O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

25 de outubro de 2009

A igreja Cristã inicial do livro " A Igreja Católica"

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Ainda baseado no livro " A Igreja Católica" de H Küng, segue mais um trecho.

A Palavra Católico - “Katholikos” não é usada no novo testamento, não há menção sobre uma “igreja Católica” nas escrituras.
É Sto. Inácio, bispo de Antioquia que em sua carta á comunidade de Esmirna que primeiro registra este termo, mas no sentido de “igreja inteira”, toda a igreja, em oposição a igrejas individuais e locais. Esta expressão que mais tarde será “eclésia cathólica” ou “universalis” denota a igreja universal e abrangente.

É curioso que em 1ª Coríntios, Paulo (um legalista por excelência) ache normal que a Eucaristia seja celebrada sem que qualquer pessoa tenha sido designada para isso.

Vem dai a idéia de que o batismo qualifica o batizado como sacerdote, que foi abandonada mais tarde com a formação do clero.

É no ano 100 em Antioquia que pela primeira vez aparece a tríplice hierarquia: Bispo, presbítero, diácono. A Eucaristia não podia mais ser celebrada sem o bispo.
Passa então a ser muito clara a divisão entre o clero e o povo.

Ser Cristão significava estar disposto a aceitar o martírio.
Importante é entender que aceitar não é buscar.

O Cristianismo aparece como verdadeira filosofia com Justino, um dos apologistas (165 DC).
No centro do cristianismo estava o “logos” divino, o “verbo” eterno implantado em cada ser humano como “semente da verdade” que iluminou os profetas de Israel e também os sábios da Grécia e finalmente se fez homem em Jesus de Nazaré.
Esta foi a concepção adotada por Orígenes de Alexandria no séc III. Ele é considerado como inventor da teologia como ciência.
Para ele a encarnação de Deus, em última análise, levava a divinização dos seres humanos.

Do ponto de vista de suas origens (hebraicas) a verdade cristã não era para ser teorizada e sim praticada, vivenciada. Por isso que em João 14,16, Jesus é chamado de O caminho, a verdade e a vida.

Com o “cristianismo helenista” as discussões foram tornando-se menos práticas.
Essa teorização esta cristologia do Logos foi afastando-se do ideal hebraico formulado pelo próprio Jesus, que era eminentemente prático em suas ações.
Começa a nascer uma doutrina que acaba por tranformar-se no “dogma do Deus encarnado”.
O termo católico ( inteiro,universal, abrangente) que na sua origem nada tinha de polêmico, passou a ser usado com enfoque de “crença verdadeira - única verdade”.

No séc. II a grande discussão era a gnose, para quem havia a crença da descida da centelha divina da vida ao corpo humano que precisava ser libertada para subir-ascender novamente, ou seja, do mundo divino da luz para o mundo mau da matéria e deste novamente para mundo divino da luz.

Irineu de Lyon defendia a fé (Pitis) simples da comunidade cristã.
Ele defendia os evangelhos, os mandamentos e os ritos simples em face do “Conhecimento” supostamente superior e puramente espiritual baseado em revelações, mitos, tradições secretas e sistemas de mundo específicos em combinação com rituais misteriosos e procedimentos mágicos e marcado por uma mitologização sincrética e uma hostilidade ao mundo, à matéria e ao corpo.

A IGREJA CATÓLICA, agora já uma instituição recusou-se a aceitar essa tendência gnóstica e reagiu com um conjunto de normas.
1) Adotou um credo sumário que era de costume no batismo que poderia ser suplementado com definições e dogmas que determinava os limites da “crença correta e ortodoxa”.

2) Foi estabelecido um cânone de escrituras do novo testamento baseado na Bíblia Hebraica para os escritos que eram “permitidos” e reconhecidos para a liturgia”.

3) Criação do cargo de “Episkopos”, ou bispo. Originalmente este se relacionava mais com a organização, mas gradativamente se ocuparia mais e mais com o ensino que deveria ser correto e apostólico com base na sucessão apostólica. Listas de Bispos e sínodos de bispos. A tradição, tornavam-se cada vez mais importante, o poder dos bispos crescia cada vez mais.
Os bispos tomaram lugar dos professores carismáticos e dos profetas e profetisas.
Estabeleceu-se uma estrutura hierárquica que impediu a emancipação e ordenação das mulheres ( até hoje observada na ICAR), desaparecem as diaconisas.
Passa-se a observar a hostilidade á sexualidade, um fenômeno generalizado no final da antiguidade, que assume uma marca especial no cristianismo.

O gênero masculino assume o poder da dominação no âmbito do sagrado – bispos e teólogos advogam a inferioridade feminina, mais tarde vão acrescentar a impureza como característica das mulheres.
Contra tudo que se observava nas primeiras comunidades primitivas, as mulheres estavam então excluídas, passavam a ser meras coadjuvantes.
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