O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

31 de julho de 2010

Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787)

Pároquia de Santo Afonso no início do Século Passado

Os Redentorista sempre fizeram parte de minha vida. Desde criança que a nossa casa sempre esteve na área da paróquia de Santo Afonso.
Aprendi aos poucos a admirá-lo e na juventude passei a admirá-lo ainda mais quando conheci sua história, muito pouco contada ,e que guarda algumas semelhanças com a de S Francisco. Afonso também abandonou tudo para dedicar-se aos excluídos. Formou uma congregação e teve muitas dificuldades para manter o carisma inicial numa época em que as familias mais abastadas tinham seu sacerdote familiar ( particular).
A decisão de Afonso de dedicar-se aos “lazaroni”, ou seja os mais excluídos de Nápoles fez dele um “subversivo” que precisava ser observado. Essa sua decisão lhe custou muitos dissabores e até perseguições de uma igreja que na sua época não via com bons olhos suas escollhas.
Certamente dele devem ter dito como disseram de Francisco que desvirtuava os jovens que passavam a seguir seu estilo de vida despojado.

Foi na Paróquia de Santo Afonso que me criei e mais atuei: como missionário Leigo redentorista na criação do primeiro grupo da paróquia, MECE, na pastoral da Saúde, na Liga católica, na pastoral da Acolhida (criada por mim na época- 1998), na evangelização e como membro do Conselho Pastoral Paroquial.
Tenho profunda admiração pelos Redentoristas, e uma simpatia especial para com os santos da congregação.
Hoje 1º de Agosto é dia da congregação estar em festa, e quero me juntar a todos os redentoristas para lembrar, comemorar e pedir a intercessão de Santo Afonso.



Afonso Maria de Ligório, bispo, escritor, poeta, musicista, Doutor da Igreja, foi fundador de uma das mais ativas e numerosas congregações religiosas: os Padres Redentoristas.
Nasceu perto de Nápoles, Itália, em 1696, filho de uma das mais antigas e nobres famílias de Nápoles. Do pai herdara uma vontade férrea, inteligência viva e perspicaz, enquanto que a mãe plasmou seu coração para a fé a bondade. Ainda pequeno, recebeu do Santo São Francisco de Jerônimo da Companhia de Jesus, a seguinte profecia:
"Esta criança, não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e realizará maravilhas na Igreja de Deus".
Seu pai destinou-o aos estudos das artes liberais, das ciências exatas, das disciplinas jurídicas, conseguindo Afonso rápidos e surpreendentes progressos. Aos dezesseis anos doutorou-se em direito civil e eclesiástico e começou a colher louros e triunfos no foro. Seu pai sentia-se orgulhoso do brilhante futuro que se abria ao filho e já tinha preparado uma noiva, rica e nobre, mas no coração de Afonso, já havia a graça divina aberto profundos sulcos, e inspirado outras rotas de grandeza.
Como advogado, já de renome, recebeu uma causa de grande importância do Duque Orsini contra outro príncipe, o grão-duque de Toscana. Meticulosamente nosso advogado estudou o processo, reviu os autos, conferiu documentos. Fez uma brilhante defesa no foro. A vitória parecia mais que garantida quando o contra-atacante lhe chamou a atenção para uma pequena falha que lhe passara despercebida. Afonso reconheceu que se enganara e exclamou:
"Ó mundo falaz, agora eu te conheço! Adeus tribunais!".

Este acontecimento determinou a reviravolta mais profunda de sua vida. O jovem e brilhante advogado abandonou definitivamente a advocacia para dedicar-se às causas mais nobres na seara evangélica. Completou os estudos de teologia e foi ordenado sacerdote aos trinta anos. Esta mudança custou-lhe renhidas lutas com o pai, que não podia conformar-se com a escolha feita pelo filho, renunciando aos títulos de nobreza e à rica herança da família. Mais tarde, ainda com pavor Afonso recordava dessas horas de combate. Desde então Afonso colocou suas altas qualidades de ciência e de oratória a serviço de Cristo, dedicou-se sobretudo à pregação, com o lema:

"Deus me enviou a evangelizar os pobres".

Procurava de preferência os pobres "Lazaroni" e a meninada abandonada pelas ruas de Nápoles. Muito se mortificava Dom José, vendo seu filho metido no meio do povinho, desprezível a seus olhos de fidalgo. Nosso santo não se deixava esmorecer.
Passou a morar no Hospício dos Padres Chineses e pensou seriamente em ir para as missões pagãs. Entretanto, os planos de Deus terminaram por conduzi-lo a um convento de irmãs em Scala, perto de Amalfi, para onde foi por ter adoecido, e necessitar de repouso.
Nesse convento havia a Irmã Maria Celeste Crostarosa que se destacava por sua virtude. A 3 de outubro de 1731 revelou-lhe a Irmã a visão que tivera:
Afonso estava designado por Deus para fundar uma Congregação.Começou então o duelo entre Deus e a humildade do Santo. A luta foi um verdadeiro martírio para Afonso. A santa Irmã chegou mesmo a intimá-lo:
"D. Afonso, Deus não o quer em Nápoles; chama-o para fundar um novo Instituto". Resolvido a isso, depois de ter sido orientado pelo seu confessor Facoia, mais tarde bispo, teve o Santo de enfrentar tremenda oposição do pai. Este recriminava ao filho dureza de coração por querer abandoná-lo para meter-se na aventura de fundar um novo Instituto. Mas a graça venceu, e a 9 de novembro de 1732 fundou Afonso, em Scala, a Congregação dos Padres Redentoristas, que no começo tinha o nome de Instituto do SS. Salvador.Os primeiros companheiros de Afonso eram todos sacerdotes, e logo começaram a dedicar-se à pregação. Não tardou aparecer desunião nas idéias. Queriam uns que o Instituto, além da pregação, se dedicasse também ao ensino. Afonso insistiu na exclusividade da pregação aos pobres, às regiões de gente abandonada, na forma de missões e retiros. Venceu seu ponto de vista.
Em 1749 o Papa Bento XIV aprovou as Regras do Instituto, que tinha por fim a imitação de Jesus Cristo e a pregação de missões e retiros de preferência à classe mais abandonada.
Mais do que sua palavra, pregava o seu exemplo de virtude, de penitência, de caridade e de santa inocência. As cidades disputavam Afonso como pregador. Um dia chegou ao seu conhecimento, que o queriam nomear arcebispo de Palermo. Pediu orações para que se evitasse "o grande escândalo" desta nomeação. Mas em 1762 o Papa Clemente XIII impunha-lhe a mitra de Santa Águeda dos Godos.

Os diocesanos passaram mas viram que tinham um santo por bispo, quando vendeu até as alfaias, os móveis de seu pobre palácio, seu anel de bispo, para acudir aos necessitados.
Em 1775, a seu pedido, livrou-o do bispado. Papa Pio VI.
O santo patriarca voltou pobre para o seu convento, e ali a mão de Deus o experimentou e lhe burilou lindas facetas de virtude. Afonso, acabrunhado por sofrimentos físicos, teve o desgosto de ver a cisão no seu Instituto e, por mal-entendidos, foi até excluído na Congregação que fundara. Os últimos anos do Santo são síntese, tudo adversidades inimagináveis. Das profundezas da sua alma dorida clamava a Deus misericórdia e auxílio. Em tudo reconhecia a adorável vontade de Deus. Após longo martírio no corpo e na alma morreu calmamente no Senhor a 1º de agosto de 1787 na idade de 91 anos. Em 1816 foi declarado beato. Foi canonizado em 1839 por Gregório XVI.
Santo Afonso foi um prodigioso escritor. Nos seus últimos doze anos de vida, para não faltar ao programa que se propusera quando jovem, de não perder mais tempos tempo jamais, dedicou-se à redação de livros, enriquecendo a coleção de obras ascéticas e teológicas. Deixou para os sacerdotes a sua célebre Teologia Moral; para os religiosos a Verdadeira Esposa de Cristo; para o povo cristão, livros cheios de verdadeira e ungida piedade, tais como as Meditações sbre a Paixão do Salvador, Glórias de Maria, Visitas ao SS. Sacramento, Tratado sobre a oração. Foi historiador, apologeta, pregador, poeta e exímio musicista. A devoção popular muito deve às suas canções por ele escritas e musicadas. Até hoje no tempo de Natal, é comum escutar o seu "Tu Scendi dalle Stelle" - Tu desces das estrelas. A Igreja deu-lhe o título de Doutor zelosíssimo. As obras de Santo Afonso têm a perenidade das fontes seculares.

28 de julho de 2010

O que Acontecerá em 2012?

Marcelo Del Debbio
Pela qualidade da informação e pela importancia do esclarecimento e pela lucidez do autor resolvi colocá-lo aqui. Trata-se de um atrtigo estremamente oportuno e inteligente, nestes nossos tempos de tanta desinformação.( J. Ricardo)

Este artigo foi publicado originalmente no Sedentário, em setembro, e está atualmente em:

http://www.deldebbio.com.br/index.php/2009/11/23/o-que-acontecera-em-2012/#more-2522


Durante quase todos os períodos históricos, a humanidade sempre está diante de um suposto “Fim dos Tempos”, “Apocalipse”, “Armageddon”, “Ragnarok”, “Bug do Milênio” ou coisa que o valha. Desde que João escreveu seu tratado sobre a Kabbalah (cada um dos 22 capítulos do Livro das revelações fala sobre um dos aspectos de cada Caminho da Árvore da Kabbalah), os religiosos aproveitam a onda do “fim do mundo” para faturar uns trocados nos dízimos e proteções da vida.
Por volta da década de 80, chegou a vez do movimento dos picaretas New Age faturarem uns trocados com a idéia do fim do mundo.
Afinal de contas, o que acontecerá dia 21 do 12 de 2012?

O livro do Apocalipse (chamado também Apocalipse de São João, pelos católicos e ortodoxos, e Apocalipse de João, pelos protestantes, ou ainda Revelação a João) é um livro da Bíblia —o último da seleção “oficial” da galera de Constantino.
A palavra apocalipse, do grego αποκάλυψις (termo primeiramente usado por F. Lücke em 1832) e significa, em grego, “Revelação”. Um “apocalipse”, na terminologia do judaísmo e do cristianismo, é a revelação divina de coisas que até então permaneciam secretas a um profeta escolhido por Deus. Por extensão, passou-se a designar de “apocalipse” aos relatos escritos dessas revelações. Ou seja, NADA de “Fim do Mundo”.
Devido ao fato de, na maioria das bíblias em língua portuguesa se usar o título “Apocalipse” e não “Revelação”, até o significado da palavra ficou todo deturpado, sendo às vezes usado como sinônimo (errôneo) de “fim do mundo”.
Para os cristãos, o livro possui a pré-visão dos últimos acontecimentos antes, durante e após o retorno do Messias de Deus. Alguns Protestantes e Católicos entendem que os acontecimentos previstos no livro já teriam começado. Outros acham que tudo acontecerá ao pé da letra, com direito a dragões de sete cabeças voando pelas cidades turísticas do globo e cristitas sendo abduzidos no meio da rua (“Arrebatamento”).
A literatura apocalíptica tem uma importância considerável na história da tradição judaico-cristã-islâmica, ao veicular crenças como a ressurreição dos mortos, o dia do Juízo Final, o céu, o inferno e outras que são ali referidas de forma mais ou menos explícita. Algumas pessoas defendem que o fato de várias civilizações no mundo terem apresentado narrações apocalípticas sugere que estas têm uma origem comum e ancestral (supostamente revelada ao homem por um ser dotado de inteligência superior, entre outras teorias) que foi sendo deturpada pela transmissão oral. Esta visão assume, por vezes, um carácter ecológico, ao propor que a mensagem do apocalipse se refere à capacidade que o homem civilizado tem para destruir o mundo.
Estão certos em parte. O caráter do texto realmente é Simbólico, mas apenas trata da evolução do Homem em relação ao próprio Interior do Homem. São passagens alquímicas que simbolizam os estágios de aperfeiçoamento do ser humano dentro das sete virtudes, culminando com a derrota de seus próprios demônios internos.

Mas e 2012?
Agora as expectativas se voltam para 2012. Sim, eis o próximo fim-do-mundo! Por quê 2012? Por que foi escolhido pelos místicos americanos, oras! Desta vez é o famoso movimento New Age (ou como diria o Cartman, dos “Hippies fedidos”) que profetiza o final dos tempos. Eles se baseiam agora no calendário de Contagem Longa dos maias. Ou melhor, se baseiam num suposto fim do calendário maia.

Os Calendários Maias
Os maias, a bem da verdade, usavam três calendários diferentes e inter-relacionados, todos organizados como hierarquias de ciclos de dias, com várias durações. A Contagem Longa era o principal calendário para fins históricos. O Haab era o calendário civil, e o Tzolkin, o religioso. Todos os calendários maias são baseados apenas na contagem serial de dias, ou seja, não são calendários sincronizados ao Sol ou à Lua, como o nosso calendário. Apesar disso, tanto a Longa Contagem quanto o Haab contém ciclos de 360 e 365, respectivamente, valores muito próximos do número de dias do ano solar. Por basear-se apenas na contagem dos dias, a Longa Contagem é muito parecida com o sistema de dias julianos e outras representações modernas de datas e tempo. Também é interessante notar que tal calendário conta a partir do zero. Ou seja, mesmo antes dos hindus, os maias foram o primeiro povo a usar o zero.

Vamos organizar uma tabela com os ciclos do calendário Maia:

Kin – Equivale a 1 dia
Uinal – Equivale a 20 Kins (20 dias)
Tun – Equivale a 18 Uinal (360 dias / 1 ano aprox.)
Katun – Equivale a 20 Tun (7.200 dias / 19,7 anos)
Baktun – Equivale a 20 Katun (144.000 dias / 394,3 anos)
Pictun – Equivale a 20 Baktun (2.880.000 dias / 7.885 anos)
Calabtun – Equivale a 20 Pictun (57.600.000 dias / 157.704 anos)
Kinchiltun – Equivale a 20 Calabtun (1.152.000.000 dias / 3.154.071)
Alautun – Equivale a 20 Kinchiltun (23.040.000.000 dias / 63.081.429 anos)


A Longa Contagem é organizada de acordo com a hierarquia de ciclos mostrados acima. Cada ciclo é composto de 20 unidades do ciclo anterior, com exceção do tun, que é composto de 18 uinal de 20 dias cada. Isso resulta num tun de 360 dias, o que é uma boa aproximação com o ano solar, tendo em vista que outros povos antigos, como os romanos, usavam um calendário exclusivamente baseado no ciclo solar, com 360 dias.

Os Maias acreditavam que, ao fim de cada ciclo Pictun, equivalente a 7.885 anos, o universo seria destruído e recriado. Esta é a verdadeira profecia maia. Infelizmente (ou felizmente), este ciclo só acabará em 12 de outubro de 4772.

Por outro lado, 2012 vai ser MESMO um ano de mudança no calendário maia e é nisso que se baseiam as presentes previsões reptilianas. Para os adeptos da teoria dos “maias engenheiros dimensionais do tempo” de plantão, o fim do mundo chegará em 21 de dezembro de 2012. Mas se convertermos esta data para o calendário maia de Longa Contagem, obteremos o seguinte resultado: 13.0.0.0.0. Isso significa que esse será apenas o início do 13º ciclo Baktun. Seria o equivalente ao início do século 13 para os maias, enquanto nós já estamos, de acordo com nossa contagem, no século 21 (o 12º ciclo Baktun começou em 18 de Setembro de 1618). Isso tudo acontece apenas por que são meios diferentes de contar o tempo, que além disso começaram a ser contados em épocas distintas.
Então, da mesma maneira que o mundo não acaba em 31 de Dezembro, o mundo não acabará dia 21/12/2012. Simples assim…

Mas, então, por quê 21 de dezembro de 2012 foi escolhido pelos místicos, esquisotéricos e charlatões? A resposta é simples e óbvia; uma soma de dois fatores:
1) superstição. Como vimos, essa data corresponde a 13.0.0.0.0. O que está acontecendo com o pessoal da New Age é o velho medo do número 13. Só isso.
2) O povo picareta quer ganhar dinheiro. Ninguém ficaria assustado e compraria os livros best-sellers se o “fim do mundo” fosse em 4772… está muito distante…

A única vantagem é que conseguiremos expulsar todos os hippies fedidos malucos das cidades próximas da praia. Nunca mais teremos de ouvir aquelas musiquinhas peruanas no centro da cidade. Eles se refugiarão próximos à região de Brasília e São Thomé das Letras (eu só fico triste pelos meus leitores do Distrito Federal, que terão de agüentar esse povo)…

Como curiosidade, quem quiser calcular sua data de nascimento no calendário Maia pode acessar este site:

http://users.hartwick.edu/hartleyc/mayacalendar/mayacalendar.html

25 de julho de 2010

“Um Tal Jesus”




A Boa Notícia Contada aos Povos da América Latina

Este livro, ou melhor, estes livros (12 livros com 12 capítulos cada) são maravilhosos!
Esta obra que cativa a muitos foi escrita pelos irmãos María e José Ignacio López Vigil e a principio era uma radio-novela em espanhol. No Brasil foi publicado pelo IPJ.
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- Muito legal o formato em que esses são escritos, além de ser em forma que proporciona uma encenação teatral, também são de uma linguagem cotidiana e mostra um pouco mais da trajetória do Jesus histórico e das suas ações na terra.

“Um Tal Jesus” também causou muitas polêmicas, ao ponto de autoridades religiosas condenarem e proibirem a publicação com ameaças e até excomunhões. Os irmãos María e José Ignacio López Vigil foram até mesmo acusados de heregesia. ('pode' uma coisa dessa!?)



(Mais informações sobre os Autores!) http://www.untaljesus.net/about.htm

- Os livros são ótimos, mostram de fato a face do “Moreno”, que sorria, que se indignava e agia e que muitas vezes apenas nos é mostrado de uma forma européia e majestosa, fazendo assim com que o lado humano de Jesus seja esquecido.
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- Para quem não leu! - Leiam e conheçam o “Moreno” de Nazaré!!!
Os livros podem ser adquiridos pelo IPJ (impressos ou para download) e tb no site oficial. http://www.untaljesus.net/ (download)
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“Um Tal Jesus” - 12 Fascículos Completos para Download!( Ctrl + Clik )

ou no endereço abaixo

http://www.4shared.com/file/96201429/94f218f0/Um_Tal_Jesus_completo.html
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22 de julho de 2010

O Último Discurso do Grande Ditador

CHARLES CHAPLIN



Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

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A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

21 de julho de 2010

O Cântico da Terra

Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

20 de julho de 2010

Por que sou cristão?

Marie-Dominique Chenu

Por que sou cristão?
Publicamos aqui um artigo do grande teólogo francês dominicano Marie-Dominique Chenu, falecido há 20 anos, republicado na revista Koinonia, nº. 352, maio de 2010.

Nele, Chenu afirma que, "se sou cristão, não é porque acredito em um Deus-Deus, como um ser absoluto, eterno, imutável, inconhecível". Mas sim em "um Homem-Deus". A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

Na medida em que a fé da minha infância tornou-se adulta, isto é, consciente de si mesma e do próprio conteúdo além da ingênua espontaneidade, tornou por isso mesmo "crítica". Não apenas busquei discernir os motivos do meu crer, mas encontrei prazer ao alimentar a minha fé com inteligência, de tal modo que ela se estendesse entre dois polos: um consentir amoroso à Palavra de Deus e um remeter sempre totalmente em questão.

A fé gera então uma "teologia", isto é, um conhecimento do mistério no qual a busca se entrecruza com a certeza, em uma dialética permanente. Quanto mais sou fascinado pelo meu consentir, mais a minha curiosidade é estimulada pelo amor do mistério que assim me conquistou.

Essa estranha forma de conhecimento é exercida em todo o campo da economia judaico-cristã, em um messianismo que começa com a vocação de Abraão e continua dia após dia a partir da ressurreição de Cristo, que o prolonga para além de toda previsão por obra do Espírito enviado por Ele.

O centro nevrálgico desse "mistério" se encontra não em uma verdade eterna qualquer, mas sim em um "evento": Deus entra na história, mas de um tal modo que o objeto da minha comunhão divinizante não é diretamente Deus em si mesmo, na sua transcendência, mas sim um Homem-Deus. Ao entrevistador que lhe perguntava quem era Deus para ele, o arcebispo ortodoxo da Inglaterra respondeu categoricamente: "É um homem, até na sua dimensão política, segundo a própria lógica da encarnação. Assim, é um homem que me ensina como o homem pode se tornar Deus" (Clemente de Alexandria, século III).

Se, portanto, eu sou cristão, não é porque acredito em um Deus-Deus, como um ser absoluto, eterno, imutável, inconhecível. O limite dos enunciados do Concílio Vaticano I é o de serem completamente guiados pela obsessão de provar a existência de Deus com motivações que deveriam refutar o ateísmo desde então até suas origens. Naquela metafísica sagrada, se desenvolvia um deísmo autoritário, no qual a religião cristã dificilmente podia evitar de se transformar em um aparato ideológico, em contraste com a história e com a autonomia do homem. Viu-se logo: Deus se tornava insuportável aos homens, se não se fizesse homem. Indício dessa mudança de perspectiva: não se falava mais de teologia, mas sim de "teodiceia", uma teologia sem mistério, se pode-se assim dizer.

O Concílio Vaticano II reencontra a presença humana de Deus: esse é o denominador comum de todas as suas posições, começando pela sua própria constituição. A resistência que a sua inspiração e o seu dinamismo, ainda mais do que os seus decretos, encontram hoje em algumas formas de integralismo vem justamente dessa imperialismo, sustentado pela Igreja, a partir de Constantino até a Santa Aliança. Eis que o Evangelho retorna, a boa notícia do Homem-Deus, a palavra retorna mais de 200 vezes nos textos, enquanto no Vaticano I era pronunciada só duas vezes.

Realiza-se o anúncio do profeta Sofonias que coloca na boca de Javé estas palavras: "Me enamorei de vocês, e quero vir a viver com vocês: então, dançarei de alegria". Que desapareça, segundo a decisão de João XXIII, a Igreja dos anátemas! Se a instituição é necessária, também com a sua dimensão política, segundo a lógica própria da encarnação, então ela não será outra coisa que um serviço, um conjunto de "ministérios".

Eis por que e como eu sou cristão, adepto de um Deus envolvido nas mudanças do mundo, no nó do mistério de Deus e do mistério do homem, em uma Igreja que traça o seu caminho no homem (João Paulo II).

18 de julho de 2010

Ai que saudade dos tempos de outrora.

José Antônio Oliveira de Resende*
Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé.Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia.
Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!
* José Antônio é professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.

12 de julho de 2010

Somos um, será que temos consciência disto?


Até que ponto, se tivéssemos consciência de que SOMOS UM,
nos destruiríamos da maneira como estamos fazendo?

Possa este vídeo alertar, e mais que isso,
despertar a consciência de cada um daqueles que o assistirem.

Somos UM,
na medida em que destruirmos o que existe a nossa volta,
estaremos NOS destruindo.

Esquecemos de que somos criaturas,
no máximos parceiros do criador
mas, jamais, o senhor da criação

SOMOS UM

http://www.youtube.com/watch?v=L8_uZd9XDbQ




 





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10 de julho de 2010

Propriedade Privada e Coletiva

(Maurício Tupinanbá)

O Pentecostes , a conversão de Paulo , a abertura aos gentios - continuam presente entre nós e são de uma profunda relevância . Esse tipo de passado não morre -continua vivendo entre nós. A Revolução Cristã é um processo que continua em curso - no desenvolvimento histórico , em nossas orações e meditações , em nossos atos e resoluções. O Reino de Deus continua em marcha , e cada momento de nossas vidas pode promover ou obstruir seu progresso. Devemos meditar nas genuínas palavras de Jesus nos Evangelhos (sem deturpações ) , Ele salvou e salvará sempre a Humanidade no plano espiritual e temporal.
Jesus não fundou nenhuma Religião , Ele continuou com o Judaísmo , agora aberto a todos sem acepção de pessoas.

A Opção Pelos Pobres e o Desapego à Propriedade.

Vários dos filósofos cínicos, como o famoso Diógenes e Crates, também haviam renunciado a suas posses. Crates, admirado e amado por ser amigo de todos e filantropo, compôs um hino à simplicidade de vida com uma deusa (Euteleia), como séculos depois São Francisco cantaria os louvores da Madonna Povertá. Mas a "Opção Preferencial pelos pobres", tão característica dos Primeiros Cristãos, era algo de novo, numa sociedade tão obcecada por dinheiro e posição social, e tinha precedentes bem judaicos. Basta ler alguns dos Salmos para verificar que já antes do Senhor Jesus os termos "os pobres" (evionim, como em ebionitas, a seita judaico-cristã) ou "os humildes" (anawim) já haviam adquirido uma conotação de santidade ou devoção: eram os pobres que se mostravam mais fiéis à religião, enquanto os ricos se deixavam seduzir pelos luxos da cidade grega ou do Império romano. O comentarista da Bíblia, Manson, diz com acerto: "No judaísmo dos últimos dois séculos A.C., o termo "pobre" era praticamente sinônimo de "santo" ou "devoto" no melhor sentido da palavra". Mas havia uma tradição no judaísmo talvez ainda mais significativa, que tem sido relembrada nos últimos anos, para reforçar a Teologia e a luta por uma Reforma Radical: era a prática do "ano sabático" (ao fim de sete anos) e do "ano do jubileu" ou libertação (sete vezes sete e portanto quase cinquenta), em que os escravos seriam libertados e a própria terra teria repouso. Numa proclamação das mais significativas, a lei mosaica ou Torá nega qualquer direito absoluto à propriedade privada: "Nenhuma terra será vendida perpetuamente, pois a terra é minha (de Deus), e entrais nela como estrangeiros e hóspedes. Para todo o território de vosso patrimônio, será permitido o direito de resgatar a terra que foi vendida" (Lev., 25,23-24). Esta é uma completa negação da arrogância proprietária do "é meu e faço disto o que bem entender" e contra a dominação tirânica das "leis do mercado", envolvendo terras , pessoas e casa própria . E tem sido invocada com justiça para apoiar a Reforma Agrária em várias partes do mundo. A proclamação do Levítico a uma fala famosa de Jocasta na tragédia As Mulheres Fenícias de Eurípides, que afirma um princípio praticamente idêntico: "Os mortais não têm posses próprias. Não passamos de guardiões da propriedade dos deuses, e quando eles querem temos de devolvê-la" (Fen., 555-7). Esse princípio era às vezes invocado por reformadores gregos para justificar práticas como a reforma agrária (ou redistribuição periódica de terras), o cancelamento de dívidas, ou mesmo a manumissão de escravos. Ora, se a terra era de Deus, e os homens não passavam de inquilinos ou "posseiros" -- de peregrinos na terra, como era a visão cristã -, considerar algo como uma "posse absoluta" ou permanente era quase uma blasfêmia , proclamando o indivíduo um deus, negando um princípio afirmado várias vezes no Velho Testamento:
"A Terra é do Senhor e tudo o que ela contém" (Salmo, 24,1).

Essa oposição ao direito de propriedade provada surge com grande clareza e radicalismo nos escritos de São Basilio de Cesaréia (329-379) e São João Crisóstomo, ambos das maiores figuras da igreja grega.
Basilio era de uma familia de proprietários ricos da Asia Menor e, seguindo o exemplo de Santo Antônio do Egito (Santo Antão) , distribuiu tudo o que possuía entre os pobres. Num famoso sermão sobre a parábola do agricultor rico em Lucas (12, l4ss.) ele se antecipa ao famoso dito de Proudhon - "a propriedade é um roubo" - dizendo que quem guarda as posses para si em vez de ajudar os necessitados não passa de um ladrão. E se alguém alega "afinal de contas isto é meu", sua resposta é: (Diga-me só, o que é seu? Onde o conseguiu e trouxe para o mundo? É como se alguém ocupasse uma cadeira de teatro e expulsasse todos os que viessem depois, julgando que é só para si que deve ser usado por todos. Os ricos são assim: ocupam o que é comum e se apropriam daquilo com base nesta posse anterior. Se cada um só tirasse algo para satisfazer suas necessidades imediatas, deixando o restante para outros que também precisam, ninguém seria rico e ninguém seria pobre. Os argumentos de São João Crisóstomo (354-407) lembram um pouco os do historiador grego Éforo sobre a estreita ligação entre propriedade privada (competitiva) e falta de harmonia social. Ele lembra que Deus=Trindade Santa fez certas necessidades básicas comuns - sol, ar, água e terra, e quanto a estas não há dissensão. Mas quando alguém tenta apropriar-se de alguma coisa, fazendo-a sua, então surge o elemento de conflito, como se a própria natureza se indignasse com nossa avidez de separar-nos tomando posse de objetos e usando estas palavras frias - "meu e teu". É aí que surgem dissensão e intranquilidade. Mas onde não há apropriação, não há luta nem dissensão."Meu" e "teu" - como na filosofia indiana da vedanta o sentimento do ego - eram algo que tinha de ser eliminado na vida espiritual: a queda do "eu" tirânico que quer ser o centro do universo, como lembrava Pascal em sua famosa frase "le moi est haíssable". Mas o grande paradoxo ou mistério da vida cristã era que, a exemplo do Senhor Jesus , a renúncia e o esvaziamento total levavam a uma imensa recompensa espiritual, à plenitude: segundo a fórmula de São Paulo, "sem ter nada e no entanto possuindo tudo" (nu habentes et omnia possidentes,
- II Cor., 6,10).

Textos Bíblicos:
“A voz do Senhor eleva-se contra a cidade - é sabedoria temer o vosso nome. Ouve, tribo: ouve, assembléia da cidade. Haverá ainda na casa do ímpio tesouros mal adquiridos e um efá diminuído e maldito? Pode-se ser inocente com balanças falsas e com um saco cheio de pesos enganosos?” (Miquéias 6,9-11) .

"Ai daquele que para si construiu esse palácio por meios desonestos, e seus salões, violando a eqüidade. Ai daquele que faz seu próximo trabalhar sem paga, e lhe recusa o salário! E daquele que diz: Vou mandar construir suntuosa morada, salões espaçosos, com largas janelas e revestimento de cedro, e pinturas de vermelho" (Jeremias 22,13-14).

“A oferenda daquele que sacrifica um bem, mal adquirido, é maculada. E os insultos dos injustos não são aceitos por Deus. O Senhor (só se dá) àqueles que o aguardam no caminho da verdade e da justiça. O Altíssimo não aprova as dádivas dos injustos, nem olha para as ofertas dos maus; a multidão dos seus sacrifícios não lhes conseguirá o perdão de seus pecados. Aquele que oferece um sacrifício arrancado do dinheiro dos pobres, é como o que degola o filho aos olhos do pai. O pão dos indigentes é a vida dos pobres; aquele que lho tira é um homicida. Quem tira de um homem o pão de seu trabalho, é como o assassino do seu próximo. O que derrama o sangue e o que usa de fraude no pagamento de um operário são irmãos: um constrói, o outro destrói. O que lhes resta senão a fadiga? Um ora, o outro maldiz; de qual ouvirá Deus a voz?” (Eclesiástico 34, 21-29).

“Vós conheceis a bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua pobreza. Aqui vos dou apenas um conselho. Isso vos convém. Há um ano fostes os primeiros, não só a iniciar esta obra, mas mesmo os primeiros a sugeri-la. Agora, pois, levai a termo a obra, para que, como houve prontidão em querer, assim também haja para a concluir, segundo as vossas posses. Quando se dá de bom coração segundo as posses (evidentemente não do que não se tem), sempre se é bem recebido. Não se trata de aliviar os outros fazendo-vos sofrer penúria, mas sim que haja igualdade entre vós. Nas atuais circunstâncias, vossa abundância supra a indigência daqueles, para que, por seu turno, a abundância deles venha a suprir a vossa indigência. Assim reinará a igualdade, como está escrito: O que colheu muito, não teve sobra; e o que pouco colheu, não teve falta (Ex 16,18)” (2a. Coríntios 8,9-15).
“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um. (...) Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas, e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade" (Atos 2,44-45;4,34-35)

Comentário-Resumo sobre o pensamento dos Santos Padres

Os escritores eclesiásticos da Antigüidade cristã (sobretudo dos séculos II ao V) são considerados testemunhas muitos autorizadas da fé. As preocupações pela justiça e pelos pobres são muito evidentes e são uma rica fonte de pensamento cristão, em alguns casos de surpreendente radicalidade.

Nos Padres da Igreja aparecem várias linhas de reflexão:

a) Não se pode separar a fé da caridade com os pobres, porque Cristo pertence aos humildes e nós o confessamos verdadeiramente através de nossas obras de amor e de justiça (Clemente Romano).
A esmola é superior à virgindade e ao jejum porque, diferente destes, ela não fica num só, mas abraça os membros de Cristo. O juízo final narrado por Mateus revela que não se condenam tanto os atos de maldade como a não-solidariedade.

b) Predileção da Igreja pelos pobres: não se deve fazer distinção de pessoas, antes pelo contrário é preciso visitar os pobres antes de qualquer outro (Clemente Romano).
As viúvas, os órfãos e os pobres são as pessoas que devem ser atendidas prioritariamente (Policarpo, Pastor de Hermas).
Dever-se-ia inclusive vender as jóias e os tesouros da Igreja para atender aos pobres porque assim se tornariam ouro útil, ouro de Cristo (Ambrósio).

c) Amar os ricos é adverti-los do perigo das riquezas: antes de adorar a estátua de ouro é preferível cair na pobreza (João Crisóstomo).
As riquezas provêm da exploração do alheio (Teodoreto de Ciro).
As riquezas fecham o coração para a fraternidade e trazem outros males (João Crisóstomo).
O dinheiro é o princípio de todos os males (Zenão de Verona).
Não é o acaso que faz ricos e pobres mas a rapina e a acumulação de riquezas (João Crisóstomo).

d) Amar os pobres é libertá-lo, romper o jugo que o oprime e para isso é preciso ver o drama social em si (Ambrósio).
Não se pode praticar a caridade sem primeiro se ter praticado a Justiça (João Crisóstomo).

e) Há situações de injustiça: opressão (Basílio Magno), luxo do rico que injuria o pobre (João Crisóstomo e Ambrósio); exploração do trabalhador através do salário (João Crisóstomo); desigualdade e escravidão (Lactâncio, Basílio Magno, Gregório de Nissa). A propriedade privada é fonte de desigualdades (Astério Amaseno, Agostinho de Hipona , Doutor da Igreja).
Ladrão é o que acumula mais do eu o necessário (Basílio Magno).

Ante os males sociais, a resposta cristã deve ser regida por estes princípios:
a) Não somos donos, mas administradores dos bens (João Crisóstomo, Basílio Magno, Astério Amaseno, Leão Magno).

b) Todos os bens da criação se destinam a todos os homens (consenso bastante claro entre os padres gregos e latinos).

c) O homem tem uma natureza social, é chamado a viver em comunidade (Basílio Magno, Lactâncio, Agostinho de Hipona).

d) Todos os homens temos uma igualdade básica (Gregório Nazianzeno, Jão Crisóstomo, Ambrósio, Gregório de Nissa, Lactâncio).

e) A propriedade privada sem solidariedade nem respeito pelo destino universal de todos os bens para todos os homens é fonte de egoísmos, divisões, exploração (Didaqué, Tertuliano, Lactâncio, Basílio Magno, Gregório de Nissa, João Crisóstomo, Ambrósio, Astério Amaseno, Zenão de Verona).

f) A participação de bens é uma exigência de justiça para cumprir o destino dos bens criados. Quem não remedeia a fome é homicida (Basílio Magno); alguns ajudam um pobre mas empobrecem cem (Gregório de Nissa); quando se dá esmola se devolve ao pobre o que lhe pertence; é, portanto, obra de justiça (João Crisóstomo, Ambrósio).
A misericórdia com o pobre é justiça (Agostinho de Hipona)”.

Textos Patrísticos:

“O pão que para ti sobra é o pão do faminto. A roupa que guardas mofando é a roupa de quem está nu. Os sapatos que não usas são os sapatos dos eu andam descalços. O dinheiro que escondes é o dinheiro do pobre. As obras de caridade que não praticas são uma entre outras tantas injustiças que cometes. Quem acumula mais que o necessário pratica crime” (São Basílio Magno, Comentário a Mateus 25,31-46).

“As riquezas são injustas porque são fruto da miséria dos outros” (São Jerônimo).

“A solidariedade com o pobre é lei de Deus, não um mero conselho” (São Gregório de Nissa)

"Nabot não foi o único pobre assassinado. Todo dia um Nabot cai ao solo, todo dia um Nabot é assassinado (...) Tu não estás dando ao pobre o que é teu, mas lhe devolves o que é dele. Pois o que é comum e foi dado a todos, tu o estás usurpando sozinho. A terra pertence a todos e não apenas aos ricos. Infelizmente, são pouquíssimos os que podem usufruir a terra” (Santo Ambrósio, Comentário a 1o. Reis 21).

“Tu vais participar da Eucaristia? Então, não humilhes teu irmão. Não desprezes o faminto (...) Quê? Tu fazes memória de Cristo e desprezas o pobre? Tu não ficas horrorizado? Bebeste o sangue do Senhor e não reconheces teu irmão? Ainda que o tenhas desconhecido antes, deves reconhece-lo nesta mesa (...) Tu, que recebeste o pão da vida, não faças obra de morte” (São João Crisóstomo, Comentário a 1a. Coríntios 11,17-34).

“Tu, que revestes tua cama de prata e de ouro o teu cavalo, se te pedirem conta e explicações de tanta riqueza, que razão alegarás? Quando tu já estiverdes morto, as pessoas que passarem diante do teu palácio, vendo o tamanho e o luxo, dirão ao seu vizinho: ‘ao preço de quantas lágrimas foi edificado este palácio?, de quantos órfãos deixados nus? De quantas viúvas injustiçadas? De quantos operários espoliados de seu salário?’ Sim, nem morto escaparás das acusações” (São João Crisóstomo, Comentário ao Salmo 49).

“Nenhum de vossos bens, se fosse um mal em si mesmo, poderia ser uma criação de Deus, porque toda a Criação é boa, diz a Escritura, e não podemos depreciá-la. O mandamento do Senhor não nos compele a renunciar e desprezar a nossos bens, mas nos exorta a usá-los dignamente. (...) Se alguém se condena, não é pelo mero fato de possuir riquezas, mas por havê-las viciado com pensamentos e desejos pecaminosos e feito mal uso delas” (São Basílio Magno).

“Que vais responder ao Juiz, tu que vistes as paredes e não vistes o ser humano, que adornas luxuosamente teus cavalos e desprezas teu irmão coberto de farrapos, que deixas apodrecer o trio e não alimentas os famintos, que enterras o ouro e abandonas o oprimido?” (São Basílio Magno).

“O que tu possuis, na realidade, pertence a outro: Deus. Propriamente falando, tu não tens direito de propriedade. Se alguém te confiasse alguma coisa para que a guardasses, tu dirias que é proprietário dessa coisa? De nenhuma maneira, porque o que possuis não te pertence, só te foi confiado para guardar” (São João Crisóstomo)

A Deturpação da Mensagem Evangélica.

Com o correr dos séculos, a realidade dinâmica dessa vida espiritual, que era o verdadeiro fermento cristão, começou a declinar, minada por uma institucionalização crescente. O processo se acelerou depois de Constantino, quando a Igreja passou a adquirir mais e mais propriedades, por meio de doações generosas. Como era de esperar, entrou para as comunidades um número crescente de ricos, ou mesmo milionários, que às vezes se "convertiam" por motivos de conveniência. Com a mundanizaçao veio a corrupção, e também o cuidado em não "ofender" ricos e poderosos - um " respeito humano" que antes nunca havia tolhido a franqueza de Jesus, dos profetas , ou mesmo de filósofos gregos e romanos. Bem cedo alguns apologistas começaram a suavizar as arestas e "ditos duros" do Senhor Jesus , num capcioso "não é bem assim" . Um bom exemplo é o sermão de Clemente de Alexandria (sem dúvida um dos maiores apologistas do século II) "Quis dives salvatur" ou "A salvação do homem rico". Seu texto é o famoso episódio do jovem rico, a quem o Senhor Jesus disse: "Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens e distribui (o dinheiro) entre os pobres, e terás tesouro no céu" (Mc., 10,21).
No seu desejo de mostrar que este não é um “mandamento” absoluto e sim uma opção “facultativa” para os que “querem ser perfeitos” , ele faz a citação segundo Marcos , que deve ser a versão original , mas ao chegar à frase final de Jesus muda para Mateus sem avisar ao leitor : “ Se queres ser perfeito , vai , vendes teus bens , etc .” (Quis dives ,4-5).
Fazendo esta manipulação indevida de citações bíblicas, Clemente estabeleceu um precedente de exegese que vem transviando muitos até os tempos de hoje.
Basta uma breve análise comparativa para mostrar que Mateus tende a "suavizar" certos ditos mais radicais do Senhor Jesus , mas neste caso está em minoria: Lucas, Marcos e o Evangelho segundo os Hebreus (citado por São Jerônimo) dão todos a versão mais simples e radical, que deve ser a autêntica. É a mesma tendência que levou Mateus a qualificar "bem-aventurados são os pobres de espírito" (contrastando com a versão simples e direta de Lucas e do Evangelho de Tomás).

Clemente vai mais além. Em seu desejo de justificar a propriedade privada e as grandes posses dos ricos , chega a perguntar: "Que partilha (koinonia) poderia haver entre os homens se ninguém possuísse coisa alguma ? . Ele levanta esta questão para comentar o episódio de Zaqueu, o publicano abastado que deu hospitalidade a Jesus (Lc., 19,1- 10), mas tem-se argumentado coisa semelhante até sobre o Bom Samaritano! Ele só pôde ser "bom" e caridoso porque tinha dinheiro de sobra - uma curiosa apologia de regime de desigualdade ou capitalista: é essencial que ele exista para que os ricos possam ajudar os pobres... Aristóteles também usou esse argumento capcioso para repudiar o regime de propriedade coletiva. Na verdade, Clemente termina "corrigindo" os Evangelhos, ou reinterpretando-os, alegando que o mal não está na posse das coisas em si, mas nas paixões da alma":
Portanto, o homem deve livrar-se não de suas posses, mas das paixões que não o permitem utilizá-las bem. Assim, quando o evangelho nos diz para "renunciar a tudo o que possuímos" (Lc., 13,33) ou vender tudo o que nos pertence" (Mc., 10,21), a frase deve ser entendida com relação as paixões das almas ... Em suma, todos os Discípulos e Apóstolos , a Igreja Primitiva, e Santo Antônio do Egito, e muitos outros, erraram em "tomar ao pé da letra" a exortação de Jesus Cristo. Não é de admirar que nessa aceitação da riqueza e de uma sociedade de classes a prática de dar esmolas fosse surgindo como um sucedanêo cada vez mais importante do regime original de partilha de bens e solidariedade integral. O rico cristão podia agora como que "comprar" a salvação a peso de ouro - com suas sobras (como muito depois a Igreja de Roma "venderia" indulgências de pecados). O magnífico e generoso ÁGAPE - o amor que não mede o que dá nem abre livro de contas - foi-se convertendo mais e mais na caritas formal, e daí a degradação atual da palavra "caridade", que adquiriu um mau cheiro tal que muitos pobres têm repudiado com altivez. Nos países católicos em especial , mas não só neles, popularizou-se uma versão de um dos provérbios da Bíblia: " Quem dá aos pobres empresta a Deus" (19,17 : no original " quem é generoso para os pobres" ).
É em alusão a essa frase que Clemente chega a chamar tal caridade "um belo comércio e um negócio divino" - " comprar imortalidade com dinheiro" (32,1).
No século IV, quando o cristianismo já era religião oficial e protegida, São Gregório de Nazianzo, embora insistindo no preceito radical de Cristo, oferece opções:
Joga tudo fora e possui a Deus somente, pois as riquezas que estão em tuas mãos não te pertencem. Se não desejas dar tudo, dá a maior parte; ou se nem ao menos podes abrir mão disto, faz um uso piedoso do que te é supérfluo. Mas havia exceções nessa tendência a justificar uma sociedade desigual e injusta e viver em bons termos com ela. Há um escrito do século V, talvez de um discípulo de Pelágio (o monge britânico que teve uma famosa controvérsia com Santo Agostinho sobre o livre-arbítrio), com o título Sobre a riqueza (De divitiis). Como mostrou Sainte Croix, o autor não chega a condenar a riqueza como pecado, mas afirma que leva com frequência a ele, e quanto ao problema da pobreza tem esta frase bem radical: "Livremo-nos dos ricos, e só assim não haverá mais pobres".
A interpretação capciosa dos ditos de Cristo chegou a extremos ridículos na Idade Média, sobretudo quanto à famosa frase "é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha". Foram inventados dois meios contraditórios de "salvar" os ricos. O primeiro era que a palavra grega kamelos teria sido um erro, em vez de kamilos, uma corda grossa, uma "correção" que não tem a menor base no grego do Novo Testamento nem nos manuscritos da Bíblia. O segundo, não menos absurdo e fantasioso, era que um dos portões de Jerusalém seria conhecido pelo nome de "Agulha" e assim não seria tão difícil fazer um camelo passar por ele. Essas deturpações são bem reveladoras da mentalidade de quem as fez, e são uma completa traição do espírito e Estilo de Vida cristão. Por outro lado, a exortação de Jesus ao jovem rico também tem tido uma enorme força persuasiva, principalmente para a vocação monástica. Por volta de 270, o jovem Antônio do Egito ouviu um padre repetir a frase numa igreja, e o incidente revolucionou sua vida: vendeu tudo o que possuía (e era de uma familia próspera) e foi para o deserto da Tebaida, vindo a ser o grande modelo dos santos ascetas da época. Na verdade, as grandes ordens monásticas, e depois as de frades como os franciscanos , foram movimentos repetidos de sanar a corrupção da Igreja e sua "mundanização" : a partir de São Bento de Núrcia , que cerca do ano 500 se retirou para uma caverna , fugindo da vida dissoluta das cidades , e depois para o Monte Cassino com um grupo de companheiros. Sua famosa regra , ainda hoje governa a grande Ordem Benenitina , dá importância especial a extirpar o "vício" da propriedade privada e cita várias vezes os trechos dos Atos sobre o regime "comunista" da igreja de Jerusalém : "É da maior importância erradicar este vício do mosteiro... Os monges não devem considerar seus nem mesmo seus corpos ou vontades... Que todas as coisas sejam comuns a todos, como está escrito, e que ninguém diga que alguma coisa é sua ou passe a agir com base nesta suposição (Atos, 4) ." Havia um precedente para tal no tempo de Cristo: a ordem dos essênios, cuja comunidade hoje conhecemos melhor graças aos Manuscritos do Mar Morto, e também aos chamados Terapeutas do Egito, talvez um ramo seu, que Fílon de Alexandria descreve em detalhe. Mas os próprios mosteiros, a quem a cultura ocidental deve tanto em tantas esferas, tendiam a corromper-se, como sabido. Houve reformas sucessivas - como a de Cluny e a cisterciana, que não raro se tornaram vítimas de seu próprio sucesso. Os monges começavam seguindo a vida mais árdua, conforme o preceito de laborare est orare, aliando a oração e meditação ao trabalho incansável nos campos, desbravando florestas, drenando pântanos, e com isto prestando serviços inestimáveis à agricultura do Ocidente.
Esse "milagre econômico" da agricultura enriquecia a ordem, e daí a décadas os monges estavam se tornando indolentes como uma classe privilegiada e abandonando o trabalho aos "irmãos leigos", como as classes ricas tinham seus "empregados". Um historiador cristão das ordens monásticas, Herbert Workman, conclui com acerto que este processo de corrupção se repetiu várias vezes, por motivos semelhantes: "A história do movimento monástico no Ocidente é na verdade a repetição constante do mesmo tema, do mesmo ideal sendo corrompido de modo inevitável pelo próprio sucesso". O contraste entre os primeiros monges, magros, ágeis e ascéticos, e muitos dos que vêm depois - bem nutridos, obesos e amigos do conforto e do vinho (sem falar de seus deslizes sexuais), satirizados nos contos de Chaucer ou no Decameron de Boccaccio ou no Elogio da Loucura de Erasmo, já é bem conhecido. É claro que o perigo de corrupção pelo mundo era ainda maior no chamado "clero secular" (diferente do "regular" - monges e frades). E havia uma diferença marcante entre o humilde padre de alguma paróquia rural, ainda fiel aos preceitos de Cristo, e partilhando seus escassos recursos com os pobres, e os bispos e arcebispos: os simples "supervisores" do tempo de São Paulo e Santo Inácio se converteram muitas vezes em "príncipes da Igreja", vestindo-se com pompa, banqueteando-se como qualquer barão e habitando palácios. O gesto notável de Dom Helder Câmara, abandonando o "palácio do bispo" por uma casa modesta, brilhou justamente porque foi uma exceção. Nos princípios do século XIII, uma época ainda de grande devoção, o jovem Francisco de Assis causou um enorme choque renunciando à riqueza da casa paterna e convertendo-se no poverello. Pode-se imaginar o que pensaram dele e dos companheiros os cardeais ricos e suntuosos de Roma quando foi lá em 1209 pedir a aprovação do papa Inocêncio III para a regra de sua nova ordem. Mais de um século depois, em 1317, o papa João XXII dissolveu o que se pode chamar "a esquerda franciscana -- o grupo dos espirituais , que insistia em viver em absoluta pobreza como seu fundador São Francisco. E foi mais além: condenou como herética a tese de que Jesus e seus discípulos haviam vivido em completa pobreza, que é a verdade histórica. No ano seguinte o papa fez queimar na fogueira quatro franciscanos espirituais que sustentavam essa tese. Já há séculos que o bispo de Roma governava um vasto território, e se transformara num príncipe italiano, às vezes comandando exércitos em campo como Júlio II (150-13). (Ver Cap. 8). Sem dúvida o ascetismo monástico levava a excessos, aliás condenados em geral pelos líderes espirituais mais sábios, e podia produzir regimes os mais tirânicos e dos menos sadios, que em certos casos matavam e envelheciam mulheres e homens. Se havia um desenvolvimento desequilibrado e muito repressivo, era quase inevitável que desencadeasse depois o excesso oposto - indolência, falta de disciplina e queda num luxo ocioso. Na crise atual da religião, o monasticismo está procurando novos rumos, e vamos esperar que encontre um novo equilíbrio, mais flexível e sadio. A condenação cristã do luxo está bem ilustrada numa história divertida e genuína que se conta do famoso São Bernardo de Clairvaux, que em 1113 se tornou um dos líderes da Ordem Cisterciana. Depois de fazer uma longa viagem de uma semana, ele foi criticado por usar uma manta ricamente trabalhada em sua sela - típica dos vaidosos nobres da época. São Bernardo explicou que, absorvido em suas preces e meditações, nem havia olhado a sela (um monge budista, treinado em cultivar a atenção, não teria tal lapso!). Descobriu-se depois que o cavalo havia sido emprestado por um tio de Bernardo, monge beneditino de Cluny: sua ordem, que havia liderado a famosa reforma da Igreja no século XI (que deu o papa Gregório VII), era em geral composta de filhos de famílias aristocráticas e agora já havia resvalado para hábitos de luxo e requinte (a mesa do abade, por exemplo, "fazia as honras" a visitas de nobres, e seus banquetes podiam comparar-se aos de Lúculo ou do homem rico da parábola!). Assim, a crítica original a São Bernardo terminou voltando-se contra a ordem "degenerada" de Cluny. Foi o próprio santo que num de seus escritos condenou os hábitos de luxo dos monges do "hábito negro" de Cluny: Não posso imaginar como pode ter surgido entre monges tal intemperança em comida e bebida, vestuário e roupa de cama, equipagem e prédios... Frugalidade é agora considerada mesquinhez; a sobriedade é criticada como austera demais; e o silêncio melancolia. Enquanto isso, dissipação é olhada como coisa discreta; roupas efeminadas e fina equipagem como honrosas... Na mesa os pratos se seguem um após outro, e a arte dos cozinheiros é tão grande que mesmo depois de uma série de pratos o conviva é sempre capaz de comer mais. A variedade faz desaparecer o sentimento de saciedade e o estômago fica cheio sem que as pessoas o percebam .
Pelo exposto a Propriedade Coletiva tanto Rural como Urbana é a indicada pelo Senhor Jesus , a Igreja Primitiva e os Testemunhos dos Santos Padres da Igreja Cristã , é dever de todos construir o Reino de Deus , o Paraíso Terrestre mesmo no sofrimento , tarefa esta que Deus nos confiou através de Seu Filho Jesus Cristo e Ele Ressuscitado está no meio de nós ajudando a todos que são seus Discípulos e Discípulas.

9 de julho de 2010

30 anos sem Vinicios

Vinicius de Moraes

(Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980)


"Quem já passou por esta vida e não viveu. Pode ser mais mas sabe menos do que eu porque a vida só se dá pra quem se deu... "