O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

22 de dezembro de 2021

Nasceu sem luxo, quase no lixo em meio aos animais...


"Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria." Lc 2,6-7


E assim ele nasceu, sem teto, sem terra, sem luxo quase no lixo e a despeito disso os anjos cantavam e anunciavam:
Que aqueles que tem boa vontade, alcançarão a Paz ainda na Terra...

Ficou conhecido como um malfeitor que incomodava aos poderosos de seu tempo, 
que desafiava Reis e sacerdotes. 
Seu fim, deu-se prematuramente, mal saído da juventude, condenado a morte entre dois ladrões. 
Seu grande e único pecado foi desafiar a toda a humanidade a AMAR da mesma forma que Ele amava.

Seu nome? 
Yeshua, nascido em Belém, mais conhecido como Jesus de Nazaré, um jovem filho de carpinteiro que estranhamente tinha mais sabedoria que os doutores da Lei...
O reverenciam como Deus, embora ele mesmo nunca tenha se atribuído essa majestade, dizia apenas ser o filho de Deus, ou o filho do Homem, ou ainda que ele e o pai são UM e que também devemos ser UM com o Pai.
Pregava o Reino, o Reino do Pai, e disse que esse Reino está no meio de nós.
Sua presença, por incrível que possa parecer atravessa os séculos , embora alguns insistam em dizer que ele nunca existiu...

De certo só sei que ele vive em mim, e em tudo que irradia vida.







13 de novembro de 2021

Monge que levou o mindfulness para o Ocidente se prepara para morrer

                          Thich Nhat Hanh        Thây

                               

Thich Nhat Hanh, o monge que popularizou a atenção plena (mindfulness) no Ocidente, voltou para o Vietnã para aproveitar o resto de sua vida. Devotos de muitas partes do mundo estão o visitando. Aos 92 anos, ele se retirou em um templo budista fora  da cidade de Huế.

         
        

.Em 2014,  Thây,sofreu um derrame. Desde então, tem sido incapaz de falar ou continuar seus ensinamentos. Em outubro de 2018, ele expressou seu desejo, usando gestos, de retornar ao templo no Vietnã, onde foi ordenado como um jovem monge.



"Este corpo não sou eu;

Eu não estou preso neste corpo, sou a vida sem limites, eu nunca nasci e eu nunca morrerei.
Lá o vasto oceano e o céu com muitas galáxias todos manifestos na base da consciência. Desde tempos sem início sempre fui livre. Nascimento e morte são apenas um meio - uma porta que nós entramos e saimos. Nascimento e morte são apenas um jogo de esconde-esconde. Então sorria para mim e pegue minha mão e acene um adeus. Amanhã vamos nos encontrar de novo ou até mesmo antes. Estaremos sempre nos encontrando novamente na verdadeira fonte, sempre encontrando novamente nos caminhos inumeráveis da vida. "   
Thich Nhat Hanh  no livro Nenhuma morte, Nenhum medo




Minha gratidão a esse grande mestre


11 de novembro de 2021

Um passeio pelas redes e pelo noticiário.

 Hoje resolvi fazer uma coisa que já não fazia há algum tempo. Ler notícias e ver o que dizem as redes sobre a situação atual. Vi bem o que isso produz em mim. As postagens que compartilhei, uma parte delas mostram bem como essas coisas nos afetam, pelo menos afetam a mim de forma muito pouco positiva. Despertam uma revolta que pouco utilidade tem e afetam de forma bem negativa o meu projeto de ser uma pessoa melhor. Eu tenho como um projeto muito importante o fato de que quando nasci recebi um “ego”, e pretendo devolver quando for embora, um bem melhor. Pelo menos tenho me empenhado neste sentido.

Sinceramente não dá mais pra mim assistir a esse show de horrores e ficar de boa. Tenho uma grande responsabilidade porque cuido diariamente do ajustamento psicológico das pessoas, e preciso estar bem.
Vou cuidar das minhas flores e voltar a passar mais tempo no interior do meu interior.
Nada me alegra mais do que a floração da minhas micro orquídeas, algumas cujas flores são pouco maiores do que a cabeça de um alfinete, as flores amarelas da Phalaenopsis tão linda e tão rara em sua simplicidade, são motivo de gratidão ao criador. Nada disso me provoca raiva e mal estar.

Vou em busca do conselho da querida Teresona:

“Nada te perturbe, Nada te espante.
Tudo passa. Só Deus permanece.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem, nada lhe falta:
Só Deus basta.
Eleva o pensamento. Ao céu sobe.
Por nada te angusties. Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, Com grande entrega,
E, venha o que vier, Nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
Nada tem de estável, Tudo passa.
Deseje as coisas celestes, Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, Bondade Imensa;
Quem a Deus tem, Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta.
SÓ DEUS BASTA!"
( Teresa d’Ávila – Santa Teresa de Jesus)
Coleção de Microorquídeas



Coisas que acontecem em dia qualquer nestes tempos difíceis.


“… um menino de uns 10 anos estava parado, na frente de uma loja de sapatos olhando a vitrine e tremendo de frio. Uma senhora aproximou-se do menino e disse-lhe:

“Meu pequeno o que você está olhando com tanto interesse nesta vitrine”.
O menino então respondeu :
“Estava pedindo a Deus que me desse um par de sapatos”.
A senhora o tomou pela mão e o levou para dentro da loja, pediu ao empregado que lhe desse meia dúzia de pares de sapatos para o menino. Perguntou ao empregado se poderia lhe emprestar uma bacia com água e uma toalha. O empregado trouxe-lhe rapidamente o que pediu. A senhora levou o menino à parte traseira da loja, retirou as luvas, lavou os pés do menino e secou-os com a toalha. Então o empregado chegou com os sapatos, a senhora pôs-lhe um par deles no menino e os comprou-lhe. Juntou os outros pares e os deu ao menino. Afagou o menino na cabeça e disse-lhe:
“não há dúvida que você se sente agora mais confortável”.
O menino a abraçou, e quando ela já se voltava para sair, o menino com lágrimas nos olhos, lhe perguntou:
“A senhora é a esposa de Deus?

20 de outubro de 2021

E o ódio abunda em Pindorama

E o ódio abunda em Pindorama. O cardápio é variado:
Temos ataques racistas em POA, códigos secretos para avisar a presença de pobres e pretos na Zara.
Mas temos também o destempero do deputado que com Xingamentos agride o Bipo, e sobraram até para o Papa.
Tem também gente faminta revirando caminhão de lixo, disputa de ossos, na cidade maravilhosa gente em situação de grave miserabilidade.
O caos vai se estabelecendo de norte a sul deste Brasil varonil, coração do mundo (melhor seria dizer, coração imundo) pátria do evangelho ( ou seria do evangélico?).
O dólar sobe, a bolsa desce, o desemprego aumenta e o desespero começa a tomar conta. Mas temos piadas, memes, musiquinhas a cada dia mais atuais, para nos fazer rir. Para nos manter adestrados e comportados.
Fiquei pensando cá comigo, bem que podiam escolher a hiena como representante dessa nossa gente varonil. Ou terá algum outro animal mais “positivo” do que elas? Já que mesmo comendo merda estão sempre a sorrir.
Ela não é fofa



27 de setembro de 2021

Salve as crianças ! Salvem as Crianças e todos nós !


Parece que essa ausência das crianças, da alegria barulhenta delas, nos denuncia que há uma mudança muito ruim à nossa volta. Há gente que está desvirtuando e demonizando esse jeito simples de ser criança, de correr arás de doces, de reverenciar  os santos médicos, que para o gosto popular, foram sincretizados como crianças. Verdadeiros arquétipos da alegria, da simplicidade do jeito bom de ser eternamente criança. Não há espaço para isso mais. Mas não culpem a pandemia. Isso começou bem antes. Começou quando a intolerância seletiva passou a ter espaço, quando gente corrupta resolveu acabar com a corrupção, dos outros. Quando os supostos evangélicos passaram a agir na contramão do que pregam os evangelhos, quando o preconceito, o racismo, a homofobia e tudo mais de ruim que  os auto proclamados “gente de bem“ perderam a vergonha de mostrar publicamente. 

Foi desde aí que espancar pessoas homoafetivas, amarrar meninos negros em postes e começaram a bradar que bandido bom é bandido morto. Mas  eles só não dizem que depende do bandido. Porque bandido branco e rico, esses estão acima de qualquer condenação, e dependendo são merecedores de votos e de cargos nos altos escalões governamentais.
Hoje  minha oração tem endereço certo, eu a dirijo aos santos médicos, aos santos meninos, peço a eles que pelo bem desta nação, que dizem ter sido abençoada por Deus, e que parece caiu nas garras de algum espírito trevoso, que eles venham em nosso socorro. Que eles tomem Jesus, o verdadeiro, o que disse que o reino era dos puros, das crianças, dos ladrões e das prostitutas, antes de ser dos sacerdotes e auto proclamados “homens de bem”, que de mãos dadas com ele, o divino mestre e que ele, como fez no tempo quando andava nesta terra, de chicote na mão, expulse essa gente falsa, esses vendilhões que dizem falar em seu nome, que usam trechos do evangelho que exalta a verdade, para esconder suas mentiras. Que ele, o senhor dos senhores expulse de uma vez por todas esse verdadeiro câncer que adoenta a nossa terra de Santa Cruz, o Brasil de todos os brasileiros: índios, negros, brancos, mulatos, pobres e também ricos, desde que tenham boa vontade.
 São Cosme e São  Damião, os santos médicos, Doum, Crispim Crispiniano, Caboclinhos da mata e toda sorte de crianças nós estamos pedindo, venham salvar este país, porque já estamos perdendo a alegria, essa alegria infantil de nossas crianças interiores que sempre nos ajudaram a seguir em frente com confiança.
Salve Cosme e Damião ! Salve  os Erês !
SALVEM AS NOSSAS CRIANÇAS!
SALVEM-NOS!

28 de agosto de 2021

Alvorecer aos 70...


Silencio e me recolho para contemplar.
sirvo-me daquela oração havaiana:

“Minhas queridas memórias, eu as amo...”

Olhar o desenrolar da vida traz um gosto doce,
Que vez por outra, se mistura com o sal daquela lágrima
De alegre emoção, ou de uma  lembrança saudosa.
As vezes é  uma dor funda
Que vem de um canto triste da memória...
Mas há também lembrança boa,
Lembrar da risada gostosa de minha mãe preta,
E também dos carinhos da minha vó branca,
As reuniões familiares, o alvoroço dos primos...
De um tempo em que a vida passava bem devagar.
    
               

Quanta ternura neste baú de lembranças...
Remexendo encontro o pátio da escola pública,
Amigos, professora, comemorações cívicas...
E de repente o desafio do curso de admissão ao ginasial.
Revejo então a chegada no ginasial,
A insegurança de um mundo novo,
Depois o colegial, a universidade o primeiro emprego...
Os anos de chumbo, os tempos cinzentos...
As muitas perdas, pai, irmã, mãe...
Amigos que foram exterminados pelo regime da época...
Mas nem tudo é  só cinza neste baú.
Salta então da memória
O casamento, os filhos as realizações...
São muitos os recortes de lembranças,
Tantos, nestas setenta voltas do sol
Que se relatados aqui se tornariam um livro.

Mas, olhando daqui,
Me parece que passaram tão rápido.
Teriam sido setenta mesmo ?

Mas, é tempo de olhar adiante.
Há muito que fazer ainda.
É hora de rever a bagagem
Abandonar, desapegar.
Há muita coisa, coisa demais até
Que só pertence ao passado,
É urgente libertá-las:

Minhas queridas memórias, eu as amo.
 Sou grato por poder libertá-las
E assim também me libertar...

É hora de transformar lembranças em experiência.

Minhas queridas memórias...

Lembro que ultrapassei, e muito, o meio da viagem,
Não faz  mais sentido acumular bagagem.
Pra onde eu vou agora,
Nas urgências desta vida,
Uma pequena maleta de  sonhos,
Uma mochila com boas esperanças,
Cheia de muito amor e bem querer,
Que acondicione bem uma boa porção
De bom humor e muitos sorrisos,
É só o que eu preciso, pra terminar bem
Essa minha feliz e bem sucedida viagem.
Hoje a palavra e o sentimento são um só:
Gratidão.

Sinto muito,
Se no caminho desapontei alguém.

Me perdoe,
Se mais que desapontar eu magoei ou ofendi alguém.

Sou Grato ,
Ao Divino Criador que tudo me deu,

E, é a ele que não me canso de dizer
Eu te amo

25 de agosto de 2021

«Oração do Coração»

meditação / Oração Hesicasta)   Henri Nouwen

A oração hesicástica, que leva ao descanso em que a alma habita com Deus, é a oração do coração. Para nós que damos tanta importância à mente, aprender a rezar com o coração e a partir dele tem importância especial. Os monges do deserto nos mostram o caminho. Embora não exponham nenhuma teoria sobre a oração, suas narrativas e seus conselhos concretos apresentam as pedras com as quais os autores espirituais ortodoxos mais tardios construíram uma espiritualidade magnífica. Os autores espirituais do monte Sinai, do monte Atos e os startsi da Rússia oitocentista apóiam-se todos na tradição do deserto. Encontramos a melhor formulação da oração do coração nas palavras do místico russo Teófano, o Recluso: "Rezar é descer com a mente ao coração e ali ficar diante da face do Senhor, onipresente, onividente dentro de nós". No decorrer dos séculos, essa perspectiva da oração tem sido central no hesicasmo Rezar é ficar na presença de Deus com a mente no coração, isto é, naquele ponto de nossa existência em que não há divisões nem distinções e onde somos totalmente um. Ali habita o Espírito de Deus e ali acontece o grande encontro. Ali, coração fala a coração, porque ali ficamos diante da face do Senhor, onividente, dentro de nós. É bom saber que aqui a palavra "coração" é usada em seu sentido bíblico pleno. em nosso meio, ela se tornou lugar-comum. Refere-se à sede da vida sentimental. Expressões como "coração partido" e "sentido no coração" mostram ser comum pensarmos no coração como o lugar quente onde se localizam as emoções, em contraste com o frio intelecto onde têm lugar nossos pensamentos. Mas, na tradição judeu-cristã, a palavra "coração" refere-se à fonte de todas as energias físicas, emocionais, intelectuais, volitivas e morais.


No coração, originam-se impulsos impenetráveis, além de sentimentos, disposições e desejos conscientes. O coração também tem suas razões e é o centro da percepção e do entendimento. Finalmente, ele é a sede da vontade: faz planos e chega a uma boa decisão. Assim, é o órgão central e unificador de nossa vida pessoal. Nosso coração determina nossa personalidade e é, portanto, não só o lugar onde Deus habita mas também o lugar ao qual Satanás dirige seus ataques mais ferozes. Esse coração é o lugar da oração. A oração do coração dirige-se a Deus a partir do centro da pessoa e, assim, afeta toda a nossa compaixão.

Um dos monges do deserto, Macário, o Grande, diz: "A tarefa principal do atleta (isto é, do monge) é entrar em seu coração". Isso não significa que o monge deva procura encher sua oração de sentimento; signfica que deve esforçar-se para deixar que ela remodele toda a sua pessoa. O discernimento mais profundo dos monges do deserto é que entrar no coração é entrar no Reino de Deus. Em outras palavras, o caminho para Deus é pelo coração. Isaac, o Sírio, escreve:

«Procure entrar na câmara do tesouro... que está dentro de você e então descobrirá a câmara do tesouro do céu. Pois ambas são a mesma coisa. Se conseguir entrar em uma, você verá ambas. A escada para este Reino está escondida dentro de você, em sua alma. Se você purificar a alma, ali verá os degraus da escada que deve subir.»

E João de Cárpato diz:

«É preciso grande esforço e luta na oração para alcançar aquele estado da mente que é livre de toda perturbação; é um céu dentro do coração (literalmente 'intracardíaco'), o lugar onde, como o apóstolo Paulo assegura, "Cristo está em vós.» (2Cor13,5).

Em suas falas, os monges do deserto nos indicam uma visão bastante holística de oração. Eles nos afastam de nossas práticas intelectuais, nas quais Deus se transforma em um dos muitos problemas com os quais temos de lidar. Mostram-nos que a verdadeira oração penetra no âmago de nossa alma e não deixa nada sem tocar. A oração do coração não nos permite limitar nosso relacionamento com Deus a palavras interessantes ou emoções piedosas. Por sua própria natureza, essa oração transforma todo o nosso ser em Cristo, precisamente porque abre os olhos de nossa alma à verdade de nós mesmos e também à verdade de Deus. Em nosso coração passamos a nos ver como pecadores abraçados pela misericórdia de Deus. É essa visão que nos faz clamar: "Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tem misericórdia de mim, pecador". A oração do coração nos exorta a não esconder absolutamente nada de Deus e a nos entregar incondicionalmente a sua misericórdia.

Assim, a oração do coração é a oração da verdade. Desmascara as muitas ilusões sobre nós mesmos e sobre Deus e nos conduz ao verdadeiro relacionamento do pecador com o Deus misericordioso. Essa verdade é o que nos dá o "descanso" do hesicasta. Quando ela se abriga em nosso coração, somos menos distraídos por pensamentos mundanos e nos voltamos mais sinceramente para o Senhor de nossos corações e do universo. Assim, as palavras de Jesus: "Felizes os corações puros: eles verão a Deus" (Mt 5,8) tornam-se reais em nossa oração. As tentações e as lutas continuam até o fim de nossas vidas, mas com um coração puro ficamos tranqüilos, mesmo em meio a uma existência agitada.

Isso levanta o problema de como praticar a oração do coração em um ministério bastante agitado. É a essa questão de disciplina para a qual precisamos agora voltar a atenção.

                                  

                                                       Kombuskini ou Chapelet   

Oração e ministério

Como nós, que não somos monges nem vivemos no deserto, praticamos a oração do coração? Como ela influencia nosso ministério cotidiano?

A resposta a essa pergunta está na formulação de uma disciplina definitiva, uma regra de oração. As características da oração do coração que nos ajudam a formular essa disciplina:

— A oração do coração alimenta-se de orações breves e simples.

— A oração do coração é incessante.

— A oração do coração inclui tudo.

— Alimenta-se de Orações Breves

No contexto de nossa cultura verbosa, é significativo ouvir os monges do deserto nos aconselhando a não usar palavras em excesso:

«Perguntaram ao aba Macário: 'Como se deve rezar?' O ancião respondeu: 'Não há, em absoluto, necessidade de fazer longos discursos; basta estender a mão e dizer: Senhor, como queres e como sabes, tem misericórdia. E se o conflito ficar mais ameaçador, dizer: Senhor, ajuda. Ele sabe muito bem do que precisamos e nos mostra sua misericórdia.»

João Clímaco é ainda mais explícito:

«Quando rezar, não procure se expressar em palavras extravagantes pois, quase sempre, são as frases simples e repetitivas de uma criancinha que nosso Pai do céu acha mais irresistíveis. Não se esforce em muito falar, para que a busca de palavras não lhe distraia a mente da oração. Uma única frase nos lábios do coletor de impostos foi suficiente para lhe alcançar a misericórdia divina; um pedido humilde feito com fé foi suficiente para salvar o bom ladrão. A tagarelice na oração sujeita a mente à fantasia e à dissipação; por sua natureza, as palavras simples tendem a concentrar a atenção. Quando encontrar satisfação ou contrição em determinada palavra de sua oração, pare nesse ponto.»

Essa é uma sugestão muito útil para nós que tanto dependemos da capacidade verbal. A tranqüila repetição de uma única palavra ajuda-nos a descer com a mente ao coração. (Também a base da OC, nota da autora do site). Essa repetição nada tem a ver com mágica. Não tem o propósito de enfeitiçar Deus, nem de forçá-lo a nos ouvir. Pelo contrário, uma palavra ou sentença repetida com freqüência ajuda-nos a nos concentrar, a nos mover para o centro, a criar uma tranqüilidade interior e, assim, a ouvir a voz de Deus. Quando simplesmente tentamos ficar sentados em silêncio e esperar que Deus nos fale, nos vemos bombardeados por intermináveis pensamentos e idéias conflitantes. Mas quando usamos uma sentença bastante simples como: "Ó Deus, vem em meus auxílio", ou "Jesus, mestre, tem piedade de mim", ou uma palavra como "Senhor" ou "Jesus", é mais fácil deixar as muitas distrações passarem sem nos deixarmos iludir por elas. Essa oração simples, repetida com facilidade, esvazia aos poucos nossa vida interior apinhada e cria o espaço sossegado onde habitamos com Deus. É como uma escada pela qual descemos ao coração e subimos a Deus. Nossa escolha de palavras depende de nossas necessidades e das circunstâncias do momento, mas é melhor usar palavras da Escritura.

Quando somos fiéis a essa oração simples e a praticamos com regularidade, ela nos conduz devagar a uma experiência de descanso e nos abre à presença ativa de Deus. Além disso, em um dia muito atarefado, podemos levar essa oração conosco. Quando, por exemplo, passamos, no início da manhã, 20 minutos sentados na presença de Deus com as palavras: "O Senhor é meu pastor", elas lentamente constroem em nosso coração um pequeno ninho para si mesmas e ali ficam o restante de nosso dia atarefado. Até enquanto falamos, estudamos, cuidamos do jardim ou construímos alguma coisa, a oração continua em nosso coração e nos mantém conscientes da orientação onipresente de Deus. A disciplina não é agora dirigida para um discernimento mais profundo do que significa chamar Deus de nosso Pastor, mas para a íntima experiência da ação pastoral de Deus em tudo que pensamos, dizemos ou fazemos.

Incessante

A segunda característica da oração do coração é ser incessante. A pergunta de como seguir a ordem de Paulo: "Orai incessantemente" foi fundamental no hesicasmo desde a época dos monges do deserto até a Rússia oitocentista. Há muitos exemplos desse interesse nos dois extremos da tradição hesicástica. (Vejamos um dos principais:)

                                  ...

Na famosa história do Peregrino Russo lemos:

«Pela graça de Deus sou cristão, mas pelas minhas ações sou um grande pecador... No vigésimo quarto domingo depois de Pentecostes, fui à igreja para ali fazer minhas orações durante a liturgia. Estava sendo lida a primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses e, entre outras palavras, ouvi estas: 'Orai incessantemente' (1Ts 5,17). Foi esse texto, mais que qualquer outro, que se inculcou em minha mente, e comecei a pensar como seria possível rezar incessantemente, já que um homem tem de se preocupar também com outras coisas a fim de ganhar a vida.»

O camponês foi de igreja em igreja, para ouvir sermões, mas não encontrou a resposta que queria. Finalmente, encontrou um santo staretz que lhe disse:

«A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus. Para sermos bem-sucedidos nesse exercício consolador, precisamos suplicar com mais freqüência a Deus que nos ensine a rezar sem cessar. Rezar mais e rezar com mais fervor. É a própria oração que lhe revela como rezá-la sem cessar; mas leva algum tempo.»

Então, o santo staretz ensinou ao camponês a Oração de Jesus: "Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia de mim". Enquanto viajava como peregrino pela Rússia, o camponês passou a repetir essa oração com os lábios. Até considerava a oração de Jesus sua companheira verdadeira. E, então, um dia, teve a sensação de que a oração passou sozinha de seus lábios para seu coração. Ele diz:

«... parecia que, pulsando normalmente, meu coração começava a dizer as palavras da oração a cada batida... Desisti de dizer a oração com os lábios. Passei simplesmente a ouvir o que meu coração dizia.»

Aqui aprendemos outro jeito de chegar à oração incessante. A oração continua a rezar dentro de mim, até enquanto falo com os outros ou me concentro no trabalho manual. Ela se torna a presença ativa do Espírito de Deus que me guia pela vida.

Desse modo vemos como, pela caridade e pela atividade da oração de Jesus em nosso coração, nosso dia todo se transforma em oração contínua. Não sugiro que imitemos o peregrino russo, mas que, também nós, em nosso ministério atarefado, nos preocupemos em rezar sem cessar, para que, seja o que for que comamos ou bebamos, seja o que for que façamos o façamos pela glória de Deus. (Veja 1Cor 10,31). Amar e trabalhar pela glória de Deus não pode permanecer uma idéia sobre a qual pensamos de vez em quando. Deve se tornar uma incessante doxologia interior.

Inclui tudo

Uma última característica da oração do coração é que ela inclui todos os nossos interesses. Quando entramos com a mente no coração e ali ficamos na presença de Deus, então todas as nossa preocupações mentais se transformam em oração. O poder da oração do coração é precisamente que, por meio dela, tudo que está em nossa mente se transforma em oração.

Quando dizemos a alguém: "Vou rezar por você", assumimos um compromisso muito importante. É uma pena que esse comentário muitas vezes não passe de uma expressão de interesse. Mas, quando aprendemos a descer com nossa mente em nosso coração, todos os que fazem parte de nossa vida são guiados à presença curativa de Deus e tocados por ele no centro de nosso ser. Falamos aqui de um mistério para o qual palavras são inadequadas. É o mistério em que o coração, centro de nosso ser, é transformado por Deus em seu coração, um coração grande o bastante para abraçar todo o universo. pela oração, carregamos em nosso coração toda a dor e tristeza humanas, todos os conflitos agonias, toda a tortura e a guerra, toda a fome, solidão e miséria, não por causa de alguma grande capacidade psicológica ou emocional, mas porque o coração de Deus uniu-se ao nosso.

Aqui vislumbramos o sentidos das palavras de Jesus:

«Tomais sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque eu sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas. Sim, o meu jugo é fácil de carregar, e o meu fardo é leve.» (Mt 11,29-30).

Jesus nos convida a aceitar seu fardo, que é o do mundo todo, um fardo que inclui o sofrimento humano em todos os tempos e lugares. Mas esse fardo divino é leve e podemos carregá-lo quando nosso coração se transforma no coração manso e humilde de nosso Senhor.

Vemos aqui o íntimo relacionamento entre oração e ministério. A disciplina de conduzir todo o nosso povo com suas lutas ao coração manso e humilde de Deus é a disciplina de oração e também do ministério. Enquanto o ministério significar apenas que nos preocupamos muito com as pessoas e seus problemas; enquanto significar um número interminável de atividades que dificilmente conseguimos coordenar, ainda dependeremos muito de nosso coração tacanho e ansioso. Mas quando nossas preocupações são elevadas ao coração de Deus e ali se transformam em oração, ministério e oração se tornam duas manifestações do mesmo amor universal de Deus.

Vimos como a oração do coração se nutre de orações breves, é incessante e inclui tudo. Essas três características mostram como a oração do coração é o alento da vida espiritual e de todo o ministério. Na verdade, essa oração não é apenas uma atividade importante, mas o próprio centro da nova vida que queremos representar e na qual queremos iniciar nosso povo. As características da oração do coração deixam claro que ela exige uma disciplina pessoal. Para levar uma vida de oração não podemos passar sem orações específicas. Precisamos dizê-las de uma forma que nos ajude a ouvir melhor o Espírito que reza em nós. Precisamos continuar a incluir em nossa oração todas as pessoas com as quais e para as quais vivemos e trabalhamos. Essa disciplina vai nos ajudar a passar de um ministério entontecedor, fragmentário e muitas vezes frustrante para um ministério integrador, holístico e muito gratificante. Ela não vai facilitar o ministério, mas simplificá-lo; não vai torná-lo doce e piedoso, mas sim espiritual; não vai fazê-lo indolor e sem lutas, mas tranqüilo no verdadeiro sentido hesicástico."

FONTE:

NOUWEN, Henri J. M. A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo - O Caminho do Coração. São Paulo: Ed. Loyola, 2000.

21 de agosto de 2021

Vai, segue seu caminho...

Este é um ensinamento cristão de verdade, não o monte de culpas e medo com que algumas pessoas oprimem seus irmãos. Jesus veio libertar a humanidade e não criar um bando de seguidores neuróticos dependentes de falsos seguidores em sua mensagem de amor e paz.

Li hoje esse texto e achei ele perfeito não é de minha autoria, embora eu gostaria de trê-lo escrito. Não havia indicação de autor.

Estava andando no supermercado hoje, e de repente ouvi um barulho de coisa quebrando. Cruzei o supermercado, e notei que tinha alguns funcionários cochichando. Quando entrei no corredor prá onde olhavam, vi uma cena triste. A repositora tinha batido o carrinho na gôndola de pratos e copos. Ela, ajoelhada, em desespero juntando os cacos, enquanto seu colega pegava cada código de barra de cada louça quebrada dizendo: viu? viu? Agora a conta disso vai sobrar pra você.
Cena triste. Alguém que errou, com aquele show de olhares encima. Quando me aproximei, um rapaz veio, se ajoelhou ao lado dela e disse:

                            

- Deixa aí, que a gente limpa. Pede para o bombeiro ver esse corte na sua mão.

Ela olhou prá ele, com uma afeição envergonhada e disse:

- Não! Eu tenho que juntar isso prá pagar.

Aquele rapaz apenas disse:

- Fique tranquila! Temos seguro para esse tipo de perda, e você não tem que pagar nada.
Segue, vai!
O rapaz, quando levantou, pude notar que ele tinha a identificação de gerente do supermercado.

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Prá você que leu até aqui, gostaria que você me desse um minuto apenas. Aonde estiver, feche seus olhos, e imagine Deus fazendo o mesmo por você!
Ele te ajudando a recolher os cacos que a vida traz de graça.
Ele te curando e dando a certeza que seus pecados e erros serão perdoados.
Existe um seguro chamado “Graça”, que se você aceitar quando reconhecer que errou, o Gerente da Existência do Universo dirá:
SEGUE, VAI!
 Os seus erros, não intencionais, não premeditados e sem nenhuma maldade jamais lhe serão cobrados.


17 de agosto de 2021

Conheça a teoria do centésimo macaco ou teoria da ressonância mórfica

Você já ouviu falar sobre a teoria do centésimo macaco?


Por onde se olha o que se vê são absurdos, e pior, absurdos sendo aceitos e seguidos por pessoas que se dizem "do bem". O fanatismo religioso parece que ganhou o mundo.

Nossa indignação já não é suficiente, o sentimento de impotência é o que mais me incomoda neste momento. Um pai que entrega a filha ao Talibã, porque ela insiste em estudar e eles, arrancam-lhe os olhos, não é diferente do pai que espanca o filho para ele deixar de ser homossexual. Os poderosos que mantém pessoas escravizadas em nossos dias por pura ganância ou ainda, adolescentes, que colocam fogo em um mendigo que dorme na calçada nestas madrugadas frias, são realidades paralelas a estes horrores.

Alguma coisa está fora da ordem, ou sempre esteve e nós fingíamos que não víamos ou não vemos. Afinal prender um jovem, torturá-lo e condena-lo a morte em uma cruz, não é muito diferente do que estamos vendo hoje.
Na essência destes absurdos sempre vamos encontrar o fanatismo e a ganância.
Tenho me perguntado muitas vezes como podemos sair disso e a resposta é sempre a mesma: buscando a mudança e a melhoria individual.
 
Acreditando que um dia, como naquele fenômeno do centésimo macaco, sejamos em número suficiente, e assim como do nada os macacos aprenderam a lavar batatas sem que ninguém lhes ensinasse, nós os humanoides passemos, não a lavar batatas, mas a nos amar e respeitar, na descoberta de que todos fazemos parte da mesma unidade.

A teoria foi criada pelo biólogo teórico Rupert Sheldrake, resumidamente ela diz que uma mudança no comportamento de uma espécie irá ocorrer quando um número exato necessário é alcançado.

Quando isso acontecer, o comportamento ou hábitos de toda a espécie será alterado.
A história também é descrita em observações científicas, como na versão escrita por Ken Keyes Jr.
Foi realizado um estudo por cientistas em duas ilhas tropicais no Japão, que tinha o objetivo de analisar a colônia de macacos de mesma espécie, mas sem qualquer contato perceptível entre si.

Os cientistas começaram a observar um macaco em  uma pequena ilha chamada Koshima.  Ele gostava de batata-doce, raiz abundante na região. Ele descobriu que a iguaria poderia ficar muito mais saborosa se lavada antes.
Ele então começou a retirar a terra da batata-doce mergulhando-a na água. Depois, descobriu que poderia usar uma das mãos para segurar a batata submersa e a outra mão para retirar o barro que não tinha saído sozinho.

Depois de várias tentativas e erros, um macaco descobre uma maneira inovadora de lavar batatas antes de come-las, o que permite aproveitar melhor a batata sem a terra que lhe envolvia. Ninguém jamais havia lavado batatas dessa forma. Por imitação, o procedimento rapidamente se replica entre os seus companheiros e logo uma população de 99 macacos domina o novo jeito de lavar batatas.

"A ressonância mórfica é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo."
Quando o centésimo animal da ilha "A" aprende a técnica recém-descoberta, os macacos da ilha "B" começam espontaneamente a lavar batatas da mesma maneira, sem que ninguém os tenha ensinado.
Então a promessa da teoria do centésimo macaco diz que:
quando um número crítico de pessoas mudar seu comportamento ou atitude, a cultura como um todo mudará. O que não podia ser imaginado, é feito por alguns, depois por muitos, até que um número crítico de pessoas faz a mudança e torna-se o padrão de como nós iremos agir e do que somos como seres humanos.
“A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal”
— Rupert Sheldrake
Este experimento está descrito no Livro "Centésimo Macaco" de Ken Keyes Jr.
Se não nos é possível mudar o mundo, mudemos nós, desta forma estaremos contribuindo para que num futuro, quem sabe, a mudança aconteça espontaneamente.

7 de agosto de 2021

08 de agosto de2021: Um ano da Páscoa Do irmão Pedro Casaldáliga




Chamar-me-ão de subversivo
Eu responderei incisivo:
O sou. Pelo meu povo que luta,
Pelo meu povo que trilha apressado
Caminhos de sofrimento.
Eu tenho fé de guerrilheiro
E amor de revolução.


                                                             
             Pedro Casaldáliga
Barcelona 16/02/1928 -   Batatais ( SP) 08/08/2020

Ser o que se é
Falar o que se crê
Crer no que se prega
Viver o que se proclama
Até as últimas consequências

                   
  Pedro Casaldáliga o  santo que viveu entre nós

Malditas sejam todas as cercas!
Malditas todas as propriedades privadas que
nos privam de viver e de amar!
Malditas sejam todas as leis,
amanhadas por umas poucas mãos,
para ampararem cercas e bois
e fazerem da terra escrava
e escravos os homens!

     



Pedro Casaldáliga
O espanhol que adotou o Brasil  para defender seu povo


Não acontece todos os dias acompanhar o sepultamento de um santo


Ao final do caminho me dirá

E tu, viveste? Amaste?

E eu, sem dizer nada,

Abrirei o coração cheio de nomes

 


Pedro foi sepultado num cemitério indígena
às margens do seu Araguaia







6 de agosto de 2021

Até quando vamos conviver e tolerar a intolerância?

 


Hoje o face me trouxe uma postagem de 2019 que a amiga Inês, havia enviado  pelo zap. Vi que ela serve e se encaixa neste meu momento reflexivo, já que mostra diálogos perfeitamente possíveis e atuais.Tenho visto e ouvido coisas assim o tempo todo...

No elevador :

- Friozinho hoje, né?

- Não me lembro de ninguém reclamando do tempo quando eram os ladrões que estavam no governo.

- Não reclamei, senhora. Só comentei que está frio.

- Se prefere o calor insuportável de antes, vai pra Cuba, que lá é quente do jeito de vocês gostam.

- Vocês quem?

- Vocês que se locupletaram durante 13 anos, e agora, não tendo do que reclamar, botam a culpa de tudo no nosso presidente, que quase morreu pelo país.  Até o frio...

(Silêncio. A senhora, toda encasacada, desce no 4º andar, pisando duro e sem olhar para trás.

Entra um rapaz.

- Como tem gente maluca neste mundo. Comentei que estava frio e aquela senhora saiu cuspindo marimbondo, como se eu estivesse fazendo crítica política.

- E não estava?

- Não, só comentei que esfriou hoje e...

- E você acha que este frio não tem a ver com o aquecimento global? , Com a devastação das florestas? Com essa política ambiental criminosa? Com esse clima horroroso que vocês implantaram no país?

- Vocês quem?

- Vocês, fundamentalistas retrógrados, entreguistas.

- Mas...

- Eu não dialogo com fascistas.  Silêncio.


O rapaz, de camiseta regata, desce no térreo, pisando duro e sem olhar para trás.
Uma mocinha que aguarda o elevador pergunta:

- Está descendo ou subindo?

Uma outra pessoa :
- Não sabe se quer subir ou descer?
Decida-se primeiro, em vez de ficar aí em cima do muro.
É por culpa de vocês, isentões, que o Brasil está desse jeito!

 

Chegamos a um estágio em que as pessoas, na verdade será melhor dizer, nós, reagimos antes de pensar. É como se cada um tivesse uma pedra na mão prestes a ser lançada.
Nas redes ditas sociais então, elas a todo momento estão sendo arremessadas e podem fazer grandes estragos, como aconteceu essa semana com o rapaz de 16 anos e que, a partir do turbilhão de agressões e críticas, nas redes, não suportou e, acabou cometendo suicídio.

Estas redes hoje são povoadas por todo tipo de mentiras, as tais “fake News”, por pessoas preconceituosas, moralistas, fanáticos religiosos, sem falar nos sem limite que se acham no direito de entrar em postagens onde não foram chamados, para ultrapassar o direito de discordar.

Não sei se a pandemia acabou por agravar essa situação, tendo em vista o isolamento social e a tensão gerada pelo medo e falta do convívio social.Fato é que eu percebo que o caminho do meio, apregoado sabiamente pelos budistas, está cada vez mais fora do repertório das relações interpessoais. Estar no centro hoje assumiu uma imagem desgastada, que aos poucos parece ser associada com manipulação e falta de honestidade. Restam então os extremos, que se agridem permanentemente, sendo que em muitos casos de forma fanática e radical. Não há mais espaço para a pluralidade, para uma convivência que toler e respeita as diferenças. O que acaba sendo produzido é uma agressão que destrói relações e vem se tornando frequente e ascendente.

Não quero e não vou entrar nessa guerra de ideias e na sedução do reclamar sem avaliar o proveito deste ato de reclamar.
Não pretendo perder a harmonia e a paz e ter que aturar agressões de quem pensa diferente de meus valores sociais, morais e políticos. Já repeti inúmeras vezes que vejo no cristianismo primitivo o modelo mais acertado de convivência. É um modelo de tolerância e respeito e sim, é um modelo que serviu de base para o socialismo. Na verdade, o revolucionário de Nazaré só não tlerava quem era intransigente intolerante com os indefesos e excluídos, de resto acolhia a todos e deixava isso muito claro quando afirmava que os ladrões e as prostitutas precederiam os sacerdotes do tempo no paraíso. Ele foi claro e inclusivo quando disse á “pecadora” que se os moralistas não a condenaram ele também não a condenaria. Ao centurião romano que sabia que sua casa não era digna que um judeu lá entrasse, já que transgredia as leis mantendo “um escravo que ele muito amava’ e que estava enfermo, Jesus não teve dúvidas em curá-lo sem nem mesmo ir presencialmente lá. E a samaritana adultera, já que tinha tido não um, mas cinco maridos? Ele se limitou a dizer a ela que na verdade apesar de ter tido cinco não tinha nenhum.
Duas ciosas saltam aos olhos nos relatos dos evangelhos, tolerância e inclusão. Ele incluía a todos, mulheres tidas como inferiores no judaísmo da época, cobradores de impostos, mulheres condenadas pela sociedade da época, e até sacerdotes, desde que não tivessem o abominável comportamento farisaico, esse sim jamais tolerado por justamente ser oposto da mensagem de amor, inclusão e aceitação das criaturas de seu Pai. Esse tem sido um modelo que tento imperfeitamente seguir, confesso que com pouco sucesso.

Tenho percebido que às vezes me demoro demais nos círculos de críticos e reclamadores, e isso acaba por me frustrar, e além de não produzir os resultados esperados, ou seja, provocar as mudanças necessárias, acaba por alterar meu humor e me jogar num processo de desesperança, falta de fé  e ansiedade, que em nada ajudam na resolução da séria crise que atravessamos. Essa convivência também produz um efeito colateral que considero bastante negativo, que é nos manter atrelados por longos períodos no celular, logados nas tais redes, mais antissociais do que sociais.
Sirvo-me deste texto não com a pretensão de fazer alguém mudar de atitude ou de condenar o comportamento alheio, mas tomo-o como uma reflexão para colocar minhas ideias de forma mais claras para mim e como forma de rever minhas atitudes e comportamentos, de forma a organizar melhor  meu processo de mudança e crescimento.
Já há algum tempo adotei como lema para minha vida,  parte de um samba antológico do Cartola, o grande Cartola, da minha querida Mangueira que diz assim:
 “ A sorrir, eu pretendo levar a vida, pois chorando eu vi a mocidade perdida...”

 E é uma verdade, a minha mocidade foi abortada pela ditadura e hoje eu quero tomar muito cuidado para não ter também a minha velhice perdida. Na verdade eu sei, como prossegue o samba, que  “finda a tempestade, o sol nascerá...” quero muito conseguir ver esse sol nascente outra vez.