O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

2 de janeiro de 2019

Impermanência

Viu? Estamos já em 2019, toda a expectativa, contagem regressiva, os preparativos, tudo já é passado. O que nos lembramos, e o que esquecemos, o que nos irritou e o que nos alegrou, Passou...
Quando eu tinha 11 anos, eu vi um salvador da pátria, com uma vassoura na mão ser eleito. Não durou muito desiludiu o povo.  Vi depois seu vice acenar para as massas e reestabelecer a esperança de quem nada tinha, durou muito menos, logo o tiraram pela ousadia de dar vez, aos que não tem voz.
Um longo, escuro e sofrido inverno se sucedeu. Quando o povo já não suportava mais e foi para as ruas exigir direitos e liberdade, veio então o golpe mortal. Eu era então um adolescente e me descobri naquele ano, que segundo o Zuenir, nunca terminou. Foi um longo ano com muitas lagrimas nos olhos e um grande aperto no coração, uma noite de trevas...
Demorou a passar, mas passou. Depois de longos 16 anos que tivemos que esperar, veio um presidente eleito, não pelo povo, mas de forma indireta. Ilusão quem pensou que iria governar, nem chegou a tomar posse, morreu de véspera. Mais frustração.
E foi então que algum tempo depois, um novo salvador da pátria surgiu com proposta de caçar marajás. O povo que andava mais sofrido ainda pensou que era verdade e não percebeu que o maior marajá era ele próprio. Mais uma vez o sonho foi ao chão...
Até que um dia alguém que também não tinha vez, conseguiu chegar ao topo e mesmo fazendo concessões além do esperado, conseguiu começar a repartir um tal do bolo que sempre ficava no forno, esperando crescer para ser dividido.
Mas a divisão do bolo, ou melhor as migalhas jogadas ao povo, não agradou a quem achava ser dono do bolo. Solaram o bolo, e até as migalhas foram requisitadas e confiscadas. Tempos tenebrosos de grande temeridade.
O Povo, essa entidade facilmente iludível descobriu um novo salvador da pátria, que fazendo um discurso abertamente contra esse mesmo povo conseguiu mais uma vez chegar no alto da rampa do planalto central.
Eu não me iludo, sei que na vida tudo passa. Ora se passa bem, outras horas se passa muito mal. A roda do destino virou de ponta a cabeça e lá vamos nós outra vez olhar o mundo como se ele estivesse de cabeça para baixo. Vai passar tenho certeza, sempre passou...
Sentado na beirada da história, com a consciência de que mais uma vez a arte e a cultura serão pisoteadas como vilãs, porque elas ampliam os horizontes e permitem a eclosão de perigosos sonhadores. Aqui sentado à beira do caminho, eu vou, só prá contrariar, mais uma vez poetizar:

Impermanência

Há dias em que a vida passa...
em outros passo eu pela vida.
Há momentos que nem vontade
se tem mais de passar.

Há estradas que nos levam
e outras que nos trazem.
Há vidas que nunca passaram
há mortes que chegam
sem nem mesmo avisar.
Vida, morte, vontade de caminhar,
caminhos de mais chegar.
Chegança que traz a vontade
de sempre mais caminhar.

Há tempos em que se busca a vida.
Noutros o sinistro nos acompanha.
Esperança por vezes nos deixa
Com uma saudade do feliz  esperançar.
Há muito que a vida passa,
mas há bem pouco que me dei conta
que por este caminho de vida,
meu passo é que faz o caminho
para o meu caminhar.
Com isso a sabença da vida
é nunca des-esperançar.
Porque a vida, nunca vai deixar de passar, 
mudar, transformar.
O que não é, pode vir a ser,
e o que é, pode deixar de estar.



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