O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

18 de dezembro de 2018

É Natal, de mãos dadas seguiremos construindo a Paz

J. Ricardo A. de Oliveira



Neste momento em que sento para escrever esta mensagem de Natal para meus amigos uma música surge clara e me faz pensar.
“Este ano quero paz no meu coração
Quem quiser ter um amigo que me dê a mão...”

Quem será que me estederá a sua mão, exatamente neste momento em que precisaremos estar de mãos dadas, e não largar a mão de ninguém?

 Tenho consciência de que foi um ano muito difícil, um ano em que as esperanças foram brutalmente ameaçadas. Um ano de muitas apreensões e pesadelos. Mas continuamos firmes e com o propósito, de como fez Maria, sermos propiciadores do nascimento do menino Luz.
Sim Luz!
Precisaremos muito de Luz para guiar nossos passos. Vivemos tempos de que não podemos mais nos perder nas aparências, nas formalidades de um cristianismo pouco comprometido como o jovem Galileu. Não é possível mais nos deixar levar por sofismas e subterfúgios que só nos distanciam da verdadeira mensagem expressa no evangelho. Não é possível mais continuar anunciando um Jesus omisso com relação às necessidades de seus pequeninos, como se ele não tivesse destruído literamente o absurdo dos vendilhões do templo. Ou não tivesse chamado os poderosos da época, de raça de víboras e de fariseus hipócritas. Não, esse Jesus de cabeleira loura escovada em salão de beleza, de olhos azuis e pele alva não condiz com o palestino que disse não ter onde repusar sua cabeça. Um jovem rebelde que por ousar pregar o amor e denunciar as injustiças, acabou pendurado numa cruz, para vergonha de uma humanidade que não conseguiu, e até hoje tem dificuldades de aceitar que Deus possa ter querido se fazer humano.


A cena da manjedoura revela um Deus encarnado na humanidade, mas não podemos ser hipócritas ao contemplar o presépio e fingir que não estamos vendo um casal que não encontrou pousada em nenhum lugar e foi se refugiar em um estábulo, junto com animais. Um casal que precisou usar um cocho de animais, como berço para Deus. Nosso romantismo parece eclipsar a realidade dura de um casal pobre de forasteiros, uma mulher grávida e que por ter estado grávida antes de casar, pode ter sido mal falada, mal vista e mal dita.
Sim, este é o Jesus real da cristandade, o mesmo que nasce nas muitas favelas do mundo, que chora de fome, que de outra forma é rejeitado por Marias de classe media e de classe  mais abastada, grávidas antes de casar e que são também rejeitadas pela hipocrisia da sociedade.
É este o menino da manjedoura, que ao crescer nos indicou o caminho aos que quisessem o seguir, no trecho das Bem Aventuranças (Mt 5), e  que nos advertiu com os “ Ai de vós” ( Mt 23, 23-39).

Impossível dizer Feliz Natal sem estar comprometido com a construção do Reino e com  o critério que ele disse que usará para nos julgar ( Mt25, 31-ss).
Para que o Natal seja de Paz, será preciso que seja restabelecida a justiça, a compaixão, a caridade, todas estas resumidas naquilo que ele nos deixou como lei: Amar como ele amou.
Se for assim, desta maneira, se comungamos deste mesmo propósito, aceito  o seu abraço amigo, a sua mão estendida e prometo fazer de tudo para não soltá-la. Juntos, estaremos construindo um Natal Feliz.
“O tempo passa e com ele caminhamos todos juntos, sem parar,
Como todo dia nasce, novo em cada amanhecer.”

15 de dezembro de 2018

Absurdos e mais absurdos.

"Caía a tarde como um viaduto, e um bêbado trajando Luto me lembrou Carlitos...”
Mas além de Carlitos, esse bêbado enlutado me lembrou de muitas outras coisas que desfilam na minha mente, enquanto ouço essa música na voz da saudosa Elis. Ouvi mentalmente o novo presidente dizer em vídeo que os grupos de extermínio são muito bem vindos, que Jesus subiu na goiabeira, que o STF não viu irregularidades no fato do Prefake do Rio de Janeiro fazer reunião para pastores de sua igreja e oferecer facilidades e prioridades no tratamento de saúde pública, soube que o médium está foragido e que as mulheres que o denunciaram estão sob proteção tendo em vista o risco de serem assassinadas, vi que o Brasil não vai mais se fazer simpático à migração, aos refugiados, que a preocupação com a preservação ambiental é coisa de esquerdistas, que a Amazônia deve ser dividida e desmatada e uma série interminável de situações completamente absurdas. Mas o que realmente veio coroar essas minhas observações e perplexidade diante delas, foi uma entrevista com Mino Carta onde ele diz literalmente: ”O Brasil estabeleceu a demência como forma de governo” e nesta entrevista ele diz que o IBOP fez uma pesquisa de satisfação, e que 75% dos brasileiros estão esperançosos e otimistas com o próximo governo.
De minha parte, nada mais me espanta, não acho que a demência seja só a forma de governo do Brasil, acho que vai muito além disso, acho que a demência se tornou o modo de vida em nosso país, uma rápida passada pelo noticiário iremos encontrar notícias de acontecimentos que ultrapassam esta linha, indicam que a frágil linha da normalidade está comprometida, completamente desligada da verdade, da ética. Vivemos o tempo da Demência, da Lei de Gerson e da Razão Cínica. Nada do que se ouve, lê ou vê, pode deixar de ser muito bem checado, tal a quantidade de fakes, pós verdades ou no popular, mentiras, que abundam as redes sociais, o noticiário e até as conversas entre amigos. Perdemos muito da sanidade que tínhamos, perdemos a seriedade e a capacidade de investigar o que existe por trás de cenários bem montados para nos enganar.
Vivemos tempos de guerra, de abuso coletivo, de predomínio da SOMBRA. Em tempos assim só há uma saída, silenciar e olhar para dentro, buscar lá no interior do interior a chama que arde e nos mantém, e, uma vez encontrada, deixar que ela guie nosso caminho, e nossa vida. Nada além dessa voz interior é merecedora de crédito. Nas horas mais difíceis, quando o desespero, o medo ou a revolta estiverem rondando, é lá, na intimidade, na sala interior, onde habita a chama da vida que encontraremos refúgio e paz. Só assim não seremos contaminados pela demência que parece imperar em todo o mundo.



26 de setembro de 2018

Jean-Yves Leloup: "É um longo caminho aprender a doçura"


Jean Yves, tem sido nos ultimos quase 20 anos, um mestre, um mentor, seja por seus inúmeros livros, ou nos retiros de silencio que promove, tem me feito desenvolver uma mística e uma espiritualidade incômoda, que  me desinstala e me coloca em marcha.


Entrevista realizado por
 Tatiana Mendonça 
(http://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1996608-jeanyves-leloup-e-um-longo-caminho-aprender-a-docura)



Antes Deus era uma ideia, depois passou a ser uma imagem, agora é um silêncio. Talvez por isso o francês Jean-Yves Leloup, 68, use tantas metáforas para falar dele, num esforço de traduzir o intraduzível. A relação cambiante entre os dois começou num hospital em Istambul. Leloup, até então ateu, estava entre a vida e a morte, vítima de uma grave intoxicação alimentar, quando reparou, num relance, que a consciência podia habitar fora do corpo. Desperto, saiu em busca de entender este além. Tornou-se doutor nas áreas de psicologia, filosofia e teologia e também padre da Igreja Ortodoxa. Mas ele não acredita que o cristianismo seja melhor que qualquer outra religião. “Todos os caminhos são bons. A condição é que a gente não pare no meio do caminho”, ri.  Presidente da Universidade Holística Internacional de Paris e autor de mais de 50 livros, Leloup vem frequentemente ao Brasil participar de palestras e seminários. Este mês, ele esteve em Salvador na abertura do 13º Simpósio Internacional sobre Consciência e Autoconhecimento: Nada Ocorre, promovido pela Fundação Ocidemnte – Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais e pelo Instituto Superior de Educação Ocidemnte (Iseo). Antes do evento, Leloup conversou com a Muito – com tradução de Lucinei Caroso – sobre meditação, espiritualidade, sexo e política. Em tempos tumultuados de polarização, ele defende que é preciso investigar a real intenção dos políticos. Saber se são cordeiros ou dragões.
O senhor teve uma experiência de quase-morte em Istambul e depois enveredou por um caminho espiritual. Essa trajetória se repete com outras pessoas, talvez de modo não tão extremo... Quando estão num momento muito difícil da vida, vivendo uma situação-limite, é que passam a buscar algo ‘maior’ que a vida cotidiana. Por que isso acontece, na opinião do senhor?
Não é necessário beber o vinagre para saber que o vinho é bom. Não é necessário morrer para saber que a vida é boa. Alguém como eu precisava de uma situação extrema. Deus fala para cada um a linguagem que seja capaz de entender. Para alguns, é a linguagem da beleza e da natureza, para outros, é através de um acidente. Quando temos o ouvido entupido, é necessário falar mais alto. Quando temos o coração fechado, Deus precisa falar uma linguagem mais dura. Mas é sempre com o objetivo de nos despertar.
Ainda sobre este tema, fiquei impressionada com uma frase que o senhor escreveu: “Minha vida está em ruínas, não há obstáculo à visão daquilo que é”. E no entanto a gente vai num sentido contrário, lutando com todos os meios para que essa ruína nunca chegue, tentando a todo custo fugir da dor e do sofrimento...
Quanto mais nós procuramos o prazer, mais ele nos foge. Quanto mais a gente foge da dor, mais ela consegue nos alcançar. A morte faz parte da vida. Tentar negar a morte não impede que ela chegue. Isso faz com que a morte seja dolorosa. Eu amo muito o livro do Apocalipse, porque ele mostra que através da desintegração, seja no nível econômico, social ou cósmico, a vida se revela. O Apocalipse não é um livro dedicado às catástrofes, mas às revelações através das catástrofes. A grande questão é o que nós fazemos dos nossos fracassos. No cristianismo, acho muito interessante a imagem da cruz ser o caminho da ressurreição. A cruz não é o fim do caminho. A destruição não é o fim do caminho. O objetivo é a ressurreição. Mas quando nós estamos no sofrimento e na dor, a gente não sabe disso ainda. É necessário atravessar o caminho. Jesus não explica o sofrimento como um filósofo. Como uma criança, ele recebe, vive nele o sofrimento. Ele o atravessa, sem concessões. Não existe prazer em sofrer. É necessário atravessar o sofrimento.
O senhor é vinculado à Igreja Ortodoxa. Acredita que para desenvolver a espiritualidade é preciso estar conectado a uma religião, qualquer que seja ela, ou pelo menos à ideia de Deus, de uma força maior na qual se possa confiar?
Cada religião é como um poço. Podemos ficar na superfície e fazer uma publicidade para dizer que a nossa água é a melhor, mas o importante é ter sede. E beber na fonte. Não importa qual seja o poço que você vá beber. Existe um momento onde a forma é importante, mas são formas exteriores. Mas no fundo do fundo tem a fonte. E nesse caso, quando nós estamos no fundo, nós estamos além da forma, e fora inclusive do próprio poço, para além da religião. Mas cada um deve procurar o seu poço para ir na direção da fonte.
Mas o senhor acredita que esse poço precise ser religioso, necessariamente? Um ateu pode desenvolver sua espiritualidade? De que modo?
Sim, o importante é cavar (risos). No Evangelho de João, ele diz que a luz habita todos os homens vindos ao mundo. E todos os homens que procuram a luz, que procuram a fonte da vida, podem encontrá-la. O importante não é a forma do poço, mas a sede daquele que cava, que se aproxima da fonte. 

em salvador com crianças que meditam na escola
Para o senhor, a meditação é uma forma de reconectar-se com o divino. E muitas pessoas reclamam que é difícil meditar, apesar da popularização desta prática nos últimos anos. Estão lá sentadas brigando com seus pensamentos... Entre tantas técnicas, qual é a que o senhor prefere?
Meditar é estar consciente, estar atento, estar presente, quer estejamos em pé, sentados ou deitados. O que pode nos colocar na direção do interior é a atenção à respiração. Com a respiração, nós podemos nos aproximar do mistério da vida. Nossa vida se mantém através deste sopro. Este sopro é o fio que nos interliga à fonte. O sopro é uma maneira muito simples de estar atento, de estar presente. Eu gosto também muito de meditar estando na natureza, meditar como uma montanha, com todo meu peso, meditar como uma árvore, interligada ao céu e à terra. Meditar como um oceano... A meditação não é nem laica nem religiosa. Ela é natural. E é necessário reencontrar a oração primeira, a meditação original, a meditação de todos os elementos. É necessário aprender a orar como o pássaro que canta. Respirar com consciência. É importante não tentar controlar os pensamentos, mas abandonar-se.
O senhor é um ativista da paz, um dos criadores da Unipaz. O Brasil regista um dos maiores índices de violência do mundo. Foram 63 mil assassinatos no ano passado. Como promover de modo prático uma cultura da paz num cenário como este que vivemos?
É necessário não ter medo. O medo cria a violência. A violência é uma energia. A questão é como transformar essa energia de uma maneira criadora. Com a mesma força que nós carregamos as malas de alguém, nós podemos golpeá-lo na cabeça. Acredito que o esporte possa desempenhar um papel importante nessa transformação, como prática de energia. Mas isso não é o suficiente. É necessário introduzir a consciência, para que a gente possa saber o que fazer com a nossa energia, descobrir que existe mais prazer em construir do que em demolir. Mas a situação do Brasil é, de fato, um grande problema. É preciso se debruçar nas causas desta violência, nas suas origens, na desigualdade econômica, social que existe no país, mas também nas causas psicológicas e interiores. É preciso transformar a violência que está em nós. Antes de fazer grandes discursos contra a violência, é necessário aprender a transformá-la em si mesmo. Muitas vezes, são os nossos pensamentos que são violentos, nossos julgamentos. E é um longo caminho aprender a doçura. Jesus disse: ‘Aprendam de mim porque sou doce e humilde de coração’. E é o único momento que ele diz ‘aprendam de mim’. Como se fosse a coisa mais importante... E também é a coisa mais difícil. É necessário ser muito forte para ser doce. É necessário muita energia e muito autocontrole.
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É necessário ser muito forte para ser doce. É necessário muita energia e muito autocontrole.
Jean-yves Leloup
Nós estamos às vésperas das eleições, e o país vive uma polarização exacerbada. É como se as pessoas fossem votar contra algo e não a favor de algo. Como podemos alimentar a serenidade nestes momentos de conflitos ideológicos?
Lembro das crianças com quem estive meditando na escola Ananda. No momento da meditação, se nós olhássemos de fora, havia crianças de diferentes cores. Quando olhamos para dentro, a consciência não tem cor, e nem tampouco tamanho. Não existe grande ou pequeno. Quando a gente olha para fora, existem diferentes partidos políticos, como existem diferentes religiões. Quando a gente olha para dentro, existem apenas seres humanos, procurando a justiça e a paz. E se os homens políticos meditassem juntos e descobrissem essa consciência interior? (Risos). Talvez nós pudéssemos ir na direção da justiça e da paz. O problema é a vontade de poder, de dominar. A vontade de poder te leva à vontade de apropriação, e a vontade de apropriação te leva à guerra, à fome. Dessa maneira, a gente encontra os quatro cavaleiros do Apocalipse. O cavaleiro branco representa a perversão da inteligência, que procura a dominação do outro. O cavaleiro vermelho é a guerra, a apropriação da terra, a possessão, que leva ao cavaleiro negro. O cavaleiro negro é a consumação, que leva na direção do cavaleiro verde, que é a cor da morte. É uma visão simbólica, mas é importante poder adaptá-la ao momento da atualidade. Esses quatro cavaleiros estão a serviço do dragão, e o dragão é o ego, que quer dominar, que quer devorar... A única força que pode vencer o dragão é a força do cordeiro, que simboliza a força invulnerável do amor. Somente o amor é mais forte do que a morte. Mas não sei como poderia traduzir isso em termos políticos... O importante é prestar atenção na intenção dos políticos. Se é o dragão ou o cordeiro que habita dentro deles.
O senhor já falou, em outras oportunidades, que a paz, na verdade, é a “grande paciência”. Vivemos hoje com as redes sociais uma era de imediatismos. Como conciliar tantas demandas com o silêncio interior?
A importância é estar livre. Livre com relação a qualquer tipo de tecnologia. E o momento de silêncio e de retraimento nos conduz à nossa liberdade. Nós não somos escravos das nossas máquinas. Mas existe um perigo, realmente.
O senhor já declarou que o sexo é um ritual divino, “fundamental para reconquistar a inteireza de corpo, mente e coração”. E no catolicismo ele permanece como um tabu. Por que isso acontece, na sua opinião?
Na origem, os rabinos perguntavam por que o homem não tinha sido criado redondo. A resposta era: para que não seja feliz sozinho. Para que não seja inteiro sozinho. Para que ele se torne inteiro com outra pessoa. Porque é na relação que está a imagem de Deus. Não é nem o homem, nem a mulher, mas é a relação entre eles. A sexualidade é o lugar do outro em si. E muitas vezes, é um lugar doloroso. Muitas vezes é difícil achar um local para o outro em si mesmo, aceitar não ser autossuficiente. O ser humano se completa através da relação. É por isso que a sexualidade é da ordem do sagrado. É por isso que essa parte do nosso corpo chama-se sacro. É nessa região que a vida é criada, que nós nascemos à imagem do Criador. E é por essa razão que é uma pena que essa dimensão não seja vivida de uma maneira espiritual e sagrada. Porque, de novo, é a consumação. A gente pode fazer do outro um objeto de consumo. E, dessa maneira, a gente passa ao largo da relação, ao largo da dimensão divina, do amor que transforma a sexualidade. Na tradição ortodoxa do primeiro milenário, é demandada à sexualidade essa transfiguração. É mais difícil transfigurar do que renunciar. Transfigurar quer dizer assumir, introduzindo a consciência e o amor em todos os nossos atos e, particularmente, nesse ato. Para algumas pessoas, pode parecer difícil. Preferem renunciar ou consumir, mas não conseguem transfigurar. Isso é um problema no cristianismo. A sexualidade não foi assumida e transfigurada. Ela se torna, dessa maneira, um assunto de idolatria ou desprezo. E esse assunto não deve ser tratado nem com idolatria, nem com desprezo, mas com respeito. O respeito é um belo nome do amor. Respeitar o próprio corpo e respeitar o corpo do outro. Nesse momento, se torna interessante.
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O respeito é um belo nome do amor. Respeitar o próprio corpo e respeitar o corpo do outro.
Jean-yves Leloup
O senhor costuma visitar o Brasil para seminários e outros eventos. Já esteve em algum terreiro de candomblé? O que o senhor pensa sobre tradições politeístas?
Sim. Acho que é uma bela maneira de entrar em contato com as energias da natureza, que são personalizadas ali. De novo, é a mesma coisa. Não se trata de ideolatria. Para alguns, é um caminho, e um caminho muito sensível. Todos os caminhos são bons. A condição é que a gente não pare no meio do caminho (risos). Todos os poços são bons, se a gente não ficar na metade do poço. É preciso descer até a fonte.
O senhor cunhou há alguns anos o termo normose. Acredita que hoje estamos sofrendo mais ou menos desse mal?
A normose é querer ser como todo mundo. Com a incitação da mídia, todo mundo procura se parecer. Muitas vezes, no nível do pensamento, mas também na maneira de se vestir. Para muitos, é difícil aceitar as suas diferenças. No entanto, cada um de nós é único e diferente. Quando visitei a Ananda, eu dizia às crianças: a rã e os macacos são iguais, são animais, mas se a rã quiser se tornar tão grande quanto o macaco, ela vai explodir e não será nem uma rã, nem um macaco. É preciso aceitar a si próprio, aceitar que nós somos iguais uns aos outros, e ao mesmo tempo diferentes. Um elefante não é um gato. Não se deve procurar comparações, e sim ser você mesmo. O fato de sermos diferente nos faz ter medo de sermos rejeitados. É um sentimento muito forte o medo do ostracismo, medo de ser rejeitado pela família, pelos amigos, pelo partido, pela religião. É um longo caminho tornar-se livre.
Sua autobiografia, O Absurdo e a Graça, foi lançada em 1990 na França, quando o senhor estava com 40 anos. O senhor já disse que mudamos nossa forma de entender o que é divino em momentos diferentes da vida. De que maneira percebia Deus antes e como o percebe agora?
Antes, eu apreendia Deus de uma maneira muito mental, como sendo a causa primeira, como sendo uma abstração. Hoje em dia, eu tenho menos ideias ou imagens sobre Deus. É como Jó. Em determinado momento, Jó perde tudo: sua saúde, sua família, sua riqueza. E ele perde principalmente o bom Deus, porque ele acreditava que Deus era bom e justo. Mas apesar de tudo que acontece com ele, algo injusto e inaceitável, o sofrimento do inocente, ali ele descobre que talvez Deus não seja a imagem que ele tinha de Deus. Ele perde os conceitos, as representações que tinha de Deus, mas não a fé. Ele descobre que Deus é mais do que Deus. Está além do que nós chamamos do bem e do mal, além dos contrários. E para isso não existe um nome. Porque nosso cérebro funciona sempre em binários, positivo e negativo. E nesse momento, Jó entra no silêncio. E Deus existe nesse silêncio. Hoje em dia, para mim, Deus está no silêncio, além de todas as qualidades ou representações que a gente possa dar. É apenas o silêncio que pode conhecer o silêncio. Somente o silêncio que pode falar com o silêncio. E agora eu me calo.

28 de agosto de 2018

Como um Rio (aos 67)



Segue como um rio.
Em seu eterno passar
O rio da vida me leva.
Hora em calmaria,
Em momentos outros em corredeiras...
Contorna algumas pedras, afoga outras,
E muitas, simplesmente as faz rolar...
Mas sempre seguindo.
Num caminho sinuoso,
Limitado pelas margens
Abriga sonhos de transbordamento.
A natureza revolta das aguas
Vez por outra, denuncia que nem tudo é tranquilidade.
E segue.
Da nascente à grande vazão,
A novidade é a constante,
Nenhuma gota repete um caminho já feito.
Tudo é novo, similar, parecido talvez, mas sempre novo.

Numa curvam como agora,
O murmurar das aguas ansioso se pergunta:
Quanto ainda falta para ao grande mar chegar?
Loucuras de rio afoito
que não percebe que o melhor do trajeto
é a simplicidade do suave marulhar.

Que eu continue a agradecer esse fluir de energia, que há 67 primaveras, me presenteia sempre com um novo, simples e desafiante marulhar cotidiano. 





15 de agosto de 2018

Em Pneuma e Aletheia

J Ricardo A de Oliveira

Vai!
Vá para ti.
Vá e não desista,
Vá e não olhes para trás.
Vá e só pare quando chegar,
Quando encontrar o coração do coração.

Chegando lá faça uma faxina,
limpe tudo,
Não deixe nada,
nem um pingo da lama que lá houver.
Depois de tudo bem limpo,
De todo o perdão exercido,
Descubra lá, a presença que te habita.

Persista,
 permita-se desta vez,
Ser tomado pelo grande silêncio.
Perceba quem te respira
E deixe-se ser respirado por esta presença.

 Mas com toda a atenção:
Em Pneuma e Aletheia – em Espírito e Verdade !
Alí, onde tudo é Paz,
Onde tudo é Luz,
Na morada do “Eu Sou”

 Seja UM com Ele.

20 de julho de 2018

Dia dos Amigos


Um dia, entre tantos dedicados aos amigos.
Tempos estranhos este que vivemos, temos dia para quase tudo. Dia da mãe, do pai e dos avós. Dia da mulher, da criança e agora do homem. Dia da mulher negra, da mulher índia, dia do irmão e da irmã, dos tios, dia dos primos, dos namorados e namoradas, e também dia da amizade e do amigo. Acho que vamos acabar tendo que criar o dia do dia, já que dentre os 365 não sobrará um dia para ser dele mesmo. Mas o que será que esse mundo capitalista e tão pouco emotivo considera amigo. Fiquei me perguntando quem eram meus amigos e como definir entre tantas pessoas, quem são os que considero assim: amigos? Pensei nos parentes, alguns que me sinto próximo emocionalmente, mas que não vejo e não falo desde o último casamento ou enterro da família, mas são amigos. Pensei depois naqueles com quem falo diariamente, esses são amigos! Mas como, se alguns eu nunca olhei nos olhos e jamais troquei uma palavra fora do mundo não virtual, mas que são mais próximos, do que os mais próximos parentes próximos. Coisa curiosa é o mundo virtual pessoas que nunca olhei nos olhos, que não conheço o timbre da voz. Mas mesmo assim, são tão caras a meu coração, tão próximas que passaram a fazer parte da família. Não raras vezes em situação muito comuns nas comunidades virtuais, me apresso a tomar as dores deles quando algum infeliz comentário os atinge. Outras ocasiões fico preocupado quando algum deles está doente ou passando por um momento dificil. Não consigo e nem sei se quero entender, mas uma certeza eu tenho, não quero e nem gosto de pensar na hipótese de perder qualquer um de meus amigos, virtuais e não virtuais. Para mim a nossa amizade, se é virtual ou cara a cara, não faz mais diferença, todas são para o meu coração completamente reais. Acho que agora depois de raciocinar entendo: amigo é aquele a quem se considera amigo, não importa a distância real, nem mesmo que o contato seja só virtual, estão sempre próximos. Amigos são como irmãos que estão sempre juntos de alguma forma comungando ou não das mesmas ideias, mas sempre unindo seus corações quando a necessidade ou o momento determina cuidar, consolar ou se alegrar. Mesmo quando discordam e acreditam em ideias diferentes, ou quando o time de futebol é rival, tem uma fé antagônica ou a posição política assim um pouco diferente. O que importa mesmo é aquilo que vem do coração, já que como o profeta Milton já disse, ”Amigo, é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância, digam não...
Por isso hoje deixo aqui o meu abraço carinhoso a esses muitos amigos/irmãos tão diferentes entre si e tão iguais no sentimento e na presença deles em minha vida.
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18 de julho de 2018

Jesus, Joshua, Raboni Joshua o Mestre


Penso que só passamos a ser realmente "humanos" depois da vinda de Jesus.
Ele veio trazer a possibilidade de uma etapa importante na evolução 
da espécie humana, desenvolver a emoção, 
abrir o "chacra cardíaco" da humanidade. 
Daí sua imagem tão popular com o coração aberto 
e sua mensagem de Amor incondicional.

Definitivamente Ele é um mestre.
Só Ele pode abrir para nós a capacidade de resolver conflitos 
sem uma espada ou um punho fechado.

"Amai-vos uns aos outros como Eu vos amo ".

Não importa se é filho de Deus, o próprio Deus, ou um ser especial. 
Na verdade, Ele é único, pena que tenhamos evoluído tão pouco desde sua vinda. Pena que tantos queiram aprisioná-lo em suas prisões-religiões, menores que Ele.  Por ele tanto já se matou e tantos se matam.

Uma incoerência com a missão que ele veio cumprir e  com o que pediu que fizéssemos depois de sua volta para o Pai.
Temos falhado muito neste aspecto, interpretamos errado seu pedido,
nos entrincheiramos em nossas pequenas verdades
 esquecemos que nada pode limitar o Amor,
nem mesmo rótulos poderosos ou pensamentos de maioria

"A maioria dos homens, fechados em seu corpo mortal
como caramujos em suas conchas,
enrolados como ouriços  nas suas obsessões,

modela sobre sí mesmo
a ideia do Deus bem-aventurado"
(Clemente de Alexandria 150-215 DC


Deus é sopro, pois o sopro do vento pertence a todos
Atravessa tudo, nada aprisiona,nada O oprime
nada O pode capturar
( Maximo Confessor 590-662 DC)

 O Reino de Deus está no meio de vós, foi o que Ele disse, e disse também que somos templo, morada do Espírito de Deus. 
Ele está em tudo e em todos os lugares. 

Jesus é meu irmão expresso em rostos como um Babalorixá, Padre,  Pastor,  Rabino,  Aiatolá,  Lama e tantos outros sacerdotes de tantos rótulos religiosos.
Ele é o trabalhador, o professor, o médico, a enfermeira, a cozinheira e também o aluno, o funcionário, o cliente e toda a diversidade de pessoas, profissões, nacionalidades.
Ele é, em tudo e em  todos...
É o humilde e também o poderoso. 
E é aquele mesmo que me aponta o revolver, que furta a carteira no ônibus, ou que se prostitui nas ruas.  É corrupto na política, e também o corruptor.
É o que abusa de um menor usando sua capa de sacerdote, e o menor abusado.
O que se preocupa mais com o dízimo do que com o amor dos irmãos, e também o fiel que paga o dízimo...
Mas é também o sacerdote honesto, o pastor piedoso o político consciencioso.
É aquele que empresta seu corpo para uma entidade fazer caridade ou é o que finge receber a entidade para tirar proveito da situação, ou simplesmente, o indivíduo honesto, pacato, sincero; a mulher dedicada, o marido, os filhos...É branco, negro aziático e indigena, é heterossexual, homossexual e trans...

É como já disse o Raulzito:  "o principio, o fim e o meio..."

Ele está no meio de nós, de Todos nós.

E prometeu estar presente sempre que pelo menos dois de nós 

nos reuníssemos em seu nome. E, todas as vezes
que fizermos qualquer coisa 
 a um de seus pequeninos,

é a Ele que estaremos fazendo.

Deu-nos um mandamente que se resume, segundo Ele,
toda Lei e toda a Profecia:

Amar como Ele nos ama. 


Que Ele nos traga a Paz inquieta, acalente nossos sonhos e esperanças
e nos torne operários construtores do seu reino de amor.

15 de junho de 2018

Aborto uma encruzilhada entre o Absurdo e a Graça

Há toda uma questão que vem mexendo com as pessoas, com a regulamentação do Aborto em países da América Latina. Penso que é preciso acordarmos para que os estados são laicos e a pluralidade de crenças e escolhas de vida imensa. O que vejo como importante é encararmos o fato de que nós precisamos fortalecer o discurso inclusivo, a mudança de valores e a abertura para um maior conhecimento e valorização da vida. E isso não pode estar somente ligado aos ainda em gestação, mas a tudo que se refere a uma agressão a Vida, não só a intrauterina.


Sou contrário ao aborto, não tenho a menor dúvida quanto a isso, aliás será que alguém é a favor? Mas será que isso me dá o direito de impedir o livre arbítrio dos que não pensam como eu, dos que não professam as mesmas crenças que tenho? Aqui estamos falando de leis, de legislação de países com uma grande multiplicidade de crenças, comportamentos, ideologias e até da ausência de qualquer crença ou religiosidade. Para os que por convicções próprias não aceitam o aborto, a lei que o permite ou descriminaliza não fará diferença, ele continuará não sendo aceito e não praticado.



No Brasil e em boa parte dos países em desenvolvimento o aborto é uma questão de saúde pública, e pior, é algo que só prejudica as mulheres mais pobres.  As mulheres de poder aquisitivo mais alto sempre contaram com as clinicas clandestinas que cobram fortunas para fazer o aborto, que por ser proibido, acabam tendo como vantagem a maior discrição, fazendo com que ninguém fique sabendo. Por força da minha profissão recebo mulheres, muitas que na aparência são “religiosas”, e que já praticaram ás escondidas um ou mais de um aborto. Todas foram bem assistidas e acompanhadas e na maioria das vezes encaminhadas por suas famílias também “religiosas”. Já as mulheres do povo, que não tem a possibilidade de pagar uma destas clínicas, acabam por  optar pelos métodos mais absurdos, que vão de agulhas de tricô aos chás , quando não caem nas mãos de algum “aborteiro”  irresponsável que colocam em risco a vida dessas mulheres  que muitas vezes vão a óbito por ignorância e falta de acompanhamento adequado.
Na minha opinião a verdadeira luta   deveria passar por uma campanha de conscientização desde as escolas no que se refere a educação sexual, métodos de prevenção e contracepção e planejamento familiar. Foi-se o tempo em que se poderia ter 8, 10 ou mais filhos. Ninguém hoje pode ter essa quantidade de filhos e cria-los com dignidade. Só mesmo as famílias com muitos recursos, e que justamente são as que optam por um número limitado de crianças. O mundo mudou e já não são aceitos os discursos e pregações de sexo só para procriação, namoro santo, por parte de pessoas que não fazem parte destas comunidades religiosas. Entretanto falar em educação sexual e contracepção parece ser algo que os mesmos adeptos dos tais S.O.S Vida também combatem. Aliás essa questão destes setores tradicionalistas e do fundamentalismo religioso, que tanto barulho fazem contra a legislação do aborto, são justamente os que não aceitam os métodos contraceptivos a não ser o natural, que não funciona com a grande maioria dos casais. Vivemos em outros tempos, a erotização está por toda parte como um dos principais objetos do marketing, a sociedade de consumo não se furta a consumir todo tipo de pessoas.


Mas então, dizem alguns, se não puderem evitar, que deixem nascer e que sejam entregues a uma instituição. Sem querer discutir esse absurdo que é ter um filho e rejeitá-lo, vemos que estas crianças em sua maioria são condenadas a ficar nas instituições até a idade adulta, especialmente as que forem negras, rotuladas como feias ou os portadores de algum tipo de deficiência. 




          Casa Mello Matos para crianças - RJ

Mas podem ser adotadas, há muitos casais que não podem ter filhos é o que usam como argumento.
 A realidade é outra, a maioria dos casais querem escolher e fazer restrições e exigências quanto a criança a ser adotada. Cor da pele, de cabelo, de olhos, tipo de cabelo, aparecia em geral... Fora o fato de alguns casais que tratam essas crianças como mercadoria, e não exitam em devolvê-las aos orfanatos depois de um tempo com essas crianças e constatarem que não era essa “mercadoria” que queriam.  Isso sem falar que a grande maioria quer recém-nascidos o que condena os maiores de 5/6 anos de idade, considerados já velhos para a adoção.




E para além disso tudo, aquela criança, rejeitada antes de nascer e abandonada após o seu nascimento, ainda tem que contar com as exigências legais para a adoção, que em nosso país são muito complicadas. Temos ainda que somar a isso, a carga de preconceito que muitos têm contra as crianças adotadas e contra quem quer adotá-las.  Os mesmos religiosos contrários ao aborto e aos métodos contraceptivos são também contrários a adoção de crianças por pais homo afetivos.


                                Criança adotada depois que 90 casais a rejeitaram por suas deficiencias




Como se vê, a questão não é complexa, na verdade ela é simples, mas o que a torna complexa é o preconceito, o fundamentalismo e o fanatismo religioso, que parece não ter se acostumado com o fato de que não estamos mais na idade média quando a igreja era o centro de tudo.
Não vivemos em feudos, a legislação não pode ser para parte da população, há uma grande massa de pessoas em situação de extrema pobreza e miserabilidade, uma grande parcela destes é também privada de informação e cultura que lhe permita planejar sua vida, escolher o melhor momento da concepção, ou até mesmo evitar a concepção.




É fundamental que consigamos sair desta situação de ser contra somente os abortos de indivíduos em estágio intrauterino e passemos a ser contra todo tipo de aborto, o dos nascidos que não consegue chegar aos 5 anos de idade, o dos que passando pelos cinco anos morrem na adolescência por terem sido cooptados pelo tráfico e todo tipo de criminalidade como forma de sobrevivência e dos que adultos estão abortados de uma vida digna que lhes permita trabalhos moradia e alimentação dignas de qualquer ser humano


Do contrário é uma hipocrisia ser ferrenhamente contra o aborto dos não nascidos e omissos ao aborto dos que nasceram e se encontram abandonados total pela vida.


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31 de março de 2018

Uma crucificação em nossos dias




Num exercício de imaginação, fiquei hoje após a meditação sobre a crucificação de Jesus entre ladrões, pénsando em como seria esta cena em nossos dias e em uma das nossas capitais do Sul/sudeste.
Imaginei aquela cruz e as pessoas ao redor a gritar: Vai pra Cuba! Ladrão! Enganador! Gentalha! Quem manda ficar vivendo com pobres, negros e putas, agora colhe o que plantou. Bandido bom é bandido morto ! Imediatamente lembrei de há algum tempo atrás o rapaz que foi amarrado a um poste, por ter furtado alguma coisa.
Lembrei como as pessoas se apressam a julgar e a fazer o que chamam de “justiça”, sem se preocupar em avaliar o que realmente aconteceu, os motivos que levaram aquela pessoa a cometer aquele ato.
Pensei também, como disse ontem, naquelas três figuras de rosto sofrido e desesperadas com a perda de alguém a quem amavam e por quem eram tão amadas: Maria, Madalena e João. E um dos justiceiros repetindo aquilo que se tornou quase um mantra: Tá com peninha? Leva pra casa!
Dois mil anos ainda não foram suficientes para sensibilizar os corações da humanidade e para que aprendêssemos a saber o que estamos fazendo.

30 de março de 2018

as diferentes religiões e as diferentes visões filosóficas






"Milhares e milhões de pessoas têm encontrado enorme benefício nos ensinamentos de Jesus Cristo, o que lhes permitiu viver suas vidas em plenitude.

A religião é um caminho,  mas se aceitarmos uma religião, devemos praticá-la com sinceridade.

Todas as tradições religiosas falam sobre o amor, compaixão, alegria e tolerância e os seus diferentes pontos de vista filosóficos têm a intenção de apoiar a prática destes valores.

Diferentes tradições espirituais, até mesmo diferentes escolas do budismo, podem propor diferentes visões filosóficas, mas transmitem uma mensagem comum de amor e compaixão."
                                                                 Sua Santidade Dalai Lama


28 de março de 2018

O final da grande caminhada




''Ao final desta grande caminhada que se chama VIDA, perceberemos que o que realmente importa são aquelas coisas que podemos carregar dentro de nossos corações.
Portanto, guarde somente os bons sentimentos.
Assim chegaremos com o coração leve e a mala cheia de boas lembranças…''


fonte:
https://www.facebook.com/A-Voz-do-Sil%C3%AAncio-393713223993217/

22 de fevereiro de 2018

Mundo Virtual

(O texto não é meu, encontrei na rede sem indicação de autor)





- Entro apressada e com muita fome na confeitaria. Escolho uma mesa bem afastada do movimento, pois quero aproveitar a folga para comer e passar um e-mail urgente para meu editor. 
Peço uma porção de fritas, um sanduíche de rosbife e um suco de laranja. 
Abro o lap-top. Levo um susto com aquela voz baixinha atrás de mim. 

- Tia, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você. 




- Minha caixa de entrada está lotada de e-mails. Fico distraída vendo as poesias, as formatações lindas. Ah! Essa música me leva a Londres.
- Tia, pede para colocar margarina e queijo também. 
Percebo que o menino tinha ficado ali. 
- Ok. Vou pedir, mas depois me deixa trabalhar, estou ocupadíssima. 
Chega minha refeição e junto com ela meu constrangimento.
Faço o pedido do guri, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir "a luta ".
Meus resquícios de consciência, me impedem de dizer.
Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pedido do menino. 
- Tia, você tem Internet?
- Tenho sim, essencial ao mundo de hoje.
- O que é Internet?
- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar. Tem de tudo no um mundo virtual.
- E o que é virtual? 
Resolvo dar uma explicação simplificada, na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha deliciosa refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que ele fosse.
- Legal isso. Adoro!
- Menino, você entendeu que é virtual?
- Sim, também vivo neste mundo virtual.
- Nossa! Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito ....Virtual. 
- Minha mãe trabalha, fica o dia todo fora, só chega muito tarde, quase não a vejo, eu fico cuidando do meu irmão pequeno que chora de fome e eu dou água para ele imaginar que é sopa, minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas não entendo pois ela sempre volta com o corpo, meu pai está na cadeia há muito tempo, mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos, ceia de natal e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isso é virtual não é tia???



- Fechei meu lap top, não antes que lágrimas caíssem sobre o teclado. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e não a queremos perceber !!!



2 de fevereiro de 2018

Tempos difíceis





Se os tempos são de incerteza...
E dentro do peito só mora a tristeza...
Há uma certeza que irá mudar essa direção !

Tenho certeza de que a vida é bela,
Independente se alegre ou triste:
Há um alguém que me chama para a colheita,
De novos frutos de libertação.

Abro os meus braços e meu coração
Não temo mais a dor nem a solidão,
Sozinho só está quem buscou
O medo, o ódio e a escuridão.

Foi o Senhor da vida que me libertou,
Foi o senhor da luz que meu caminho iluminou,
É o senhor do amor
que me abriga sempre no seu coração.

Confiante então nesta grande Luz
Não adio a decisão,
Entrego logo a minha vida àquele que conduz
A humanidade com sua compaixão.

Foi Ele mesmo que me ensinou
A resistir e lutar contra a escuridão
E a transformar a minha vida
Cantando, sempre, a mesma canção.


O senhor da vida me libertou
O senhor da Luz me iluminou
Há um caminho a frente a percorrer
Confiante sei que como nunca estarei só,
Não há motivo para esmorecer.
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