O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

8 de agosto de 2014

Frei Clodovis e as críticas à Teologia da Libertação

Tenho a impressão que Frei Clodovis foi acometido de alguma  transformação que o fez esquecer do que está escrito em Mt 25,31 –ss.  Se é o próprio Cristo quem diz que : “ o que fizerdes a um desses meus pequeninos é a mim que o fareis” como ele pode pensar que a Teologia da Libertação está fazendo uma troca entre  Jesus e as questões sociais, ou os pobres como ele literalmente diz na entrevista? Ou que ela já tenha cumprido o seu papel?  Ora parece que o Frei Clodovis acha que já se resolveu a questão social, que não há mais famintos (“Eu tive fome e não me deste de comer”) ou sedentos (“eu tive sede e não me saciastes!”) ou doentes(“estive doente e não me visistastes!”) presos... desempregads... oprimidos... excluídos...
A tarefa da Teologia da Libertação penso eu, é levar a igreja de Cristo de volta ao seu eixo, o eixo que  era a razão de ser dos apóstolos e das primeiras comunidades, e que foi gradativamente sendo abandonado pela igreja a medida em que ela se imperializou, se rendeu ao Império romano, absorvendo os hábitos pagãos dos deuses romanos, suas praticas e seus sacríficos. Precisando inclusive produzir profundas modificações na doutrina para que ficasse mais palatável aos neo-convertidos, à força, por decreto de Constantino. Tudo isso piorou quando transformaram a “ceia”, o “ágape fraterno”, em sacrifício incruento, mesmo sabendo que os sacrifícios haviam terminado com a vitima perfeita, o Cristo, que se entregou para salvação de TODOS os pecados e pecadores.

Acho que o brilhante frei  encontrou alguma realidade paralela e passou a achar que a missão da TdL já está cumprida, ou talvez tenha passado para o lado, o dos teólogos acomodados que vivem repetindo a frase de Jesus , fora do contexto atual, de que “pobres sempre o tereis”.
É triste perceber essa atuação de frei Clodovis, em um momento tão importante para a igreja, quando depois de muito tempo pode-se perceber a ação clara do Espírito Santo atuando e se servindo do papa Francisco para recolocar a igreja nos objetivos propostos por Jesus.
Mas até Pedro negou Jesus, cabe a nós aguardar os acontecimentos e esperar. E ficar atentos ao que o Espírito Santo vai operar e nos cobrar quanto ao grande objetivo de Jesus, aquilo que ele nos incumbiu de realizar:  construir o Reino de seu Pai a começar aqui na terra. Para isso é fundamental que se compreenda que para que o Reino aconteça não poderá mais haver justificativas na hora que Jesus nos perguntar. Deus queira que nesta hora tenhamos uma resposta convincente para que ele não diga em alto e bom som:
“- Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. 42.Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;43.era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes. ...- Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.”(Mt 25,41-43, 45).
entretanto fico pensando se  esta atitude do Frei não é na realidade fruto da enorme pressão que a estrutura da igreja faz. Coim o irmão Leonardo o espremeram até que ele pediu para sair. Embora não lhe tenham dado a resposta ele seguiu de fotma mais loivre o seu caminho, e continua brilhante em seus artigos e livros. Fico me perguntando se é apropriado se chamar essa hierarquia de cristã. O estrago psicológico que todo esse rolo compressor produz nas pessoas, leigos e sacerdotes é assustador.

J. Ricardo A. de Oliveira



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Entrevista de Frei Clodovis Boff  -  Adital
Frei Clodovis Boff: só é possível uma Teologia da Libertação sob a condição de começar e acabar no horizonte da fé





Já faz algum tempo que se fala sobre uma crise da Teologia da Libertação (TdL), corrente teológica fundada há 42 anos, que se caracteriza por uma opção preferencial pelos pobres e pela luta por justiça social. Nas palavras do Frei Clodovis Boff - religioso da ordem dos Servos de Maria, que juntamente com seu irmão mais famoso, Leonardo Boff, foi um dos principais teólogos da TdL -, esse modo de teologizar "deu o que tinha que dar”, ou seja, conscientizou a Igreja sobre a opção preferencial pelos pobres, contudo "não tem mais futuro dentro da igreja” e por isso está perdendo cada vez mais espaço dentro dela.
Mesmo tendo participado da fundação da TdL, Frei Clodovis assegura que já tinha suas reservas em virtude da falta de rigor teórico e da priorização "do político às expensas da fé”. Com o passar dos anos, vendo que essa prioridade não mudava, mas se firmava cada vez mais, decidiu abrir suas críticas. Hoje, o religioso defende que é desaparecendo no caudal maior da teologia cristã que a Teologia da Libertação cumpre sua missão histórica. A ADITAL conversou com Frei Clodovis sobre o assunto. Confira a primeira de uma série especial de entrevistas a ser publicada todas as sextas-feiras pela Adital. 

Quarenta e dois anos depois, a Teologia da Libertação ainda vive?
Ela ainda faz sentido nos dias atuais?
Frei Clodovis M. Boff- Sim, existem teólogos da libertação que se reúnem e escrevem. Mas seu declínio como tendência à parte é inegável. A meu ver, a Teologia da Libertação "prescreveu” historicamente. Deu o que tinha que dar: conscientizar a Igreja sobre a opção preferencial pelos pobres. Ora, isso foi fundamentalmente incorporado, sem mais discussão, pelo discurso normal da Igreja. Assim, a corrente liberacionista reentra, finalmente, na grande correnteza da teologia católica ou universal, reforçando e atualizando aquilo que foi sempre uma riqueza da Igreja: o amor preferencial pelos sofredores de toda a sorte. A Teologia da Libertação poderia até permanecer como um espécimen da chamada "teologia do genitivo”, teologia necessariamente parcial, como quando se fala na "teologia da graça”, na "teologia do casamento” ou ainda na "teologia de São Paulo”. Essas teologias particulares são apenas tematizações de um aspecto da fé. Foi nesse sentido, como teologia parcial, sintonizada com o todo da fé, que a Teologia da Libertação foi declarada por João Paulo II, em Carta aos Bispos do Brasil (09/04/1986) "oportuna, útil e necessária” (n. 5). Mas até que a Teologia da Libertação pretende ser uma teologia completa, ela não tem futuro dentro da Igreja. Ela, de fato, vai perdendo cada vez espaço dentro dela.
"Quer-se mostrar aqui que a Teologia da Libertação partiu bem, mas, devido à sua ambiguidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: instrumentalização da fé "para” a libertação. Erros fatais, por comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia” (artigo de 16.8.2008). Em qual momento e por que você se tornou um dos grandes críticos da Teologia da Libertação?
Fr. Clodovis M. Boff- Desde sempre, tive reservas em relação à Teologia da Libertação, quer por causa de sua falta de rigor teórico, quer devido ao seu pendor ideológico: o de priorizar o político às expensas da fé. Embora, em minha tese doutoral "Teologia e prática”, publicada há mais de 40 anos (Vozes, 1978), eu já tivesse estabelecido claramente a prioridade da fé sobre a política (especialmente na II Seção, cap. I), imaginei que a prioridade conferida ao político fosse coisa transitória, seja pelo urgentismo social, que se vivia naqueles tempos difíceis (ditadura e capitalismo selvagem), seja por se mostrar uma doença infantil, normal para todo movimento histórico novo. Mas quando, com o passar do tempo, fui me dando conta de que, desgraçadamente, aquela prioridade, em vez de refluir, ia se afirmando cada vez mais, com grave dano para a identidade da fé, a missão própria da Igreja e o destino último do ser humano, decidi então explicitar, sem rebuços, minhas críticas.
Em quais pontos há divergências entre os teólogos da TdL?
Fr. Clodovis M. Boff- As divergências não são de pouca monta, mas fundamentais, tocando os princípios mesmos da fé. Quem é Senhor da Igreja? Quem ocupa seus pensamentos? Cristo ou os pobres? Se dizemos: Cristo, é garantido, em princípio, que os pobres terão na Igreja seu "lugar eminente”, para falar como Bossuet. Mas se dizemos: os pobres, então Cristo pode ser facilmente despedido da sociedade e da vida, como foi com o marxismo.
Em alguns textos você fala em desgaste e crise da TdL. Como esse "modo de teologizar” pode enfrentar a crise e seguir forte?
Fr. Clodovis M. Boff- Como disse acima, é paradoxalmente desaparecendo no caudal maior da teologia cristã que a Teologia da Libertação cumpre sua missão histórica. É como o torrão de açúcar, que só existe para se dissolver no café: continuará aí presente, adoçando todo o café, mas invisível. Ou, numa metáfora mais bíblica, é como João Batista, que disse: "Importa que Ele cresça e eu diminua”, ao contrário dos judeus que, chamados a acolher o Messias, se recusaram a ser o que deveriam se tornar. Deveriam ter feito como Saulo, que só cumpriu seu destino tornando-se Paulo. Tal também deveria ser o termo final da Teologia da Libertação: tornar-se teologia cristã sem mais, depois de ter contribuído para seu enriquecimento.
Os teólogos da libertação estão envelhecendo, o senhor acredita em uma renovação?
Fr. Clodovis M. Boff- Quando se leem as produções atuais dos chamados "teólogos da libertação”, nota-se aí que o discurso se repete ad nauseamSão "variações sobre o mesmo tema”: os pobres socioeconômicos e sua libertação social. Insisto: só é possível uma Teologia da Libertação, como, aliás, qualquer outra espécie de teologia, sob a condição de começar e também acabar no horizonte transcendente da fé. Fora disso, a Teologia da Libertação só produzirá "mais do mesmo”. E, assim como o Papa Francisco costuma dizer que uma Igreja sem a fé incondicional no Cristo é uma "ONG piedosa”, assim também uma Teologia da Libertação (ou qualquer outra), sem essa mesma fé primacial no Cristo, é uma ideologia religiosa, concorrendo ou então colaborando com outras ideologias. Torna-se, com isso, cada vez mais irrelevante, pois, de ideologias o mundo atual está cansado.
A abertura que o Papa Francisco vem dando a teólogos da TdL pode ajudar a revigorá-la?
Fr. Clodovis M. Boff- O discurso e, mais ainda, o exemplo do Papa atual poderia servir de exemplo para um cristianismo que não precisa de ideologia, mesmo sob um rótulo teológico, para se ocupar a sério com os pobres. A Teologia da Libertação só pode se revigorar dentro da Igreja, no seio de seu pluralismo teológico, a título, portanto, de uma teologia particular.
Como os teólogos da libertação têm trabalhado e como deveriam pensar questões polêmicas como aborto, diversidade (união homoafetiva) e participação da mulher na igreja?
Fr. Clodovis M. Boff -Como para a questão do pobre, central na Teologia da Libertação, todas essas outras questões devem ser tratadas por qualquer teólogo a partir dos princípios perenes da fé. Mas, é claro – e esta é a função próprio do teólogo na Igreja –, esses princípios devem ser bem compreendidos e postos em confrontos com a experiência da história, que tem muito a ensinar à Igreja, como reconhece o Vaticano II na Gaudium et Spes (cf. GS 44).
E no caso da Igreja Católica, quais são seus desafios atuais diante de tantas demandas sociais, políticas e econômicas?
Fr. Clodovis M. Boff- Certamente, a Igreja já está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais. Mas, é preciso que fique claro: não é essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é, antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é de natureza "religiosa”. Essa lição nunca foi bem compreendida pelo pensamento laico. Foram os Iluministas que queriam reduzir a missão da Igreja à mera função social. Daí terem cometido o crime, inclusive cultural, de destruírem celebres mosteiros e proibido a existência de ordens religiosas, por acharem tudo isso coisa completamente inútil, mentalidade essa ainda forte na sociedade e até mesmo dentro da Igreja. Agora, se perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder: É o maior desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que transcende tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que, porém, hoje, nos pós-moderno, tornou-se, particularmente angustiante e generalizada. É, em primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente existencial e hoje caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder, como, aliás, todas as religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as "especialistas do sentido”. Quem não viu a gravidade desse desafio, ao mesmo tempo existencial e histórico, e insiste em ver na questão social "a grande questão”, está "desantenado” não só da teologia, mas também da história.


Tenho a ligeira impressão que Frei Clodovis foi acometido de alguma  transformação que o fez esquecer do que está escrito em Mt 35,31 –ss. Se é o próprio Cristo quem diz que : “ o que fizerdes a um desses meus pequeninos é a mim que o fareis” como ele pode pensar que a Teologia da Libertação está fazendo uma troca entre  Jesus e as questões sociais, ou os pobres como ele literalmente diz na entrevista? Ou que ela já tenha cumprido o seu papael?  Ora parece que o Frei Clodovis acha que já se resolveu a questão social, que não há mais famintos (“Eu tive fome e não me deste de comer”) ou sedentos( “eu tive sede e não me saciastes!”) ou doentes( “estive doente e não me visistastes!”) presos... desempregads... oprimidos... excluídos...
A tarefa da Teologia da Libertação penso eu, é levar a igreja de Cristo de volta ao seu eixo, o eixo que  era a razão de ser dos apóstolos e das primeiras comunidades, e que foi gradativamente sendo abandonado pela igreja a medida em que ela se imperializou, se rendeu ao Império romano, absorvendo os hábitos pagãos dos deuses romanos, suas praticas e seus sacríficos. Precisando inclusive produzir profundas modificações na doutrina para que ficase mais palatável aos neo-convertidos, à força, por decreto de Constantino. Tudo isso piorou quando transformaram a “ceia”, o “ágape fraterno”, em sacrifício incruento, mesmo sabendo que os sacrifícios haviam terminado com a vitima perfeita, o Cristo, que se entregou para salvação de TODOS os pecados e pecadores.
Acho que o brilhante frei  encontrou alguma realidade paralela e passou a achar que a missão da TdL já está cumprida, ou talvez tenha passado para o lado, o dos teólogos acomodados que vivem repetindo a frase de Jesus , fora do contexto atual, de que “pobres sempre o tereis”.
É triste perceber essa atuação de frei Clodovis, em um momento tão importante para a igreja, quando depois de muito tempo pode-se perceber a ação clara do Espírito Santo atuando e se servindo do papa Francisco para recolocar a igreja nos objetivos propostos por Jesus.
Mas até Pedro negou Jesus, cabe a nós aguardar os acontecimentos e esperar. E ficar atentos ao que o Espírito Santo vai operar e nos cobrar quanto ao grande objetivo de Jesus, aquilo que ele nos incumbiu de realizar:  construir o Reino de seu Pai a começar aqui na terra. Para isso é fundamental que se compreenda que para que o Reino aconteça não poderá mais haver justificativas na hora que Jesus nos perguntar. Deus queira que nesta hora tenhamos uma resposta convincente para que ele não diga em alto e bom som:
“- Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. 42.Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;43.era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
...- Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.”(Mt 25,41-43, 45)


Um comentário:

  1. Gostaria de comentar apenas um trecho, que acho eu, sintetiza o resto. Disse nosso irmão Clodovis: "Certamente, a Igreja já está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais. Mas, é preciso que fique claro: não é essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é, antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é de natureza "religiosa”.

    Pois bem, se pudesse, faria minha colação em forma de pergunta:

    O Cristo foi um religioso preso a regulamentos e templos, ou um socialista mergulhado nas causas importantes do mundo?

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