O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

21 de maio de 2009

Sobre o Celibato Obrigatório na ICAR

O sexo dos clérigos
Tomás Eloy Martinez
publicado no jornal El País, 20-05-2009

Quase se perdem na memória os tempos em que a Igreja Católica enfrentou desafios tão duros quanto os dos últimos anos. O que acontece não tem a gravidade do cisma litúrgico do bispo Marcel Lefebvre, tampouco o fervor revisionista na interpretação dos Evangelhos que desembocaram na Teologia da Libertação, e sim as violações de uma obrigação que não é matéria de dogma, mas de continua perturbação: o sexo dos clérigos.

Primeiro foram os delitos de pedofilia que, em dezembro de 2002, provocaram a renúncia do cardeal de Boston, Bernard Law, de quem se suspeitou de ocultação; 450 demandas milionárias por décadas de abusos contra menores deixaram a arquidiocese à beira da falência.
Agora, mais uma vez, como costuma acontecer, o escândalo surge quando vem à tona algo que se tentava ocultar: a descendência do ex-bispo paraguaio Fernando Lugo, agora presidente do Paraguai. O bispo de Ciudad del Este, no Alto Paraná, Paraguai, Rogelio Livieres, disse que os seus colegas sabiam sobre Lugo faz tempo. “Não sei por que se mascaram os temas da Igreja e não se ventilam. Em nossa época (...) tudo se descobre no final”, afirmou Livieres. E encontrou uma instantânea refutação oficial: "O Conselho Episcopal Permanente lamenta e rejeita as expressões do monsenhor Livieres, que dá a entender que houve encobrimento e cumplicidade dos bispos do Paraguai sobre a conduta moral do então membro do colegiado episcopal, monsenhor Fernando Lugo".
As palavras de Livieres lembram às que o argentino monsenhor Jerónimo Podestá, impulsor do Movimento Latino-americano de Sacerdotes Casados, escreveu, em 1990, ao então presidente do Episcopado Argentino, cardeal Raúl Primatesta: "Vejo com pena que, em geral, vocês tenham uma visão bastante alienada e tímida: não sabem o que pensam e sentem as pessoas no mundo de hoje.

A Igreja é o Povo de Deus e vocês sabem disso, mas no fundo continuam pensando que vocês são a Igreja".

Quando era bispo de Avellaneda na província de Buenos Aires, Argentina, no final dos anos de 1960, Podestá converteu-se em um pesadelo para a ditadura do general Juan Carlos Onganía. Reunia multidões de até 1 milhão de pessoas para cerimônias religiosas que se transformavam em espontâneas manifestações políticas.
Para o regime foi um alívio quando o bispo anunciou, em 1967, a decisão de se casar. Podestá bateu várias vezes na porta do Vaticano sem conseguir que Paulo VI lhe retirasse a suspensão a divinis. Insistia em recordar que, se Jesus optou pelo celibato, não o impôs aos seus apóstolos, entre eles havia casados e solteiros. O ex-bispo de Avellaneda dizia que o celibato é um dom, não um mandato divino, e que nada impede de sentir a vocação sacerdotal ao estar privado dessa graça.

A maioria dos católicos ignora que os sacerdotes e os bispos não tinham proibido o casamento durante os primeiros 10 séculos de vida cristã. Além de São Pedro, outros seis papas eram casados e – o mais chamativo ainda – 11 papas foram filhos de outros papas ou de membros da Igreja. Em 1073, Gregório VII impôs o celibato.
Um dos seus teólogos, Pedro Damián, afirmou que o casamento dos sacerdotes era herético, porque os distraia do serviço ao Senhor e contrariava o exemplo de Cristo.
Se a intenção do papa era restaurar a derrocada moral do clero e purificar a igreja com exemplos de castidade, dezenas de historiadores supõem que a decisão de impor o celibato também foi um meio para evitar que os bens dos bispos e dos sacerdotes casados fossem herdados pelos seus filhos e viúvas em vez de beneficiar à Igreja.
Qual é o sentido de reprimir as expressões da sexualidade, não apenas entre os clérigos, mas também na vida diária?
O que ganha a fé católica com isso?
Teme-se que o prazer distraia da oração, da relação com Deus, mas o desprezo pela mulher nos seminários e a contradição dos impulsos naturais do homem na realidade não fortalecem os vínculos entre a Igreja e o povo de Deus. Ao contrário, o celibato obrigatório costuma desanimar algumas vocações sacerdotais e provoca deserções no clero.
Pensava-se que "a vigente lei do sagrado celibato" devia seguir "unida firmemente o ministério eclesiástico", Paulo VI, atento aos clamores da modernização do Concílio Vaticano II, analisou as objeções em uma encíclica memorável, Sacerdotalis caelibatus, de 1967. Ali se perguntou:
"Não terá chegado o momento de abolir o vínculo que, na Igreja, une o sacerdócio ao celibato?
Não poderia ser facultativa esta difícil observância?
Não sairia favorecido o ministério sacerdotal se fosse facilitada a aproximação ecumênica?"
Por acaso Deus não se preocupou com os deslizes do ex-bispo Lugo, porque a sua glória está além do que estabelecem os seres humanos.
Mas a inflexibilidade da doutrina deixa entre os católicos a pergunta sobre o sentido e as normas criadas pela Igreja há 10 séculos, que não existiam antes e não teriam por que existir para sempre.
Jesus pregou a humildade, o amor a Deus e aos seus semelhantes. Suas lições de vida continuam sendo claras. Às vezes, no afã por interpretá-las, os seres humanos as escurecem.

18 de maio de 2009

Um Canto

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Neste momento dificil,
Quando se fala em aquecimento Global,
gripe suina,
epidemias e pandemias,
degelo polar,
inundações, onde antes havia seca,
seca, onde antes havia fertilidade...
Onde tantas incertezas nos acompanham
no exercício de nossa liberdade,
escolhí a poetiza Cecila.
E se um dia estaremos mudos,
cantemos ao instante, promessa de futuro,
que depende de nossas escolhas:

"Eu canto
porque o instante existe
e a minha vida esta completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
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9 de maio de 2009

Obama sob pressão conservadora e religiosa

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Há pouco mais de um mês, quando o presidente Barack Obama foi convidado pela Universidade Católica de Notre Dame — uma instituição de altos estudos financiada pela Igreja Católica — para fazer o discurso de abertura do curso de graduação (e receber um título de doutor honoris causa), ele não imaginava que sua presença pudesse criar tanta polêmica.
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uma apresentação de Obama sobre questões religiosas
bastante progressista
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Um verdadeiro rolo compressor conservador formado por bispos católicos, religiosos cristãos protestantes e políticos republicanos de orientação religiosa se uniram para bombardear a decisão da universidade, considerada um equívoco diante de um líder que defende o direito ao aborto, à união civil de gays e lésbicas, à pesquisa com células-tronco, entre outros assuntos polêmicos para grupos religiosos.
A reportagem é de Gilberto Scofield Jr. e publicada pelo jornal O Globo, 09-05-2009.O arcebispo Raymond Burke, uma das vozes mais poderosas entre os católicos americanos, afirmou que o convite para o discurso (marcado para o próximo dia 1 7 ) era uma vergonha porque “Obama representa uma agenda antifamília e antivida”. O bispo Thomas Wenski, de Orlando, na Flórida, foi além:
— Quando você homenageia alguém, isso significa uma aprovação de suas posições, que diferem significativamente daquelas da Igreja Católica.Para ex-padre, religiosos estão sendo manipulados O ex-padre Thomas Reese, hoje mestre de Políticas Públicas e Religião do Centro Woodstock da Universidade de Georgetown, acredita que a gritaria dos bispos católicos não está sendo ouvida pelos católicos americanos. Para ele, os religiosos estariam sendo marionetes nas mãos de conservadores republicanos, frustrados com a perda da Casa Branca e do controle do Congresso:
— Os bispos católicos estão sendo manipulados por ativistas republicanos derrotados nas eleições. Há uma clara conspiração conservadora para criar conflitos entre a Igreja Católica e Obama. Mas o fato é que uma pesquisa da Pew Forum mostrou que 48% dos católicos sequer sabem desta polêmica e 50% não veem problemas no fato de ele discursar numa universidade religiosa — contemporizou Reese.