O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

29 de junho de 2008

Sonho

(José Ricardo A. de Oliveira)
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Busco na noite escura o caminho
Sonho, no horizonte a Luz...
Corro para abraçar o tempo,
Onde crianças não estendam a mão.
Lanço-me na luminosidade aparente
Sigo, caminhar inseguro...
Vejo a encruzilhada do tempo:
Noite ou dia ?
Contemplo a nova aurora radiante.
Sinto a liberdade longe mas possível.
Creio viver um mundo novo,
Pleno de Paz, luz e amor.
Lá onde as amarras foram arrancadas,
Onde mãos se estendem para dar
Onde não é preciso pedir,
Mendigar,Implorar,Migalhas de amor.
Desperto!Sacudo a cabeça,
O sonho se esvai...
Com ele, a fraternidade inquietante.
Contemplo,
De frente para o tempo:
Quanto ainda falta caminhar?
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23 de junho de 2008

Thomas Merton - Reflexões

( Thomas Merton)
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“Vivemos à beira do desastre porque não sabemos como deixar a vida acontecer.Não respeitamos as contradições e paradoxos vivos e fecundos de que a verdadeira vida está cheia.Nós os destruímos, ou tentamos destruí-los, com nossas sistematizações obsessivas e absurdas.Quer o façamos em nome da matéria ou em nome do espírito, faz pouca diferença no final.Existem ateus que lutam contra Deus e ateus que afirmam acreditar Nele: o que ambos têm em comum é o ódio à vida, o medo da imprevisibilidade, o horror à graça e a recusa de todo dom espiritual.”
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21 de junho de 2008

Castañeda - A Importancia pessoal

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"De todos os presentes que recebemos, a importância pessoal é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um pobre diabo arrogante e sem graça".


"Por causa de nossa importância, nós estamos cheios até as bordas de rancores, invejas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos da tarefa de nos conhecer a nós mesmos com pretextos como: 'me dá preguiça' ou 'que cansaço!'. Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural".
(Don Juan Matus,xamã indígena, mestre de Castañeda)
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17 de junho de 2008

Dia Mundial da Invocação


Quarta-feira, 18 de junho de 2008 Vigília de 24 horas
Entoação da Grande Invocação a cada 15 minutos.




Todos os anos,
desde 1952, as pessoas de todo o mundo
celebram o Dia Mundial da Invocação
no dia da Lua Cheia de Gêmeos.
É um dia global de oração e meditação, em que pessoas de diferentes caminhos espirituais
se unem em um apelo universal à Divindade,
entoando a Grande Invocação.
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A GRANDE INVOCAÇÃO

Desde o ponto de Luz na Mente de Deus,
Que aflua luz às mentes dos homens.
Que a Luz desça à Terra.
Desde o ponto de Amor no Coração de Deus,
Que aflua amor aos corações dos homens.
Que o Cristo retorne à Terra.
Desde o centro onde a Vontade de Deus é conhecida,
Que o propósito guie as pequenas vontades dos homens -
O propósito que os Mestres conhecem e servem.
Desde o centro a que chamamos raça dos homens,
Que se cumpra o Plano de Amor e Luz,
E que se sele a porta onde mora o mal.
Que a Luz, o Amor e o Poder
restabeleçam o Plano na Terra
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Este ano você está novamente convidado
a se unir aos colaboradores de todas as Américas
em uma Vigília de 24 horas pelo Dia Mundial da Invocação.
ENTOAR A GRANDE INVOCAÇÃO A CADA 15 MINUTOS
Escolha os horários da sua participação e registre-a em:
http://www.intuition-in-service.org/IISvigilTIMER.html

Ou, simplesmente, participe sem se registrar.
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2 de junho de 2008

A TERNURA DO CRISTO E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.

(Rohane de Lima)



Hoje trago o texto de minha amiga Rohane da comunidade "Teologia da Libertação"do Orkut:


http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=258351



A TERNURA E OS EVANGELHOS
Nenhuma outra parte da Bíblia é tão carregada de ternura quanto o Novo Testamento.

Nos Evangelhos Jesus nos dá a Boa Nova, nos ensina a deixar de lado o “olho por olho, dente por dente”, desvia nosso olhar de um Deus iracundo e furioso e nos convida a olhar para um Deus que perdoa, apazigua, acolhe, ama e dá a outra face. O tempo todo Jesus nos ensina a curar, a viver e a morrer pelo outro, a orar, a confiar em Deus e não a temê-Lo. Jesus nos ensina a partilha do alimento e da confiança, nos ensina que julgar o outro não é função nossa e que em vez de julgar, devemos acolher com misericórdia.Segundo o psiquiatra colombiano Luiz Carlos Restrepo (in o Direito a Ternura, 1988) no original grego do Novo Testamento, ao referir-se a dimensão milagrosa de Cristo, os Evangelistas utilizam a palavra splacnisomai, que corresponde a conjugação de um verbo desaparecido no século II a III de nossa era e que poderíamos traduzir como “sentir nas vísceras”. Para os que estiveram perto do Jesus histórico, um dos sinais de sua grandeza era a capacidade de aproximar-se dos enfermos – tanto do corpo quanto da alma – sentindo-os com suas próprias vísceras. A tradução latina de splacnisomai é misericórdia; foi essa tradução que se integrou a tradição pastoral e litúrgica e aí a bagagem vivencial para tornar-se simples formalismo. A expressão “Senhor, tem misericórdia de mim” deve ser entendida pelo cristão como rogar a Deus que Ele nos sinta como suas vísceras. Sentir alguém nas vísceras é trazê-lo pra debaixo da própria pele e sentir sua dor como se fosse a nossa própria carne, é deixar de ver a dor do outro como diferente da minha. (Mateus 7, 22; Lucas 6, 31).Ao sermos Misericordiosos demonstramos uma disposição de alma, de ser semelhante a Cristo na relação com amigos, inimigos, desprezados, e pecadores. É uma manifestação da conduta. O misericordioso usa de bondade ao olhar para os outros; procura o melhor, não o pior; é lento para condenar, rápido para recomendar.Por que referir a ternura e não ao amor? Porque amor, quando não sentido entre casais, pais e filhos, amigos e irmãos, fica difícil de ser compreendido e é muitas vezes confundido com paixão; porque o amor tem no outro extremo, o ódio. Amamos do outro, o que ele tem de igual a nós, ou amamos uma imagem que projetamos do outro, onde sonhamos encontrar o que não possuímos. O amor é ainda um aprendizado difícil para a maioria de nós.A ternura é o meio do aprendizado entre o amor e o ódio – sentimentos humanos e cotidianos em nossas relações. A ternura é o caminho que percorremos quando nos descobrimos frágeis e falíveis. É pela ternura que, quando nos deparamos na fronteira do ódio, quando nossa impaciência está a ponto de tornar-se intolerância e violência, conseguimos olhar as diferenças como algo que nos enriquece mesmo nos aborrecendo e não correspondendo as nossas expectativas e que a singularidade do outro nos oferece oportunidade de crescimento e de evolução.É através do enternecimento que abrimos o coração e a mente para acolher o próximo mesmo quando desconhecido; é através a ternura que nos abrimos para o gesto amoroso que protege e confere paz. Com a ternura se alcança a contenção sem a dominação e sem a intolerância. Com a ternura somos misericordiosos com os “defeitos” (leia-se diferença) nos outros, até porque muitas vezes esses mesmo defeitos estão em nós (nas nossas vísceras!).Ainda em Restrepo (1988), podemos ler que "Somos ternos quando abandonamos a arrogância de uma lógica universal e nos sentimos afetados pelo contexto, pelos outros, pela variedade de espécies que nos cercam. Somos ternos quando nos abrimos a linguagem da sensibilidade, captando em nossas vísceras o prazer ou a dor do outro. Somos ternos quando reconhecemos nossos limites e entendemos que a força nasce de compartilhar com os outros o alimento afetivo. Somos ternos quando fomentamos o crescimento da diferença, sem tentar nivelar aquilo que nos contrasta. Somos ternos quando abandonamos a lógica da guerra, protegendo os nichos afetivos e vitais para que não sejam contaminados pelas exigências de funcionalidade e produtividade a todo transe que pululam no mundo contemporâneo”A partir da compreensão do que é ser terno, podemos perceber a imensa ternura que Jesus nos dedica quando nos encontra tão renitentes e tão primitivos no aprendizado do amor. Os Evangelhos são explícitos ao narrar que a missão de Jesus é nos ensinar a amar (Mateus 5,43-44; 6, 14-15 ;14, 13-21; 15, 29-36; 18,19; 22, 36-40. João 8-7) e não existe a conjugação do amor sem o outro, então somente através do outro chegaremos a Jesus e somente por Ele iremos ao Pai (João 14,6; 15, 12-17). No Sermão da Montanha, quando das bem-aveturanças, temos novamente a evidência de um Jesus cheio de ternura e misericórdia, nos ensinando a sermos ternos e misericordiosos: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados aqueles que são brandos e pacíficos, porque herdarão a Terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados aqueles que são misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados aqueles que têm puro o coração, porque verão Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles. Bem-aventurados sois, quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”. (Mateus, 5, 1 - 12)



A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E A TERNURA



Na segunda metade do século passado, (meados da década de 60) surge uma elaboração teológica embasada na vida do povo latino-americano. Como conseqüência da vivência, do engajamento social e político e do testemunho cristão no meio do povo, a Ação Católica inicia uma enorme reflexão teológica a partir da vida, do cotidiano desse mesmo povo. Os movimentos de Ação Católica, e o resultado do Concílio Vaticano II, levaram teólogos a elaborar uma teologia que iluminasse os cristãos, de forma ordenada e profunda – a buscar o engajamento político e social. Contidos nessa elaboração teológica, estavam valores de libertação - inspirados na longa experiência do Povo de Deus, do tempo do Antigo Testamento, e nas experiências dos cristãos, renovados pela Boa Nova de Jesus Cristo – havia, também, valores e contra-valores dos conflitos de classe, existentes no Sistema de Exploração do Trabalho. A Teologia da Libertação contém o conceito da Luta de Classes encontrados em Marx, assim como estão presentes os anseios e as lutas pela libertação, apresentados nos livros da Bíblia, presente nas experiências do povo Hebreu e também na pregação e na prática de Jesus Cristo. (Mt. 5, 1-12; 9, 14-17; 23 (todo); Mc. 11, 15-19; 12,1-10;12, 38-40; Lc. 1,46-55; 2,33-35; 4, 17-21 e 24, 17-21)).Daí o porquê do crescimento da Teologia da Libertação na América Latina: “a religião passa a ser um fator de mobilização e não de freio” (BOFF, 1980). O pastor não diz às ovelhas que se contentem com o sofrimento provocado pela miséria, pela exploração e pela exclusão A religião não mais se apresenta como “ópio do povo”. A religião passa a ser um fator de libertação e de esperança para o homem e não mais se reduz a uma ideologia que mantém o status quo social e político. A TL mostra que Deus encarna-se na história, gera libertação de um povo humilhado, gera vida e esperança a um povo condenado a viver sem sonhos. Podemos dizer, metaforicamente, que a TL revela Deus como àquele que resgata a dignidade dos humilhados da terra. Dando grande ênfase à situação social humana, a TL encontra ressonância entre a maioria dos fiéis no Brasil e na América Latina – espaço geográfico onde a maioria da população é de oprimidos, miseráveis e excluídos – num período em que as práticas de governar baseavam-se em torturas e perseguições políticas e aí a TL foi fundamental para que a Igreja viesse a denunciar os crimes dos governos militares, exigindo seu fim e a volta da democracia. A opção pelos pobres, assumida pela Igreja, está alicerçada nos profundos conceitos de justiça nela contidos.A partir dessa luz os fieis deixam de ser meros freqüentadores de missas e novenas e passam a constituir de fato as comunidades, como nos tempos iniciais do cristianismo. Unidos trabalham pelo fortalecimento da Nova Igreja, assumem funções dentro das comunidades, para educar-se, acolher-se e cuidar uns dos outros nos grupos de trabalho. Descobrem o direito de serem iguais quando a diferença os exclui e inferioriza e reivindicam o direito de ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza.As reuniões de Medellin e Puebla, já sob as luzes da Teologia da Libertação, motivaram as Comunidades Eclesiais de Base, para a Igreja que trabalhava o sentido da libertação evangélica, para vencer a “moderna” opressão imposta pelo poder de nossos tempos. Das CEBs, nascem grupos que assumiram as lutas por moradia, transporte, saneamento básico, iluminação pública, educação, creche, saúde pública. A Teologia da Libertação mostra que Deus é “Pai-Nosso” e que por isso homens e mulheres devem se relacionar como irmãos e irmãs, sem exclusão, sem opressão ou sem qualquer tipo de violação da dignidade humana. Lutar pela libertação é valorizar a paternidade universal de Deus, que se manifesta nas relações justas e fraternas entre todos os seres humanos. Como caráter teológico, foi o momento único da Igreja como Instituição, em trabalhar na união dos cristãos e na busca dessa comunhão, disseminou o ideal de auxílio aos excluídos, de acolhimento e empoderamento dos oprimidos para uma caminhada transformadora que libertasse a todos. Aos oprimidos, busca liberta-los da ignorância que os deixa vulneráveis e a mercê dos opressores, ao mesmo tempo que oferece ao opressor – através do mesmo evangelho e do mesmo amor – a oportunidade de libertar-se para o gesto de amar e desprender-se na busca do sentimento de pertencimento a uma comunidade de irmãos e irmãs, filhos e filhas de um mesmo Pai.Fontes:RESTREPO, Luiz Carlos. O direito a ternura. Ed. Vozes. Petrópolis-RJ. 1998.

FERNANDES, Rubem César. Teologia da Libertação in www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/artcult/religiao/tlibert/index.htm



Minhas reflexões sobre o Texto:
(José Ricardo A. de Oliveira)

De minha parte eu aprendi que "dar a outra face" é na realidade, mostrar a outra face da questão, o outro lado da moeda, uma outra possibilidade para a situação que se apresenta.Não tem nada que ver com humilhar-se diante do agressor.Como por exemplo no caso da pergunta se é licito pagar impostos.Jesus apresenta uma outra possibilidade que é dar a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus.Já que Cesar apesar de exigir que o adorem como, não é um Deus é um déspota que exige o pagamento injusto dos impostos.E penso também que até para se exercer a justiça, para dizer a verdade temos que saber como fazer, como dizia o Che, sem perder a ternura.O mundo segue hoje na direção do capital, da impessoalidade, do desrespeito pelo outro.A máxima é que: eu sou o centro do mundo, e dane-se quem não estiver comigo., como na famigerada Lei de Gerson: há que se levar vantagem em tudo.Vejo que a mensagem do Cristo é justamente a "contra mão" dessa realidade. A justiça é feita, mas dentro da perspectiva do amor, da caridade, ou como disse nossa amiga Rohane da ternura.O amor e a ternura são coisas piegas para o mundo capitalista, não dão lucro e não abrem caminho para a exansão e o crescimento.Por isso o cristão é aquele que faz valer seus direitos e principalmente o direito de seu irmão, mas não o faz como os déspotas ou como os que não levam em consideração o semelhante, porque por mais dificil que seja ele precisa reconhecer a filiação divina em todos os seres humanos mesmo que seja um Hitler, um Benedito 16 ou um Bush.Aí talvez esteja a grande dificuldade nossa e a nossa necessidade de aprimoramento.

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1 de junho de 2008

Parábola de Jesus no terreiro

(Frei Carlos Mesters, O.Carm.)

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“Quando Deus andou no mundo.!”Certa vez, Jesus reuniu os discípulos e as discípulas e disse: "Quando vocês forem anunciar a Boa Nova do Reino, não levem dinheiro nem comida, mas confiem no povo. Chegando num lugar, se forem acolhidos e o povo partilhar comida e casa com vocês, e se vocês participarem da vida deles trabalhando e tratarem dos doentes e do pessoal marginalizado, então podem dizer ao povo com toda certeza:'Gente! Olhe aqui! O Reino chegou! Está chegando!"
E elesforam...Jesus também foi. Andou, andou.

Estava começando a escurecer, quando chegou num terreiro. O pessoal que entrava, o saudava e dizia:
"Boa Noite, Jesus! Entre e participe com a gente!"
Jesus entrou. Viu o povo reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam. Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fosse um irmão e amigo de longa data. Gostou de ser acolhido assim.Viu também como a Mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados.



Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse:
"A paz esteja com você, Jesus!"
Jesus respondeu:
"Com a senhora também!"
E acrescentou: "Posso fazer uma pergunta?"
E ela disse: "Pois não, Jesus!"
E ele: "Como é que a senhora me conhece? Como é que o pessoal sabe o meu nome?"
E ela falou: "Mas Jesus, aqui todo mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa no meio de nós!"
Jesus olhou para ela e disse: "Muito obrigado!"
E continuou: "Mãe, estou gostando! O Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!"
Ela olhou para ele e disse: "Muito obrigado, Jesus!
Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!"
E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho:

"Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro.
Sim, Pai, assim foi do teu agrado!".
Dançou um tempão. No fim, comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele.
E dentro dele, o coração repetia sem cessar:
"Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!"