O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

3 de dezembro de 2008

Uma Parábola dos novos tempos - A Reunião de Satanás

(autor desconhecido)

A Reunião de Satanás
Satanás convocou uma Convenção Mundial dos demônios.

Em seu discurso de abertura, ele disse:
"Não podemos impedir os cristãos de irem à igreja"
"Não podemos impedi-los de ler as suas Bíblias e conhecerem a verdade"

"Nem mesmo podemos impedi-los de formar um relacionamento íntimo com o seu Salvador".
E, uma vez que eles ganham essa conexão com Jesus, o nosso poder sobre eles está quebrado.
"Então vamos deixá-los ir para suas igrejas, vamos deixá-los com os almoços e jantares que nelas organizam, vamos roubar-lhes o TEMPO que têm, de maneira que não sobre tempo algum para desenvolver um relacionamento com Jesus Cristo".
"O que quero que vocês façam é o seguinte", disse o diabo:
"Distraia-os a ponto de que não consigam aproximar-se do seu Salvador"

Como vamos fazer isto? Gritaram os seus demônios.
Respondeu-lhes:
"Mantenham-nos ocupados nas coisas não essenciais da vida, e inventem inumeráveis assuntos e situações que ocupem as suas mentes"
"Tentem-nos a gastarem, gastarem, gastarem, e tomar emprestado, tomar emprestado"
"Persuadam as suas esposas a irem trabalhar durante longas horas, e os maridos a trabalharem de 6 à 7 dias por semana, durante 10 à 12 horas por dia, a fim de que eles tenham capacidade financeira para manter os seus estilos de vida fúteis e vazios."
"Criem situações que os impeçam de passar algum tempo com os filhos" "À medida que suas famílias forem se fragmentando, muito em breve seus lares já não mais oferecerão um lugar de paz para se refugiarem das pressões do trabalho".
"Estimulem suas mentes com tanta intensidade, que eles não possam mais escutar aquela voz suave e tranqüila que orienta seus espíritos".
"Encham as mesinhas de centro de todos os lugares com revistas e jornais".
"Bombardeiem as suas mentes com noticias, 24 horas por dia"."Mantenham lindas e delgadas modelos nas revistas e na TV, para que seus maridos acreditem que a beleza externa é o que é importante, e eles se tornarão mal satisfeitos com suas próprias esposas".
"Mantenha-os de tal modo ocupados que nem pensem em andar ou ficar na natureza, para refletirem na criação de Deus.
Ao invés disso, mande-os para Parques de Diversão, acontecimentos esportivos, peças de teatro, concertos e ao cinema.
Mantenha-os sempre ocupados, ocupados."
Estimulem a COMPETIÇÃO: campeonatos, Olimpíadas. Façam com que procurem o tempo todo superarem-se uns aos outros. Estimulem a competição para que queberem sempre seus pórpios recordes, levem-nos até a exaustão e convençam a todos que isso é saudável e importante para o desenvolvimento de suas crianças.
"Quando se reunirem para encontros, ou uma reuniões espirituais, envolva-os em mexericos, fofocas, maledicências e conversas sem importância, para que, ao saírem, o façam com as consciências bem pesadas e com a desagradavel sensação de que aquele lugar e aquelas pessoas não lhes fazem bem".
"Encham as vidas de todos eles com tantas causas nobres e importantes a serem defendidas que não tenham nenhum tempo para coisas como silêncio, oração e contato com a voz de Deus em seu interior".
Muito em breve, eles estarão buscando em suas próprias forças, as soluções para seus problemas e causas que defendem, sacrificando sua saúde e suas famílias pelo bem da causa."
"Isto vai funcionar!! Vai funcionar !!
" Os demônios ansiosamente partiram para cumprirem as determinações do chefe, fazendo com que os cristãos, em todo o mundo, ficassem mais ocupados, e mais apressados, indo daqui para ali e vice-versa, tendo pouco tempo para Deus e para suas famílias. Não tendo nenhum tempo para contar à outros sobre o poder de Deus para transformar vidas.

Creio que a pergunta é:
Teve o diabo sucesso nas suas maquinações?

29 de novembro de 2008

“Autobiografia em Cinco Capítulos”

(Poema de Nyoshul Khenpo )

"capítulo I
Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio.
Estou perdido...sem esperança.
Não é culpa minha.
Levo uma eternidade para encontrar a saída.
Capítulo II
Ando pela rua .
Há um buraco fundo na calçada,
mas, finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.
capítulo III
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele alí está
Ainda assim caio...é um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
A responsabilidade é toda minha!
Saio imediatamente.
Capítulo IV
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.
Capítulo V
Ando por outra rua.”
.

8 de outubro de 2008

As estranhas acusações de Clodovis Boff

As estranhas acusações de Clodovis Boff

José Comblin
Como vários amigos, fiquei estupefato quando li as acusações feitas por Clodovis Boff à teologia que ele chama de teologia de libertação. Não existe nenhuma instituição chamada teologia da libertação de tal modo que muitos podem perguntar-se se são da teologia da libertação ou não. A acusação feita à chamada teologia da libertação é totalmente indefinida.
Clodovis não cita nomes e não dá nenhuma referência, nenhuma a obras de alguns autores que seriam incriminados. Não cita as páginas em que estão os erros. A acusação é a seguinte: a teologia da libertação substituiu Cristo pelo pobre. O pobre ocupa o lugar de Cristo do cristianismo. Essa substituição é tão forte que os teólogos da libertação substituíram a cristologia por uma pobrelogia.
Essa acusação é espantosa. Suprimir o lugar central de Cristo é deixar de ser cristão. Na palavra de Clodovis os teólogos da libertação – cujo nome não aparece – já não são cristãos. Já estão fora da Igreja. Os sacramentos que celebram ou recebem são sacrilégios. Clodovis é muito mais severo do que a Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, porque condena muitos de uma vez.
Além disso, os teólogos da libertação ficam totalmente desacreditados no povo de Deus. Deveriam ser evitados porque poderiam contaminar almas inocentes.
Não existe lista oficial dos teólogos da libertação. Mas há alguns nomes que eventualmente poderiam entrar numa lista não oficial, e sujeita à revisão se alguns não aceitam essa identificação.
Quero dar testemunho de que os teólogos da seguinte lista, que conheci ou conheço pessoalmente crêem no lugar central de Cristo no cristianismo e não defendem a pobrelogia. Quero defender publicamente Gustavo Guitiérrez, Juan Luis Segundo, Ronaldo Muñoz, João Batista Libânio, Luiz Carlos Susin, Cleto Caliman, Leonardo Boff, Carlos Palácio, F. Taborda, Agenor Brighenti, Jon Sobrino, I. Ellacuría, Pedro Trigo, Luis del Valle, Carlos Bravo, Miguel Concha, Virgilio Elizondo, Hugo Echegaray, Víctor Codina, Alberto Parra, Roberto Oliveros, José Luis Caravias, Pablo Richard, Paulo Suess, Diego Irrarázaval, Marcelo Barros, Juan Hernándes Pico. Estes teólogos acreditam no lugar central de Cristo e não substituem Cristo pelos pobres.  Todos querem destacar o lugar que ocupam os pobres na revelação cristã, mas ninguém os coloca no lugar de Cristo. Mas todos são suspeitos. Não quero citar nomes de teólogas para que não sejam expostas à suspeita, mas nenhuma se aproxima nem de longe da tese da pobrelogia. Aliás, elas se identificariam mais com a teologia feminina do que com a teologia da libertação.
Eu mesmo não sei se posso estar na lista e me pergunto se eu também não coloco os pobres no lugar de Cristo e já não seria mais cristão. No entanto, muitas pessoas me consideram como cristão. Eu estaria enganando-as? Como sair da dúvida?
Há com certeza teólogos que não conheço pessoalmente. Os culpados estariam entre eles? De qualquer maneira, já que a acusação é geral, ela atinge todos os nomes citados.
Achei muita petulância, para não dizer inconsciente arrogância, essa maneira de acusar todos os colegas teólogos latino-americanos, como se ele fosse o dono da verdade.
Se encontrou em alguns escritos algumas expressões que não entendeu bem, ou suscitam dúvidas  que se lembre do princípio de caridade: quando não entendo bem uma expressão, preciso dar ao autor o benefício da interpretação mais favorável, até que argumentos convincentes venham demonstrar o contrário.
O autor poderia dizer que escreveu dentro de um gênero literário, o gênero de requisitório, o que explicaria e justificaria as suas expressões inflamadas. Usou um linguajar de procurador. Não se deveria tomar tão literalmente as acusações que são, antes de mais nada, exercícios de eloqüência.
Sucede que há leitores que vão tomar literalmente as acusações. Podem inclusive abrir processos. Estas denúncias lembram um fato histórico que poderia ser um precedente.  Lembro-me do padre Roger Vekemans, que, para minha confusão, era do país em que nasci. Depois de Medellín, Vekemans declarou a guerra a Gustavo Gutierrez e lhe prometeu que iria destruí-lo. Deixou o Chile, foi para Colômbia e fundou um centro DESA, dedicado exclusivamente a atacar e denunciar a teologia da libertação. Vekemans lançou o tema da teologia da libertação como fachada que esconde o marxismo na Igreja. Segundo ele, a teologia da libertação era a penetração  do marxismo na Igreja. Era uma corrupção total do cristianismo.
Vekemans fundou uma revista para repetir indefinidamente as mesmas denúncias. Há uma frase famosa de Voltaire em que diz que repetindo sempre a mesma mentira, sempre produz um efeito. Foi o que fez Vekemans. Teve bastante êxito. Forneceu a Alfonso Lopez Trujillo toda a documentação para atacar os teólogos da libertação. Este foi mais alto. A Instrução do cardeal Ratzinger sobre a teologia da libertação repete todos os argumentos de Vekemans.
É verdade que o Papa João Paulo II proclamou que a teologia da libertação  estava morta. Mas de repente agora em Roma podem descobrir que ainda não estava totalmente morta e precisa de um golpe final.
A nova heresia já recebeu um nome: pobrologia. Dar um nome é muito perigoso porque as pessoas se contentam como repetir o nome, o que as dispensa de ler as obras. O nome inclusive não é muito adequado literariamente. Mistura o português com o grego. Todas as palavras que terminam em -logia, começam com uma palavra grega: teologia, cristologia, pneumatologia antropologia, cardiologia, oftalmologia, ecologia, psicologia, oncologia, dermatologia, etc. Aqui devia ser “ptochologia” já que em grego pobre se diz “”ptochos”.
Clodovis multiplica os argumentos para mostrar que Jesus está no centro do cristianismo. Ninguém vai discordar. É como ensinar o catecismo ao senhor vigário.. Mas essa repetição dos argumentos parece insinuar que os teólogos da libertação são muito ignorantes da cristologia. Então muitos leitores vão pensar que esses teólogos são mesmo muito ignorantes. O que se consegue com isso?

Quem vai sofrer com essas controvérsias, são os pobres. Os teólogos têm comida garantida, casa garantida. Se são condenados, não vão sofrer muito. Quem vai sofrer serão os pobres na medida em que a Igreja se desinteressa deles por medo de cair numa heresia. Sempre ouvi Gustavo Gutiérrez dizendo que a teologia da libertação pode morrer e não importa.  O que importa, são os pobres. Para um cristão a teologia é algo completamente secundário e dispensável. Mas os pobres não são dispensáveis. Não se pode ser cristão sem acolher a mensagem que vem dos pobres.
Alguns podem ficar exasperados pela preocupação constante pelos pobres. Lembro-me de uma frase que ficou famosa e que foi pronunciada por um alto dignitário eclesiástico. Dom Leonidas Proaño foi bispo de Riobamba no Equador durante 30 anos. Na sua diocese os índios constituem 80º% da população. Quando chegou na diocese, descobriu o estado de horrível miséria dos índios tratados como animais. Dedicou a sua vida à libertação dos índios, a libertação cristã. Viveu pobre, visitou constantemente os miseráveis  povoados da montanha onde moram os índios. A sua casa estava sempre aberta para os índios que vinham à cidade para vender as poucas coisas que podiam vender. A primeira coisa que fez dom Leônidas foi organizar uma casa de acolhida na cidade para que os índios pudessem tomar banho. Pois nas suas montanhas falta água. A segunda coisa que fez, foi a reforma agrária em duas fazendas da diocese em que descobriu os instrumentos de tortura que se usavam para forçar os índios a trabalhar.
Foram 30 anos de luta. Basta ver os índios hoje em dia para ver que o seu trabalho não foi em vão. Há alguns meses atrás o presidente da república foi a Riobamba para proclamar Proaño patrimônio da pátria. A assembléia constituinte decidiu que seria obrigatório em todas as escolas do país ensinar a vida e os ensinamentos de Proaño. Um dia um jornalista perguntou a essa alta personalidade eclesiástica o que pensava de dom Leônidas Proaño. A personalidade respondeu “É um homem muito bom. Mas ele tem a mania dos índios!”
Então poderíamos também dizer de alguns teólogos: “É um homem bom, mas ele tem a mania dos pobres!”.
Compreendi melhor a centralidade dos pobres no cristianismo num episódio da minha vida. Foi no Equador também. Foi em 1976, quando 17 bispos foram presos em Riobamba . Havia também umas 40 pessoas, padres, religiosas, leigos e leigas. Entre estes estava Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz. Eu estava no meio. Fomos todos levados por soldados armados de metralhetas até um quartel de Quito e deixados numa sala, sem explicação. No meio da noite, alguns bispos acharam que seria muito bom celebrar a eucaristia. Mas como achar pão e vinho? Uma senhora equatoriana foi falar com os soldados e conseguiu convencê-los que trouxessem algo de pão e de vinho.
Celebraram a eucaristia. Ora, nesse mesmo dia, um dos bispos, dom Parra León, bispo de Cumaná na Venezuela, celebrava os seus 50 anos de sacerdócio. Estava tão emocionado que chorava. Então ele disse: “Faz 50 anos que celebro a eucaristia todos os dias sem perder nenhum dia. Mas só agora estou entendendo!”.
Pode-se celebrar a eucaristia pensando em tudo o que ensinam os teólogos e os liturgistas. Pode-se celebrar com muita piedade e devoção, com muitos sentimentos de amor, mas sem entender. Não se entende a eucaristia e de modo geral não se entende Jesus Cristo a partir da piedade, dos sentimentos religiosos, ou a partir dos conhecimentos teológicos. Tudo isso é secundário e não permite penetrar na realidade. Quando o bispo estava preso ( uma prisão ainda bem suave), estava  numa situação  de impotência, era pobre. Então entendeu.
Clodovis quer salientar que o fundo da teologia é professar: “Cristo é o Senhor”. Acho que todos os teólogos sabem disso e ninguém vai discutir.  Mas o problema é outro. O problema é “quem diz “Cristo é Senhor”? Onde? Quando?
O general Videla dizia “Cristo é Senhor”. O general Pinochet dizia “Cristo é Senhor” Era fé? Ou era blasfêmia? A elite latino-americana que oprimiu os povos durante 500 anos sempre proclamou: “Cristo é Senhor”. Era ato de fé? Ainda é ato de fé? Este é o nosso problema. Os teólogos latino-americanos afirmaram: quem pode dizer “Cristo é Senhor” com sinceridade, como expressão de toda a sua vida, são os pobres. Daí o lugar central dos pobres, que não afeta em nada o lugar central de Cristo, pelo contrário, o confirma.
Os poderosos proclamam “Cristo é Senhor”, mas a sua vida diz: “Senhor, sou eu!” O grito de Paulo “Cristo é Senhor” é um protesto contra todos os “Senhores”, uma denúncia da opressão, um desafio lançado contra os que se acham os Senhores. É uma negação de todos os poderes opressores. Há somente um Senhor!
O papel da teologia não consiste em buscar quais são as palavras que expressam a fé, mas o que é a fé realmente vivida.
Pois, não se entende Jesus a partir da teologia, seja ela de libertação ou de prosperidade. A questão não é saber o que significam as palavras atribuídas a Jesus nas celebrações ou na teologia. Não se trata de entender as palavras escritas na Bíblia para entender a realidade. Jesus aparece no seu verdadeiro sentido, como realidade, a partir de uma situação na qual o cristão se assimila a ele. Vivendo o que ele viveu, se pode entender. Somente os pobres dizem de modo autêntico “Cristo é Senhor!” Todos os outros podem dizer as palavras corretas que no seu caso, somente expressam figuração, imaginação, sensibilidade, até comédia. A piedade pode enganar muito, criando a ilusão de fé quando se trata de uma fantasia mental, ou de uma fórmula administrativa de um bom funcionário que é pago para dizer essas coisas.
Quem não é pobre, pode aprender dos pobres, com a condição de ser muito humilde. Jesus viveu a impotência, a fragilidade dos pobres. Para entendê-lo é preciso entrar na mesma condição.
Jesus Cristo é o centro do Reino de Deus, o centro de toda a história da salvação, o centro de cada vida de discípulo. Mas não se trata do nome “Jesus Cristo”, mas da realidade. Ora, essa realidade de Cristo somente se manifesta a quem vive nele, com ele, fazendo a mesma experiência humana. Por isso há uma centralidade da pobreza como acesso à centralidade de Jesus Cristo.
Isto não é novidade. Em todas as fases da história da Igreja houve cristãos que entenderam bem isso. Na América latina, depois de séculos de dependência e de passividade colonial com os olhos fechados sobre a condição  dos índios ou dos negros, houve um despertar. Os olhos abriram-se. Bispos, sacerdotes, religiosas, religiosos, leigos e leigas, converteram-se quando descobriram a realidade da humanidade e o vazio da sua religião.
Por isso houve a Conferência de Medellín que foi como o descobrimento de Jesus Cristo na sua realidade, na sua presença. Era preciso descobrir os pobres para descobrir Jesus Cristo. A Conferência de Medellín foi preparada pelo Pacto das Catacumbas. No dia 16 de novembro de 1965, poucos dias antes da clausura do Concílio, 40 bispos do mundo inteiro reuniram-se na catacumba de Santa Domitila em Roma e assinaram o Pacto das Catacumbas. Cada um se comprometia a viver pobre, a rejeitar todos os símbolos ou os privilégios do poder e a colocar os pobres no centro do seu ministério pastoral. Não era comédia, porque já estavam agindo assim. Nesses quarenta havia um número importante de brasileiros e latino-americanos e , mais tarde, outros subscreveram também.
Alguns acham que a opção pelos pobres é expressão de caridade para com os pobres. Acham que significa amor aos pobres É isso também, mas é secundário. A grande questão é o conhecimento de Jesus Cristo. O que é conhecer Jesus? Onde e como se conhece Jesus Cristo? A centralidade dos pobres vem do fato que os pobres entenderem o que é Jesus Cristo. Não se quer dizer que todos os pobres fazem essa experiência, mas que o conhecimento se faz dentro dessa condição. Nós podemos aprender deles. Nada vamos aprender nocionalmente, mas vivencialmente.
A centralidade dos pobres não compromete em nada a centralidade de Cristo.  Pelo contrário, permite que se entenda melhor.
Um sacerdote pode ser um bom funcionário do culto, que celebra com muita piedade, sempre bem comportado, um desses padres que nunca dão problema ao bispo. Mas não entende nada. Provavelmente nunca teve oportunidade de aprender. A culpa não é dele.
Por outro lado, nos evangelhos Jesus identifica-se com os pobres. O que se dá aos pobres, é dado a ele. A sabedoria popular transmitiu fielmente esse ensinamento. Encontrar um pobre no caminho é encontrar Jesus  Cristo. O problema aparece nas grandes cidades. A gente encontra tantos pobres que é impossível evocar Jesus Cristo cada vez. Somente alguns podem fazer isso.

Por outro lado, muita gente tem dificuldade em aceitar que a consideração dos pobres muda toda a cristologia, como muda a pneumatologia, a eclesiologia e as representações usadas para falar de Deus. Muda toda a teologia tradicional, pelo menos no Ocidente. Isto não pode surpreender. A cristologia tradicional concentrou-se em torno dos dogmas dos 4 primeiros Concílios, e da teoria anselmiana da redenção. Isto quer dizer que era muito parcial, muito particular, centrada em poucas questões. Historicamente, novas questões aparecem que obrigam a situar tudo de uma nova maneira. Novas leituras da Bíblia fazem com que apareçam novas perspectivas.
É significativo que os bispos da geração de Medellín, os padres que os seguiram, tiveram que passar por uma conversão. De repente, descobriram que a teologia que tinham aprendido no seminário escondia uma parte da realidade e que fatos evidentes obrigaram a descobrir, por exemplo, o que a Bíblia diz dos pobres.
Um obstáculo é o preconceito de que Jesus anuncia uma boa nova para todos. Ora ele anuncia uma notícia péssima para os ricos que vão perder tudo, para os sacerdotes que vão perder o templo e desaparecer, para os doutores cuja ciência se torna irrelevante, para os fariseus cuja santidade fica desmascarada para Herodes.
A boa noticia é para os pobres, os desarmados, os perseguidos. Mas sucede que muitos cristãos fazem questão de apagar as diferenças e lêem o evangelho como se se dirigisse a todos igualmente, como se Jesus falasse para os homens em geral, sem nenhuma referência à sua situação, assim como fazem os filósofos gregos. O próprio documento de Aparecida apresenta o evangelho como boa noticias válida para todos, sem nenhuma diferença. De fato, para quem estudou somente a teologia tradicional, não há problema. Para eles o evangelho é o mesmo para todos, embora os textos bíblicos e inúmeros documentos da Tradição manifestem a cada página que não é verdade. A teologia podia esconder o evangelho. Desconfio que ela não era completamente inocente, mas que tinha alguns motivos menos religiosos para silenciar certos aspetos dos evangelhos.
Um dia um camponês do sertão pernambucano disse-me: “Eu sou alfabeto, mas quando ouço o vigário explicar o evangelho, acho que ele não lê tudo, porque o que lê, sempre dá razão a ele”.  Esse camponês era muito inteligente. Pois o vigário escolhe sempre o que é favorável a ele.
Claro está que Clodovis sabe tudo isso. Mas muitos leitores não sabem e podem ficar confirmados nos seus preconceitos. Continuarão achando que os pobres não têm nada a ver com a doutrina cristã, em particular com a cristologia. Pensarão como sempre que os pobres são objeto da caridade dos cristãos e os cristãos devem reconhecer esse dever de caridade. Como dizia um dia o cardeal Daniélou: “os pobres têm lugar num parágrafo de um artigo de um capítulo do tratado sobre a caridade”. Os pobres seriam objeto da compaixão dos cristãos porque sofrem muito.
Se essa fosse a opção preferencial pelos pobres, esta seria totalmente inofensiva e irrelevante.
Os pobres não tomam o lugar de Cristo, mas eles têm um lugar especial, fundamental, central em Cristo.Que a teologia da libertação morra ou não, não importa. Mas depois de Medellín a teologia não poderá continuar sendo o que era.

José Comblin

Teólogo

6 de outubro de 2008

Leonardo Boff critica recuo de Clodovis Boff


"Dizendo diretamente: o texto de Clodovis causa perplexidade e perturbação. A coisa não pode ser assim como ele a expõe e critica. Seguramente a maioria dos teólogos da libertação que conheço não se sentiriam ai representados. Ademais, o autor assume uma postura magisterial que caberia melhor às autoridades doutrinárias que a um teólogo, frater inter fratres". O comentário é de Leonardo Boff, teólogo, referindo-se ao artigo de Clodovis Boff, também teólogo, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira vol. 67, n. 268, de setembro de 2007 Uma síntese foi publicada nas Notícias do Dia, 04-05-2008


trechos no artigo de Leonardo Boff:

"Nos últimos tempos se notou um certo recuo em sua atividade e reflexão, por razões que só a ele cabe dar. O texto que analisaremos (...) dedicado a análises da V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida, revela traços claros deste recuo".

"A minha suspeita é de que as criticas suscitadas por Clodovis Boff à Teologia da Libertação forneçam às autoridades eclesiásticas locais e romanas as armas para condená-la novamente e, quem sabe, bani-la definitivamente do espaço eclesial. Como as criticas devastadoras provém de dentro, de um de seus mais reconhecidos formuladores, elas podem prestar-se a tal intento infeliz. A impressão que sua argumentação provoca é de alguém que se despediu e já emigrou da Teologia da Libertação, daquela 'realmente existente' que, na verdade, é a única que existe e se pratica nas Igrejas. Esta teologia é atacada em seu núcleo definidor porque cometeu, segundo ele, um 'erro de princípio, grave para não dizer fatal...falha 'mortal' que, levada a termo, termina pela morte da Teologia da Libertação' (REB 1004 e 1006). Esse erro fatal – pasmem - é de ela ter colocado o pobre como 'primeiro princípio operativo da teologia', ou de ter substituído Deus ou Cristo pelo pobre (REB 1004). Afirma ainda que 'do erro de princípio só podem provir efeitos funestos'. Acena para a contaminação em curso de toda 'pastoral da libertação' nomeadamente 'as pastorais sociais'. Por causa deste erro fatal, se instrumentalizou a fé, fé-la cair no utilitarismo e no funcionalismo, ocasionou seu enredamento com a modernidade antropologizante e secularista, pondo em risco a identidade cristã 'no plano teológico, eclesial e da própria fé' (REB 1007). Tais acusações são de grande monta e nos lembram os textos acusatórios de figadais inimigos da Teologia da Libertação dos anos 80 do século XX. E pour cause!"

"Podemos imaginar que os que condenaram a Jon Sobrino (Clodovis aprova a Notificação romana), a Gustavo Gutiérrez, a Ivone Gebara, a Marcelo Barros, a José Maria Vigil, a Juan José Tamayo, a Castillo, a Dupuis e a Küng entre outros, se acercarão de Clodovis e lhe dirão satisfeitos e com o peito inflado de fervor doutrinário: 'Bravo, irmão. Enfim alguém que teve a coragem de desmascarar os equívocos e os graves e fatais erros da Teologia da Libertação'".

"Por isso, julgo que esta posição de Clodovis tem que ser refutada com argumentos bem fundados, por ser equivocada, teologicamente errônea e pastoralmente danosa. Não apenas por interesses da pastoral e de política eclesiástica mas por razões internas da teologia. Na minha avaliação, suas insuficiências teóricas e teológicas são tantas que invalidam o peso de seus argumentos".

"Há três ausências que tiram sustentabilidade à sua reflexão: a ausência de uma adequada teologia da encarnação; a ausência do sentido singular de pobre dado pela Teologia da Libertação; e a ausência de uma teologia do Espírito Santo..."



29 de junho de 2008

Sonho

(José Ricardo A. de Oliveira)
.
Busco na noite escura o caminho
Sonho, no horizonte a Luz...
Corro para abraçar o tempo,
Onde crianças não estendam a mão.
Lanço-me na luminosidade aparente
Sigo, caminhar inseguro...
Vejo a encruzilhada do tempo:
Noite ou dia ?
Contemplo a nova aurora radiante.
Sinto a liberdade longe mas possível.
Creio viver um mundo novo,
Pleno de Paz, luz e amor.
Lá onde as amarras foram arrancadas,
Onde mãos se estendem para dar
Onde não é preciso pedir,
Mendigar,Implorar,Migalhas de amor.
Desperto!Sacudo a cabeça,
O sonho se esvai...
Com ele, a fraternidade inquietante.
Contemplo,
De frente para o tempo:
Quanto ainda falta caminhar?
.

23 de junho de 2008

Thomas Merton - Reflexões

( Thomas Merton)
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“Vivemos à beira do desastre porque não sabemos como deixar a vida acontecer.Não respeitamos as contradições e paradoxos vivos e fecundos de que a verdadeira vida está cheia.Nós os destruímos, ou tentamos destruí-los, com nossas sistematizações obsessivas e absurdas.Quer o façamos em nome da matéria ou em nome do espírito, faz pouca diferença no final.Existem ateus que lutam contra Deus e ateus que afirmam acreditar Nele: o que ambos têm em comum é o ódio à vida, o medo da imprevisibilidade, o horror à graça e a recusa de todo dom espiritual.”
.

21 de junho de 2008

Castañeda - A Importancia pessoal

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"De todos os presentes que recebemos, a importância pessoal é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um pobre diabo arrogante e sem graça".


"Por causa de nossa importância, nós estamos cheios até as bordas de rancores, invejas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos da tarefa de nos conhecer a nós mesmos com pretextos como: 'me dá preguiça' ou 'que cansaço!'. Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural".
(Don Juan Matus,xamã indígena, mestre de Castañeda)
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17 de junho de 2008

Dia Mundial da Invocação


Quarta-feira, 18 de junho de 2008 Vigília de 24 horas
Entoação da Grande Invocação a cada 15 minutos.




Todos os anos,
desde 1952, as pessoas de todo o mundo
celebram o Dia Mundial da Invocação
no dia da Lua Cheia de Gêmeos.
É um dia global de oração e meditação, em que pessoas de diferentes caminhos espirituais
se unem em um apelo universal à Divindade,
entoando a Grande Invocação.
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A GRANDE INVOCAÇÃO

Desde o ponto de Luz na Mente de Deus,
Que aflua luz às mentes dos homens.
Que a Luz desça à Terra.
Desde o ponto de Amor no Coração de Deus,
Que aflua amor aos corações dos homens.
Que o Cristo retorne à Terra.
Desde o centro onde a Vontade de Deus é conhecida,
Que o propósito guie as pequenas vontades dos homens -
O propósito que os Mestres conhecem e servem.
Desde o centro a que chamamos raça dos homens,
Que se cumpra o Plano de Amor e Luz,
E que se sele a porta onde mora o mal.
Que a Luz, o Amor e o Poder
restabeleçam o Plano na Terra
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*************************************************
Este ano você está novamente convidado
a se unir aos colaboradores de todas as Américas
em uma Vigília de 24 horas pelo Dia Mundial da Invocação.
ENTOAR A GRANDE INVOCAÇÃO A CADA 15 MINUTOS
Escolha os horários da sua participação e registre-a em:
http://www.intuition-in-service.org/IISvigilTIMER.html

Ou, simplesmente, participe sem se registrar.
.

2 de junho de 2008

A TERNURA DO CRISTO E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.

(Rohane de Lima)



Hoje trago o texto de minha amiga Rohane da comunidade "Teologia da Libertação"do Orkut:


http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=258351



A TERNURA E OS EVANGELHOS
Nenhuma outra parte da Bíblia é tão carregada de ternura quanto o Novo Testamento.

Nos Evangelhos Jesus nos dá a Boa Nova, nos ensina a deixar de lado o “olho por olho, dente por dente”, desvia nosso olhar de um Deus iracundo e furioso e nos convida a olhar para um Deus que perdoa, apazigua, acolhe, ama e dá a outra face. O tempo todo Jesus nos ensina a curar, a viver e a morrer pelo outro, a orar, a confiar em Deus e não a temê-Lo. Jesus nos ensina a partilha do alimento e da confiança, nos ensina que julgar o outro não é função nossa e que em vez de julgar, devemos acolher com misericórdia.Segundo o psiquiatra colombiano Luiz Carlos Restrepo (in o Direito a Ternura, 1988) no original grego do Novo Testamento, ao referir-se a dimensão milagrosa de Cristo, os Evangelistas utilizam a palavra splacnisomai, que corresponde a conjugação de um verbo desaparecido no século II a III de nossa era e que poderíamos traduzir como “sentir nas vísceras”. Para os que estiveram perto do Jesus histórico, um dos sinais de sua grandeza era a capacidade de aproximar-se dos enfermos – tanto do corpo quanto da alma – sentindo-os com suas próprias vísceras. A tradução latina de splacnisomai é misericórdia; foi essa tradução que se integrou a tradição pastoral e litúrgica e aí a bagagem vivencial para tornar-se simples formalismo. A expressão “Senhor, tem misericórdia de mim” deve ser entendida pelo cristão como rogar a Deus que Ele nos sinta como suas vísceras. Sentir alguém nas vísceras é trazê-lo pra debaixo da própria pele e sentir sua dor como se fosse a nossa própria carne, é deixar de ver a dor do outro como diferente da minha. (Mateus 7, 22; Lucas 6, 31).Ao sermos Misericordiosos demonstramos uma disposição de alma, de ser semelhante a Cristo na relação com amigos, inimigos, desprezados, e pecadores. É uma manifestação da conduta. O misericordioso usa de bondade ao olhar para os outros; procura o melhor, não o pior; é lento para condenar, rápido para recomendar.Por que referir a ternura e não ao amor? Porque amor, quando não sentido entre casais, pais e filhos, amigos e irmãos, fica difícil de ser compreendido e é muitas vezes confundido com paixão; porque o amor tem no outro extremo, o ódio. Amamos do outro, o que ele tem de igual a nós, ou amamos uma imagem que projetamos do outro, onde sonhamos encontrar o que não possuímos. O amor é ainda um aprendizado difícil para a maioria de nós.A ternura é o meio do aprendizado entre o amor e o ódio – sentimentos humanos e cotidianos em nossas relações. A ternura é o caminho que percorremos quando nos descobrimos frágeis e falíveis. É pela ternura que, quando nos deparamos na fronteira do ódio, quando nossa impaciência está a ponto de tornar-se intolerância e violência, conseguimos olhar as diferenças como algo que nos enriquece mesmo nos aborrecendo e não correspondendo as nossas expectativas e que a singularidade do outro nos oferece oportunidade de crescimento e de evolução.É através do enternecimento que abrimos o coração e a mente para acolher o próximo mesmo quando desconhecido; é através a ternura que nos abrimos para o gesto amoroso que protege e confere paz. Com a ternura se alcança a contenção sem a dominação e sem a intolerância. Com a ternura somos misericordiosos com os “defeitos” (leia-se diferença) nos outros, até porque muitas vezes esses mesmo defeitos estão em nós (nas nossas vísceras!).Ainda em Restrepo (1988), podemos ler que "Somos ternos quando abandonamos a arrogância de uma lógica universal e nos sentimos afetados pelo contexto, pelos outros, pela variedade de espécies que nos cercam. Somos ternos quando nos abrimos a linguagem da sensibilidade, captando em nossas vísceras o prazer ou a dor do outro. Somos ternos quando reconhecemos nossos limites e entendemos que a força nasce de compartilhar com os outros o alimento afetivo. Somos ternos quando fomentamos o crescimento da diferença, sem tentar nivelar aquilo que nos contrasta. Somos ternos quando abandonamos a lógica da guerra, protegendo os nichos afetivos e vitais para que não sejam contaminados pelas exigências de funcionalidade e produtividade a todo transe que pululam no mundo contemporâneo”A partir da compreensão do que é ser terno, podemos perceber a imensa ternura que Jesus nos dedica quando nos encontra tão renitentes e tão primitivos no aprendizado do amor. Os Evangelhos são explícitos ao narrar que a missão de Jesus é nos ensinar a amar (Mateus 5,43-44; 6, 14-15 ;14, 13-21; 15, 29-36; 18,19; 22, 36-40. João 8-7) e não existe a conjugação do amor sem o outro, então somente através do outro chegaremos a Jesus e somente por Ele iremos ao Pai (João 14,6; 15, 12-17). No Sermão da Montanha, quando das bem-aveturanças, temos novamente a evidência de um Jesus cheio de ternura e misericórdia, nos ensinando a sermos ternos e misericordiosos: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados aqueles que são brandos e pacíficos, porque herdarão a Terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados aqueles que são misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados aqueles que têm puro o coração, porque verão Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles. Bem-aventurados sois, quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”. (Mateus, 5, 1 - 12)



A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E A TERNURA



Na segunda metade do século passado, (meados da década de 60) surge uma elaboração teológica embasada na vida do povo latino-americano. Como conseqüência da vivência, do engajamento social e político e do testemunho cristão no meio do povo, a Ação Católica inicia uma enorme reflexão teológica a partir da vida, do cotidiano desse mesmo povo. Os movimentos de Ação Católica, e o resultado do Concílio Vaticano II, levaram teólogos a elaborar uma teologia que iluminasse os cristãos, de forma ordenada e profunda – a buscar o engajamento político e social. Contidos nessa elaboração teológica, estavam valores de libertação - inspirados na longa experiência do Povo de Deus, do tempo do Antigo Testamento, e nas experiências dos cristãos, renovados pela Boa Nova de Jesus Cristo – havia, também, valores e contra-valores dos conflitos de classe, existentes no Sistema de Exploração do Trabalho. A Teologia da Libertação contém o conceito da Luta de Classes encontrados em Marx, assim como estão presentes os anseios e as lutas pela libertação, apresentados nos livros da Bíblia, presente nas experiências do povo Hebreu e também na pregação e na prática de Jesus Cristo. (Mt. 5, 1-12; 9, 14-17; 23 (todo); Mc. 11, 15-19; 12,1-10;12, 38-40; Lc. 1,46-55; 2,33-35; 4, 17-21 e 24, 17-21)).Daí o porquê do crescimento da Teologia da Libertação na América Latina: “a religião passa a ser um fator de mobilização e não de freio” (BOFF, 1980). O pastor não diz às ovelhas que se contentem com o sofrimento provocado pela miséria, pela exploração e pela exclusão A religião não mais se apresenta como “ópio do povo”. A religião passa a ser um fator de libertação e de esperança para o homem e não mais se reduz a uma ideologia que mantém o status quo social e político. A TL mostra que Deus encarna-se na história, gera libertação de um povo humilhado, gera vida e esperança a um povo condenado a viver sem sonhos. Podemos dizer, metaforicamente, que a TL revela Deus como àquele que resgata a dignidade dos humilhados da terra. Dando grande ênfase à situação social humana, a TL encontra ressonância entre a maioria dos fiéis no Brasil e na América Latina – espaço geográfico onde a maioria da população é de oprimidos, miseráveis e excluídos – num período em que as práticas de governar baseavam-se em torturas e perseguições políticas e aí a TL foi fundamental para que a Igreja viesse a denunciar os crimes dos governos militares, exigindo seu fim e a volta da democracia. A opção pelos pobres, assumida pela Igreja, está alicerçada nos profundos conceitos de justiça nela contidos.A partir dessa luz os fieis deixam de ser meros freqüentadores de missas e novenas e passam a constituir de fato as comunidades, como nos tempos iniciais do cristianismo. Unidos trabalham pelo fortalecimento da Nova Igreja, assumem funções dentro das comunidades, para educar-se, acolher-se e cuidar uns dos outros nos grupos de trabalho. Descobrem o direito de serem iguais quando a diferença os exclui e inferioriza e reivindicam o direito de ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza.As reuniões de Medellin e Puebla, já sob as luzes da Teologia da Libertação, motivaram as Comunidades Eclesiais de Base, para a Igreja que trabalhava o sentido da libertação evangélica, para vencer a “moderna” opressão imposta pelo poder de nossos tempos. Das CEBs, nascem grupos que assumiram as lutas por moradia, transporte, saneamento básico, iluminação pública, educação, creche, saúde pública. A Teologia da Libertação mostra que Deus é “Pai-Nosso” e que por isso homens e mulheres devem se relacionar como irmãos e irmãs, sem exclusão, sem opressão ou sem qualquer tipo de violação da dignidade humana. Lutar pela libertação é valorizar a paternidade universal de Deus, que se manifesta nas relações justas e fraternas entre todos os seres humanos. Como caráter teológico, foi o momento único da Igreja como Instituição, em trabalhar na união dos cristãos e na busca dessa comunhão, disseminou o ideal de auxílio aos excluídos, de acolhimento e empoderamento dos oprimidos para uma caminhada transformadora que libertasse a todos. Aos oprimidos, busca liberta-los da ignorância que os deixa vulneráveis e a mercê dos opressores, ao mesmo tempo que oferece ao opressor – através do mesmo evangelho e do mesmo amor – a oportunidade de libertar-se para o gesto de amar e desprender-se na busca do sentimento de pertencimento a uma comunidade de irmãos e irmãs, filhos e filhas de um mesmo Pai.Fontes:RESTREPO, Luiz Carlos. O direito a ternura. Ed. Vozes. Petrópolis-RJ. 1998.

FERNANDES, Rubem César. Teologia da Libertação in www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/artcult/religiao/tlibert/index.htm



Minhas reflexões sobre o Texto:
(José Ricardo A. de Oliveira)

De minha parte eu aprendi que "dar a outra face" é na realidade, mostrar a outra face da questão, o outro lado da moeda, uma outra possibilidade para a situação que se apresenta.Não tem nada que ver com humilhar-se diante do agressor.Como por exemplo no caso da pergunta se é licito pagar impostos.Jesus apresenta uma outra possibilidade que é dar a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus.Já que Cesar apesar de exigir que o adorem como, não é um Deus é um déspota que exige o pagamento injusto dos impostos.E penso também que até para se exercer a justiça, para dizer a verdade temos que saber como fazer, como dizia o Che, sem perder a ternura.O mundo segue hoje na direção do capital, da impessoalidade, do desrespeito pelo outro.A máxima é que: eu sou o centro do mundo, e dane-se quem não estiver comigo., como na famigerada Lei de Gerson: há que se levar vantagem em tudo.Vejo que a mensagem do Cristo é justamente a "contra mão" dessa realidade. A justiça é feita, mas dentro da perspectiva do amor, da caridade, ou como disse nossa amiga Rohane da ternura.O amor e a ternura são coisas piegas para o mundo capitalista, não dão lucro e não abrem caminho para a exansão e o crescimento.Por isso o cristão é aquele que faz valer seus direitos e principalmente o direito de seu irmão, mas não o faz como os déspotas ou como os que não levam em consideração o semelhante, porque por mais dificil que seja ele precisa reconhecer a filiação divina em todos os seres humanos mesmo que seja um Hitler, um Benedito 16 ou um Bush.Aí talvez esteja a grande dificuldade nossa e a nossa necessidade de aprimoramento.

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1 de junho de 2008

Parábola de Jesus no terreiro

(Frei Carlos Mesters, O.Carm.)

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“Quando Deus andou no mundo.!”Certa vez, Jesus reuniu os discípulos e as discípulas e disse: "Quando vocês forem anunciar a Boa Nova do Reino, não levem dinheiro nem comida, mas confiem no povo. Chegando num lugar, se forem acolhidos e o povo partilhar comida e casa com vocês, e se vocês participarem da vida deles trabalhando e tratarem dos doentes e do pessoal marginalizado, então podem dizer ao povo com toda certeza:'Gente! Olhe aqui! O Reino chegou! Está chegando!"
E elesforam...Jesus também foi. Andou, andou.

Estava começando a escurecer, quando chegou num terreiro. O pessoal que entrava, o saudava e dizia:
"Boa Noite, Jesus! Entre e participe com a gente!"
Jesus entrou. Viu o povo reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam. Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fosse um irmão e amigo de longa data. Gostou de ser acolhido assim.Viu também como a Mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados.



Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse:
"A paz esteja com você, Jesus!"
Jesus respondeu:
"Com a senhora também!"
E acrescentou: "Posso fazer uma pergunta?"
E ela disse: "Pois não, Jesus!"
E ele: "Como é que a senhora me conhece? Como é que o pessoal sabe o meu nome?"
E ela falou: "Mas Jesus, aqui todo mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa no meio de nós!"
Jesus olhou para ela e disse: "Muito obrigado!"
E continuou: "Mãe, estou gostando! O Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!"
Ela olhou para ele e disse: "Muito obrigado, Jesus!
Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!"
E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho:

"Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro.
Sim, Pai, assim foi do teu agrado!".
Dançou um tempão. No fim, comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele.
E dentro dele, o coração repetia sem cessar:
"Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!"

30 de maio de 2008

Donos de Deus

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Hoje em dia há pessoas que parece, se acham donas de Deus.
Vivem a apregoar que a sua religião, o seu modo de rezar, o seu santo de devoção, enfim, tudo delas é melhor que dos outros.
Revirando minhas mensagens antigas me deparei com esta, que coloco abaixo que é um primor e que na minha maneira de ver é um alerta a esses "Donos de Deus "






Uma pobre velha morava em um humilde barraquinho com sua neta muito doente.Como não tinha dinheiro sequer para levá-la a um médico, e vendo que, apesar de seus muitos cuidados e remédios de ervas, a pobre criança piorava a cada dia, resolveu iniciar uma caminhada de 2 horas até a cidade próxima em buscade ajuda. Chegando ao único hospital público da região foi aconselhada a voltar para casa e trazer a neta junto, para que esta fosse examinada.
Quando ia voltando, já desesperada por saber que sua neta não conseguia sequer levantar da cama, a senhora passou em frente a uma Igreja e como tinha muita fé em Deus, apesar de nunca ter freqüentado uma Igreja, resolveu pedir ajuda. Ao entrar, encontrou algumas senhoras ajoelhadas no chão fazendo orações em voz alta.
As senhoras receberam a visitante e, após se inteirarem da história, a convidaram para se sentar enquanto elas iriam orar pela pobre criança.
Após quase uma hora de orações, cantos, orações em linguas e pedidos de intercessão, as senhoras já iam se levantando quando a mulher lhes disse:
- Eu também gostaria de fazer uma oração.
Vendo que se tratava de uma mulher de pouca cultura, as senhoras retrucaram:
- Não é necessário, nossas orações são suficientes e vão, com certeza, fazer sua neta melhorar.
Ainda assim a senhora insistiu em orar, e começou:
- Deus, sou eu, olha, a minha neta está muito doente Deus, assim eu gostaria que você fosse lá curar ela Deus, você pega uma caneta que eu vou dizer onde fica.
As senhoras estranharam, mas continuaram ouvindo:
- Já está com a caneta Deus? Então anota por favor. Você vai seguindo o caminho daquí de volta pra Belo Horizonte e quando passar o rio com a ponte entra na segunda estradinha de barro, não vai errar tá.
A esta altura as senhoras já estavam se esforçando para não rir; mas ela continuou:
Seguindo mais uns 20 minutinhos a pé tem uma vendinha, entra na rua depois da mangueira que o meu barraquinho é o último da rua, pode ir entrando que não tem cachorro.
As senhoras começaram a se indignar com a situação.
- Olha Deus, a porta tá trancada, mas a chave fica embaixo do tapetinho vermelho na entrada. O senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha.
Mas olha só Deus, por favor, não esquece de colocar a chave de novo embaixodo tapetinho vermelho senão eu não consigo entrar quando chegar em casa...
A esta altura as senhoras interromperam aquela ultrajante situação dizendo que não era assim que se deveria orar e mandaram a pobre prá fora da igreja.
A mulher foi pra casa um pouco desconsolada, mas ao entrar em sua casinha sua neta veio correndo lhe receber.
- Minha neta, você está de pé, como é possível !
E a menina explicou:
- Eu ouvi um barulho na porta e pensei que era a senhora voltando, porém entrou um homem muito alto com um vestido branco em meu quarto e mandou que eu levantasse, e, não sei como, eu levantei.
Quase em prantos, a menina explicou:
- Depois ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha de ir embora, mas pediu que eu avisasse a senhora que ele ia deixar a chave embaixo do tapetinho vermelho...

Louvado seja Deus que revelou essas coisas aos humildes e simples de coração.

28 de maio de 2008

Cardeal Martini pede reforma da Igreja


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cardeal Carlo Maria Martini

Noticia de 28/05 /08
Sem dúvidas é uma pena que ele não tenha sido eleito papa. É possível que tivéssemos hoje uma outra igreja, mas...
A Notícia:O influente religioso elogia Lutero, defende o debate sobre o celibato e a ordenação de mulheres e reclama uma abertura do Vaticano em termos de sexoJuan G. BedoyaEm Madri"A Igreja deve ter o valor de se reformar." Essa é a idéia principal do cardeal Carlo Maria Martini (nascido em Turim em 1927), um dos grandes eclesiásticos contemporâneos. Com elogios ao reformador protestante Martinho Lutero, o cardeal pede à Igreja Católica "idéias" para discutir, até a possibilidade de ordenar "viri probati" (homens casados, mas de fé comprovada) e mulheres. Também pede uma encíclica que termine com as proibições da Humanae Vitae, emitida por Paulo 6º em 1968 com severas censuras em matéria de sexo.O cardeal Martini foi reitor da Universidade Gregoriana de Roma, arcebispo da maior diocese do mundo (Milão) e papável. É jesuíta, publica livros, escreve em jornais e debate com intelectuais. Em 1999 pediu diante do Sínodo de Bispos Europeus a convocação de um novo concílio para concluir as reformas postergadas pelo Vaticano II, realizado em Roma entre 1962 e 1965. Agora volta à atualidade porque se publica na Alemanha (pela editora Herder) o livro "Colóquio Noturnos em Jerusalém", como testamento espiritual do grande pensador. É assinado por Georg Sporschill, também jesuíta.Sem disfarces, o que Martini pede às autoridades do Vaticano é coragem para reformar-se e mudanças concretas, por exemplo, nas políticas sobre o sexo, um assunto que sempre desata os nervos e as iras dos papas, já que são solteiros.O celibato, afirma Martini, deve ser uma vocação, porque "talvez nem todos tenham o carisma". Espera também a autorização do preservativo. E nem sequer o assusta um debate sobre o sacerdócio negado às mulheres, porque "encomendar cada vez mais paróquias a um pároco ou importar sacerdotes do estrangeiro não é uma solução". Lembra ao Vaticano que no Novo Testamento havia diaconisas.Vários jornais europeus divulgaram a publicação de "Colóquios Noturnos em Jerusalém", salientando a exortação do cardeal a não se afastar do concílio Vaticano II e a não ter medo de "confrontar-se com os jovens".Exatamente sobre o sexo entre jovens, Martini pede para não desperdiçar relações e emoções, aprendendo a conservar o melhor para a união matrimonial. E rompe os tabus de Paulo 6º, João Paulo 2º e o atual papa, Joseph Ratzinger. Diz: "Infelizmente, a encíclica Humanae Vitae teve conseqüências negativas. Paulo 6º evitou de forma consciente o problema para os padres conciliares. Quis assumir a responsabilidade de decidir sobre os anticoncepcionais. Essa solidão na decisão não foi, em longo prazo, uma premissa positiva para tratar dos temas da sexualidade e da família."O cardeal pede um "novo olhar" para o assunto, 40 anos depois do concílio. Quem dirige a Igreja hoje pode "indicar uma via melhor do que a proposta pela Humanae Vitae", afirma.Sobre a homossexualidade, o cardeal diz com sutileza: "Entre meus conhecidos há casais homossexuais, homens muito estimados e sociais. Nunca me pediram, nem teria me ocorrido, condená-los."Martini aparece no livro com toda a sua personalidade, de uma curiosidade intelectual sem limites. A ponto de reconhecer que quando era bispo perguntava a Deus: "Por que não nos dá idéias melhores? Por que não nos faz mais fortes no amor e mais valentes para enfrentar os problemas atuais? Por que temos tão poucos padres?"Hoje, aposentado e doente - acaba de deixar Jerusalém, onde vivia dedicado a estudar os textos sagrados, para ser tratado por médicos na Itália -, limita-se a "pedir a Deus" que não o abandone.Além do elogio a Lutero, o cardeal Martini revela suas dúvidas de fé, lembrando as que teve Teresa de Calcutá. Também fala sobre os riscos que um bispo tem de assumir, referindo-se a sua viagem a uma prisão para falar com militantes do grupo terrorista Brigadas Vermelhas. "Os escutei e roguei por eles e inclusive batizei dois gêmeos filhos de pais terroristas, nascidos durante um julgamento", relata."Eu tive problemas com Deus", confessa em determinado momento. Foi por não conseguir entender "por que fez seu filho sofrer na cruz". Acrescenta: "Inclusive quando era bispo algumas vezes não conseguia olhar para o crucifixo porque a dúvida me atormentava". Também não conseguia aceitar a morte. "Deus não poderia tê-la poupado aos homens, depois da de Cristo?" Depois entendeu. "Sem a morte não poderíamos nos entregar a Deus. Manteríamos abertas saídas de segurança. Mas não. É preciso entregar a própria esperança a Deus e crer nele."De Jerusalém a vida se vê de outra maneira, sobretudo as parafernálias de Roma. É o que conta Martini: "Houve uma época em que eu sonhei com uma Igreja na pobreza e na humildade, que não dependesse das potências deste mundo. Uma Igreja que desse espaço para as pessoas que pensam mais além. Uma Igreja que transmitisse valor, especialmente a quem se sente pequeno ou pecador. Uma Igreja jovem. Hoje já não tenho esses sonhos. Depois dos 75 anos decidi rezar pela Igreja".Nunca mais o "erro de Galileu"O cardeal Martini sempre se empenhou em estabelecer um terreno comum de discussão entre leigos e católicos, confrontando também aqueles pontos nos quais não há consenso possível. Com essa intenção abriu um dos debates mais saborosos entre intelectuais contemporâneos, publicado em 1995 na Itália com o título de "In cosa crede qui non crede?" (Em que crêem os que não crêem?). Tratava-se de uma série de cartas trocadas entre o cardeal e o escritor Umberto Eco, sobre temas como quando começa a vida humana, o sacerdócio negado à mulher, a ética, ou como encontrar, o laico, a luz do bem. Um setor da hierarquia católica assistiu à controvérsia com indisfarçável incômodo, mas uma década depois o mesmo cardeal Ratzinger, hoje papa Bento 16, enfrentou um debate semelhante com o filósofo alemão Jürgen Habermas sobre a relação entre fé e razão.O cardeal Martini lamentou em 1995 que sua Igreja vivesse mergulhada em "desolada resignação sobre o presente". Também admitiu diante de Eco o medo da ciência e do futuro. Então o fez "com tesouros de sutileza", ele mesmo reconheceu. Dava como testemunho a prudência de Tomás de Aquino em semelhantes compromissos, por medo de Roma, que esteve a ponto de castigar quem hoje é um de seus guias mais ilustres.O cardeal, já aposentado - quer dizer, mais livre do que quando exercia responsabilidades hierárquicas -, se expressa no novo livro com a sutileza que usou no debate com Umberto Eco, mas coloca sobre a mesa pontos de vista surpreendentes para seus pares, como o controle da natalidade e os preservativos. Soam também como chicotadas seus elogios a Martinho Lutero e o desafio a Roma para que empreenda com coragem algumas das reformas que o frade alemão reclamou em seu tempo.No fundo de suas manifestações de hoje, em que o cardeal às vezes parece angustiado - com um sentimento mais trágico de sua fé -, surge o debate interminável do confronto entre a Igreja de Roma e a ciência e o pensamento moderno. Novamente é um jesuíta quem volta a colocar a discussão, para desgosto do Vaticano. A vantagem de Martini é que não está mais ao alcance de nenhuma pedrada. O também jesuíta George Tyrrell, o erudito tomista irlandês, foi castigado sem contemplações e suspenso de seus sacramentos. Inclusive teve negada sua sepultura em um cemitério católico quando morreu em 1909. Seu pecado: reivindicar, como Martini, o direito de cada época a "adaptar a expressão do cristianismo às certezas contemporâneas, para apaziguar o conflito absolutamente desnecessário entre fé e ciência, que é um mero espantalho teológico."O que buscam todos esses pensadores católicos é espantar qualquer risco de cometer outra vez o erro de Galileu. É outra exigência do cardeal.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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26 de maio de 2008

Teologia da Libertação e Luta Armada

(J. Ricardo A. de Oliveira)




Penso que para compreeender-se bem a Teologia da libertação é preciso se contextualizá-la nos textos bíblicos que deram origem a esta ótica do cristianismo, hoje execrada pelas correntes mais radicionlistas da Igreja Católica Romana.
Pode-se enxergar uma TdL já no Êxodo, no episódio de Moisés e a sarça ardente. Alí Deus vem a público cobrar de Moisés que vá enfrentar o faraó para LIBERTAR o seu povo que vivia oprimido. São vários os textos proféticos, no primeiro testamento, em que podemos encontar a presença do Deus que vem exigir a libertação de seu povo oprimido. 
Isaias tem uma grande variedade de textos que tratam da libertação do povo. No segundo testamento, a vinda do próprio Jesus, tem esse caráter libertador. Outro ponto importante é o questionamento que a TdL faz ao modelo católico da atualidade. Entendem os teólogos desta corrente que a base do cristianismo está claramente descrita no livro dos Atos dos Apóstolos. Uma leitura atenta deste livro vai nos revelar que as primeiras comunidades frequentavam diariamente o Templo e " partiam o pão nas casas". Não havia sacerdotes. O que se diz hoje, que o batismo torna o batizado um sacerdote, era realmente praticado e não só para constar. Todo este clericalismo existente não fazia sentido. Haviam "Presbíteros" sim, mas o que hoje é entendido como sinônimo de sacerdote, na época significava ancião. Pedro foi o "presbítero" escolhido por Jesus que como judeu designou como líder o ancião, ou seja, o mais velho do grupo = o presbítero.
Também em Atos pode se ver o episódio da discussão de Pedro e Paulo, no famoso concílio de Jerusalém. Pode-se observar claramente que Pedro não posava de papa. Ele é contestado e acaba cedendo. Portanto ele não detinha o poder absoluto que se quer que acreditemos. A figura do papa só aparece muito mais tarde lá pelo final do sec III. Toda a crítica que os tradicionais fazem á TdL praticamente baseia-se no fato de que para a TdL, a verdadeira Tradição cristã, foi a que ocorreu nos primeiros três seculos do cristianismo e, para os tradicionalistas  a tradição é a igreja medieval que muito pouco tem a ver com os ensinamentos e a prática de uma espiritualidade de um filho de carpinteiro e uma trupe de pescadores rudes e iletrados.
Recomendo o Livro "A Igreja católica" do padre e teólogo Hans Küng, silenciado pelo Vaticano além dos de Leonardo Boff, é claro, para uma correta compreensão do que é TdL - Teologia da libertação.








23 de maio de 2008

O que é teologia da Libertação(Claudemiro Godoy do Nascimento)

Claudemiro Godoy do Nascimento




Este texto foi produzido pelo nosso saudoso amigo Claudemiro Godoy do Nascimento Quando ainda era diácono da ICAR. E que nos deixou no ano de 2010 em um acidente automobilístico.
A Ele a nossa gratidão e a nossa saudade e a certeza de que agora ele intercede por todos nós que trabalhamos pela construção do Reino do Pai.
J. Ricardo




Um dos melhores artigos que li sobre o que é a tdL é do meu amigo Claudemiro, com quem não falo já há algum tempo desde que ele seguiu lá para as bandas do Araguaia junto á Igreja católica Anglicana.

Awerê Claudemiro !








O que é Teologia da Libertação
Diac. Claudemiro Godoy do Nascimento



A palavra teologia vem da conjugação de TÉOS e LÓGOS, dois termos gregos.Poder-se-ia dizer que teologia é todo discurso acerca de Deus. Assim, porexemplo, foi denominado por Aristóteles em seu livro "Filosofia Primeira",que hoje conhecemos com o nome de metafísica. Para Aristóteles o TÉOS seriaobjeto de pesquisa da maior de todas as ciências: a ciência do ser enquantoser - esta que hoje denominamos de metafísica. Portanto, para serestagirita - Aristóteles, a metafísica, ou seja, a filosofia primeira, ésinônimo de teologia.Apesar de podermos falar de teologia em um sentido lato, tal como abordamosacima, atualmente o significado deste termo difere-se deste que expusemos.Teologia hoje é o discurso racional acerca de Deus a partir dos dadosadvindos de um livro revelado: Bíblia, Alcorão, etc. À teologia compete,portanto, a atualização dos dados revelados através do discurso (lógos),segundo as exigências históricas vigentes. Com isso, se mostra o carátertransitório do discurso teológico: a transitoriedade do discurso deve-se àtransitoriedade própria da história humana, da cultura e de suas diversasproblemáticas. Deus, por isso, deve sempre aparecer ao homem, através dodiscurso teológico, historicamente situado. Esta, última informação nos levaa perceber a imbricação necessária entre teólogo, revelação e história.Não obstante à imbricação supracitada, não poucas vezes a teologia cristã seconfigurou de forma totalmente anacrônica em seus discursos e,conseqüentemente, em seus conceitos. A teologia cristã durante séculos,preocupou-se com o hyperurânio de Platão, com o motor imóvel de Aristóteles,com a cidade de Deus de Agostinho, menos com as problemáticas históricas quefatalmente orientavam a vida social do homem. É comum nos depararmos comtextos clássicos da teologia e sermos levados às nuvens, aos céus, como, porexemplo, num texto de Irineu ou de S. Agostinho de Hipona. Mas, qual a razãodisto? Isto ocorreu por mera vontade dos teólogos? Certamente, não.A teologia cristã configurou-se de forma anacrônica por muito tempo, devidoao instrumental filosófico que ela utilizou para discursar acerca de Deus.Tal instrumental derivava-se da metafísica clássica que tem comocaracterística formular conceitos anacrônicos, desconsiderando o caráterhistórico do homem - ou seja, desconsiderando o homem enquanto serhistórico, que se faz (constrói) no tempo. A conseqüência disto, é que osdados da revelação cristã - Bíblia - foram entendidos como realidadesatemporais e ahistóricas. Por isso, por muito tempo - certamente, tambémainda hoje - entendeu-se Deus, Reino dos Céus, inferno, etc., comorealidades totalmente transcendentais, totalmente destacadas dos processos efases históricas da humanidade.Esta forma de discurso acerca de Deus foi submetida à crítica com o adventoda modernidade e do pensamento contemporâneo. A metafísica, que foi a "pedraangular" da teologia clássica, foi fortemente criticada a partir damodernidade. Descobriu-se, após séculos de especulação, a história comocaracterística essencial do homem e a cultura como âmbito de toda construçãohistórica. Com isso, o pensamento ocidental, largou aqueletranscendentalismo metafísico, tornando-se por isso mais imamentista. Istoinfluenciou fortemente a teologia. O encontro do homem com Deus - chamadopela teologia da GRAÇA - passou a ser pensado como realidade histórica: Deusse manifesta ao homem situando-se histórica e culturalmente, ou seja, oencontro de Deus com o homem difere-se na história em suas diversas épocas,e difere-se na pluralidade cultural que se dá no seio da humanidade.Obviamente, isto gerou uma certa relativização no discurso sobre Deus;porém, valorizou a historicidade como característica essencial do serhumano, além de valorizar a multiplicidade de formas de Deus se apresentarao homem, superando, assim, o anacronismo clássico metafísico que norteava opensamento teológico no entendimento da relação homem - DEUS.A chamada Teologia da Libertação está inserida nesta última fase dopensamento ocidental que destacamos acima: a fase da valorização dahistória, da cultura e da diversidade de formas de manifestação do encontrodo homem com Deus. Ela é uma teologia propriamente cristã; por isso, utilizaa Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos.A expressão "teologia da libertação", já mostra o sentido norteador destediscurso teológico. O genitivo que aparece na expressão citada - DALIBERTAÇÃO -, mostra-nos que a libertação é o horizonte regulador dodiscurso acerca de Deus, e, ao mesmo tempo, mostra-nos que o Deus dodiscurso é fonte de libertação. Esta se manifesta concretamente nos diversosmomentos do processo histórico de um povo. Conseqüentemente, a teologia dalibertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxislibertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstânciassob as quais um povo está submetido."A teologia da libertação é um movimento teológico que quer mostrar aoscristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela podecontribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora" (MONDIN,1980, p. 25). Neste sentido, o cristão é impelido a viver a práxislibertadora nas diversas épocas da história.O termo libertação foi cunhado a partir da realidade cultural, social,econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir dasdécadas de 60/70 do último século. Os teólogos deste período, católicos eprotestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico.Vejamos o quadro social da América Latina no período originário da teologiada libertação:"O ambiente político é geralmente caracterizado pela presença de governosque administram o poder arbitrariamente em vantagem dos ricos e dospoderosos, fazendo amplo uso da força e da violência. (...) O ambienteeconômico e social está marcado pelamiséria e pela marginalização da maiorparte da população. Os recursos econômicos são controlados por um pequenogrupo de privilegiados. (...) No ambiente cultural se verifica ainda umanotável dependência da Europa e dos Estados Unidos. Na ciência como nafilosofia, na arte como na literatura, quase nada é concedido àoriginalidade das populações latino-americanas" (Ibidem, p. 25-26).O quadro de degradação apresentado na América Latina é o fundamento geradordo conceito de libertação. A libertação, então, é toda "ação que visa criarespaço para a liberdade" (BOFF, 1980, p. 87). Ser livre, neste sentido, énão estar sob o jugo da lei alheia; é poder construir-se autonomamente. Oprocesso histórico da América Latina foi e é dominado por diversas leisestranhas a ela. A América do Norte, em especial os EUA, e os paíseseuropeus, sempre impuseram aos latino-americanos seus valores, suaspolíticas, sua cultura, etc. Neste sentido, a libertação no seio da AméricaLatina, é a luta pela liberdade da cultura, dos valores, da economia, dapolítica latino-americanos, frente às diversas opressões advindas de ummodelo imperialista que rege a práxis do hemisfério norte em suas relaçõescom o hemisfério sul, especialmente como o povo latino-americano. Talrelação impõe ao hemisfério sul a cultura do hemisfério norte.Devido à pobreza e à nefasta degradação do povo latino-americano, alibertação deve ser entendida como superação de um processo de exclusão; jáque esta é a conseqüência direta da relação norte-sul, onde milhões dehomens e mulheres empobrecem e se deterioram porque ficam à margem(excluídos) do processo econômico e político norteado pelo capitalismoimposto pelos EUA e Europa.Desta forma compete à teologia da libertação a tarefa de discursar sobreDeus a partir da ótica de um processo excludente e a partir da realidadeconcreta dos excluídos. O teólogo da libertação, portanto, deve ter esteduplo olhar: olhar para Deus e olhar para o excluído. Olhar para Deus é afonte de toda libertação possível e o olhar para o excluído identifica ondehá necessidade de libertação. Olhando para Deus - ou Cristo -, a teologia dalibertação diferencia-se de todo movimento libertador laico, já que alibertação apresentada pela teologia enxerga nos processos históricos apossibilidade de presentificação da nova ordem escatológica anunciada porCristo, ou seja, o Reino de Deus - ordem de justiça e da superação de todaopressão possível, na sociedade e no cosmos. Ao pretender olhar para oexcluído e para o sistema gerador de opressão, como pressuposto de todofazer teológico, a teologia da libertação difere-se radicalmente dasteologias clássicas, pois supera o anacronismo destas, circunscrevendo aexperiência de Deus no âmbito do engajamento do fiel na luta contra todo osofrimento humano historicamente situado.Para que haja elaboração da teologia da libertação é mister que secompreenda os fenômenos da opressão e da exclusão. Estes devem sercompreendidos através de uma mediação sócio-analítica, "Libertação élibertação do oprimido. Por isso, a teologia da libertação deve começar porse debruçar sobre as condições reais em que se encontra o oprimido dequalquer ordem que ele seja." (BOFF, 1996, p. 40). O método utilizado paraelucidar sócio-analiticamente o fenômeno da opressão e da exclusão pelateologia da libertação, é o método histórico-dialético.O marxismo passa a ser a filosofia predominante na análise sócio-analíticafeita pela teologia da libertação. Porém, o marxismo é utilizado comoinstrumento, não tendo fim em si mesmo. "Na teologia da libertação omarxismo nunca é tratado em si mesmo, mas sempre a partir, e em função dospobres" (Ibidem, p. 45). O sentido último da teologia não é Marx, mas Deus.Após a leitura sócio-analítica, o teólogo da libertação deve-se deparar coma Bíblia Sagrada. A Bíblia deve fornecer subsídios para que se possaidentificar a face de Deus e sua ação libertadora, nos diversos momentoshistóricos, sob as quais vive o teólogo e seu povo. Há, então, no processode elaboração da teologia da libertação, uma imbricação necessária entre aanálise sócio-analítica da realidade e a Bíblia Sagrada. Esta última forneceo sentido teológico da práxis libertadora proposta pela teologia dalibertação.Com a gênese da teologia da libertação na América Latina, "a religião passaa ser um fator de mobilização e não do freio" (BOFF, 1980, p. 102). Areligião não mais se apresenta como "ópio do povo". Ela passa a ser fonte delibertação e de esperança para o homem. A religião, desta forma, não sereduz a uma ideologia que mantém o status quo social e político; também nãoé mais fonte de discursos etéreos. A teologia da libertação pretende mostrarque Deus não está em uma esfera trans-histórica; mas, ela quer mostrar queDeus encarna-se na história, gera libertação de um povo humilhado, gera vidae esperança a um povo crucificado e sem sonhos. Podemos dizer,metaforicamente, que a teologia da libertação anuncia a ''descida'' de Deusde sua esfera transcendente e "celeste" e mostra-o como agente dignificadordos humilhados da terra. Deus não é mais um conjunto de doutrinas eespeculações, mas é a fonte de toda a luta pela justiça e igualdade. Porisso, Deus se manifesta nas lutas históricas pela justiça, pela inclusão epela superação de toda opressão vigente na humanidade. "Eu sou o Senhor, teuDeus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão."(Ex 20,2). Eis aface de Deus anunciada pela teologia da libertação: Deus que tira o povo daopressão, da servidão.O céu almejado pela humanidade, não é pensado como realidade post mortem.Este céu que fora pensado pela teologia clássica como realidade distante quese manifestaria no porvir, encarna-se no "agora", através da práxis do povoem prol da dignidade humana: cada conquista popular, no que tange a umarelação mais justa entre os homens, presentifica o céu no seio dahumanidade.A teologia da libertação surge para mostrar que Deus é "Pai - Nosso";portanto os homens e as mulheres devem se relacionar como irmãos e irmãs,sem haver exclusão, sem haver opressão ou sem qualquer tipo de violação dadignidade humana. Lutar pela libertação é alorizar a paternidade universalde Deus, que se manifesta nas relações justas e fraternas entre todos osseres humanos.



Bibliografia:

1. BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: CNBB, 1996.

2. BOFF, Leonardo, BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação.Petrópolis: Vozes, 1986.

3. BOFF, Leonardo. Teologia do cativeiro e da libertação. Petrópolis: Vozes,1980.

4. _____________ O caminhar da Igreja com os oprimidos: do vale das lágrimasà terra prometida. Rio de Janeiro: Codecri, 1980.

5. MONDIN, B. Os teólogos da libertação. São Paulo: Paulinas, 1980.

6 de maio de 2008

Coisas de criança

Quantos sonhos adormeci na esperança.
Quanta vida abandonei,
Imaginando ser coisa de criança.
Até hoje não entendo:
Porque será que é tão chato ser adulto.

Há dias, quando todos dormem,
Ando, cismando pela casa.
Encontro um lugar,
Sozinho, no escuro
E me ponho a sonhar.
Remexo lembranças
Remendo enredos aflitos
Da vida madura.
Troco tudo de lugar.
Deponho governos, revogo leis...
Vou a todas as igrejas, 
E liberto Deus, que eles insistem em prender.
Um dia desses, no meio da lida noturna,
Um padre fez menção de me agarrar,
justo no momento
Em que eu acordava Jesus,

Coitado, cansado, trancado no altar.

De outras vezes corro até os palácios,
Mudo todas as leis, abro todos os cofres...
Seria bom ser sempre criança...

Melhor ainda, ser adulto.
E não deixar de sonhar.
Viver num mundo onde as guerras
Tivessem apenas  violência de revólveres de espoleta.
Onde a fome, fosse só a ansiedade
De esperar a hora de lanchar,

Onde tristezas e dificuldades
Fossem apenas coisas do "faz de conta".

E crescer, não nos fizesse
Tão frios,
Sérios,
E, sobretudo tristes 
Por nossa insistência
Em não querer
A voltar a ser criança...
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2 de maio de 2008

O Futuro...


Todo um conjunto de acontecimentos, percebo, mais que inquietado, tem me desafiado a um questionamento quanto ao que os anos vividos me prepararam pra o que vem.Paira no ar, em meus pensamentos a dúvida quanto continuar sonhando e vivendo a esperança, em meio a tantos sinais de incerteza.

 

Saudades do futuro

Tempo restante
Tempo distante,
Tempo de espera,
Quanta demora na luta da vida
Quanta esperança na vida que vem
Longe e distante do real que é o agora.
Sigo buscando,esperando,vida a fora.
Saber encontrar-me
No exato momento do já.
Saberei?
Resolver as demandas
No instante preciso do agora,
Saberei?
Saber-me eterno,
Na impermanência do tempo
Nem antes nem depois,
Entre aqui e o agora,
Na eterna imanência do já.
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