O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

31 de dezembro de 2011

Para um ano novo mais feliz

Marcelo Barros

O desejo é uma palavra mágica. Quando desejamos com força interior, emitimos uma energia misteriosa que nos impulsiona para o compromisso de realizarmos aquilo que desejamos. Isso pode ter conseqüências concretas para as pessoas e para o mundo. Nesses dias, há quem diga aos amigos e amigas "feliz ano novo” como mera formalidade. Entretanto, o mundo e nosso continente necessitam muito de que 2012 seja um ano mais feliz e de paz para cada um de nós e para nossa pátria grande. Por isso, quem almeja de coração os melhores votos de ano novo precisa saber como transformar o seu desejo em caminho positivo que construa um futuro novo e melhor.
Quando eu era menino, as pessoas acreditavam muito no poder do olhar. Diziam que existe o olhar bom que emite energia positiva e existe o mau olhado que provoca problemas. As vizinhas gostavam de contar histórias de uma visita que receberam. A mulher gostou da planta ornamental que havia no terraço da casa. Olhou-a com inveja. No dia seguinte, a planta que estava viçosa e florescente, amanheceu seca e murcha. As antigas culturas e religiões crêem na força da palavra. Em algumas religiões, as palavras curam ou, ao contrário, podem matar. Na Bíblia, vários salmos pedem a Deus que nos proteja das pessoas que, com sua palavra, podem provocar males como doenças e tragédias ecológicas (Cf. Sl 6, 39, etc). Essa cultura de pessoas que amaldiçoam vinha de Sumer, onde havia rituais de Shurpu, maldições comuns em algumas culturas populares que não tinham outra força além da palavra. No tempo da escravidão, um senhor de engenho mandava dizer a um escravo que, naquela noite mandasse a sua filha de menor idade à casa grande. O negro já sabia quais as intenções do senhor. Ele não tinha outro recurso do que a ameaça de uma maldição, principalmente se o senhor acreditasse que o despacho lhe faria mal. De fato, a própria Bíblia diz que a maldição de um empobrecido é ouvida e atendida por Deus (Cf. Eclo 4, 6). No Novo Testamento, a carta de Pedro insiste que temos a vocação de abençoar e não de maldizer. Somos chamados para invocar o bem sobre as pessoas e o universo (1 Pd 3, 9).
A palavra é eficaz quando nasce no mais profundo do coração e é precedida pela prática da vida. A Bíblia diz que é como uma espada de dois gumes que penetra até as entranhas (Hb 4). Isaías compara a palavra de Deus com a chuva que cai, molha a terra. E não volta ao céu sem ter cumprido sua missão de fecundar e produzir o grão (Is 55). O Mahatma Gandhi ensinava: "Comece por você mesmo a mudança que deseja para o mundo”. Somente pelo fato de desejar, não temos a força para transformar organizações e sistemas do mundo, mas podemos sim colaborar para que se façam as condições necessárias para que elas mudem. Então, que você expresse para os seus e para todos o desejo de um feliz ano novo, através de um verdadeiro compromisso social, solidário e renovador. Então se tornarão verdadeiras em sua vida, as palavras de uma antiga bênção irlandesa: "O vento sopre suave em teus ombros. Que o sol brilhe suavemente sobre o teu rosto, as chuvas caiam serenas onde vives. E até que eu te encontre de novo, Deus te guarde na palma de sua mão”.

29 de dezembro de 2011

ERA UMA VEZ… E AINDA É


Vera Corrêa

Era uma vez, há muitos, muitos, muitos anos atrás… há tantos anos, que nem o tempo existia ainda… Nesse tempo sem tempo havia um Reino de Luz, onde tudo era Amor, Beleza e Harmonia… e nós vivíamos lá!… Nós éramos os habitantes desse Reino Encantado!
Mas éramos um pouco diferentes do que somos hoje. Nosso corpo não era deste jeito… era mais transparente, mais leve, mais luminoso. E não precisava de tanta coisa para sobreviver. Tudo o que precisávamos era suprido pela Luz da qual fazíamos parte.
Sim, porque, na verdade, não éramos seres totalmente separados uns dos outros, mas como células de um grande corpo luminoso e amoroso que nos sustentava e nos mantinha sempre felizes e saudáveis.
Mas não pense que ficávamos ali sem fazer nada! A Luz adorava criar, e nós, como parte dela, estávamos sempre criando também… criávamos estrelas, cometas, mundos das mais diferentes espécies! Era muito divertido!!! E tudo permanecia na mais perfeita ordem, porque era criado com Amor e sustentado pelo Amor.
Mas um dia resolvemos fazer uma coisa inédita; resolvemos criar um planeta onde se pudesse experimentar não só o Amor, mas a ausência dele também… porque queríamos saber como seria uma vida desse tipo. E assim fizemos!
Criamos um planeta lindo! Com mares, montanhas, cachoeiras, rios, lagos, florestas maravilhosas, flores incrivelmente belas, inúmeras espécies de animais, pássaros e peixes … tudo com muito Amor e Harmonia. E então pedimos à nossa Mãe-Luz que nos deixasse ir para lá e nos desse a liberdade de escolher permanentemente entre o Amor e a ausência dele.
A Luz, que era puro Amor, não podia deixar de atender este pedido dos seus filhos. Naturalmente, ela nos deu sua permissão, mas nos advertiu:
- “Meus Amados, sendo vocês Filhos do Amor, dificilmente conseguirão vivenciar qualquer coisa que não seja Amor, porque estarão sempre agindo, pensando e sentindo com base no Amor. Se realmente quiserem ter essa experiência, terão que esquecer provisoriamente a sua natureza verdadeira e assumir um papel totalmente estranho a ela. Inclusive precisarão de um corpo mais apropriado para essa nova condição. Vocês estão mesmo dispostos a fazer isto?”
- “Sim, estamos!” – respondemos em uníssono.
- “Façamos, então, o seguinte…” – disse a Luz – “Alguns irão e outros ficarão aqui para lhes dar apoio à distância. Assim, mesmo que vocês se esqueçam por completo que são Filhos da Luz e do Amor, seus irmãos estarão aqui para relembrá-los e ajudá-los a voltar ao Lar, caso esta seja a sua escolha.”
No Reino da Luz não existe competição, portanto foi fácil decidir quem ia e quem ficava.
A Luz criou, então, um corpo perfeito para nos abrigar e mais uma vez nos advertiu:
- “Este corpo exigirá de vocês alguns cuidados que ainda desconhecem, mas saibam que tudo o que ele precisar estará à disposição de vocês nesse planeta. Para que não se sintam totalmente isolados de nós, deixarei uma pequena centelha da nossa Luz permanentemente acesa num local recôndito desse corpo, numa das câmaras do que vocês chamarão de coração. Essa chama os conectará conosco naturalmente, sempre que sentirem saudades de algo que não saberão definir, mas que terão certeza que existe… um lugar de Amor, de Paz, de Conforto eterno… Vocês nos chamarão por muitos nomes, e nós sempre os atenderemos… mas nem sempre vocês reconhecerão a nossa ajuda.”
Tendo dito isto, a Luz nos perguntou mais uma vez se estávamos realmente dispostos a enfrentar essa nova vida e, como respondemos afirmativamente, no mesmo instante nos encontramos dentro de um corpo de carne e osso, num planeta maravilhoso, mas em condições totalmente novas!
A primeira novidade – nada agradável, aliás – foi a sensação de solidão, pois não chegamos todos juntos ao mesmo lugar do planeta e, mesmo aqueles que estavam relativamente próximos, também se sentiam isolados, pois já tínhamos nos esquecido que éramos todos parte de um só corpo e, assim, sentíamo-nos estranhos uns aos outros.
Então veio a noite e, com ela, o escuro e o frio. Em seguida, a fome, a sede, o cansaço… Sem perceber, estávamos tomando contato com a dualidade que nós mesmos tínhamos escolhido experimentar. A cada aspecto do Amor, que nos era familiar, correspondia um aspecto, até então desconhecido para nós, da ausência do Amor. Neste novo Reino, havia alegria, mas também tristeza; havia fartura, mas também carência; havia bondade, mas também maldade; saúde, mas também doença; prazer, mas também dor…
E o sentimento de puro Amor que antes nos unia, começou a dividir seu espaço com a ausência de Amor, que se expressava das mais diversas formas: desconfiança, inveja, ciúme, raiva, intolerância, gerando uma sensação que jamais havíamos experimentado antes: o medo!
No começo ainda tínhamos certa consciência da Luz amorosa que se mantinha intacta em nossos corações e intuitivamente nos conectávamos com Ela em busca de conforto e orientação para enfrentarmos todas as adversidades que se apresentavam em nosso caminho.
Através desse contato, fomos inspirados a pesquisar os recursos que estavam à nossa disposição e a inventar uma infinidade de meios materiais que nos assegurassem a sobrevivência do nosso corpo, bem como uma vida confortável, segura, prazerosa e feliz.
Mas, com o passar do tempo, fomos nos apaixonando tanto por nossas próprias invenções e nos apegando tanto a elas, que passamos a acreditar, não só que elas eram imprescindíveis, como também insuficientes para alcançarmos a felicidade que tanto almejávamos. E começamos a dedicar grande parte do nosso tempo a invenções cada vez mais sofisticadas e à busca de recursos para adquiri-las, de modo que pudéssemos satisfazer nossa vontade cada vez mais exigente de
ter, ter, ter… ter tanto ou mais do que os nossos semelhantes, acreditando que isso nos faria mais importantes e poderosos do que eles.
Assim passamos a competir uns com os outros na busca de uma vida material que considerávamos ideal. E essa competição aumentou tanto, que chegamos ao ponto de enganar uns aos outros para termos mais posses do que eles; chegamos ao ponto de escravizar uns aos outros; chegamos ao ponto de matar uns aos outros! E assim, nos esquecemos da Luz Amorosa que habitava nossos próprios corações.
Nossa Mãe-Luz continuava nos observando, e toda vez que a balança da dualidade começava a pender demais para o lado da ausência de Amor, Ela preparava um dos nossos irmãos de Luz para vir até nós e, através dos seus ensinamentos e do seu próprio exemplo, reacender a chama do Amor em nossos corações e nos reconectar à nossa própria Luz.
Isto aconteceu muitas e muitas vezes no decorrer da nossa experiência neste planeta, até que um dia nos envolvemos numa guerra tão horrorosa, que Mamãe-Luz decidiu mudar de tática… Ao invés de nos enviar um dos nossos irmãos, Ela resolveu intensificar um pouco mais a Centelha de Luz que habitava o coração de cada um de nós, de modo que nossa mente percebesse a existência dessa Luz e ficasse curiosa sobre sua procedência e função.
No início, foram poucos que lhe deram atenção. Mas estes lançaram tantos questionamentos, que aos poucos foram despertando a curiosidade de outros e mais outros, até que chegou um momento em que a grande maioria dos seres humanos estava se perguntando: “Quem sou eu, realmente?… O que é isto que sinto em meu coração e que me traz a lembrança de um lugar de paz, harmonia e eterna felicidade?… Se existe um lugar como esse, o que estou fazendo aqui, então?…”
E cada questionamento nos levava mais perto da reconexão com o Reino de Luz de onde viemos, permitindo-nos perceber ligeiramente a presença amorosa dos seres de Luz, que a princípio chamávamos de Mestres, por não nos lembrarmos que eram nossos próprios irmãos que haviam se comprometido a nos ajudar a voltar ao Lar, quando assim decidíssemos.
E quanto mais nos conectávamos com esses “Mestres”, mais ia clareando a lembrança da nossa identidade verdadeira; mais íamos percebendo o Amor em todos e em tudo; mais íamos nos dando conta do nosso poder de transformar a ausência de Amor em Amor, pois fomos compreendendo que nós somos o próprio Amor se expressando das mais diversas maneiras e, na verdade, a ausência de Amor é apenas uma ilusão, uma espécie de sonho que quisemos experimentar para expandirmos a nossa noção de Amor.
Nesse processo, tomamos consciência de que formamos uma unidade e que, assim como não existe competição entre as partes de um corpo humano, também não deve existir competição entre nós. Do mesmo modo que o nosso fígado tem uma função, os rins têm outra, os pulmões têm outra, as glândulas outra e todos trabalham juntos em estreita colaboração para o perfeito funcionamento do nosso corpo físico, assim também cada um de nós tem sua função específica neste planeta, e todos precisamos colaborar uns com os outros, de modo que a Humanidade, como um todo, reflita a Paz, o Amor e a Harmonia do Reino de Luz de onde viemos.  
E assim chegamos no ponto em que nos encontramos hoje, finalizando um ciclo que durou séculos e séculos. Muitos ainda estão adormecidos, apegados ao sonho da dualidade, enredados nas malhas da competição e do consumo desenfreado de bens materiais. Mas muitos mais estão despertando, e estes estão ajudando os adormecidos a despertarem também para a realidade de que somos seres incrivelmente criativos e que, assim como criamos um mundo de dualidade, baseado no medo, na manipulação e no poder de uns sobre outros, podemos voltar a criar - através da nossa intenção pura - um mundo baseado no amor e respeito mútuos, onde todos vivam em perfeita colaboração, felizes para sempre!
Neste momento, as portas do Reino de Luz e Amor estão abertas para nós, aguardando o nosso retorno; e nossos irmãos, que lá ficaram, estão nos lembrando que esse Reino não é um lugar definido no espaço e no tempo, e sim um Estado de Ser infinito e atemporal. E nos dizem alegremente:
- “Estamos apenas esperando que despertem desse sonho, pois
O QUE ERA UMA VEZ… AINDA É!”

autororização da autora via e-mail:
Fico feliz de saber que gostou do meu texto e está ajudando a divulgá-lo. “Era uma vez e ainda é” foi escrita para isso mesmo – quanto mais pessoas tiverem acesso a essa mensagem, melhor!

Diga a seu amigo que tem minha autorização para publicá-la no Blog dele, e que lhe serei muito grata por isso.
Só lhe peço que mantenha meus créditos como autora, como indicado no final do texto – não apenas meu nome, como também meu e-mail, para que outros como você possam me escrever em caso de dúvidas ou sugestões.

Abraços e Feliz Ano Novo para ambos!

Vera Corrêa





19 de dezembro de 2011

Para um Natal novo e feliz

Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor



O próprio termo Natal significa nascimento e, portanto, vida nova. O comércio faz das festas natalinas uma incessante repetição das mesmas músicas, mesmos tipos de ornamentação e até os mesmos artigos de consumo. Ao contrário, a festa cristã do Natal não deve ser apenas a repetição de outros natais que já vivemos e sim celebração de uma nova e atual visita divina à humanidade. O Natal não é o aniversário do nascimento de Jesus, visto que ninguém sabe o dia exato em que ele nasceu. Os cristãos antigos transformaram a festa do solstício do inverno na festa do nascimento de Jesus para testemunhar que, através de Jesus, o próprio Deus veio assumir nossa história e trazer ao mundo o seu projeto de paz, justiça e amor.
Atualmente, o Natal tomou uma dimensão maior do que a celebração cristã. Mesmo entre pessoas não religiosas ou de outras tradições, o Natal se tornou ocasião de confraternização e unidade. Uma vez, em Caracas, na porta de uma mesquita, vi um cartaz, através do qual os muçulmanos desejavam a todos que passassem por ali um feliz Natal. Nessa época, é comum as famílias se encontrarem. Mesmo irmãos que moram longe uns dos outros viajam à casa dos pais para passar o Natal outra vez juntos. As mães e pais têm alegria de preparar a casa para receber os filhos que nesses dias voltam ao aconchego familiar. No âmbito da fé, a celebração do Natal tem este mesmo espírito: preparar a casa e o coração para acolhermos o mistério de amor (que as religiões chamam de Deus) e que se oferece ao nosso alcance.
Neste Natal, a casa da humanidade está pouco preparada. Uma grave crise de civilização assola o mundo. Em todos os continentes, a pobreza e a injustiça aumentaram. Nas casas, as pessoas enfeitam salas e armam presépios, mas Jesus continua a dizer: "É quando vocês socorrem um pequenino que acolhem a mim” (Mt 25, 31 ss).
Na América Latina, há muitos sinais de mudanças. Vários países aprovaram novas constituições políticas. Pela primeira vez na história, os mais pobres estão sendo sujeitos ativos de um processo de transformação social e política que não se limita a figuras importantes como o presidente da República ou tal chefe político. O processo envolve grupos e comunidades de pessoas pobres, índios, lavradores e gente de periferia urbana. Em vários países, dificilmente isso teria ocorrido se não tivesse sido preparado pela participação de cristãos nos grupos e movimentos sociais. Apesar de muitos sofrimentos e de contradições inerentes a todo processo deste tipo, para muitos latino-americanos, neste ano, isso significa poder celebrar um Natal novo e renovador.
Muitos se negam a crer em qualquer novidade e outros torcem o nariz procurando defeitos e erros nestes processos sociais e políticos. O profeta João escreveu: "nós somos as pessoas que acreditam no amor” (1 Jo 3). Este Natal vem como uma interpelação para que cada pessoa se reveja e responda: "Como você está de utopia?”
O Natal nos chama para revigorarmos em nós a capacidade de crer, esperar e preparar a realização do projeto divino nesse mundo. Esta é a proposta de Jesus. Quando o evangelho nos diz "a palavra se fez carne” (Jo 1, 14), está nos convidando a sermos cada vez mais humanos, como ele, Jesus. Carlos Drummond de Andrade interpretava isso ao dizer que, no Natal, imaginava o verbo outrar que, precisaria ser inventado na língua portuguesa. No Natal, uma das músicas cantadas pelas comunidades eclesiais de base no Centro-oeste foi composta por um lavrador do Pará. Tem como refrão: "Dentro da noite escura, da terra dura do povo meu, nasce uma luz radiante, no peito errante, já amanheceu”.

12 de dezembro de 2011

Livros de bronze do primeiro século foram encontados na Jordania

Ciência confirma a Igreja:
 Livros de bronze seriam a maior descoberta de todos os tempos 
e falam de Nosso Senhor Jesus Cristo


































Aspecto de um dos livros em análise

Numa gruta de Saham, Jordânia, localizada numa colina com vista ao Mar da Galiléia, foram encontrados 70 livros do século I da era cristã que, segundo as primeiras avaliações, contêm as mais antigas representações do cristianismo.

Os livros têm a peculiaridade de serem gravados em folhas de bronze presas por anéis metálicos. O tamanho das folhas vai de 7,62 x 50,8 cms a 25,4 x 20,32 cms. Em média, cada livro tem entre oito e nove páginas, com imagens na frente e no verso.

Segundo o jornal britânico "Daily Mail", 70 códices de bronze foram encontrados entre os anos 2005 e 2007 e as peças estão sendo avaliadas por peritos na Inglaterra e na Suíça.

A cova fica a menos de 160 quilômetros de Qumran, a zona onde se encontraram os rolos do Mar Morto, uma das maiores evidências da historicidade do Evangelho, informou a agência ACI Digital.

Importantes documentos do mesmo período já haviam sido encontrados na mesma região.


                                                               a gruta onde foram encontrados
No local ter-se-iam refugiado, no ano 70 d.C., os cristãos de Jerusalém, durante a destruição da cidade pelas legiões de Tito, que afogaram em sangue uma revolução de judeus que queriam a independência.

Cumpria-se então a profecia de Nosso Senhor relativa à destruição de Jerusalém deicida e à dispersão do povo judaico.

Segundo o "Daily Mail" os académicos, que estão convencidos da autenticidade dos livros, julgam que é uma descoberta tão importante quanto a dos rolos do Mar Morto em 1947.

Nelas, há imagens, símbolos e textos que se referem a Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Paixão.

David Elkington, especialista britânico em arqueologia e história religiosa antiga, foi um dos poucos que examinaram os livros. Para ele, tratar-se-ia de uma das maiores descobertas da história do Cristianismo.

"É uma coisa de cortar a respiração pensar que nós encontrámos estes objectos deixados pelos primeiros santos da Igreja", disse ele.

                                                               S. Simeão de Jerusalém

Com efeito, na época da desastrosa rebelião judaica, o bispo de Jerusalém era São Simeão, filho de Cleofás (irmão de São José) e de uma irmã de Nossa Senhora. Por isso, São Simeão era primo-irmão de Nosso Senhor Jesus Cristo e pertencia à linhagem real de David.

Quando o apóstolo Santiago, "O Menor" (primeiro bispo de Jerusalém) foi assassinado pelos judeus que continuavam seguidores da Sinagoga os Apóstolos que ficaram, em rotura com o passado, escolheram Simeão como sucessor e ele recebeu Espírito Santo em Pentecostes.

Os primeiros católicos - naquela época não tinham aparecido heresias e todos os cristãos eram católicos - lembravam com fidelidade o anúncio feito por Nosso Senhor de que Jerusalém seria destruída e o Templo arrasado. Porém, não sabiam a data.

O santo bispo foi alertado pelo Céu da iminência do desastre e de que deveriam abandonar a cidade sem demora. São Simeão conduziu os primeiros cristãos à cidade de Pella, na actual Jordânia, como narra Eusébio de Cesárea, Padre da Igreja.

Após o arrasamento do Templo, São Simeão voltou com os cristãos que se restabeleceram sobre as ruínas. O facto favoreceu o florescimento da Igreja e a conversão de numerosos judeus pelos milagres operados pelos santos.

      Os livros geraram muita disputa














Assim, começou a reconstituir-se uma comunidade de judeus fiéis à plenitude do Antigo Testamento e ao Messias Redentor aguardado pelos Patriarcas e anunciado pelos Profetas.

Porém, o imperador romano Adriano mandou arrasar os escombros da cidade, e os seus sucessores pagãos, Vespasiano e Domiciano, mandaram matar a todos os descendentes de David.

São Simeão fugiu. Mas, durante a perseguição de Trajano foi crucificado e martirizado pelo governador romano Ático. São Simeão recebeu com fidalguia o martírio quando tinha 120 anos. (cf. ACI Digital)



Emociona pensar que esses heróicos católicos judeus tenham deixado para a posteridade o testemunho da sua Fé inscrito em livros tão trabalhados. O facto aponta também para a unicidade da Igreja Católica.

Philip Davies, professor emérito de Estudos Bíblicos da Universidade de Sheffield, disse ser evidente a origem cristã dos livros que incluem um mapa da cidade de Jerusalém. No mapa é representada o que parece ser a balaustrada do Templo, mencionada nas Escrituras.

"Assim que eu vi fiquei estupefato", disse. "O que me impressionou foi ver uma imagem evidentemente cristã: Há uma cruz na frente e, detrás dela, há o que deve ser o sepulcro de Jesus, quer dizer, uma pequena construção com uma abertura e, mais no fundo, ainda os muros de uma cidade".

"Noutras páginas destes livros também existem representações de muralhas que, quase de certeza, reproduzem as de Jerusalém. E há uma crucifixão cristã acontecendo fora dos muros da cidade", acrescentou.

14 de novembro de 2011

Terráqueos: Um grito de Alerta !

Este é um vídeo para ser visto, meditado e seguido de um atitude e mudança de comportamento. Pense nisto, todos nós somos responsáveis por esta mudança.

Terráqueos

http://www.youtube.com/watch?v=vPtrekRyTMA


2 de novembro de 2011

E, em se falando de mulher e preconceito:

Mulher. Um show de preconceito a ser lembrado  
Ricardo J. Botelho  
A Secretaria de Política para as Mulheres tentou censurar a veiculação do anúncio da Hope com Gisele Bundchen, que mostra a modelo de sutiã e calcinha anunciando ao marido o estouro do cartão de crédito. A alegação de que o conteúdo expõe de forma negativa a condição feminina evidencia que, em pleno século 21, ainda é preconceituosa a visão do papel da mulher na sociedade ocidental.

Aliás, Gisele protagonizou outra campanha muito mais controversa, em minha opinião, mas que passou batida pelas feministas de plantão no governo. Um anúncio da SKY (TV) trazia a modelo de joelhos lavando o piso da casa enquanto o "marido" assiste a um jogo na TV e pede cerveja para sua "escrava".

Não concordo com a tentativa de censura em hipótese alguma, mas acredito que os criadores das campanhas poderiam refletir sobre o que significa para a sociedade a abordagem envolvendo a condição feminina. Afinal, Gisele é hoje uma das empreendedoras mais bem sucedidas do planeta, dentro de um contexto onde a renda da mulher representa muito para a economia. Por que não explorar essa imagem? Bom, também podemos olhar essas campanhas de maneira mais descontraída, pelo lado do humor, sem tanto foco no politicamente correto. Afinal, o apelo sexual feminino é inevitável, e o poder que exerce no universo masculino é natural. Mas, você escolhe a lente e julga da forma que achar correto.

O assunto não é novo. Essas campanhas de hoje são fichinhas perto do que acontecia no passado. Tratadas como inferiores, as mulheres só conquistaram respeito nos últimos 50 anos nos países do ocidente, sobretudo. Mas as feridas ainda existem. É sempre oportuno mostrar para as novas gerações o longo caminho trilhado e os preconceitos que a mulher enfrentou. A publicidade a partir do início do século 20 tornou-se um meio de retratar a sociedade. Nos anúncios é possível traçar um paralelo da condição feminina ao longo do tempo.

Para que as gerações atuais conheçam as lutas do passado selecionamos alguns anúncios que demonstram como a mulher era vista pela sociedade.




A flagrante discriminação da mulher na Igreja é um escândalo’

 Entrevista com Teresa Forcades




Médica, teóloga e monja de clausura. A beneditina do mosteiro de St. Benet de Montserratm, Teresa Forcades, entretanto, é conhecida em todo o mundo. Um vídeo no Youtube contra as multinacionais e a armação da gripe A, catapultou-a para a fama.
Entrevistei-a em Madri, no dia 07 de outubro, por ocasião da apresentação do seu livro A teologia feminista na HistóriaIrmã Teresa afirma que a situação de marginalização da mulher na Igreja é "um escândalo” e que "nenhum Papa se atreveu a proibir ex-cathedra o sacerdócio feminino”. Mas também reconhece que é na Igreja e em seu mosteiro onde se sente mais respeitada como mulher.
A entrevista foi concedida a José Manuel Vidal e publicada pelo Religión Digital, 23-10-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
- Por que uma monja da clausura como você escreveu um livro sobre a ‘Teologia feminista na História’?
O livro foi uma proposta da editora Fragmenta. E propuseram porque sabiam que me formei com a teóloga Elizabeth Schüssler Fiorenza. Conheci-a em Barcelona em 1992, antes das Olimpíadas. Eu iria estudar nos Estados Unidos, especializar-me em medicina. Ela vinha de Harvard e fez uma conferência. Uma conferência na qual se rompeu a comunicação porque a tradutora que sabia muito inglês, não sabia nada de teologia. Ajudei na tradução do inglês para o catalão e se salvou a situação. Elizabeth ficou encantada e me convidou a visitá-la em Harvard. Ao final, foi ela que acabou vindo a Buffalo, no norte do Estado de Nova York, onde estava em meu hospital, para dar outra conferência.
- E foi novamente a tradutora espontânea?
Fui a sua conferência, onde não precisei traduzir, e voltamos a nos encontrar. E, como consequência, comecei a traduzir um dos seus livros ao catalão, seu livro de hermenêutica bíblica feminista. Gostei muito do livro e o traduzi para aprofundar o conteúdo. Quando acabei a tradução, fui conversar algumas vezes com Schüssler Fiorenza, para falar de minhas dúvidas e reflexões. Ela, à vista de como recebeu, entendeu e processou o seu livro, animou-me a estudar Teologia e escreveu uma carta recomendando-me estudar em Harvard.
- Um percurso que a editora conhecia.
Efetivamente, além disso, havia dado umas conferências sobre teologia feminista em Barcelona. E quando a editora lançou essa coleção de livros breves, introdutórios, que pudessem servir de manual nas Universidades para introduzir uma disciplina teológica, me pediram o livro que eu aceitei como muito gosto.
- Com teóloga feminista lhe magoa especialmente a atual situação da mulher na Igreja?
A situação da mulher na Igreja tem uma história complexa que inclui tanto a discriminação quanto a promoção. A discriminação magoa qualquer pessoa que seja a favor da justiça e que compreenda que o Evangelho implica crescimento humano em todos os níveis. No Evangelho, se aprende também o realismo de saber que quando uma pessoa tenta viver a mensagem de Jesus, fica à margem. Nesse sentido, a situação das mulheres é testemunho de que há verdades cujo lugar estará sempre à margem até a escatologia final.
- Ou seja, que você se sente preparada para continuar na margem ou na fronteira e sem aspirar ao altar.
A dinâmica da margem evangélica consiste, a meu juízo, na promoção da justiça em todos os níveis, mas com o realismo de saber que, quando se consegue um passo a frente, se gera um processo no qual aquele que não quer ficar acomodado continuará encontrando razões para continuar caminhando até as margens. Daí minha defesa teológica das margens.
- E a proibição da presença feminina no altar?
A conclusão da Comissão Bíblica Pontifícia, a que Paulo VI pediu que estudasse o tema, foi de que não há razão bíblica alguma para privar o acesso das mulheres ao ministério ordenado. Isso foi no ano de 1976. Em 1974, realizaram-se as primeiras ordenações de mulheres na Igreja episcopaliana. Paulo VI percebeu que iria se produzir a mesma demanda na Igreja Católica e, por isso, pediu para a comissão pontifícia que estudasse o tema.
- O que diz de concreto o documento da comissão pontifícia?
Assegura que nas Escrituras não há nada contra. Depois de conhecer as conclusões da comissão, Paulo VIpublicou um motu proprio no qual considerava que não se devia ordenar mulheres na Igreja Católica.
- Mais a frente veio a tentativa de fechamento definitivo da questão por parte de João Paulo II.
Sim, mas nenhum Papa se atreveu a proclamar essa proibição ex-cathedra.
- Esta flagrante discriminação da mulher na Igreja é um escândalo?
Sim. Recomendo a quem queira aprofundar esse tema o livro de Gary Macy A história oculta da ordenação das mulheres.
- E como se vive essa situação num momento em que a sociedade civil avança na paridade de direitos?
Não gosto do esquema em que se coloca a sociedade civil na vanguarda e a Igreja na retaguarda em algo que deveria ser a pioneira. Entendo que a situação entre homem e mulher e a maneira de conceber o feminino e o masculino numa sociedade contemporânea ocidental deixa muito de ser satisfatória. O que mais me interessa debater teologicamente atualmente são as teorias de Lacan e de alguns pós-estruturalistas contemporâneos. Porque, no momento e reconhecendo que podem existir outras pessoas que tenham vivido experiência contrária, particularmente onde me senti mais respeitada em meu ser mulher é na Igreja e, em concreto, no meu mosteiro. Em comparação com outros lugares, como pode ser no hospital ou na Universidade, fico com o mosteiro, como espaço de liberdade e respeito. Em minha relação com os monges de Montserrat, por exemplo, descobri possibilidades de interação mais ricas do que em geral que vivi e observei entre homens e mulheres que são colegas no hospital ou na universidade.
- Então, a Igreja não tão antifeminina como se diz.
Veja, é preciso começar a falar desse tema com verdade, porque, do contrário, parece que temos de um lado uma sociedade liberada, oásis ou meca para as mulheres e, por outro, a Igreja que é uma instituição de opressão e de desastre. Minha experiência diz o contrário. Porque, se assim não fosse, quem sabe eu já não estaria aqui.
- Quer dizer que há um espaço de liberdade enorme dentro da Igreja apesar de tudo?
Sempre houve. O que acontece é que também é preciso denunciar que, entre os quadros de mando da Igreja há uma falta absoluta de representação das mulheres. E é esse o escândalo de que falamos.
- Liberdade para as mulheres na Igreja-povo de Deus e falta de representatividade na sua hierarquia.
Temos que mudar essa noção de Igreja que olha primeiro para cima. Para falar da Igreja, temos primeiro que olhar para baixo. E embaixo encontramos fundadoras iniciativas que não tem correlato no mundo civil, ao menos até agora. Vamos ver o que acontece no século XXI.
- Acusam-lhe de heresias, os setores mais conservadores e alguns sites. Tem medo?
Lembro da "perfeita alegria” de São Francisco e acredito que o essencial para um cristão é saber que quando todos te aplaudem, alguma coisa não vai bem. Desatar iras de certos setores, por outro lado, não é garantia de que as coisas vão bem, mas é um pouco melhor de quando todos te aplaudem.
- A Igreja hierárquica espanhola está muito fechada em si mesma e exerce um excessivo controle?
Está claro que, desde o Vaticano II, houve uma involução. E, na igreja espanhola se pode constatar que o medo existe e que há falta de liberdade para falar com vozes diferentes que é o que acontece quando as pessoas falam a partir de sua experiência. Essa uniformidade de expressão é muito preocupante.
- Falta pluralismo na Igreja espanhola. Ou dito de outra forma, são capazes os bispos espanhóis de assumir que há diferentes modelos ou diferentes sensibilidades eclesiais e que todas são válidas?
Há muitos bispos que são capazes. O problema é que não é apenas questão de aceitar isso, mas sim de vivê-lo. Os bispos têm o dever-direito de exercer sua responsabilidade pastoral de acordo com sua própria consciência, não podem simplesmente suprir seu critério com o critério que vem desde cima. Nesse sentido, o bispo não apenas aceita a pluralidade, mas também se converte em gerador da mesma e a vive.
- Você é religiosa beneditina. A vida religiosa tem futuro ou terminou o seu tempo. Como a vê?
Vejo-a muito bem. A vida religiosa tem mudado ao longo da história e apenas terá futuro se continuar mudando. A mudança é inerente à vida religiosa e apenas quem não muda tende a desaparecer. As beneditinas estão acabando, mas esses espaços de comunidade de pessoas que entendem que suas vidas não se plenificam em uma vida de casal, sem a relação de comunidade sempre existirão. Porque, além disso, são pessoas que dão testemunho de que esse é o modelo para todos no mundo escatológico.
- A vida religiosa como antecipação da vida celestial.
Esta é a antropologia cristã. A vida de casal é sacramento do mesmo amor de Deus, mas é de uma forma temporal. A vida de comunidade é de forma escatológica, porque Deus nos chama a ser pessoas que compreendam que a relação com toda humanidade, com todas e todos aqueles criados a imagem de Deus, é uma relação de amor absoluto, uma relação de dar e receber como a da Trindade. Esta vida de comunhão trinitária é que a utopia cristã nos propõe.
- Mas, isso também se pode viver no matrimônio: estar aberto a todos e amar a todos.
Claro, mas o matrimônio é até que a morte nos separe. E por isso dizia Jesus: "Não compreendem”. Porque, no céu, as pessoas não se casam.
- Seu vídeo de 2009, denunciando a montagem da famosa gripe A, teve tanta repercussão porque desmontava a superficialidade na qual se movem os grandes poderes da informação num mundo globalizado?
É preciso ser claro na crítica a este desastre da sociedade contemporânea que é o aumento da desigualdade riqueza-pobreza nos últimos 50 anos. Esse é um escândalo muito maior que a injustiça com as mulheres na Igreja da que acabamos de falar, ainda que não haja muito sentido em comparar injustiças, porque cada uma é absoluta em si mesma. Há muito o que criticar na sociedade contemporânea, mas não como um slogan. Porque se é certo que existe essa superficialidade, também é fato de que, pela primeira vez, há pessoas que realmente acreditam que não se deve esperar que a solução venha de cima.
- É o que vemos nessa crescente indignação em todos os lugares, incluindo no mundo árabe?
Estou muito preocupada pelo o que está acontecendo na Líbia, na Síria. Ou pelo que possa vir acontecer no Irã. Especialmente a partir da perspectiva das grandes mentiras políticas. Já o fizeram duas vezes, mas parece que não aprendemos. Aconteceu no Iraque e depois lamentamos. E com Gadafi creio que aconteceu o mesmo. Mente-se para justificar a intervenção militar. Por que não intervimos na Arábia Saudita para liberar as mulheres se o fazemos no Afeganistão?
- Gostaria que o Papa fosse à Somália num gesto profético que detivesse ou interrompesse a morte de tantas pessoas e tantas crianças inocentes?
Esse pode ser outro desses slogans de que desejaria afastar-me. Quem sabe agora, quando todo mundo está olhando a Somália, gostaria que o Papa fosse a outra parte. Porque os desastres proliferam. Por exemplo, o que está acontecendo no Sudão?
- Os meios de comunicação nos enganam?
Tenho a impressão, confirmada no caso da gripe A, de que outro, dos maiores escândalos atuais é a falta de liberdade no mundo da informação. Há mais liberdade jornalística em Periodista Digital ou em Vida Nuevado que no El País ou no La Vanguardia.
- Voltamos ao lugar de onde começamos: na Igreja se vive melhor.
Não gostaria de morder a língua na hora de criticar o condenável da Igreja, mas ninguém me peça que diga que na sociedade civil há maior liberdade de que na Igreja, porque não é certo. O que não quer dizer que a Igreja não tenha nada a aprender com a sociedade não eclesial. O que fez sempre.
- Participou ou viu a JMJ? O que lhe parece esse tipo de evento?
Não vi muito. Participaram três irmãs mais jovens do mosteiro e voltaram muito contentes. O evento macro-eclesial quem sabe seja um sinal dos tempos. Assisti na Venezuela a um desses eventos macro por motivo do aniversário de 90 anos da morte de Dom Óscar Romeroe me pareceu algo extraordinário. O mesmo pode acontecer com as pessoas que foram ver o Papa. Esses grandes eventos eclesiais quem sabe sejam um sinal dos tempos de século XXI. O importante é o tipo de mensagem que com eles se transmite e como se utilizam esses espaços.
- E como o utilizaram na JMJ?
Creio que houve um predomínio de articulações conservadoras ou de mensagens para os jovens no esquema nós-eles (Igreja-Sociedade), mas também houve espaços onde se pode partilhar a fé com uma visão mais aberta.
- Tem esperança no futuro da sociedade e da Igreja? É você uma mulher esperançosa?
Sim.
- Por exemplo, poderemos ver uma mudança na Igreja em curto prazo?
Mais do que em curto prazo, hoje mesmo. Gostaria de ter sobre a realidade o olhar que Jesus nos pede. Um olhar de que os campos estão dourados ou maduros e apenas faltam os ceifadores. Esse olhar que vê, como diz São Paulo, que o mundo está grávido de Deus. Ou, inclusive, já de parto e em lugares onde ninguém espera. Isso é o que dá esperança.
[Fonte: IHU Unisinos].

20 de outubro de 2011

Dalai Lama - A Oração do Dalai Lama


Dalai Lama :
"Gostaria de compartilhar com você uma breve oração que serve de grande inspiração para meu propósito de fazer bem aos outros.
Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre,
um protetor para os desprotegidos,
um guia para os que perderam o rumo,
um navio para os que têm oceanos a cruzar,
uma ponte para os que têm rios a atravessar,
um santuário para os que estão em perigo,
uma lâmpada para os que não têm luz,
um refúgio para os que não têm abrigo
e um servidor para todos os necessitados."

29 de setembro de 2011

Não precisamos de templos, somos o templo.


Não precisamos de templos, somos o templo.
Não precisamos ficar repetindo orações, precisamos sim de ações, ora!
A liturgia mais perfeita e que mais agrada a Deus é o ato de repartir, que começa com o gesto de Jesus partindo o pão e se repete no beijo que salva alguém do suicído, nos abraços dados sem que se olhe a quem. 
No amor partilhado num olhar, num sorriso, numa palavra amiga a um desconhecido.

Assim como Deus cansou-se dos sacrifícios sangrentos ele também está cansado de todo o palavrório dito sem muita consciência, dos gestos mecânicos, da aparência piedosa que esconde um coração de pedra.
Jesus nos disse que toda a lei e toda a profecia se resumia em amar como ele nos ama.
volto a lembrar da canção, inspirada no salmo:


TU NÃO HABITAS EM TENDAS,
NEM EM TEMPLOS FEITOS POR MÃOS
ETERNO, PERFEITO, PRINCÍPIO E FIM,
ACIMA DAS RELIGIÕES.
NÃO HÁ NADA NO CÉU, NA TERRA
OU NO MAR, SEMELHANTE A TI, SENHOR.
TUA IMAGEM ESTÁ REVELADA EM NÓS
EXPRESSÃO DO TEU AMOR.
INCOMPARÁ-AAA-VEL, SENHOR TU ÉS !













25 de setembro de 2011

Entrevista com o teólogo suíço Hans Küng

Em entrevista, teólogo suiço fala sobre a ''putinização'' da Igreja católica

Na quinta-feira, o papa Bento XVI chega à Alemanha para uma visita há muito esperada. O teólogo suíço proeminente Hans Küng explica à revista “Spiegel” por que a visita papal pouco fará para reverter a crise na Igreja e compara Bento XVI aVladimir Putin na forma como centraliza o poder.

A entrevista, publicada pela revista semanal alemã Der Spiegel, foi traduzida e reproduzida pelo Portal Uol, 22-09-2011.

EIs a entrevista.

Professor Küng, o seu ex-colega de faculdade Joseph Ratzinger está vindo para a Alemanha nesta semana para uma visita de Estado. O senhor tem alguma audiência marcada com ele?

Não requisitei uma audiência. Estou fundamentalmente mais interessado em conversas do que em audiências.

Bento XVI ainda conversa com o senhor?

Após sua eleição como papa, ele me convidou a sua residência de verão, o Castelo Gandolfo, onde tivemos uma conversa amigável de quatro horas. Na época, eu esperava que aquele momento fosse o início de uma nova era de abertura. Mas essa esperança não foi realizada. De vez em quando, trocamos correspondências. As sanções contra mim – a suspensão de minha permissão para ensinar - ainda existem (nota do editor: o Vaticano revogou a permissão de Küng para ensinar teologia católica em 1979, após ele ter publicamente rejeitado o dogma da infalibilidade papal.)

Quando foi a última vez que Bento lhe escreveu?

Por meio de seu secretário particular (Georg) Gänswein, ele me agradeceu por enviar-lhe meu mais recente livro e me desejou boa sorte.

Em seu polêmico livro, “Ist die Kirche noch zu retten” (a Igreja ainda pode ser salva?), que foi publicado no início do ano, o senhor critica duramente o papa por sua política anti-reformista.

Acho muito gratificante que ele não tenha terminado nosso relacionamento pessoal, apesar de minhas críticas.

Muitos católicos acham que a Igreja está em um estado desolado. O abafamento dos casos de abuso sexual de crianças por padres levou muitos fiéis a se afastarem da Igreja. O que está errado?

Como você está dando uma descrição simples, darei uma resposta simples. O predecessor de Ratzinger, João Paulo II, lançou um programa de restauração política e eclesiástica que ia contra as intenções do Concílio Vaticano II. Ele queria uma re-cristianização da Europa. E Ratzinger foi seu assistente mais leal, até mesmo no início. Poderíamos chamar de período de restauração do regime pré-conciliar.

Por que esses problemas estão emergindo subitamente, 50 anos após o Vaticano II, que ocorreu entre 1962 e 1965?

Os problemas vêm cozinhando na Igreja há algum tempo, como revelou o acobertamento de décadas de abuso sexual. Em algum ponto, o problema dos abusos no mundo todo não pôde mais ser negado. Mas essa não é a única coisa que a hierarquia católica esconde. Ela esconde também as condições lastimáveis da Igreja.

O que o senhor quer dizer com isso?

Ou seja, que a vida da Igreja no nível da paróquia praticamente desintegrou-se em muitos países. Em 2010, pela primeira vez, houve mais pessoas deixando a Igreja do que sendo batizadas na Alemanha. Desde o Concílio, perdemos dezenas de milhares de padres. Centenas de paróquias estão sem pastores, e as ordens masculinas e femininas estão morrendo porque não conseguem noviços. O número de pessoas participando das missas está caindo gradativamente. Mas a hierarquia da Igreja não teve coragem de admitir, honesta e francamente, a verdadeira situação. Fico me perguntando aonde isso vai dar.

Quando o papa vem para a Alemanha, dezenas de milhares de pessoas vão recebê-lo em grandes eventos. Os líderes da Igreja não vão interpretar isso exatamente como sintoma de crise.

Eu não teria nada contra tais eventos se eles verdadeiramente ajudassem a Igreja local. Mas há uma enorme discrepância entre a fachada, que agora está sendo erguida novamente para a visita papal à Alemanha, e a realidade. Cria a impressão que esta é uma igreja poderosa e saudável. Certamente é poderosa, mas saudável? Sabemos agora que esses eventos não fazem quase nada pelas paróquias locais. Eles não levam mais pessoas às missas; não inspiram mais pessoas a se tornarem padres ou menos pessoas deixarem a Igreja.

Ainda assim, cerca de 70.000 pessoas são esperadas na missa no Estádio Olímpico de Berlim.

Não são todos fiéis; a multidão inclui muitos curiosos. Os fiéis que participarão são, na maior parte, católicos conservadores sem interesse em reformas. Há também fãs beneditinos notórios e histéricos que sempre estão presentes nos principais eventos papais. A maior parte deles são recrutados de grupos estritamente conservadores. Para muitas pessoas, o papa ainda é, até certo ponto, um exemplo de comportamento e de força moral, apesar de outros acharem que este aspecto sofreu gravemente.

O senhor também critica a visita do papa ao parlamento alemão, o Bundestag? Vários políticos da oposição disseram que vão boicotar o discurso dele.

Eu não faço objeções à visita. Mas eu espero que os políticos que vão recebê-lo deixem claro que há católicos na Alemanha que discordam com as atuais posições papais. De acordo com pesquisas conduzidas nesta primavera, 80% dos alemães querem reformas.

Mas será que os outros grupos –inclusive grupos políticos- não se distanciaram tanto que chegam ao ponto de não darem a mínima sobre as condições na Igreja Católica?

Somente quando não estão pensando nos eleitores. Os eleitores se tornaram muito sensíveis neste quesito. As pessoas estão prestando muita atenção ao que o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, católico corajoso e forte, dirá ao papa.

O que o senhor está dizendo parece muito pessimista. Será que, como pergunta o título de seu livro, é tarde demais para salvar a Igreja?

Em minha opinião, a Igreja Católica como comunidade de fé será preservada, mas apenas se abandonar o sistema do regime romano. Conseguimos nos virar sem esse sistema absolutista por 1.000 anos. Os problemas começaram no século XI, quando os papas afirmaram seu controle absoluto sobre a Igreja, aplicando uma forma de clericalismo que privou a laicidade de todo poder. A regra do celibato também vem dessa era.

Em entrevista à respeitada revista alemã “Die Zeit”, o senhor criticou duramente o papa Bento, dizendo que nem o rei Luis XIV foi um líder tão autocrático quanto o líder da Igreja católica, com seu estilo absolutista de governo. Bento XVI poderia de fato mudar o sistema romano, se quisesse?

É verdade que esse absolutismo é um elemento essencial do sistema romano. Mas nunca foi um elemento essencial da Igreja Católica. O Concílio Vaticano II fez tudo para se afastar dele, mas infelizmente não foi suficiente. Ninguém ousou criticar o papa diretamente, mas houve uma ênfase no relacionamento colegial do papa com os bispos, criado para reintegrá-lo na comunidade.

E teve sucesso?

Não diria que sim. A falta de vergonha com a qual a política do Vaticano simplesmente calou e negligenciou o conceito de colegiado desde então é sem precedentes. Um culto à personalidade sem paralelos prevalece novamente hoje, que contradiz todo o Novo Testamento. Neste sentido, pode-se afirmar isso muito claramente. Bento XVI até aceitou a tiara, uma coroa papal, símbolo medieval do poder papal absoluto, que um papa anterior, Paulo VI, escolheu entregar. Acho isso revoltante. Ele poderia mudar isso tudo da noite para o dia, se quisesse. 

Mas ele não quer?

Não quer. Estou absolutamente convencido disso, porque ele tem a autoridade necessária. Ele meramente teria que fazer uso dela, no espírito do Evangelho.

O senhor não quer apenas reduzir o poder do papa. O senhor também está pedindo um fim ao celibato; o senhor quer que as mulheres sejam ordenadas e que a Igreja suspenda sua proibição de controle de natalidade. Os católicos leais ao papa dizem que esses elementos fazem parte dos valores centrais da Igreja Católica. Se o senhor retirar isso, o que restará da Igreja Católica?

O que restará será a mesma Igreja Católica que costumava existir – e que era melhor. Não estou dizendo que o papado deva ser abolido. Mas precisamos de escritórios que sirvam às congregações, precisamos do tipo de papado que era praticado por João XXIII. Ele não queria dominar. De fato, ele simplesmente demonstrava que estava lá disponível para todos, inclusive outras igrejas. Ele estabeleceu a base para o Concílio e um novo despertar do cristianismo ecumênico. Ele permitiu o surgimento de uma nova igreja.

Muitos na Igreja Católica dizem que, se todas as reformas que o senhor propõe fossem implementadas, a Igreja ficaria mais Protestante e abandonaria sua natureza Católica.

A Igreja sem dúvida se tornaria mais protestante. Mas sempre preservaremos nossa natureza única. Nossa forma global de pensar, nossa universalidade nos diferenciam de certa estreiteza nas igrejas regionais Protestantes. Isso deve continuar, assim como o escritório (do papa) deve ser preservado. Mas se tudo for concentrado no escritório, vamos terminar com um vigário medieval, um príncipe-bispo e o papa como absoluto monarca, que simultaneamente personifica o executivo, o legislativo e o judiciário –em contradição com a democracia moderna e o Evangelho.

O senhor e Bento XVI estão em caminhos diferentes. O senhor quer reformar a Igreja para mantê-la viva. E o papa está tentando selar a Igreja do mundo externo e cada vez mais restringi-la a seu centro conservador, que poderia sobreviver.

De fato. No passado, o sistema romano foi comparado com o sistema comunista, no qual uma pessoa mandava. Hoje, eu me pergunto se não estamos talvez na fase de “Putinização” da Igreja Católica. É claro que não quero comparar o Santo Padre, como pessoa, ao profano estadista russo. Mas há muitas similaridades estruturais e políticas.Putin também herdou um legado de reformas democráticas. Mas ele fez tudo o que pôde para revertê-las. Na Igreja, tivemos o Conselho que iniciou a renovação e a compreensão ecumênica. Nem os pessimistas teriam imaginado que tais retrocessos seriam possíveis depois disso. A política de restauração do papa polonês, a partir dos anos 80, tornou possível para o diretor da altamente sigilosa Congregação da Doutrina da Fé, que era conhecida como Congregação da Inquisição Romana e Universal - e ainda é uma inquisição, apesar do novo nome - a ser eleito papa.

Essa é uma comparação audaciosa.

Não deve ser tirada de suas proporções, é claro. Infelizmente, mesmo que admitamos as coisas positivas, os desdobramentos negativos que estão ocorrendo não podem ser negligenciados. Praticamente falando, tanto Ratzinger quanto Putin colocaram seus antigos associados em posições chave e colocaram de lado aqueles que eles não gostavam. É possível traçar outros paralelos: o enfraquecimento do parlamento russo e do Sínodo dos Bispos do Vaticano; a degradação dos governadores provincianos russos e dos bispos católicos, que faz deles meros cumpridores de ordens; uma “nomenclatura” conformista e uma resistência a verdadeiras reformas. Ratzinger promoveu seu assistente dos tempos de diretor do CDF a cardeal secretário de Estado, o que o torna vice do papa.

E o que há de errado nisso?

O fato que, sob o papa alemão, uma pequena claque de seguidores, primariamente italiana, sem simpatia alguma pelos pedidos de reforma, subiu ao poder. Eles em parte são responsáveis pela estagnação que abafa toda tentativa de modernização do sistema da Igreja.

O que as condições no Vaticano têm a ver com o estado da Igreja na Alemanha?

Um enorme sistema de política de poder está por trás de toda a amabilidade romana, as demonstrações litúrgicas de esplendor e de pseudo-Estado. O Vaticano controla a nomeação de bispos e de professores de teologia, somente permitindo os que se conformam com suas políticas a obterem essas posições. Seus núncios monitoram as conferências dos bispos e constantemente enviam relatórios à sede. Os dedos-duros voltaram neste sistema. Todo pastor reformista na Alemanha, todo bispo, deve temer ser denunciado em Roma.

Qual é o papel do cardeal de Colônia, Joachim Meisner, famoso linha dura, nessa luta pelo poder dentro da Igreja?

É um segredo aberto que a Conferência Nacional dos Bispos da Alemanha está cada vez mais sob influência de Meisner, o que alguns não pensavam ser possível. Acontece que Meisner tem uma linha direta com o centro de poder romano. Seu séquito inclui jovens bispos como Franz-Peter Tebartz-van Elst de Limburg. O novo arcebispo em Berlim, Rainer Woelki também é protegido de Meisner. Está havendo uma tentativa de obter o controle das posições mais estrategicamente importantes. Estão fazendo todo o possível para fortalecer o sistema de dominação.

Seu prognóstico é sombrio.

 Acho muito importante que não afundemos em pessimismo. Mas meu diagnóstico mostrou que a Igreja está doente, e é a doença do sistema romano. Sob essas circunstâncias, não posso simplesmente me comportar como um médico ineficaz e dizer que tudo vai ficar bem.

Qual seria o tratamento?

A base deve reunir forças e se fazer ouvir, para que o sistema não possa mais driblá-la. Eu apresentei uma lista ampla de medidas em meu livro.

Mais de um ano atrás, o senhor escreveu uma carta aberta a todos os bispos do mundo, na qual o senhor ofereceu uma explicação detalhada de suas críticas ao papa e ao sistema romano. Qual foi a resposta?

Há cerca de 5.000 bispos no mundo, mas nenhum deles ousou comentar publicamente. Isso claramente mostra que algo não está certo. Mas se você conversa com os bispos individualmente, muitas vezes você ouve: “O que o senhor descreve é fundamentalmente verdade, mas nada pode ser feito”. Seria maravilhoso se um bispo proeminente dissesse: “Isso não pode continuar assim. Não podemos sacrificar toda a Igreja para agradar os burocratas romanos”. Mas até agora ninguém teve coragem de fazer isso. A situação ideal, em minha opinião, seria uma coalizão de teólogos reformistas, pessoas laicas e pastores abertos à reforma, e bispos preparados a apoiar a reforma. É claro que entrariam em conflito com Roma, mas eles teriam que aguentar isso, em um espírito de lealdade crítica.

Foi isso que levou à Reforma 500 anos atrás. Mas na época, o sistema romano foi incapaz de entender críticas de dentro de suas fileiras.

Após 500 anos, estamos surpresos que os papas e bispos de então não tenham compreendido que uma reforma era necessária. Lutero não queria dividir a Igreja, mas o papa e os bispos foram cegos. Parece que uma situação similar se aplica hoje.

Outro concílio como o Vaticano II ajudaria a Igreja?

Espero que haja um concílio, ou ao menos uma assembleia representativa da Igreja Católica.

O senhor acredita que vai viver para ver tal concílio?

Não se deve estabelecer limites para a graça de Deus. Certamente seria um sinal de esperança se o papa anunciasse, durante sua visita à Alemanha: “Apesar de eu não concordar com esses pedidos de reforma, como papa alemão, quero trazer algo como presente: no futuro, aqueles que se divorciarem e os que voltarem a se casar terão permissão de receber os sacramentos católicos”.


6 de setembro de 2011

Abençoar ao invés de culpar


"Cada um de nós pode (ou melhor, deveria) praticar privadamente a sua própria religião com o espírito de `benção original`, esquecendo a lúgubre ideia da culpa coletiva."
A análise é do filósofo e político italiano Gianni Vattimo, em artigo publicado no jornal La Stampa, 02-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O livro de Matthew Fox In principio era la gioia inaugura dignamente a nova coleção de teologia dirigida por Vito Mancuso e Elido Fazi, que é o seu editor (423 páginas). Pode-se e deve-se recomendá-lo certamente como fonte de edificação espiritual, como manual de meditação, como guia para uma possível experiência mística.
Como muito frequentemente a teologia não é edificante, assim a edificação parece se prestar pouco a discussões e argumentações teológicas. Todavia, podemos induzir que o livro é algo mais do que um banal texto de edificação do fato, em nada insignificante, de que, em consequência da sua publicação (1983), o autor foi expulso (1993), por iniciativa do então cardeal Ratzinger, chefe do Santo Ofício, da ordem dominicana, na qual havia sido discípulo de um grande teólogo como Chenu.
Se, para alguns, essa expulsão já é uma recomendação positiva, há uma outra que se descobre só depois da leitura das densas 300 páginas do livro, e que soa assim: "Todo este livro, na realidade, nada mais é do que a exposição da espiritualidade dos anawim , dos oprimidos" (p. 331).
Não se deve, por isso, motivar ulteriormente a simpatia que sentimos desde o início pelo livro e pelo seu autor. Mesmo que alguns elementos que o caracterizam suscitem alguma resistência: a sistematicidade da construção, que repete e também renova certos esquemas típicos dos manuais de espiritualidade da tradição católica, com a articulação da Via positiva, Via negativa, Via criativa, Via trasformativa; a fluvial abundância das citações que servem como epígrafes para os vários capítulos, onde é convocada toda a história da mística, da poesia, do pensamento espiritual não só doOcidente (e que também tem o sentido positivo de oferecer uma espécie de suma antológica desse pensamento).
Principalmente, o que me atrai mas também repele no livro é o seu tom "positivo", que faz pensar às vezes em certas formas de nova religiosidade "americana" (New Age), às quais alimentamos respeito, mas que não sentimos como nossas.
O porquê de um certo incômodo com relação a este último aspecto do livro é também a sua substância teórica e teológica. A reação de suspeita é motivada justamente por aquilo que ainda domina a nossa experiência religiosa: somos todos filhos de Agostinho, diria Fox, isto é, submissos a uma educação que nos acostumou a pensar a história da salvação como redenção da queda original no pecado.
Não por acaso o título em inglês do livro é Original Blessing, Benção original. Nós, de original, sempre conhecemos principalmente o pecado: o ato de amor que deu lugar à criação, a benção original, foi logo manchado pela história da serpente e da maçã. A história das nossas relações com Deus é uma história de queda, pena e redenção, também esta, porém, operada só na força de um sacrifício, de uma pena que o próprio Filho de Deus carregaria sobre as costas, suportando a dor da Crucificação.
Mas, diz Fox, "ninguém acreditava no pecado original antes de Agostinho", como por exemplo Santo Irineu de Lyon, que escreveu 200 anos antes dele (p.49). A "benção", o ato de amor com que Deus cria o mundo e nos dá a vida, é uma ideia bíblica muito mais original. Agostinho construiu a doutrina do pecado original só nos últimos anos da sua vida, fundamentando-se em uma passagem da carta de Paulo aos Romanos (5,12) que ele leu como se dissesse que, com Adão, todos os homens pecaram e, por isso, trazem consigo a mesma culpa.
A filosofia ocidental (Kant: a ideia do "mal radical") retomou essa doutrina, considerando que a inclinação ao mal é um dado natural no homem, com consequências importantes também para o modo de entender a sociedade. E também todo o modo que herdamos de considerar o corpo, os sentidos, o erotismo está profundamente ligado a esse primado do pecado.
Fox se propõe a obra nada simples, de fato, de repensar o cristianismo fora da luz cintilante que o agostinismo lhe impôs. Certamente, não fazendo como se não se devesse mais falar de pecado – ele mesmo, nas quatro seções em que ilustra as suas quatro "vias", dedica páginas intensas a como se configura o pecado do ponto de vista de cada uma delas: que se reduz sempre a uma forma qualquer de resistência inerte (egoísta, conservadora) contra a positividade da relação com o mundo, com a natureza, com os outros.
Mas as desventuras que ele encontrou com a hierarquia católica advertem sobre a dificuldade também teórica da sua posição, pelo menos no plano doutrinal. A Igreja sempre deixou muita liberdade aos muitos místicos que Fox se refere no livro, de Hildegarda de Bingen a Meister Eckhart, de Juliana de Norwich a Simone Weil – certamente não aGiordano Bruno, que é um dos grandes inspiradores desse livro.
Mas, no plano da doutrina aceita e ensinada, o discurso era e ainda é muito mais rígido. Cada um de nós, e o próprio Fox e seus discípulos, pode (ou melhor, deveria) praticar privadamente a sua própria religião com esse espírito de benção, esquecendo a lúgubre ideia da culpa coletiva.
Mas, dessa ideia, dependem muitas "disciplinas", relações de poder, verdadeiros privilégios da casta (!) sacerdotal, para que uma proposta de renovação teológica e espiritual como essa não se confronto, no fim, com a necessidade de uma autêntica revolução. Talvez fosse a hora, mas lhes parece que é o tempo propício?