O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

22 de abril de 2017

No dia da Terra Um "Hino à Matéria " Teilhard de Chardin





Bedita sejas tu,
áspera matéria,
terra estéril,
dura rocha,
que cedes apenas à violência
e nos forças a trabalhar
se quisermos comer.

Bendita sejas,
poderosa matéria,
evolução irresistível,
realidade sempre nascendo,
que a cada momento fazes em estilhaços nossos limites
e nos obrigas a procurar
cada vez mais profundamente a verdade.

Bendita sejas,
matéria universal,
éter sem fronteiras,
triplo abismo das estrelas,
dos átomos e
das gerações.
Tu, que dissolvendo e transbordando
nossas estreitas medidas,
nos revelas as dimensões de Deus.

Bendita sejas,
impenetrável matéria.
tu que és tensão entre nossas almas
e o mundo das essências
e nos fazes definhar
com o desejo de romper o véu dos fenômenos.

Bendita sejas,
matéria imortal,
Tu, que, desagregando -te um dia em nós,
nos induzirá, forçosamente,
no íntimo daquilo que é.

Sem ti, matéria,
sem teus combates,
sem teus dilaceramentos,
viveríamos inertes,
estagnados,
pueris,
ignorantes de nós mesmos
e de Deus.

Tu que feres e que curas,
tu que resistes e que cedes,
que aprisionas e libertas,
tu que desmoronas e constróis,
seiva de nossas almas,
mãe de Deus,
carne do Cristo,
matéria,
eu te bendigo.

Eu te bendigo e te saúdo,
não como te descrevem,
diminuída e transfigurada,
os pontífices da ciência
e os pregadores da virtude.
Um amontoado - dizem eles -
de forças brutais ou
de apetites baixos,
mas como me apareces hoje,
na totalidade da tua verdade.

Eu te saúdo,
inesgotável capacidade de ser e de transformação,
onde germina e cresce
a substância escolhida.

Eu te saúdo,
universal poder
de aproximação e de união,
por onde se comunicam a multidão das moléculas
e a quem todas convergem,
em marcha para o espírito.

Eu te saúdo,
matriz harmoniosa das almas,
límpido cristal,
do qual será tirada a Nova Jerusalém.

Eu te saúdo,
meio divino,
carregado de poder criador,
oceano agitado pelo espírito,
argila modelada
e animada pelo Verbo encarnado.

Crendo obedecer ao teu irresistível apelo,
os homens se precipitam muitas vezes,
por teu amor,
no abismo externo dos prazeres egoístas.
Um reflexo os engana,
ou, então,
um eco.

Mas, agora eu vejo.
Para te atingir, matéria,
é preciso que,
partindo de um contato universal,
com tudo o que se move,
sintamos, pouco a pouco,
esvair-se entre nossos dedos,
as formas particulares de tudo que seguramos,
até que retenhamos, apenas,
a única essência
de todas as consistências e de todas as uniões.

Se quisermos te possuir,
temos que te sublimar na dor,
após termos, voluptuosamente,
apertado os braços.

Tu reinas, matéria,
nas serenas alturas,
onde imaginam evitar-te
os santos.
Carne tão transparente e móvel
que não te distinguimos mais de um espírito.

Leva-me para o alto, matéria,
pelo esforço,
a separação
e a morte.
Leva-me para onde for possível,
enfim, abraçar castamente
o universo.

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