O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

27 de janeiro de 2019

Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial...


Acho que já é tempo de olhar a realidade como ela é. 
Alguma coisa mudou, aliás, o poeta/profeta Caetano já tinha cantado: 
“ alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial...”
 Mas nem precisa ser muito perspicaz para perceber que quem manda nestes nossos tempos é o “EGO”. 


Sabe aquele ditado, “farinha pouca meu pirão primeiro”? Pois é esse mesmo é que está valendo. Seja no trânsito, em plena preferencial, o sujeito acha que ele, e não o outro é quem tem a preferência é quem tem que passar. Em filas, se você se descuida sempre aparece um engraçado, que a título de distraído, tenta passar à frente. Nos supermercados então é comum... a pessoa se encosta, começa a conversar, faz parecer que está junto, e se ninguém percebe, ele passa...
É daí que surge esse tipo de personalidade que consegue fazer com que bondade e caridade pareçam coisa de gente retardada. Essas pessoas são movidas a um tipo de percepção que elas só enxergam a si mesmas. Não hesitam em comer a última porção da travessa, mesmo que haja outra pessoa ou várias outras para comer. São pessoas que não tem dúvidas em lançar mão do que não é seu, porque se acham no direito de usufruir o que está aparentemente disponível.  O pior é que jamais percebem este seu comportamento.

Há dias no metrô vi uma cena que me assustou. O vagão estava cheio, muitas pessoas em pé inclusive uma senhora de seus 60 anos, nisso vaga um lugar bem na frente da senhora, e ela se preparava para sentar, mas precisava esperar a pessoa sair. Vem então uma adolescente e rapidamente senta no banco pelo lado, antes mesmo da pessoa que estava sentada sair, deixando a senhora com cara de idiota. A adolescente ainda olhou para trás para uma mulher, aparentemente sua mãe, sentada mais atrás e riu. Imaginei que esta mulher diria para ela se levantar ou qualquer outro tipo de coisa, mas no entanto, ela também riu e nada aconteceu.


 Não sei se é a velhice que me fez mais observador, mas tenho notado muito esse comportamento, que na verdade é a mais pura expressão daquilo que ficou conhecido no Brasil como “ Lei de Gerson”.  Para os mais novos, que porventura não saibam do que se trata, eu explico: na década de 70 um comercial de cigarros, se popularizou com o jogador Gerson da seleção Brasileira dizendo: “ temos que levar vantagem em tudo, certo?”  A partir daí o jargão se popularizou e essa prática passou a ser chamada de “Lei de Gerson”. (Qualquer visita ao Google pode esclarecer)
 Mas esta praga parece ter se infiltrado na alma das pessoas e não me assustaria se alguém achasse normal usufruir do que não é seu nas mais diversas situações, afinal muitos acham que isso é levar vantagem.



“Levar vantagem” também está associado a TER mais que o semelhante.
Esta grande preponderância do TER, também foi muito incentivada pelo tal milagre econômico no início dos anos 70. Até então nem todo mundo tinha carro ou trocava de carro todo ano, ar condicionado isso é luxo para poucos. A partir do tal milagre o capitalismo entrou de sola e o critério de felicidade passou a ser o TER. As campanhas publicitárias passaram a enfatizar justamente esse aspecto e passaram a apresentar o que seria o padrão de felicidade: carrões, belas casas, mulheres (tratadas como bem material), ambientes luxuosos, hotéis, restaurantes. A ênfase passou a valorizar o TER em detrimento do SER.
Mas esta mudança não veio acompanhada de uma melhor distribuição de renda e alguns inconformados com a impossibilidade de alcançar o tal padrão de felicidade passaram a usar o caminho paralelo do crime.


Esse é um assunto que poderia virar um livro tal a complexidade e os desdobramentos, o que não é o objetivo aqui. Mas é importante atentar para o fato de que essa transformação de parâmetros promoveu profundas mudanças na sociedade, abriu um abismo entre as classes, gerou uma grande inconformidade nos menos favorecidos pela falta de oportunidade e fez com que o desejo da classe média, espremida entre a pobreza e a classe dominante, passasse imitar pensamentos e hábitos da classe “A” na ilusão de que assim se sentiria pertencendo à esta “elite”. Vem daí talvez esse egoísmo exacerbado, essa identificação e tomada de posições que na maioria das vezes, são contra ela mesma.

Vem desta situação as duas máximas, já citadas acima, que parecem nortear o comportamento da maioria das pessoas atualmente: “Farinha pouca, meu pirão primeiro” e a própria lei de Gerson, que incentiva a “levar vantagem em tudo”.

Neste caldo de cultura, não é de admirar que esteja havendo uma grande desavença entre os que se identificam com a classe dominante, mesmo sem a ela pertencer e os que se identificam com os menos favorecidos, mesmo que não estejam nesta situação. Nisto, sem que quase ninguém perceba, a classe dominante, os poderosos, detentores do capital, são os maiores beneficiados, porque seguem sempre levando vantagem.

Na verdade, os valores estão completamente fora da lógica. Ninguém é feliz pelo fato de acumular bens materiais, todos sabemos disso, mas o bombardeio publicitário cotidiano de toda sorte de bens e situações maravilhosas é um convite a continuar perseguindo essa falsa felicidade. É como na fábula do cavalo e a cenoura, onde uma cenoura amarrada à frente do cavalo, faz com que ele não pare de galopar embora a distância entre ele e a cenoura se mantenha sempre a mesma, independente do que ele faça.



A maioria de nós hoje funciona como androides, programados pela mídia e pelo conteúdo das redes sociais. Usa-se de tudo, desde mentiras, apelidadas de pós-verdades, as famosas fake News, até depoimentos claramente mentirosos, ditos com a maior seriedade, como se fosse a maior das verdades.
Não sei como sair deste labirinto, sinto que esse caminho só nos leva para a extinção de nossa civilização e talvez da própria espécie humana. Toda esta animosidade dificilmente não resultará em guerras, toda essa ganância não tardará a destruir o meio ambiente, já bem degradado. Possivelmente a ordem de extinção deverá seguir a pirâmide, os menos favorecidos primeiro, já que são os mais frágeis e carentes de recursos, a classe média que sempre conseguiu dar “nó em pingo d’agua” para se manter e por último os donos de tudo que tardiamente descobrirão que que o dinheiro nesta situação não compra mais nada e lamentavelmente não serve como alimento.
Não será a primeira vez na terra, o exemplo dos dinossauros é um fato. O planeta certamente se recuperará depois de ter se livrado da praga destruidora chamada humanidade. O que virá depois, só o tempo revelará.


Enquanto isso não acontece, talvez possamos tentar reverter ou quem sabe retardar um pouco estes tristes acontecimentos, a fórmula não é complexa, na verdade é bem simples. Podemos começar retomando uma antiga prática de cumprimentar as pessoas: Bom Dia, Boa tarde, Boa Noite. Nunca é demais lembrar que vizinhos não são inimigos. Talvez tentar exercitar a pratica de analisar a situação antes de partir para a agressão gratuita, para um confronto. Ter a consciência de que não estamos sozinhos, nunca em nenhuma situação, portanto se for comer, veja se há mais alguém e divida, mesmo que seja pouco. Seja caridoso, doe o que lhe sobra. Se estiver sentado nos transportes públicos, veja se não há alguém mais necessitado á  sua volta. Peça licença, dê a vez, agradeça, peça por favor, não saia usando o que não lhe pertence.
Não é sem razão que essas práticas simples são chamadas de boas maneiras, elas por uma infinidade de anos mantiveram a harmonia entre as pessoas, não é porque elas caíram em desuso que vamos deixar de usá-las.
Agradeça ao acordar e agradeça quando for deitar, independente de religião, até ateus certamente tem razões para agradecer.

Tente perceber que alguma força misteriosa nos mantém vivos e saudáveis, independente do nome que você queira chamar essa força, seja sempre grato a ela, não esqueça que esta mesma força age em você e em todos os seus semelhantes humanos, animais ou vegetais, por isso nunca esqueça de que todos fazemos parte de algum estranho mistério que nos trouxe a esse planeta, e o segredo de uma vida feliz e plena, é justamente a nossa capacidade de nos harmonizar com esse todo. 
SOMOS A UNIDADE NA DIVERSIDADE
Somos a "HumanaUNIDADE" 

25 de janeiro de 2019

Acorda Brasil !




Quando será que nós brasileiros vamos acordar deste pesadelo?
Quando vamos deixar de apoiar os que recebem somente o lucro e deixam para nós a lama, a morte e o desamparo?
Não é questão de direita ou de esquerda, deste ou daquele partido, de acabar com a corrupção ou trocar de corruptos.
O Brasil está sendo sucateado há anos, estas privatizações nunca privilegiaram o Brasil ou os brasileiros. Qual a privatização que melhorou a vida dos brasileiros?
Chega de salvadores da Pátria! Todos, em pouco tempo, se mostraram oportunistas e enganadores.
Quando vamos acordar? 
Quando não restar mais nada no Brasil, quando a fome tomar conta ou matarem o ultimo índio, soterrarem o último pobre, devastarem a última floresta?
Hoje a tristeza toma conta do meu peito, são muitos os absurdos, é irracional que alguém continue a defender o indefensável, a usar mentiras para maquiar ou distorcer a realidade.
Vai ser difícil dormir, talvez, alguns consigam, como me lembrou um amigo João, em um trecho do livro "Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido" do Peter D. Ouspensky:
“Uma porcentagem considerável das pessoas que encontramos nas ruas, são pessoas que estão vazias por dentro, isto é, elas estão de fato já mortas.
É uma sorte nossa que nós não vemos e não sabemos a respeito disto.
Se soubéssemos que um grande número de pessoas já está de fato morta, e que um grande número destas pessoas mortas governa nossas vidas, nós ficaríamos loucos com esta situação de horror.
 Talvez essas pessoas consigam dormir e nem se sentirem abaladas ou pesarosas, alguns dirão: coitados, mas não foi comigo ou com algum parente ou conhecido meu, paciência...
Enquanto a consciência de que todos fazemos parte de uma grande unidade, de que o que habita em mim, também habita em todos os demais, não conseguiremos evoluir um centímetro.
Cabe aqui lembrar o mantra da unidade que Annie Besant nos deixou que diz:
"Ó vida oculta que vibras em cada átomo,
Ó luz oculta que brilhas em cada criatura,
Ó amor oculto que tudo abranges na unidade,
Saiba todo aquele que se sente uno contigo,
Que ele é, por isso mesmo, uno com todos os outros."

Não se pode deixar a profecia cair como nos pediu D. Helder, mas há dias em que mesmo sabendo que é preciso “ter força”, “ter raça” e gana sempre, nem sempre se consegue fazer da mistura de dor e alegria, a persistência no sonho e na fé nesta vida.

Só me resta então me refugiar no silêncio, no sopro e na atenção, quem sabe a minha mudança provoque outras tantas mudanças como o efeito borboleta do Edward Lorenz.
Sigamos...

2 de janeiro de 2019

Impermanência

Viu? Estamos já em 2019, toda a expectativa, contagem regressiva, os preparativos, tudo já é passado. O que nos lembramos, e o que esquecemos, o que nos irritou e o que nos alegrou, Passou...
Quando eu tinha 11 anos, eu vi um salvador da pátria, com uma vassoura na mão ser eleito. Não durou muito desiludiu o povo.  Vi depois seu vice acenar para as massas e reestabelecer a esperança de quem nada tinha, durou muito menos, logo o tiraram pela ousadia de dar vez, aos que não tem voz.
Um longo, escuro e sofrido inverno se sucedeu. Quando o povo já não suportava mais e foi para as ruas exigir direitos e liberdade, veio então o golpe mortal. Eu era então um adolescente e me descobri naquele ano, que segundo o Zuenir, nunca terminou. Foi um longo ano com muitas lagrimas nos olhos e um grande aperto no coração, uma noite de trevas...
Demorou a passar, mas passou. Depois de longos 16 anos que tivemos que esperar, veio um presidente eleito, não pelo povo, mas de forma indireta. Ilusão quem pensou que iria governar, nem chegou a tomar posse, morreu de véspera. Mais frustração.
E foi então que algum tempo depois, um novo salvador da pátria surgiu com proposta de caçar marajás. O povo que andava mais sofrido ainda pensou que era verdade e não percebeu que o maior marajá era ele próprio. Mais uma vez o sonho foi ao chão...
Até que um dia alguém que também não tinha vez, conseguiu chegar ao topo e mesmo fazendo concessões além do esperado, conseguiu começar a repartir um tal do bolo que sempre ficava no forno, esperando crescer para ser dividido.
Mas a divisão do bolo, ou melhor as migalhas jogadas ao povo, não agradou a quem achava ser dono do bolo. Solaram o bolo, e até as migalhas foram requisitadas e confiscadas. Tempos tenebrosos de grande temeridade.
O Povo, essa entidade facilmente iludível descobriu um novo salvador da pátria, que fazendo um discurso abertamente contra esse mesmo povo conseguiu mais uma vez chegar no alto da rampa do planalto central.
Eu não me iludo, sei que na vida tudo passa. Ora se passa bem, outras horas se passa muito mal. A roda do destino virou de ponta a cabeça e lá vamos nós outra vez olhar o mundo como se ele estivesse de cabeça para baixo. Vai passar tenho certeza, sempre passou...
Sentado na beirada da história, com a consciência de que mais uma vez a arte e a cultura serão pisoteadas como vilãs, porque elas ampliam os horizontes e permitem a eclosão de perigosos sonhadores. Aqui sentado à beira do caminho, eu vou, só prá contrariar, mais uma vez poetizar:

Impermanência

Há dias em que a vida passa...
em outros passo eu pela vida.
Há momentos que nem vontade
se tem mais de passar.

Há estradas que nos levam
e outras que nos trazem.
Há vidas que nunca passaram
há mortes que chegam
sem nem mesmo avisar.
Vida, morte, vontade de caminhar,
caminhos de mais chegar.
Chegança que traz a vontade
de sempre mais caminhar.

Há tempos em que se busca a vida.
Noutros o sinistro nos acompanha.
Esperança por vezes nos deixa
Com uma saudade do feliz  esperançar.
Há muito que a vida passa,
mas há bem pouco que me dei conta
que por este caminho de vida,
meu passo é que faz o caminho
para o meu caminhar.
Com isso a sabença da vida
é nunca des-esperançar.
Porque a vida, nunca vai deixar de passar, 
mudar, transformar.
O que não é, pode vir a ser,
e o que é, pode deixar de estar.