O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

16 de março de 2024

‘todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes." Mt 25, 31-40



Hoje, agora pela manhã, comecei a ouvir não muito longe um canto, aos poucos foi ficando mais perto, e pude distinguir claramente o que cantavam.

Reconheci o canto:

"Coroamos, a ti oh Rei Jesus, invocamos o teu nome, nos tendemos aos teus pés / consagramos todo nosso ser a ti".

Fui até a janela e pude ver uns 20 homens de terno preto, caminhando e cantando.

Pararam à frente do prédio do outro lado da rua, e começaram a "orar", todos a uma só voz, pela família, pela saúde, prosperidade daquela família... Pude perceber no primeiro andar, na sacada da varanda, a senhorinha que costumava colocar o jornal da Universal, na caixa de correio da minha casa... Ela agora bem idosa, acho que não sai mais de casa...

Eram 15 pastores, eu pude perceber. Cantaram, rezaram, acenaram para a senhorinha e foram embora caminhando em silêncio...

Fiquei pensando, não é sem motivo que as igrejas evangélicas que tanto criticamos não param de crescer.

Quando foi que vimos um grupo de padres católicos, ou até mesmo um grupo de leigos, se preocupar com os velhos e doentes, que não conseguem mais ir em suas igrejas, e vão até eles fazer uma oração ?

Não falo dos agentes da pastoral da saude, esses incansáveis,mas solitários fazem um.pouco desse serviço.

Fui muitos anos MECE, participava da pastoral da saúde, visitava doentes, e levava comunhão até eles. Muitos doentes pediam para confessar...

Mas, era difícil conseguir um sacerdote, para visitá-los.

Criei na década de 90 a pastoral da acolhida, na paróquia que frequentava.ja naquela época, me chamavam a atenção as igrejas evangélicas e os centros espíritas que tinham esse tipo de preocupação com seus frequentadores.

O projeto era bem abrangente, uma das propostas, era justamente a visitação aos paroquianos, e na igreja, a presença de duplas que se dispusessem a conversar com as pessoas e ver as necessidades delas, e ir a suas casas, para fazer orações e dar apoio. O projeto foi implantado as pessoas foram treinadas, mas com a mudança de pároco, os agentes viraram meros entregadores de folhetos de missa aos domingos.

"O que fizerdes a um dos meus pequeninos, é a mim que o fareis"

Lembro que no tempo em que as CEBs não eram perseguidas, e nos lugares que ainda sobrevivem esse trabalho aos pequeninos era muito bem feito.

Por isso,quando vejo críticas ao crescimento das igrejas protestantes eu fico pensando, o quanto os católicos não são responsáveis por seu acomodamento e apatia por esta situação.