chamados pelo batismo a viver e proclamar o Evangelho de Jesus. Todos os católicos tem o direito, inato pelo batismo, de ter voz efetiva e deliberativa nos processos de tomada de decisões de nossa Igreja. A participação completa da comunidade de fé está em concordância com o Evangelho, com a tradição da Igreja primitiva e com a visão doVaticano II.
Com este propósito, apontamos cinco pontos que refletem as esperanças e necessidades do sensus fidei:
1. Uma Igreja que encarna no mundo a hospitalidade radical de Jesus
Papa Francisco, sua compaixão pelos pobres e o desejo de justiça social nos inspiram, assim como também seu compromisso pessoal em viver de forma simples. Queremos trabalhar, como irmãs e irmãos, para construir comunidades livres de opressões, violência, fome, pobreza, e da degradação da criação de Deus. Porém, nosso compromisso com a justiça está sob suspeita e com frequência é visto como hipócrita, porque a injustiça existe dentro da própria Igreja. Esperamos que chegue um tempo em que todos os católicos possam experimentar uma Igreja renovada, com alegria, que verdadeiramente coloque no centro de sua missão a hospitalidade e o respeito pela dignidade e igualdade de cada pessoa.
2. Uma Igreja que acolhe verdadeiramente o diálogo entre seus membros

No Brasil, papa Francisco, você disse que “o diálogo, o diálogo, o diálogo” é a pedra angular de todo progresso humano, e estamos de acordo com você. A liberdade de expressão (incluindo dissentir com fidelidade, quando for necessário), liberdade de indagar razoavelmente e a primazia de uma consciência informada são vitais para a saúde de nossa Igreja. Acreditamos que mulheres e varões profetas nos chamam continuamente a abordar as urgentes questões teológicas, pastorais, sociais e ambientais de nosso tempo por caminhos novos e apaixonantes. A partir deste ponto de vista, recomendamos que voltem a reabilitar os teólogos/as, sacerdotes, e religiosos/as que, desde o Vaticano II, foram censurados e/ou punidos por seguirem suas consciências. Em segundo lugar, como expressaram tantos católicos de todo o mundo, acreditamos que a Visita Apostólica às Congregações Religiosas Femininas dos Estados Unidos e a investigação da Conferência de Superioras de Religiosas foi injusta e sem razão de ser. Não pode existir um diálogo aberto onde há medo de ações punitivas.
3. Uma Igreja que reconhece a igualdade fundamental de seus membros
O ensino católico nos diz que todas as pessoas foram criadas com igual dignidade à imagem e semelhança de Deus. Portanto, as estruturas da Igreja devem refletir esta realidade. Como toda a governança da Igreja repousa, exclusivamente, em sacerdotes ordenados varões e celibatários, isto exclui a grande maioria de católicos batizados. Portanto, recomendamos que seja realizado um estudo canônico da viabilidade de unir a governança ao batismo, ao invés de à ordenação. Em relação aos ministros ordenados, recomendamos que a identificação do chamado se baseie no discernimento individual e comunitário das qualidades do candidato, sua espiritualidade, sentido pastoral, e formação religiosa, ao invés de focar no gênero, orientação sexual, ou o estado de vida. Rejeitamos a exclusão sexista das mulheres na participação completa em todos os níveis da Igreja. Do mesmo modo, é inaceitável negar para nossas irmãs lésbicas e irmãos gays o acesso à participação completa em todos os aspectos da vida da Igreja e seu ministério. E é injusto ordenar ministros varões casados de outras denominações, quando se rejeita a aceitar sacerdotes católicos que deixaram o ministério ativo para se casar.
4. Uma Igreja com maior participação dos batizados na governança
Para encarar as necessidades de nossa Igreja, requer-se implementar sistemas colegiados e estruturados baseados na participação dos fiéis na eleição dos bispos e na duração de seu mandato; na reinstaurarão do princípio de subsidiariedade nos conselhos paroquiais, conselhos pastorais diocesanos e nas conferências nacionais de bispos; na inclusão de mulheres e varões leigos qualificados em postos de liderança da Cúria.
A implementação de estruturas colegiadas promoverá uma cultura de liderança de serviço transparente, que orientará de forma mais global a Igreja para o bem comum.
5. Uma Igreja que enfrente e previna eficazmente os abusos sexuais
O escândalo dos abusos sexuais dos sacerdotes somente pode ser superado quando os bispos, que facilitam ou ignoram os abusos, forem colocados à disposição da justiça pelas autoridades da Igreja e civis, seguindo protocolos vinculantes estabelecidos e executados. A Igreja católica deve urgentemente examinar as complexas causas sistêmicas que deram lugar a este escândalo de proporções globais e fazer tudo o que esteja em seu poder para preveni-lo no futuro.
Para terminar, pedimos-lhes mais uma vez que reconheçam os direitos e responsabilidades dos batizados de participar nos processos deliberativos de tomada de decisões de nossa Igreja. Estamos dispostos a enviar uma delegação ao Vaticano para apresentar e explicar nossa proposta. Esperamos uma resposta, pois, juntos, continuamos este importante diálogo para o bem de nossa Igreja. Rezamos para que a sabedoria do Espírito Santo esteja com vocês e em suas deliberações.

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