O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

30 de maio de 2008

Donos de Deus

.
Hoje em dia há pessoas que parece, se acham donas de Deus.
Vivem a apregoar que a sua religião, o seu modo de rezar, o seu santo de devoção, enfim, tudo delas é melhor que dos outros.
Revirando minhas mensagens antigas me deparei com esta, que coloco abaixo que é um primor e que na minha maneira de ver é um alerta a esses "Donos de Deus "






Uma pobre velha morava em um humilde barraquinho com sua neta muito doente.Como não tinha dinheiro sequer para levá-la a um médico, e vendo que, apesar de seus muitos cuidados e remédios de ervas, a pobre criança piorava a cada dia, resolveu iniciar uma caminhada de 2 horas até a cidade próxima em buscade ajuda. Chegando ao único hospital público da região foi aconselhada a voltar para casa e trazer a neta junto, para que esta fosse examinada.
Quando ia voltando, já desesperada por saber que sua neta não conseguia sequer levantar da cama, a senhora passou em frente a uma Igreja e como tinha muita fé em Deus, apesar de nunca ter freqüentado uma Igreja, resolveu pedir ajuda. Ao entrar, encontrou algumas senhoras ajoelhadas no chão fazendo orações em voz alta.
As senhoras receberam a visitante e, após se inteirarem da história, a convidaram para se sentar enquanto elas iriam orar pela pobre criança.
Após quase uma hora de orações, cantos, orações em linguas e pedidos de intercessão, as senhoras já iam se levantando quando a mulher lhes disse:
- Eu também gostaria de fazer uma oração.
Vendo que se tratava de uma mulher de pouca cultura, as senhoras retrucaram:
- Não é necessário, nossas orações são suficientes e vão, com certeza, fazer sua neta melhorar.
Ainda assim a senhora insistiu em orar, e começou:
- Deus, sou eu, olha, a minha neta está muito doente Deus, assim eu gostaria que você fosse lá curar ela Deus, você pega uma caneta que eu vou dizer onde fica.
As senhoras estranharam, mas continuaram ouvindo:
- Já está com a caneta Deus? Então anota por favor. Você vai seguindo o caminho daquí de volta pra Belo Horizonte e quando passar o rio com a ponte entra na segunda estradinha de barro, não vai errar tá.
A esta altura as senhoras já estavam se esforçando para não rir; mas ela continuou:
Seguindo mais uns 20 minutinhos a pé tem uma vendinha, entra na rua depois da mangueira que o meu barraquinho é o último da rua, pode ir entrando que não tem cachorro.
As senhoras começaram a se indignar com a situação.
- Olha Deus, a porta tá trancada, mas a chave fica embaixo do tapetinho vermelho na entrada. O senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha.
Mas olha só Deus, por favor, não esquece de colocar a chave de novo embaixodo tapetinho vermelho senão eu não consigo entrar quando chegar em casa...
A esta altura as senhoras interromperam aquela ultrajante situação dizendo que não era assim que se deveria orar e mandaram a pobre prá fora da igreja.
A mulher foi pra casa um pouco desconsolada, mas ao entrar em sua casinha sua neta veio correndo lhe receber.
- Minha neta, você está de pé, como é possível !
E a menina explicou:
- Eu ouvi um barulho na porta e pensei que era a senhora voltando, porém entrou um homem muito alto com um vestido branco em meu quarto e mandou que eu levantasse, e, não sei como, eu levantei.
Quase em prantos, a menina explicou:
- Depois ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha de ir embora, mas pediu que eu avisasse a senhora que ele ia deixar a chave embaixo do tapetinho vermelho...

Louvado seja Deus que revelou essas coisas aos humildes e simples de coração.

28 de maio de 2008

Cardeal Martini pede reforma da Igreja


.
cardeal Carlo Maria Martini

Noticia de 28/05 /08
Sem dúvidas é uma pena que ele não tenha sido eleito papa. É possível que tivéssemos hoje uma outra igreja, mas...
A Notícia:O influente religioso elogia Lutero, defende o debate sobre o celibato e a ordenação de mulheres e reclama uma abertura do Vaticano em termos de sexoJuan G. BedoyaEm Madri"A Igreja deve ter o valor de se reformar." Essa é a idéia principal do cardeal Carlo Maria Martini (nascido em Turim em 1927), um dos grandes eclesiásticos contemporâneos. Com elogios ao reformador protestante Martinho Lutero, o cardeal pede à Igreja Católica "idéias" para discutir, até a possibilidade de ordenar "viri probati" (homens casados, mas de fé comprovada) e mulheres. Também pede uma encíclica que termine com as proibições da Humanae Vitae, emitida por Paulo 6º em 1968 com severas censuras em matéria de sexo.O cardeal Martini foi reitor da Universidade Gregoriana de Roma, arcebispo da maior diocese do mundo (Milão) e papável. É jesuíta, publica livros, escreve em jornais e debate com intelectuais. Em 1999 pediu diante do Sínodo de Bispos Europeus a convocação de um novo concílio para concluir as reformas postergadas pelo Vaticano II, realizado em Roma entre 1962 e 1965. Agora volta à atualidade porque se publica na Alemanha (pela editora Herder) o livro "Colóquio Noturnos em Jerusalém", como testamento espiritual do grande pensador. É assinado por Georg Sporschill, também jesuíta.Sem disfarces, o que Martini pede às autoridades do Vaticano é coragem para reformar-se e mudanças concretas, por exemplo, nas políticas sobre o sexo, um assunto que sempre desata os nervos e as iras dos papas, já que são solteiros.O celibato, afirma Martini, deve ser uma vocação, porque "talvez nem todos tenham o carisma". Espera também a autorização do preservativo. E nem sequer o assusta um debate sobre o sacerdócio negado às mulheres, porque "encomendar cada vez mais paróquias a um pároco ou importar sacerdotes do estrangeiro não é uma solução". Lembra ao Vaticano que no Novo Testamento havia diaconisas.Vários jornais europeus divulgaram a publicação de "Colóquios Noturnos em Jerusalém", salientando a exortação do cardeal a não se afastar do concílio Vaticano II e a não ter medo de "confrontar-se com os jovens".Exatamente sobre o sexo entre jovens, Martini pede para não desperdiçar relações e emoções, aprendendo a conservar o melhor para a união matrimonial. E rompe os tabus de Paulo 6º, João Paulo 2º e o atual papa, Joseph Ratzinger. Diz: "Infelizmente, a encíclica Humanae Vitae teve conseqüências negativas. Paulo 6º evitou de forma consciente o problema para os padres conciliares. Quis assumir a responsabilidade de decidir sobre os anticoncepcionais. Essa solidão na decisão não foi, em longo prazo, uma premissa positiva para tratar dos temas da sexualidade e da família."O cardeal pede um "novo olhar" para o assunto, 40 anos depois do concílio. Quem dirige a Igreja hoje pode "indicar uma via melhor do que a proposta pela Humanae Vitae", afirma.Sobre a homossexualidade, o cardeal diz com sutileza: "Entre meus conhecidos há casais homossexuais, homens muito estimados e sociais. Nunca me pediram, nem teria me ocorrido, condená-los."Martini aparece no livro com toda a sua personalidade, de uma curiosidade intelectual sem limites. A ponto de reconhecer que quando era bispo perguntava a Deus: "Por que não nos dá idéias melhores? Por que não nos faz mais fortes no amor e mais valentes para enfrentar os problemas atuais? Por que temos tão poucos padres?"Hoje, aposentado e doente - acaba de deixar Jerusalém, onde vivia dedicado a estudar os textos sagrados, para ser tratado por médicos na Itália -, limita-se a "pedir a Deus" que não o abandone.Além do elogio a Lutero, o cardeal Martini revela suas dúvidas de fé, lembrando as que teve Teresa de Calcutá. Também fala sobre os riscos que um bispo tem de assumir, referindo-se a sua viagem a uma prisão para falar com militantes do grupo terrorista Brigadas Vermelhas. "Os escutei e roguei por eles e inclusive batizei dois gêmeos filhos de pais terroristas, nascidos durante um julgamento", relata."Eu tive problemas com Deus", confessa em determinado momento. Foi por não conseguir entender "por que fez seu filho sofrer na cruz". Acrescenta: "Inclusive quando era bispo algumas vezes não conseguia olhar para o crucifixo porque a dúvida me atormentava". Também não conseguia aceitar a morte. "Deus não poderia tê-la poupado aos homens, depois da de Cristo?" Depois entendeu. "Sem a morte não poderíamos nos entregar a Deus. Manteríamos abertas saídas de segurança. Mas não. É preciso entregar a própria esperança a Deus e crer nele."De Jerusalém a vida se vê de outra maneira, sobretudo as parafernálias de Roma. É o que conta Martini: "Houve uma época em que eu sonhei com uma Igreja na pobreza e na humildade, que não dependesse das potências deste mundo. Uma Igreja que desse espaço para as pessoas que pensam mais além. Uma Igreja que transmitisse valor, especialmente a quem se sente pequeno ou pecador. Uma Igreja jovem. Hoje já não tenho esses sonhos. Depois dos 75 anos decidi rezar pela Igreja".Nunca mais o "erro de Galileu"O cardeal Martini sempre se empenhou em estabelecer um terreno comum de discussão entre leigos e católicos, confrontando também aqueles pontos nos quais não há consenso possível. Com essa intenção abriu um dos debates mais saborosos entre intelectuais contemporâneos, publicado em 1995 na Itália com o título de "In cosa crede qui non crede?" (Em que crêem os que não crêem?). Tratava-se de uma série de cartas trocadas entre o cardeal e o escritor Umberto Eco, sobre temas como quando começa a vida humana, o sacerdócio negado à mulher, a ética, ou como encontrar, o laico, a luz do bem. Um setor da hierarquia católica assistiu à controvérsia com indisfarçável incômodo, mas uma década depois o mesmo cardeal Ratzinger, hoje papa Bento 16, enfrentou um debate semelhante com o filósofo alemão Jürgen Habermas sobre a relação entre fé e razão.O cardeal Martini lamentou em 1995 que sua Igreja vivesse mergulhada em "desolada resignação sobre o presente". Também admitiu diante de Eco o medo da ciência e do futuro. Então o fez "com tesouros de sutileza", ele mesmo reconheceu. Dava como testemunho a prudência de Tomás de Aquino em semelhantes compromissos, por medo de Roma, que esteve a ponto de castigar quem hoje é um de seus guias mais ilustres.O cardeal, já aposentado - quer dizer, mais livre do que quando exercia responsabilidades hierárquicas -, se expressa no novo livro com a sutileza que usou no debate com Umberto Eco, mas coloca sobre a mesa pontos de vista surpreendentes para seus pares, como o controle da natalidade e os preservativos. Soam também como chicotadas seus elogios a Martinho Lutero e o desafio a Roma para que empreenda com coragem algumas das reformas que o frade alemão reclamou em seu tempo.No fundo de suas manifestações de hoje, em que o cardeal às vezes parece angustiado - com um sentimento mais trágico de sua fé -, surge o debate interminável do confronto entre a Igreja de Roma e a ciência e o pensamento moderno. Novamente é um jesuíta quem volta a colocar a discussão, para desgosto do Vaticano. A vantagem de Martini é que não está mais ao alcance de nenhuma pedrada. O também jesuíta George Tyrrell, o erudito tomista irlandês, foi castigado sem contemplações e suspenso de seus sacramentos. Inclusive teve negada sua sepultura em um cemitério católico quando morreu em 1909. Seu pecado: reivindicar, como Martini, o direito de cada época a "adaptar a expressão do cristianismo às certezas contemporâneas, para apaziguar o conflito absolutamente desnecessário entre fé e ciência, que é um mero espantalho teológico."O que buscam todos esses pensadores católicos é espantar qualquer risco de cometer outra vez o erro de Galileu. É outra exigência do cardeal.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
.


26 de maio de 2008

Teologia da Libertação e Luta Armada

(J. Ricardo A. de Oliveira)




Penso que para compreeender-se bem a Teologia da libertação é preciso se contextualizá-la nos textos bíblicos que deram origem a esta ótica do cristianismo, hoje execrada pelas correntes mais radicionlistas da Igreja Católica Romana.
Pode-se enxergar uma TdL já no Êxodo, no episódio de Moisés e a sarça ardente. Alí Deus vem a público cobrar de Moisés que vá enfrentar o faraó para LIBERTAR o seu povo que vivia oprimido. São vários os textos proféticos, no primeiro testamento, em que podemos encontar a presença do Deus que vem exigir a libertação de seu povo oprimido. 
Isaias tem uma grande variedade de textos que tratam da libertação do povo. No segundo testamento, a vinda do próprio Jesus, tem esse caráter libertador. Outro ponto importante é o questionamento que a TdL faz ao modelo católico da atualidade. Entendem os teólogos desta corrente que a base do cristianismo está claramente descrita no livro dos Atos dos Apóstolos. Uma leitura atenta deste livro vai nos revelar que as primeiras comunidades frequentavam diariamente o Templo e " partiam o pão nas casas". Não havia sacerdotes. O que se diz hoje, que o batismo torna o batizado um sacerdote, era realmente praticado e não só para constar. Todo este clericalismo existente não fazia sentido. Haviam "Presbíteros" sim, mas o que hoje é entendido como sinônimo de sacerdote, na época significava ancião. Pedro foi o "presbítero" escolhido por Jesus que como judeu designou como líder o ancião, ou seja, o mais velho do grupo = o presbítero.
Também em Atos pode se ver o episódio da discussão de Pedro e Paulo, no famoso concílio de Jerusalém. Pode-se observar claramente que Pedro não posava de papa. Ele é contestado e acaba cedendo. Portanto ele não detinha o poder absoluto que se quer que acreditemos. A figura do papa só aparece muito mais tarde lá pelo final do sec III. Toda a crítica que os tradicionais fazem á TdL praticamente baseia-se no fato de que para a TdL, a verdadeira Tradição cristã, foi a que ocorreu nos primeiros três seculos do cristianismo e, para os tradicionalistas  a tradição é a igreja medieval que muito pouco tem a ver com os ensinamentos e a prática de uma espiritualidade de um filho de carpinteiro e uma trupe de pescadores rudes e iletrados.
Recomendo o Livro "A Igreja católica" do padre e teólogo Hans Küng, silenciado pelo Vaticano além dos de Leonardo Boff, é claro, para uma correta compreensão do que é TdL - Teologia da libertação.








23 de maio de 2008

O que é teologia da Libertação(Claudemiro Godoy do Nascimento)

Claudemiro Godoy do Nascimento




Este texto foi produzido pelo nosso saudoso amigo Claudemiro Godoy do Nascimento Quando ainda era diácono da ICAR. E que nos deixou no ano de 2010 em um acidente automobilístico.
A Ele a nossa gratidão e a nossa saudade e a certeza de que agora ele intercede por todos nós que trabalhamos pela construção do Reino do Pai.
J. Ricardo




Um dos melhores artigos que li sobre o que é a tdL é do meu amigo Claudemiro, com quem não falo já há algum tempo desde que ele seguiu lá para as bandas do Araguaia junto á Igreja católica Anglicana.

Awerê Claudemiro !








O que é Teologia da Libertação
Diac. Claudemiro Godoy do Nascimento



A palavra teologia vem da conjugação de TÉOS e LÓGOS, dois termos gregos.Poder-se-ia dizer que teologia é todo discurso acerca de Deus. Assim, porexemplo, foi denominado por Aristóteles em seu livro "Filosofia Primeira",que hoje conhecemos com o nome de metafísica. Para Aristóteles o TÉOS seriaobjeto de pesquisa da maior de todas as ciências: a ciência do ser enquantoser - esta que hoje denominamos de metafísica. Portanto, para serestagirita - Aristóteles, a metafísica, ou seja, a filosofia primeira, ésinônimo de teologia.Apesar de podermos falar de teologia em um sentido lato, tal como abordamosacima, atualmente o significado deste termo difere-se deste que expusemos.Teologia hoje é o discurso racional acerca de Deus a partir dos dadosadvindos de um livro revelado: Bíblia, Alcorão, etc. À teologia compete,portanto, a atualização dos dados revelados através do discurso (lógos),segundo as exigências históricas vigentes. Com isso, se mostra o carátertransitório do discurso teológico: a transitoriedade do discurso deve-se àtransitoriedade própria da história humana, da cultura e de suas diversasproblemáticas. Deus, por isso, deve sempre aparecer ao homem, através dodiscurso teológico, historicamente situado. Esta, última informação nos levaa perceber a imbricação necessária entre teólogo, revelação e história.Não obstante à imbricação supracitada, não poucas vezes a teologia cristã seconfigurou de forma totalmente anacrônica em seus discursos e,conseqüentemente, em seus conceitos. A teologia cristã durante séculos,preocupou-se com o hyperurânio de Platão, com o motor imóvel de Aristóteles,com a cidade de Deus de Agostinho, menos com as problemáticas históricas quefatalmente orientavam a vida social do homem. É comum nos depararmos comtextos clássicos da teologia e sermos levados às nuvens, aos céus, como, porexemplo, num texto de Irineu ou de S. Agostinho de Hipona. Mas, qual a razãodisto? Isto ocorreu por mera vontade dos teólogos? Certamente, não.A teologia cristã configurou-se de forma anacrônica por muito tempo, devidoao instrumental filosófico que ela utilizou para discursar acerca de Deus.Tal instrumental derivava-se da metafísica clássica que tem comocaracterística formular conceitos anacrônicos, desconsiderando o caráterhistórico do homem - ou seja, desconsiderando o homem enquanto serhistórico, que se faz (constrói) no tempo. A conseqüência disto, é que osdados da revelação cristã - Bíblia - foram entendidos como realidadesatemporais e ahistóricas. Por isso, por muito tempo - certamente, tambémainda hoje - entendeu-se Deus, Reino dos Céus, inferno, etc., comorealidades totalmente transcendentais, totalmente destacadas dos processos efases históricas da humanidade.Esta forma de discurso acerca de Deus foi submetida à crítica com o adventoda modernidade e do pensamento contemporâneo. A metafísica, que foi a "pedraangular" da teologia clássica, foi fortemente criticada a partir damodernidade. Descobriu-se, após séculos de especulação, a história comocaracterística essencial do homem e a cultura como âmbito de toda construçãohistórica. Com isso, o pensamento ocidental, largou aqueletranscendentalismo metafísico, tornando-se por isso mais imamentista. Istoinfluenciou fortemente a teologia. O encontro do homem com Deus - chamadopela teologia da GRAÇA - passou a ser pensado como realidade histórica: Deusse manifesta ao homem situando-se histórica e culturalmente, ou seja, oencontro de Deus com o homem difere-se na história em suas diversas épocas,e difere-se na pluralidade cultural que se dá no seio da humanidade.Obviamente, isto gerou uma certa relativização no discurso sobre Deus;porém, valorizou a historicidade como característica essencial do serhumano, além de valorizar a multiplicidade de formas de Deus se apresentarao homem, superando, assim, o anacronismo clássico metafísico que norteava opensamento teológico no entendimento da relação homem - DEUS.A chamada Teologia da Libertação está inserida nesta última fase dopensamento ocidental que destacamos acima: a fase da valorização dahistória, da cultura e da diversidade de formas de manifestação do encontrodo homem com Deus. Ela é uma teologia propriamente cristã; por isso, utilizaa Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos.A expressão "teologia da libertação", já mostra o sentido norteador destediscurso teológico. O genitivo que aparece na expressão citada - DALIBERTAÇÃO -, mostra-nos que a libertação é o horizonte regulador dodiscurso acerca de Deus, e, ao mesmo tempo, mostra-nos que o Deus dodiscurso é fonte de libertação. Esta se manifesta concretamente nos diversosmomentos do processo histórico de um povo. Conseqüentemente, a teologia dalibertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxislibertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstânciassob as quais um povo está submetido."A teologia da libertação é um movimento teológico que quer mostrar aoscristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela podecontribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora" (MONDIN,1980, p. 25). Neste sentido, o cristão é impelido a viver a práxislibertadora nas diversas épocas da história.O termo libertação foi cunhado a partir da realidade cultural, social,econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir dasdécadas de 60/70 do último século. Os teólogos deste período, católicos eprotestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico.Vejamos o quadro social da América Latina no período originário da teologiada libertação:"O ambiente político é geralmente caracterizado pela presença de governosque administram o poder arbitrariamente em vantagem dos ricos e dospoderosos, fazendo amplo uso da força e da violência. (...) O ambienteeconômico e social está marcado pelamiséria e pela marginalização da maiorparte da população. Os recursos econômicos são controlados por um pequenogrupo de privilegiados. (...) No ambiente cultural se verifica ainda umanotável dependência da Europa e dos Estados Unidos. Na ciência como nafilosofia, na arte como na literatura, quase nada é concedido àoriginalidade das populações latino-americanas" (Ibidem, p. 25-26).O quadro de degradação apresentado na América Latina é o fundamento geradordo conceito de libertação. A libertação, então, é toda "ação que visa criarespaço para a liberdade" (BOFF, 1980, p. 87). Ser livre, neste sentido, énão estar sob o jugo da lei alheia; é poder construir-se autonomamente. Oprocesso histórico da América Latina foi e é dominado por diversas leisestranhas a ela. A América do Norte, em especial os EUA, e os paíseseuropeus, sempre impuseram aos latino-americanos seus valores, suaspolíticas, sua cultura, etc. Neste sentido, a libertação no seio da AméricaLatina, é a luta pela liberdade da cultura, dos valores, da economia, dapolítica latino-americanos, frente às diversas opressões advindas de ummodelo imperialista que rege a práxis do hemisfério norte em suas relaçõescom o hemisfério sul, especialmente como o povo latino-americano. Talrelação impõe ao hemisfério sul a cultura do hemisfério norte.Devido à pobreza e à nefasta degradação do povo latino-americano, alibertação deve ser entendida como superação de um processo de exclusão; jáque esta é a conseqüência direta da relação norte-sul, onde milhões dehomens e mulheres empobrecem e se deterioram porque ficam à margem(excluídos) do processo econômico e político norteado pelo capitalismoimposto pelos EUA e Europa.Desta forma compete à teologia da libertação a tarefa de discursar sobreDeus a partir da ótica de um processo excludente e a partir da realidadeconcreta dos excluídos. O teólogo da libertação, portanto, deve ter esteduplo olhar: olhar para Deus e olhar para o excluído. Olhar para Deus é afonte de toda libertação possível e o olhar para o excluído identifica ondehá necessidade de libertação. Olhando para Deus - ou Cristo -, a teologia dalibertação diferencia-se de todo movimento libertador laico, já que alibertação apresentada pela teologia enxerga nos processos históricos apossibilidade de presentificação da nova ordem escatológica anunciada porCristo, ou seja, o Reino de Deus - ordem de justiça e da superação de todaopressão possível, na sociedade e no cosmos. Ao pretender olhar para oexcluído e para o sistema gerador de opressão, como pressuposto de todofazer teológico, a teologia da libertação difere-se radicalmente dasteologias clássicas, pois supera o anacronismo destas, circunscrevendo aexperiência de Deus no âmbito do engajamento do fiel na luta contra todo osofrimento humano historicamente situado.Para que haja elaboração da teologia da libertação é mister que secompreenda os fenômenos da opressão e da exclusão. Estes devem sercompreendidos através de uma mediação sócio-analítica, "Libertação élibertação do oprimido. Por isso, a teologia da libertação deve começar porse debruçar sobre as condições reais em que se encontra o oprimido dequalquer ordem que ele seja." (BOFF, 1996, p. 40). O método utilizado paraelucidar sócio-analiticamente o fenômeno da opressão e da exclusão pelateologia da libertação, é o método histórico-dialético.O marxismo passa a ser a filosofia predominante na análise sócio-analíticafeita pela teologia da libertação. Porém, o marxismo é utilizado comoinstrumento, não tendo fim em si mesmo. "Na teologia da libertação omarxismo nunca é tratado em si mesmo, mas sempre a partir, e em função dospobres" (Ibidem, p. 45). O sentido último da teologia não é Marx, mas Deus.Após a leitura sócio-analítica, o teólogo da libertação deve-se deparar coma Bíblia Sagrada. A Bíblia deve fornecer subsídios para que se possaidentificar a face de Deus e sua ação libertadora, nos diversos momentoshistóricos, sob as quais vive o teólogo e seu povo. Há, então, no processode elaboração da teologia da libertação, uma imbricação necessária entre aanálise sócio-analítica da realidade e a Bíblia Sagrada. Esta última forneceo sentido teológico da práxis libertadora proposta pela teologia dalibertação.Com a gênese da teologia da libertação na América Latina, "a religião passaa ser um fator de mobilização e não do freio" (BOFF, 1980, p. 102). Areligião não mais se apresenta como "ópio do povo". Ela passa a ser fonte delibertação e de esperança para o homem. A religião, desta forma, não sereduz a uma ideologia que mantém o status quo social e político; também nãoé mais fonte de discursos etéreos. A teologia da libertação pretende mostrarque Deus não está em uma esfera trans-histórica; mas, ela quer mostrar queDeus encarna-se na história, gera libertação de um povo humilhado, gera vidae esperança a um povo crucificado e sem sonhos. Podemos dizer,metaforicamente, que a teologia da libertação anuncia a ''descida'' de Deusde sua esfera transcendente e "celeste" e mostra-o como agente dignificadordos humilhados da terra. Deus não é mais um conjunto de doutrinas eespeculações, mas é a fonte de toda a luta pela justiça e igualdade. Porisso, Deus se manifesta nas lutas históricas pela justiça, pela inclusão epela superação de toda opressão vigente na humanidade. "Eu sou o Senhor, teuDeus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão."(Ex 20,2). Eis aface de Deus anunciada pela teologia da libertação: Deus que tira o povo daopressão, da servidão.O céu almejado pela humanidade, não é pensado como realidade post mortem.Este céu que fora pensado pela teologia clássica como realidade distante quese manifestaria no porvir, encarna-se no "agora", através da práxis do povoem prol da dignidade humana: cada conquista popular, no que tange a umarelação mais justa entre os homens, presentifica o céu no seio dahumanidade.A teologia da libertação surge para mostrar que Deus é "Pai - Nosso";portanto os homens e as mulheres devem se relacionar como irmãos e irmãs,sem haver exclusão, sem haver opressão ou sem qualquer tipo de violação dadignidade humana. Lutar pela libertação é alorizar a paternidade universalde Deus, que se manifesta nas relações justas e fraternas entre todos osseres humanos.



Bibliografia:

1. BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: CNBB, 1996.

2. BOFF, Leonardo, BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação.Petrópolis: Vozes, 1986.

3. BOFF, Leonardo. Teologia do cativeiro e da libertação. Petrópolis: Vozes,1980.

4. _____________ O caminhar da Igreja com os oprimidos: do vale das lágrimasà terra prometida. Rio de Janeiro: Codecri, 1980.

5. MONDIN, B. Os teólogos da libertação. São Paulo: Paulinas, 1980.

6 de maio de 2008

Coisas de criança

Quantos sonhos adormeci na esperança.
Quanta vida abandonei,
Imaginando ser coisa de criança.
Até hoje não entendo:
Porque será que é tão chato ser adulto.

Há dias, quando todos dormem,
Ando, cismando pela casa.
Encontro um lugar,
Sozinho, no escuro
E me ponho a sonhar.
Remexo lembranças
Remendo enredos aflitos
Da vida madura.
Troco tudo de lugar.
Deponho governos, revogo leis...
Vou a todas as igrejas, 
E liberto Deus, que eles insistem em prender.
Um dia desses, no meio da lida noturna,
Um padre fez menção de me agarrar,
justo no momento
Em que eu acordava Jesus,

Coitado, cansado, trancado no altar.

De outras vezes corro até os palácios,
Mudo todas as leis, abro todos os cofres...
Seria bom ser sempre criança...

Melhor ainda, ser adulto.
E não deixar de sonhar.
Viver num mundo onde as guerras
Tivessem apenas  violência de revólveres de espoleta.
Onde a fome, fosse só a ansiedade
De esperar a hora de lanchar,

Onde tristezas e dificuldades
Fossem apenas coisas do "faz de conta".

E crescer, não nos fizesse
Tão frios,
Sérios,
E, sobretudo tristes 
Por nossa insistência
Em não querer
A voltar a ser criança...
.

2 de maio de 2008

O Futuro...


Todo um conjunto de acontecimentos, percebo, mais que inquietado, tem me desafiado a um questionamento quanto ao que os anos vividos me prepararam pra o que vem.Paira no ar, em meus pensamentos a dúvida quanto continuar sonhando e vivendo a esperança, em meio a tantos sinais de incerteza.

 

Saudades do futuro

Tempo restante
Tempo distante,
Tempo de espera,
Quanta demora na luta da vida
Quanta esperança na vida que vem
Longe e distante do real que é o agora.
Sigo buscando,esperando,vida a fora.
Saber encontrar-me
No exato momento do já.
Saberei?
Resolver as demandas
No instante preciso do agora,
Saberei?
Saber-me eterno,
Na impermanência do tempo
Nem antes nem depois,
Entre aqui e o agora,
Na eterna imanência do já.
.