O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

30 de agosto de 2014

As Origens da teologia da libertação

(Coletânea de diversos autores)

A Teologia da Libertação nasceu da influência de três frentes de pensamento: o Evangelho Social das igrejas norte-americanas, trazido ao Brasil pelo missionário e teólogo presbiteriano Richard Shaull; a Teologia da Esperança, do teólogo reformado Jürgen Moltmann; e a teologia política que tinha como seus grandes expoentes o teólogo católico Johann Baptist Metz, na Europa, e o teólogo batista Harvey Cox, nos EUA.
Há uma série de eventos que precederam o nascimento da Teologia da Libertação:
1952: O missionário presbiteriano Richard Shaull chega ao Brasil trazendo o Evangelho Social e cria uma estreita relação com os pastores presbiterianos Rubem Alves e Jaime Wright;
1964: O teólogo reformado Jürgen Moltmann publica sua obra Teologia da Esperança;
1965: O teólogo batista Harvey Cox publica A Cidade Secular;
1967: O teólogo católico Johann Baptist Metz pronuncia a conferência Sobre a Teologia do Mundo;
O marco do nascedouro da Teologia da Libertação está na publicação da obra Da Esperança, de Rubem Alves, que tinha o título de Teologia da Libertação, criticando a teologia metafísica de uma forma geral e propondo o nascimento de novas comunidades de cristãos animados por uma visão e por uma paixão pela libertação humana e cuja linguagem teológica se tornava histórica.
A primeira participação católica no lançamento da Teologia da Libertação foi a publicação da Teologia da Revolução, em 1970, pelo teólogo belga radicado no Brasil José Comblin. Em 1971, Gustavo Gutiérrez publicou Teologia da Libertação. Somente em 1972, Leonardo Boff surge no cenário teológico com a publicação de Jesus Cristo Libertador. Como Rubem Alves estava asilado nos EUA neste período, Boff passou a ser o mais conhecido representante desta corrente teológica que vivia no Brasil, devido à proteção recebida pela ordem dos franciscanos, à qual ele pertencia

O método destas teologias é indutivo[4] : não parte da Revelação e da Tradição eclesial para fazer interpretações teológicas e aplicá-las à realidade, mas partem da interpretação da realidade da pobreza e exclusão e do compromisso com a libertação para fazer a reflexão teológica e convidar à ação transformadora desta mesma realidade. Ocorre também uma crítica à teologia moderna e sua pretensão de universalidade. Consideram esta teologia eurocêntrica e desconectada da realidade dos países periféricos.
Na Igreja Católica, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou dois documentos sobre esta teologia: Libertatis Nuntius, em 1984 e Libertatis conscientia de 1986. Neles adverte sobre o uso do marxismo na teologia e alerta para o risco da instrumentalização política da fé. Em carta aos bispos brasileiros, o papa João Paulo II considera teologia da libertação é não só oportuna, mas útil e necessária e confia aos bispos brasileiros a tarefa de assegurar o seu desenvolvimento de modo homogêneo e não heterogêneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial e não excludente nem exclusivo para com os pobres[5].
Fonte Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_da_Liberta%C3%A7%C3%A3o#Nascimento




Teologia da Libertação se propaga, apesar do veto do Vaticano
Leonardo Boff

Roma incorre na profunda ilusão de acreditar que com seus documentos doutrinários emitidos por burocracias frias e distantes da vida concreta dos fiéis conseguirá frear a Teologia da Libertação. Ela nasceu ouvindo o grito dos pobres e hoje a comove o grito da Terra.

Desde seu início, ao final dos anos 60, a Teologia da Libertação adotou uma perspectiva global, focada na condição dos pobres e oprimidos no mundo inteiro, vítimas de um sistema que vive da exploração do trabalho e da depredação da natureza. Esse sistema explora as classes trabalhadoras e as nações mais fracas. Além disso, reprime aqueles que oprimem e, portanto, contrariam seus próprios sentimentos humanitários. Em uma palavra, todos devem ser libertados de um sistema que perdura há pelo menos três séculos e foi imposto a todo o planeta.

A Teologia da Libertação é a primeira teologia moderna que assumiu este objetivo global: pensar o destino da humanidade desde a condição das vítimas. Em consequência, sua primeira opção é comprometer-se com os pobres, a vida e a liberdade para todos. Surgiu na periferia das Igrejas centrais, não nos centros metropolitanos do pensamento consagrado. Por essa origem, sempre foi considera como suspeita pelos teólogos acadêmicos e principalmente pelas burocracias eclesiásticas e especialmente pela da Igreja mais importante, a católica-romana.


A partir de sua cunha na América latina, a Teologia da Libertação passou para a África e se estendeu para a Ásia e também a setores do primeiro mundo identificados com os direitos humanos e a solidariedade aos despossuídos. A pobreza entendida como opressão revela muitos rostos: o dos indígenas que desde sua sabedoria ancestral conceberam uma fecunda teologia da libertação indígena, o da teologia negra da libertação que ressente as marcas dolorosas deixadas nas nações que foram escravagistas, o das mulheres submetidas desde a era neolítica à dominação patriarcal, dos trabalhadores utilizados como combustível da maquinaria produtiva. A cada opressão concreta corresponde uma libertação concreta.

A questão teológica de base que até agora não terminamos de responder é: como anunciar um Deus que é um pai bondoso em um mundo repleto de miseráveis? Só tem sentido se implica a transformação deste mundo, de maneira que os miseráveis deixem de gritar. Para que uma mudança semelhante tenha lugar eles próprios têm que tomar consciência, organizar-se e começar uma prática política de transformação e libertação social. Como a grande maioria dos pobres em nossos países era formada por cristãos, tratava-se de fazer da fé um fator de libertação. As igrejas que sentem herdeiras de Jesus, que foi um pobre e que não morreu de velho, mas sim na cruz como consequência de seu compromisso com Deus e com sua justiça, seriam as aliadas naturais deste movimento de cristãos pobres.

Esse apoio ocorreu de fato em muitas igrejas nas quais houve bispos e cardeais proféticos como Helder Câmara e Paulo Evaristo Arns no Brasil, Arnulfo Romero em El Salvador e muitos outros, assim como numerosos sacerdotes, religiosas e religiosas e laicos comprometidos politicamente.


Em razão de sua causa universal, já no início dos anos 70 a Teologia da Libertação era um movimento internacional e convocava verdadeiros fóruns teológicos mundiais. Estabeleceu-se um conselho editorial integrado por mais de cem teólogos latinoamericanos para compilar uma sistematização teológica em 53 volumes, desde a perspectiva da libertação. Já tinham sido publicados 13 volumes quando o Vaticano interveio para abortar o projeto. O então cardeal Joseph Ratzinger foi rigoroso. Cortou pela raiz um trabalho promissor e benéfico para todas as igrejas periféricas e especialmente para os pobres. Passará à história como o cardeal – e depois Papa – inimigo da inteligência dos pobres.

A Teologia da Libertação criou uma cultura política, Ajudou a formar organizações sociais como o Movimento dos Sem Terra, a Pastoral Indígena, o Movimento Negro e foi fundamental na criação do Partido dos Trabalhadores no Brasil, cujo líder, o presidente Lula, sempre se reconheceu na Teologia da Libertação.


Hoje em dia, essa teologia transcendeu os limites confessionais das Igrejas e se converteu em uma força político-social. Além de Lula, identificam-se publicamente com a Teologia da Libertação o presidente Rafael Correa, do Equador, o presidente (e ex-bispo) Fernando Lugo, do Paraguai, o presidente Daniel Ortega, da Nicarágua, o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e o atual presidente da Assembléia das Nações Unidas, o sacerdote nicaragüense Miguel de Escoto. Sua força maior não reside na cátedra dos teólogos, mas sim nas inumeráveis comunidades eclesiais de base (só no Brasil existem cerca de cem mil), nos milhares e milhares de círculos nos quais se lê a Bíblia no contexto da opressão social e nas chamadas pastorais sociais.

Roma incorre na profunda ilusão de acreditar que com seus documentos doutrinários emitidos por burocracias frias e distantes da vida concreta dos fiéis conseguirá frear a Teologia da Libertação. Ela nasceu ouvindo o grito dos pobres e hoje a comove o grito da Terra. Enquanto os pobres continuarem lamentando-se e a Terra gemendo sob a virulência produtivista e consumista, haverá mil razões para sentir o chamado de uma interpretação libertária e revolucionária dos evangelhos. A Teologia da Libertação é a resposta a uma realidade injusta e salva a Igreja central de sua alienação e de um certo cinismo.

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