O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

19 de junho de 2020

Jesus e seu sagrado coração


Uma das representações mais bonitas de toda a tradição cristã católica é a representação do Sagrado Coração de Jesus.  Ela nos remete à principal missão do Mestre. É na verdade a representação daquilo que ele veio fazer em nosso mundo, o Dharma( missão) sublime, de ensinar o amor á humanidade.



Eu vos dou um novo mandamento: 
Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.

Sim ele nos deixou como mensagem que o seu único mandamento
que resume toda a Lei e toda a profecia é justamente o AMOR.

Amai-vos uns aos outros.
Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.
Amai a Deus,
amai a vós mesmos (como a ti mesmos),
e amai ao próximo.

E o discípulo tardio ainda irá acrescentar:

"...Ainda que eu falasse a lingua dos anjos
e a dos homens, se eu nao tivesse amor nada seria..."
(I Corintios Cap 13)

A devoção ao Sagrado Coração tem sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus. Amor que chega a seu ponto alto com a vinda de Jesus.
O Sagrado Coração aparece em dois acontecimentos fortes do evangelho: o gesto de João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). No primeiro temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pela insensatez dos seres humanos incapazes de compreender o amor sem reservas e limites.
Estes dois exemplos do evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus, feito em 1675, a Santa Margarida Maria Alacoque quanto a honrar o seu Divino e Sagrado Coração
O Coração e o amor  nos levam à misericórdia. A palavra tem sua origem no latim. Além  de ter a mesma escrita e pronuncia, também compartilha o mesmo significado que a palavra em português: clemência ou piedade. É composta pelos termos latinos MISERATIO, derivado de MISERERE, que significa “compaixão” e CORDIS, derivado de COR,  “coração”.
A ciência moderna tem comprovado o que os antigos acreditavam sobre o coração: o coração é o centro de uma sabedoria superior. Ele pode realmente se lembrar de coisas e pode funcionar de forma muito parecida com o cérebro.

“Há um cérebro no coração, metaforicamente falando.  “O coração contém neurônios e gânglios que têm a mesma função que as do cérebro, tais como a memória.
Para a ciência o coração é a Sede da Vida. Para a espiritualidade o coração é a morada do Espírito Santo, duas formas de descrever a mesma realidade.
Alguns místicos cristãos do passado tinham conhecimento desta "fisiologia sutil". A abadessa Hildegard de Bingen (1098-1179), Santa Hildegarda, uma mulher muito à frente e seu tempo, conhecia e praticava essa medicina que envolvia o conhecimento das plantas, pedras e cores e em seus muitos relatos existem ensinamentos sobre a aplicação de determinadas pedras, cores e sons sobre centros vitais do corpo (hoje conhecidos como chacras).
Infelizmente esse conhecimento foi todo abandonado pela igreja.
Honrar o Sagrado Coração nos faz meditar e questionar a nossa conduta frente ao mandamento do Mestre e ao que S. Paulo indaga em sua carta: 
“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Romanos 7, 19)

Constantemente repetimos
Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração, semelhante ao Vosso. 

Mas infelizmente parece que ficamos só na repetição da jaculatória de maneira mecânica, esbanjamos egoísmo, indiferença, ódio, injustiça ... ultimamente parece que temos estado com nossos “pavios” muito curtos. São frequentes as demonstrações de intolerância, as cenas de agressão e violência gratuitas. Muitos de nós agem como se não estivéssemos comprometidos com a mensagem de Jesus e mesmo pedindo um coração semelhante ao dele, temos comportamentos preconceituosos, impermeáveis ao perdão e pouco interessados no projeto da construção do Reino que Ele nos mandou construir. Certamente estamos esquecidos de que foi Ele próprio que nos chamou atenção de que quando desprezamos a qualquer uma das suas criaturas é a Ele que estamos desprezando. E que ele separará os misericordiosos dos egoístas. (Mt25,31e ss)
Peçamos a Jesus, o grande arquétipo da síntese, que faça realmente uma grande mudança em nossos corações, que troque o nosso coração de pedra, que condena antes de procurar perdoar, que exclui antes de se abrir ao que é diferente. Peçamos um coração inclusivo, um coração que não tem medo de se doar, de se rasgar, de se comprometer com as causas que a sociedade de hoje teima em rejeitar como na época dos primeiros tempos do cristianismo. 

“Cria em mim oh! Deus /Um coração igual ao Teu /
Liberto para amar sem ter limites /...........
Sem mágoas, maldições e cheio de perdão. 
Transborda nele a Tua paz/ Tu és olheiro molda e faz /
Faz jorrar teu rio vivo e o teu mover’.           
(Marcos Goes)