O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

20 de novembro de 2020

Sobre Coreografias na Igreja


 Talvez por viver em uma arquidiocese onde a renovação carismática é maioria tenho algumas reservas com relação a algumas práticas.  

Mas preciso dar um voo no tempo. Acho que foi lá pela década de 80 que surgiu o habito de coreografar músicas. A apresentadora XUXA e depois a Angélica, grupos como "menudos e assemelhados, passaram a criar em seus admiradores o habito de fazer as "dancinhas", coreografias marcadas por eles nos palcos.
Isso a meu ver foi uma grande agressão à individualidade dos jovens. Lembro bem de minhas filhas e sobrinhas treinando e discutindo qual era o gesto exato, o correto para determinado trecho da musica. Hoje muitos nem se dão mais conta disso e é comum em festas ver-se a "massa" fazendo determinados gestos, em conjunto ao ouvir e cantar certas musicas.
Repito que considero isso um grande atentado à individualidade, já que acho que musica se ouve e se expressa cada um de seu modo.
A musica toca ao coração e o corpo expressa a emoção. Mas quando isso é feito de forma coreografada, infelizmente as emoções escorrem pelo ralo.
Posto isto, voo para a igreja e descubro que esse habito desembarcou nas celebrações e por toda parte pode-se perceber uma massa que repete gestos muitos deles sem nenhuma expressão emocional, mera repetição de algum animador que se posta à frente da assembleia qual um animador de auditório.
Que fique claro que não reprovo os gestos, as palmas, a alegria ou a dança, mas desde que elas sejam a expressão daquilo que o coração sente. Algo como o mover do espírito através do corpo.
Não sei meu caro  a sua experiência em grupos renovados, mas confesso não consigo entender certas práticas, do tipo :
cante agora para o seu irmão do lado...
agora para o irmão da frente...
 E as pessoas como teleguiados cantam coisas do tipo : "você é a pessoa mais importante na minha vida", e muitas vezes nem conhecem para quem está dizendo isso ou, pior, ao sair da igreja, nem lembra de dizer tchau para a pessoa mais importante de sua vida !

Toda a minha critica, está relacionada ao vazio, à mera repetição pela repetição, ao seguimento de um animador . Acho que podemos fazer bem melhor para nosso Deus, acho que podemos deixar o coração trasbordar, cada um a seu modo a alegria e a nossa devoção, sem o medo de estar fazendo errado o "gestinho" que o animador de auditório está propondo.
Espero que me entendam, mas isso é também um desabafo de quem não consegue encontrar uma comunidade que louve com o coração e não só com coreografias o Deus do Amor.