O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

28 de julho de 2017

Palavras da Fonte

Jean Yves leloup 

Sobre a frase “tudo o que não é assumido não é salvo”, frequentemente me perguntam se Jesus assumiu a paternidade, se assumiu o envelhecimento. Respondo que Ele assumiu todas as faces do ser humano. A face do homem transfigurado no Monte Thabor e também a face do homem desfigurado na cruz.
Mas será que Ele assumiu a face da paternidade? O que os evangelhos nos contam é que Ele era muito paternal e  muito maternal para com as crianças. Usava frequentemente a imagem da criança que mama em sua mãe, que para Ele era uma imagem de não-dualidade, onde dois fazem um. Os discípulos talvez pensem que é preciso que regridamos, que é preciso que nos tornemos criancinhas, que é preciso que retornemos à unidade indiferenciada, à unidade fusional da criança com sua mãe. Jesus precisa bem que não se trata disso. Não se trata de regredir, de voltar à infância tornando-se criancinhas, vivendo como criancinhas como fazem estes adultos que imitam as crianças e que não são crianças, são infantis. Trata-se de reencontrar a qualidade da inocência e, sobretudo, da confiança na vida, confiança nos viventes que compartilham nossa vida. Mas esta confiança precisa ser reconquistada e, então, é preciso fazer de dois, um.
Não se deve retornar ao um, mas sim assumir o dois, assumir a dualidade que acabamos de falar, indo além do dois, além do Tu e do Eu. É preciso descobrir o terceiro incluído que nos une, o terceiro incluído secretamente, para falar como os físicos. Trata-se de fazer do dois, um; isso começa com a unidade entre o exterior e o interior. O que está no interior do cântaro está também no exterior, é o mesmo espaço. Descobrir isso é um ato de consciência.
Devemos também fazer um do alto e do baixo; mas onde começa o alto e onde termina o baixo? Para uns o alto começa na cabeça, para outros no tornozelo. Como diz Lao-Tsé, o alto e o baixo se tocam, então não é preciso colocar em oposição o céu e a terra. O céu não está somente acima das nossas cabeças, ele é também o espaço que nos envolve. A terra está no céu, o céu está na terra.
Como diz ainda Lao-Tsé: “O céu está voltado para a terra e a terra está voltada para o céu”. Os dois são inseparáveis mas algumas vezes opomos o céu e a terra dentro de nós. Então é preciso reencontrar a aliança entre a matéria e o espírito, entre o céu e a terra. Outra aliança que deve viver em nós é a aliança entre o masculino e o feminino. Este texto que tem quase 20 séculos é estranhamente atual, pois cada vez mais, em conferencias e seminários, fala-se da integração entre o feminino e o masculino, entre a anima e o animus.
Para podermos encontrar o outro, um outro inteiro, é preciso que já tenhamos realizado em nós mesmos a unidade entre o masculino e o feminino. Não se trata de procurar a outra metade, mas trata-se de procurar o outro, inteiro. Há muitos encontros de metades, mas há poucos encontros de seres inteiros. Procurar sua outra metade é sempre se procurar a si mesmo, é procurar a metade que nos falta, a metade masculina ou a metade feminina. Ocorre que, quando tivermos vivido algum tempo com esta metade que veio de fora e graças a esta metade exterior integramos a nossa metade interior, poderemos nos perguntar o que faremos com essa que nos ajudou em nossa integração. Isso pode se transformar em um drama. Em um drama ou no momento em que verdadeiramente escolhemos. Porque eu não escolho mais para preencher a minha falta. Eu escolho por ele mesmo, pela sua diferença. O que era um casal transforma-se em uma aliança de dois seres inteiros onde existe algo divino. O encontro entre a Sofia e o Logos, entre Yeshoua de Nazaré e Miriam de Magdala é o encontro entre dois seres inteiros...
Podemos dizer a alguém: “Não tenho mais necessidade de você, posso viver muito bem sem você, estou muito bem sozinho (é uma bela declaração de amor), mas escolhi viver com você.” Não falamos mais na ordem da necessidade, mas estamos na ordem do desejo. Não falamos da falta, mas da liberdade compartilhada. Nessa aliança existe algo de sagrado.
Jesus nos lembra no evangelho que somos capazes de amar um outro não somente a partir da nossa sede mas a partir da nossa fonte. Neste momento importante de nossa vida paramos de pedir ao outro, de exigir, que ele preencha nossa sede, que ele preencha a nossa falta e podemos realmente amá-lo. Agora, o masculino não é apenas um macho, o feminino não é apenas uma fêmea. As relações entre homem e mulher n ao são mais as relações entre macho e fêmea com todos os jogos mais ou menos sadomasoquistas de sedução e de dominação. Agora, estamos na relação entre duas pessoas.

Editora Vozes, 2000

13 de julho de 2017

Diante do Mar...


De frente para o mar reflito e constato que já deveríamos saber que os poderosos sempre levam, aparentemente a melhor. Os sinais, saltam aos nossos olhos e estão nas nossas caras há 2000 anos. Não são necessárias provas quando a vontade dos poderosos se faz presente. Nenhum interesse é maior ou superior do que aquele que emana da elite que domina. Poder que emana do povo só mesmo nos livros e quando a elite quer fazer o povo pensar que detém poder.
Eu posso entender claramente quando o jovem galileu disse que o reino d’Ele não é desse mundo, e não é. Consigo entender o porquê as igrejas cristãs se aliaram ao poder, na verdade elas não estão preocupadas como aquilo que Jesus propôs, elas constroem religiões, dogmas, crenças e doutrinas baseadas na materialidade de forma a anestesiar e domesticar o povo. Ele, o mestre galileu, sabia que tinha vindo trazer a espada, mas a espada não faz parte da sua proposta de Reino e sim da religião obrigatória, e oficial de um império. O amor e a misericórdia estão além de julgamentos, das excomunhões, das guerras, das proibições e dos anátemas.
No mundo onde o galileu reina, o amor é a lei, e não há disputas pelo amor, ele dá-se de bom grado e ninguém pretende dominá-lo ou ter poder sobre ele. Qualquer tentativa de encarcerar amor, ele se extingue.
Olhando o mar e o movimento das ondas percebo que o amor é como este movimento, nada pode detê-lo e é incessante.
Outra coisa que aprendi olhando o mar é que não a limites para a extensão do amor, uma vez que se abra espaço ele invade e preenche todo o espaço.
Por isso ganho nesse pensar a possibilidade de poder comparar saberes, crenças e informações as mais diversas, das mais diversas culturas, povos e tradições que se baseiem no princípio fundador, o amor.
O mundo real é muito mais vasto do que nós e do que os momentos que estamos atravessando, há variadas faces do prisma a serem vistas e interpretadas.
A história nos dá pistas sabias para que possamos entendê-la: Os algozes sempre morrem, geralmente são esquecidos ou lembrados com reservas, as vítimas além de imortais geralmente são eternamente lembradas e veneradas.
O mar também me diz que o segredo para entender a vida está bem ao nosso alcance, em uma instancia que convencionou-se chamar de consciência e que os místicos chamam de "a voz de Deus ". Ela pode ser acessada por todos os que aceitarem se desnudar da arrogância de seu Ego. Ela me diz agora, de frente para o mar, que simbolicamente representa o inconsciente em sua vastidão, que não podemos nos deixar dominar pelo medo ou pela ansiedade de querer controlar os acontecimentos. Muito menos podemos nos deixar levar por impulsos impensados. É preciso usar e abusar da terapêutica da água na boca para deter as palavras mal ditas. Qualquer palavra além do permissível acirra os ânimos e contribui para o desamor e pode comprometer o projeto maior. Não podemos esquecer que "O amor é a lei". É preciso não pretender buscar os holofotes e as glórias que este mundo tanto valorizam.
É mais que necessário alçar voo para ver melhor a realidade e quanto mais alto melhor, quanto mais alto mais superficiais se tornam o tempo e o espaço e é possível ver com olhos de eternidade.
Voemos então.
Sem que nos deixemos abater no voo, sem nos permitir a influência do passageiro, sem que os ventos dos humores nos tirem do curso traçado. O projeto é nada menos que
"O Reino". Esqueçam os dogmas, as doutrinas,e as condenações, todas elas, só o AMOR importa.
É tempo e hora de ver o que é real e está por traz daquilo que nossos limitados olhos conseguem perceber.
Sinto muito, Me perdoe, Sou grato, Eu vos amo!

Uma nova saída é o que precisamos neste momento

Um video bastante interessante especialmente por ser da TED,
o que lhe confere seriedade e especialmente
por nos trazer lições de vida muito importantes.
Acho que quando todas as saídas parecem estar fechadas
é bom continuar insistindo até encontrar outros caminhos.
A mudança de paradigmas vai neste sentido,
não será repetindo o que sempre fizemos
que vamos conseguir mudar o mundo.
https://www.youtube.com/watch?v=rhcJNJbRJ6U


10 de julho de 2017

Parábola do Samaritano.


.Ele não nos enganou, deixou clara a sua denúncia.
Não foi o sacerdote quem parou para ajudar e muito menos o Levita, que era a tribo dos auxiliares dos sacerdotes, aqueles que ajudavam no Templo. Ele escolheu um "Samaritano" para ensinar como ajudar ao próximo. Mas quem eram os Samaritanos na época de Jesus? Samaritanos eram odiados pelos judeus, tidos como hereges, pagãos, impuros. É bom que se saiba que se fosse em nossos dias os Samaritanos poderiam ser Petistas, para os coxinhas e vice versa. Umbandistas ou Candomblecistas, para evangélicos e católicos fundamentalistas. Gays, para os homofóbicos. Ou qualquer tipo de gente que um grupo costume rechaçar ou excluir por preconceito. É preciso ligar essa parábola aos ensinamentos de Jesus que pedia para AMAR os inimigos. Jesus via a todos como irmãos, mesmo aqueles que ele fazia questão de reprovar, ele tudo o por amor, para que enxergando a verdade se reconciliassem com o projeto do Reino. Por isso não nos cabe escolher quem são nossos próximos, que "tipo de gente" ajudar. A ordem é AMAR indiscriminadamente. Amar como ele amou, ama e amará eternamente a cada um de nós.