O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

18 de dezembro de 2018

É Natal, de mãos dadas seguiremos construindo a Paz

J. Ricardo A. de Oliveira



Neste momento em que sento para escrever esta mensagem de Natal para meus amigos uma música surge clara e me faz pensar.
“Este ano quero paz no meu coração
Quem quiser ter um amigo que me dê a mão...”

Quem será que me estederá a sua mão, exatamente neste momento em que precisaremos estar de mãos dadas, e não largar a mão de ninguém?

 Tenho consciência de que foi um ano muito difícil, um ano em que as esperanças foram brutalmente ameaçadas. Um ano de muitas apreensões e pesadelos. Mas continuamos firmes e com o propósito, de como fez Maria, sermos propiciadores do nascimento do menino Luz.
Sim Luz!
Precisaremos muito de Luz para guiar nossos passos. Vivemos tempos de que não podemos mais nos perder nas aparências, nas formalidades de um cristianismo pouco comprometido como o jovem Galileu. Não é possível mais nos deixar levar por sofismas e subterfúgios que só nos distanciam da verdadeira mensagem expressa no evangelho. Não é possível mais continuar anunciando um Jesus omisso com relação às necessidades de seus pequeninos, como se ele não tivesse destruído literamente o absurdo dos vendilhões do templo. Ou não tivesse chamado os poderosos da época, de raça de víboras e de fariseus hipócritas. Não, esse Jesus de cabeleira loura escovada em salão de beleza, de olhos azuis e pele alva não condiz com o palestino que disse não ter onde repusar sua cabeça. Um jovem rebelde que por ousar pregar o amor e denunciar as injustiças, acabou pendurado numa cruz, para vergonha de uma humanidade que não conseguiu, e até hoje tem dificuldades de aceitar que Deus possa ter querido se fazer humano.


A cena da manjedoura revela um Deus encarnado na humanidade, mas não podemos ser hipócritas ao contemplar o presépio e fingir que não estamos vendo um casal que não encontrou pousada em nenhum lugar e foi se refugiar em um estábulo, junto com animais. Um casal que precisou usar um cocho de animais, como berço para Deus. Nosso romantismo parece eclipsar a realidade dura de um casal pobre de forasteiros, uma mulher grávida e que por ter estado grávida antes de casar, pode ter sido mal falada, mal vista e mal dita.
Sim, este é o Jesus real da cristandade, o mesmo que nasce nas muitas favelas do mundo, que chora de fome, que de outra forma é rejeitado por Marias de classe media e de classe  mais abastada, grávidas antes de casar e que são também rejeitadas pela hipocrisia da sociedade.
É este o menino da manjedoura, que ao crescer nos indicou o caminho aos que quisessem o seguir, no trecho das Bem Aventuranças (Mt 5), e  que nos advertiu com os “ Ai de vós” ( Mt 23, 23-39).

Impossível dizer Feliz Natal sem estar comprometido com a construção do Reino e com  o critério que ele disse que usará para nos julgar ( Mt25, 31-ss).
Para que o Natal seja de Paz, será preciso que seja restabelecida a justiça, a compaixão, a caridade, todas estas resumidas naquilo que ele nos deixou como lei: Amar como ele amou.
Se for assim, desta maneira, se comungamos deste mesmo propósito, aceito  o seu abraço amigo, a sua mão estendida e prometo fazer de tudo para não soltá-la. Juntos, estaremos construindo um Natal Feliz.
“O tempo passa e com ele caminhamos todos juntos, sem parar,
Como todo dia nasce, novo em cada amanhecer.”

15 de dezembro de 2018

Absurdos e mais absurdos.

"Caía a tarde como um viaduto, e um bêbado trajando Luto me lembrou Carlitos...”
Mas além de Carlitos, esse bêbado enlutado me lembrou de muitas outras coisas que desfilam na minha mente, enquanto ouço essa música na voz da saudosa Elis. Ouvi mentalmente o novo presidente dizer em vídeo que os grupos de extermínio são muito bem vindos, que Jesus subiu na goiabeira, que o STF não viu irregularidades no fato do Prefake do Rio de Janeiro fazer reunião para pastores de sua igreja e oferecer facilidades e prioridades no tratamento de saúde pública, soube que o médium está foragido e que as mulheres que o denunciaram estão sob proteção tendo em vista o risco de serem assassinadas, vi que o Brasil não vai mais se fazer simpático à migração, aos refugiados, que a preocupação com a preservação ambiental é coisa de esquerdistas, que a Amazônia deve ser dividida e desmatada e uma série interminável de situações completamente absurdas. Mas o que realmente veio coroar essas minhas observações e perplexidade diante delas, foi uma entrevista com Mino Carta onde ele diz literalmente: ”O Brasil estabeleceu a demência como forma de governo” e nesta entrevista ele diz que o IBOP fez uma pesquisa de satisfação, e que 75% dos brasileiros estão esperançosos e otimistas com o próximo governo.
De minha parte, nada mais me espanta, não acho que a demência seja só a forma de governo do Brasil, acho que vai muito além disso, acho que a demência se tornou o modo de vida em nosso país, uma rápida passada pelo noticiário iremos encontrar notícias de acontecimentos que ultrapassam esta linha, indicam que a frágil linha da normalidade está comprometida, completamente desligada da verdade, da ética. Vivemos o tempo da Demência, da Lei de Gerson e da Razão Cínica. Nada do que se ouve, lê ou vê, pode deixar de ser muito bem checado, tal a quantidade de fakes, pós verdades ou no popular, mentiras, que abundam as redes sociais, o noticiário e até as conversas entre amigos. Perdemos muito da sanidade que tínhamos, perdemos a seriedade e a capacidade de investigar o que existe por trás de cenários bem montados para nos enganar.
Vivemos tempos de guerra, de abuso coletivo, de predomínio da SOMBRA. Em tempos assim só há uma saída, silenciar e olhar para dentro, buscar lá no interior do interior a chama que arde e nos mantém, e, uma vez encontrada, deixar que ela guie nosso caminho, e nossa vida. Nada além dessa voz interior é merecedora de crédito. Nas horas mais difíceis, quando o desespero, o medo ou a revolta estiverem rondando, é lá, na intimidade, na sala interior, onde habita a chama da vida que encontraremos refúgio e paz. Só assim não seremos contaminados pela demência que parece imperar em todo o mundo.