O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

17 de outubro de 2017

Diaconisas

                                                      Febe a diacosnisa do novo testamento
Eu fico realmente curioso com a capacidade para fazer distorções que foram feitas e articuladas ao longo dos anos e que distorceram até as escrituras.
É curioso que de maneira desonesta, e se orgulham de rechaçar tudo o que não é “canônico”, falam dos apócrifos como se fossem escrituras do próprio demônio, mas se aproveitam dele para contar a história de Maria já que não se encontra nos evangelhos oficiais os vários fatos da ascendência e vida de Maria instrutora e primeira discípula do mestre.
Fica difícil negar as evidências bíblicas sobre as diaconisas, dizendo que seu fundamento não está na Bíblia, mas em autores consagrados.
Mas não seria Febe uma diaconisa?
Ou estaria a Bíblia Ave Maria errada?
Ou será que o erro é de Paulo autor da carta aos Romanos ?
E não me venham com uma destas desculpas esfarrapadas, que ao longo dos tempos, o magistério da igreja tem dado e que não convencem nem mais às crianças.
Atentem que no Segundo Testamento Grego, está registrado que “diakonos”, em Rm 16,1, é substantivo, acusativo, feminino, singular.
Se o texto em Romanos não for suficiente temos como alternativa o texto em 1Timóteo que coloco em duas versões na Bíblia Ferreira de Almeida e na Ave Maria:
Em Timóteo, temos uma série orientações acerca do diácono:
I Tim. 3.9
Os diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros desonestos. 9-Devem apegar-se ao mistério da fé com a consciência limpa. 10-"Devem ser primeiramente experimentados; depois, se não houver nada contra eles, que atuem como diáconos."[u]11-As mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e confiáveis em tudo[/u].12-O diácono deve ser marido de uma só mulher e governar bem seus filhos e sua própria casa. ( Biblia Ferreira se Almeida)
I Tim. 3.9
Do mesmo modo, os diáconos sejam honestos, não de duas atitudes nem propensos ao excesso da bebida e ao espírito de lucro; 9.que guardem o mistério da fé numa consciência pura. 10.Antes de poderem exercer o seu ministério, sejam provados para que se tenha certeza de que são irrepreensíveis.[u] 11.As mulheres também sejam honestas, não difamadoras, mas sóbrias e fiéis em tudo.[/u] 12.Os diáconos não sejam casados senão uma vez, e saibam governar os filhos e a casa. 13.E os que desempenharem bem este ministério, alcançarão honrosa posição e grande confiança na fé, em Jesus Cristo.( Bíblia Ave Maia)
A tudo isso devemos levar em consideração que nesta época a realidade do cristianismo era bem diversa da de nossos dias. Ainda não havia ocorrido a rendição à Roma, e nem mesmo existiam os sacerdotes ordenados como os conhecemos hoje, fruto da assimilação e inculturação com as religiões pagãs de Roma, uma vez que dois eram os entendimentos naquela época:
Ou todos os batizados eram tidos como sacerdotes, ou de que só havia um único sacerdote verdadeiro o Cristo.
Aliás, isso era o grande diferencial do caminho instituído por Jesus para a construção do Reino. Eram os pagãos que valorizavam os sacerdotes entre o homem e os deuses. Eram os sacerdotes que se incumbiam de aplacar a ira dos deuses. Para os cristãos que tinham um único e verdadeiro Deus e que Jesus revelou ser um abah, paizinho amoroso, não havia ira a ser acalmada e muito menos a necessidade de intermediário entre o pai amoroso e seus filhinhos.
"A idéia de "ordem" não tem origem bíblica. Tem origem política.
"Ordenação (ordinatio) era o termo técnico empregado no império romano para designar a nomeação de um funcionário imperial. Hoje se diz que a pessoa foi "nomeada" para um cargo. Naquela época se dizia que foi "ordenada".
Desde que Constantino transformou a Igreja num braço religioso do império romano, no século IV, os bispos, sacerdotes e diáconos passaram a fazer parte da hierarquia dos funcionários do império, com o direito de ostentarem títulos (como "pontífice" para o Papa) e vestes (como o pálio e a estola) que realçavam sua dignidade imperial. Mas o termo "hierarquia" só passou a ser aplicado à estrutura da Igreja a partir do século V. Introduzido por Dionísio Areopagita, como adequado a uma instituição que copiava seu modelo de Estado absolutista com sua pirâmide de poder.
O termo evangélico(bíblico) adequado aos ministérios estruturados na Igreja é "Diaconia" que significa "serviço".
(Sacramento da Ordem, A comunidade de Fé, pag. 126, Editora Ática - autor: Frei Betto)
O Conclio de Calcedônia, em 451, proibiu as "ordenações absolutas", sem relação a uma comunidade eclesial. Entenderam os bispos reunidos no concílio que é validamente ministro da Igreja quem for chamado e aceito por uma comunidade. Portanto, a ordenção incluia, naquele tempo, não só a imposição das mãos do bispo, mas também a inserção numa comunidade eclesial. E o padre que ficasse sem comunidade ficava também sem ministério na Igreja. Isso durou até o século XII. Portanto, durante mais de dez séculos, o "ser" do sacerdote esteve vinculado ao "fazer".
Não se concebia o sacerdócio como algo em si mesmo, como algo desligado do serviço a uma comunidade. Inclusive o quarto Concílio de Toledo, em 633, determinou que os bispos, padres e diáconos que haviam sido destituídos de suas funções por alguma falta grave, só poderiam retomá-las mediante nova ordenação.
Foi durante o século XII e XIII que se elaborou a teologia do sacramento da ordem. Era um momento em que a Igreja já não estava mais organizada em comunidades e sim em territórios feudais. A divisão geográfica passou a predominar sobre a dimensão comunitária.
(Sacramento da Ordem, Comunidade de Fé, pag. 127, ed. Ática, autor: Frei Betto)
...No terceiro Concílio de Latrão, em 1179, aceita-se que um sacerdote sem comunidade possa continuar no exercício de seu ministério desde que o bispo assuma seu sustento.
Da concepção de ministério como serviço à comunidade passou-se a idéia de um funcionário de culto mantido pelo bispo ou pela sua diocese.
E o quarto Concílio de Latrão, em 1215, declarou que a eucaristia só pode ser celebrada por um sacerdote devidamente ordenado - o que veio a reduzir a função do sacerdote à celebração eucarística, ainda que não esteja vinculado a uma comunidade ou mantenha um estilo de vida aparentemente pouco evangélico.
Ministérios e Carismas no Novo Testamento (NT)
(...) No NT são chamados "ministros" ou "diáconos" aqueles que exercem uma função de serviço a comunidade cristã. Função concedida pela própria comunidade ou por seu responsável (At 1, 17.25; 6,4;Rm11,13; 12,7; 1Cor 3,5; 12,5; 2Cor 4,1; 2Tm 4,5) É o caso dos "Bispos"  vigilantes), que presidem a comunidade; dos "presbíteros"( = anciãos) ou sacerdotes, e dos "diáconos"  servidores), que se dedicam especialmente aos cuidados dos pobres (At 6, 1-7)
(Sacramento da Ordem, Comunidade de Fé, pag. 128 - ed.Ática - autor: Frei Betto)
Essas mulheres maravilhosas e seus ministérios
É muito triste que se observe esse tipo de mentalidade misógina ainda hoje quando o mundo já deu tantas voltas.
Na décadade 80 eu estive numa comunidade uma certa vez e quem celebrou a ceia foi exatamente uma mulher, ela era a mais velha do grupo e por isso sua experiência falava mais alto. Ela é a parteira, é a conselheira, a rezadeira e porque não, a presbítera ?
Voltei com a alma lavada e agradecido a Deus por esta surpresa. Na verdade eu fui convidado para conhecer esse grupo e para vez por outra, estar com eles em suas reuniões e celebrações.
Eles são um grupo independente composto por alguns católicos, espíritas e dois ex evangélicos. Reúnem-se para discutir suas necessidades, estudar a palavra e celebrar uma ceia.
Cantam rezam e se alegram na partilha da palavra e da vida.
Eu não sabia que uma mulher liderava o grupo e pude ver de perto o quanto ela é cheia do Espirito Santo e com que autoridade ela proclama as coisas de Deus e os orienta em suas necessidades. Quanta sabedoria, quanto conhecimento numa mulher de uns 60 ou 70 anos presumidos e não mais de um metro e meio de altura.
Que Deus seja louvado, porque onde o Espírito santo atua verdadeiramente as hierarquias humanas não são capazes de impedir a que ele sopre e conduza o seu povo.
(J.Ricardo A Oliveira)

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