O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

21 de novembro de 2020

Cristo Rei do Universo

Ele não quis e não quer estar ACIMA DE NADA e deixou como recado que os últimos serão os primeiros no seu reino.

Que fique claro que este Rei não habita em palácios, não veste capa e não usa coroa de ouro, não se cerca de pompas. Ele mesmo disse que o Reino dele não era deste mundo.
Sua única coroa foi de espinhos, lavou os pés dos seus súditos e os mandou fazer o mesmo.









Rei que deixa claro que que sua prioridade são os pobres , os excluídos, os famintos os abandonados. Diz com clareza que os ladrões e as prostitutas precederão os sacerdotes e doutores da lei no seu Reino.
Neste Reino os poderosos só tem poder se colocarem este poder a serviço do amor. Por mais que o consumismo nos indique o caminho do prazer do consumo e das suntuosidades, nada disto faz parte do Reino que Jesus pediu que construíssemos.
Como indicação de como seria seu reino nos deixou muito claramente esta advertência:
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
31Quando o Filho do Homem vier em sua glória,
acompanhado de todos os anjos,
então se assentará em seu trono glorioso.
32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele,
e ele separará uns dos outros,
assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33E colocará as ovelhas à sua direita
e os cabritos à sua esquerda.
34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
`Vinde benditos de meu Pai!
Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou
desde a criação do mundo!
35Pois eu estava com fome e me destes de comer;
eu estava com sede e me destes de beber;
eu era estrangeiro e me recebestes em casa;
36eu estava nu e me vestistes;
eu estava doente e cuidastes de mim;
eu estava na prisão e fostes me visitar".
37Então os justos lhe perguntarão:
`Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te demos de comer?
com sede e te demos de beber?
38Quando foi que te vimos como estrangeiro
e te recebemos em casa,
e sem roupa e te vestimos?
39Quando foi que te vimos doente ou preso,
e fomos te visitar?"
40Então o Rei lhes responderá:
`Em verdade eu vos digo,
que todas as vezes que fizestes isso
a um dos menores de meus irmãos,
foi a mim que o fizestes ..." (Mt 25,31-ss)

20 de novembro de 2020

Sobre Coreografias na Igreja


 Talvez por viver em uma arquidiocese onde a renovação carismática é maioria tenho algumas reservas com relação a algumas práticas.  

Mas preciso dar um voo no tempo. Acho que foi lá pela década de 80 que surgiu o habito de coreografar músicas. A apresentadora XUXA e depois a Angélica, grupos como "menudos e assemelhados, passaram a criar em seus admiradores o habito de fazer as "dancinhas", coreografias marcadas por eles nos palcos.
Isso a meu ver foi uma grande agressão à individualidade dos jovens. Lembro bem de minhas filhas e sobrinhas treinando e discutindo qual era o gesto exato, o correto para determinado trecho da musica. Hoje muitos nem se dão mais conta disso e é comum em festas ver-se a "massa" fazendo determinados gestos, em conjunto ao ouvir e cantar certas musicas.
Repito que considero isso um grande atentado à individualidade, já que acho que musica se ouve e se expressa cada um de seu modo.
A musica toca ao coração e o corpo expressa a emoção. Mas quando isso é feito de forma coreografada, infelizmente as emoções escorrem pelo ralo.
Posto isto, voo para a igreja e descubro que esse habito desembarcou nas celebrações e por toda parte pode-se perceber uma massa que repete gestos muitos deles sem nenhuma expressão emocional, mera repetição de algum animador que se posta à frente da assembleia qual um animador de auditório.
Que fique claro que não reprovo os gestos, as palmas, a alegria ou a dança, mas desde que elas sejam a expressão daquilo que o coração sente. Algo como o mover do espírito através do corpo.
Não sei meu caro  a sua experiência em grupos renovados, mas confesso não consigo entender certas práticas, do tipo :
cante agora para o seu irmão do lado...
agora para o irmão da frente...
 E as pessoas como teleguiados cantam coisas do tipo : "você é a pessoa mais importante na minha vida", e muitas vezes nem conhecem para quem está dizendo isso ou, pior, ao sair da igreja, nem lembra de dizer tchau para a pessoa mais importante de sua vida !

Toda a minha critica, está relacionada ao vazio, à mera repetição pela repetição, ao seguimento de um animador . Acho que podemos fazer bem melhor para nosso Deus, acho que podemos deixar o coração trasbordar, cada um a seu modo a alegria e a nossa devoção, sem o medo de estar fazendo errado o "gestinho" que o animador de auditório está propondo.
Espero que me entendam, mas isso é também um desabafo de quem não consegue encontrar uma comunidade que louve com o coração e não só com coreografias o Deus do Amor.

1 de novembro de 2020

Partir e chegar, são só dois lados da mesma viagem (Milton Nascimento)

 




Mas quem quer saber de morte? Apesar de todos sermos cristãos e anunciarmos com grande empenho e alegria a ressurreição, a grande maioria de nós não quer ouvir falar da morte. Fala-se até na morte dos outros, mas nunca da nossa.

 Vivemos como se esse acontecimento jamais fosse ocorrer em nossas vidas. Somos muitas vezes surpreendidos com a perda de um ente querido, mas apesar de sermos confrontados com o inevitável, sempre se dá um jeito de driblar e seguir adiante  fazendo cara de paisagem para a irmã morte, como a chamava S. Francisco de Assis.
A vida moderna tem nos fornecido subsídios para fingir que tudo se restringe ao agora, à efervescência do dia a dia. É como se o grande objetivo de nossas vidas fosse consumir cada vez mais, comprar em grandes bocadas uma felicidade fictícia que nem bem se sai da loja já perdeu seu glamour e cedeu lugar a uma nova necessidade de consumo. E de ilusão em ilusão a vida acaba por terminar seu curso, muitas vezes pegando despreparado quem se iludia achando possível comprar felicidade em lojas de Shopping Centers.
Quantos de nós se dão conta da tradicional frase que se encontra nas portas dos cemitérios: Revertere ad locum tuum, ou seja  “Volta para o lugar de onde viestes !”Sim a volta é compulsória, ninguém , nenhum de nós ficará aqui eternamente porque aqui estamos de passagem , embora vivamos como se aqui fossemos ficar de forma definitiva.
O Pe. Pierre Teilhard de Chardin dizia: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana." 

Apenas a dimensão espiritual é capaz de nos dar alternativas para superar este impasse.
Jesus venceu a morte, abriu os portões da eternidade a toda a humanidade. Ou cremos no que anunciamos ou corremos o risco de ficarmos presos na cruz da sexta feira da paixão.  Sim todo aquele que baseia a sua vida na finitude da materialidade está condenado a permanecer pregado na cruz, preso ao sofrimento, sentenciado ao suplício eterno.
 Crer em Jesus e na ressurreição é libertar-se da materialidade e abrir os olhos para um horizonte infinito que só pode ser contemplado por olhos que ressuscitaram. Vencer a morte é perceber que o seu contrário jamais será a vida, posto que essa é eterna; o que se opõe à morte é o nascimento. Nascer e morrer são só dois momentos da vida plena e eterna. São, como diz Milton Nascimento: “e assim, chegar e partir, são só dois lados da mesma viagem “

Celebremos então a memória de nossos queridos que vivos estão,  só que junto ao Pai, aguardando o momento de festejar nosso reencontro para que vivamos terna e eternamente felizes junto ao Senhor.