O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

20 de outubro de 2019

Os riscos da arrogância do Império

Leonardo Boff

Conto-me entre os que se entusiasmaram com a eleição de Barack Obama para Presidente dos EUA, especialmente vindo depois de G. Bush Jr, Presidente belicoso, fundamentalsta e de pouqíssimas luzes. Este acreditava da iminência do Armagedon bíblico e seguia à risca a ideologia do Destino Manifesto, um texto inventado pela vontade imperial norteamericana, para justificar a guerra contra o México, segundo o qual os EUA seriam o novo povo escolhido por Deus para levar ao mundo os direitos humanos, a liberdade e a democracia. Esta excepcionalidade se traduziu numa histórica arrogância que fazia os EUA se arrogarem o  direito de levar ao mudo   inteiro, pela política ou pelas armas,  o seu estilo de vida e sua visão do mundo.

Esperava que o novo Presidente não fosse mais refém desta nefasta e jorjada  eleição divina, pois anunciava em seu programa o multilateralismo e a não hegemonia. Mas tinha lá minhas desconfianças, pois atrás do Yes, we can (“sim, nós podemos”) podia se esconder a velha arrogância. Face à crise econômico-financeira apregoava que os EUA mostrou em sua história que podia tudo e que ia superar a atual situação. Agora por ocasião do assassinato de Osama bin Laden ordenada por ele ( num Estado de direito que separa os poderes, tem o Executivo  o poder de mandar matar ou não cabe isso ao Judiciário que manda prender, julgar e punir?)  caiu a máscara. Não teve como esconder .a arrogância atávica.
O Presidente, de extração humilde, afrodescentente, nascido fora do Continente, primeiramente muçulmano e depois convertido evangélico, disse claramente:”O que aconteceu domingo envia uma mensagem a todo o mundo: quando dizemos  que nunca vamos esquecer, estamos falando sério”. Em outras palavras: “Terrorristas do mundo inteiro, nós vamos assassinar vocês”. Aqui está revelada, sem meias palavras, toda a arrogância e a atitude imperial de se sobrepor a toda  ética.
Isso me faz lembrar uma frase de um teólogo que serviu por 12 anos como assessor da ex-Inquisição em Roma e que veio me prestar solidariedade por ocasião do processo doutrinário que lá sofri. Confessou-me:”Aprenda da minha experiência: a ex-Inquisição, não esquece nada, não perdoa nada e cobra tudo; prepare-se”. Efetivamente assim foi o que senti. Pior ocorreu com um teólogo moralista, queridíssimo em toda a cristandade, o alemão, Bernhard Hâring, com câncer na garganta a ponto de quase não poder falar. Mesmo assim foi submetido a rigoroso interrogatório na sala escura daquela instância de terror psicológico por causa de algumas afirmações sobre sexualidade. Ao sair confessou:“o interrogatório foi pior do que aquele que sofri com a SS nazista durante a guerra”. O que significa: pouco importa a etiqueta, católico ou nazista, todo sistema autoritário e totalitário obedece à mesma lógica:cobra tudo, não esquece e não perdoa. Assim prometeu Barack Osama e se propõe levar avante o Estado terrorista, criado pelo seu antecessor, mantendo o Ato Patriótico que autoriza a suspensão de certos direitos e a prisão preventiva de suspeitos sem sequer avisar aos familiares, o que configura sequestro. Não sem razão escreveu Johan Galtung, norueguês, o homem da cultura da paz, criador de duas instituições de pesqusa da paz e inventor do método Transcend na mediação dos conflitos (uma espécie de política do ganha-ganha): tais atos aproximam os EUA ao Estado fascista.
O fato é que estamos diante de um Império. Ele é consequência logica e necessária do presumido excepcionalismo É um império singular, não baseado na ocupação territorial ou em colônias mas nas 800 bases militares distribuidas pelo mundo todo, a maioria  desnecessária para a segurança americana. Elas estão lá para meter medo e garantir a hegemonia no mundo. Nada disso foi desmontado pelo novo Imperador, nem fechou Guantânamo como prometeu e ainda mais, enviou trinta mil soldados ao Afeganistão para uma guerra  de antemão perdida.
Podemos discordar da tese básica de Abraham P. Huntington em seu discutido livro O choque de civilizações. Mas nele há observações, dignas de nota, como esta: “a crença na superioridade da cultura ocidental é falsa, imoral e perigosa”(p.395). Mais ainda:”a intervenção ocidental provavelmente constitui a mais perigosa fonte de instabilidade e de um possível conflito global num mundo multicivilizacional”(p.397). Pois as condições para semelhante tragédia estão sendo criadas pelos EUA e pelos seus súcubos europeus.
Uma coisa é o povo norte-americano, bom, ingenioso, trabalhador e até  ingênuo que admiramos, outra é o Governo imperial, que não respeita tratados internacionais que vão contra seus interesses  e capaz de todo tipo de violência. Mas não há impérios eternos. Chegará  o momento em que ele será um número a mais no cemitério dos impérios mortos.

16 de outubro de 2019

Geraldo Magela, o “doidinho de Deus”

Geraldo era alguém muito interessante. Um jovem teimoso e insistente.
Era fraco e doente e ninguém o queria. Mas ele insistia e diante da negativa das ordens religiosos em aceita-lo partiu para o inusitado, resolveu perseguir pelo caminho os redentoristas, até que eles não tiveram como não o aceitar. Mas mesmo assim foi enviado para a ordem com um bilhete que o qualificava como um jovem fraco, doente e  inútil.
Ele não se importava. Dizia que queria ser santo. Aliás, foi isso que escreveu no bilhete que deixou em casa quando fugiu para ir atrás dos redentoristas: “Vou ser santo”.


Aprontou todas para atender aos pobres e excluídos, e fazia isso com a autoridade de quem era intimo da madona e do menino. Afinal era com ele que na sua infância ele brincava, e era sempre ela, a madona, que o presenteava com o pãozinho de farinha branca, uma raridade e um luxo proibido na época, que em casa ninguém compreendia onde ele tinha conseguido. Eram muito pobres, esses luxos (pães de farinha branca) eram coisa de quem tinha muitos recursos. E ele, com naturalidade dizia que fora a Madona, a mãe de seu amigo, que lhe havia presenteado. Chegou a causar suspeitas em sua mãe... Mas esse era Geraldo, que na necessidade se fazia de alfaiate para sustentar a família, sem nunca compreenderem como ele conseguia tal proeza sem nunca ter aprendido o oficio. Fazia muito mais, não sabia negar comida a quem pedia e, como era porteiro,  esvaziava a dispensa  para que nenhum pobre sentisse fome... Isso lhe causava castigos, mas sempre era socorrido por seu amigo e pela madona que sem que ele soubesse providenciavam tudo para que tudo se arranjasse.
Geraldo nunca se ordenou, na verdade sempre foi tido como muito fraquinho. Não lhe deram a chance de se torar um sacerdote.  Foi sempre um irmão na ordem que causava espanto por seus hábitos estranhos, tais como dormir no chão sob o altar, dizendo que não queria se afastar de seu grande amigo. Muitas vezes em suas andanças conversava e convencia assaltantes a não lhe roubar e a se converter.Certa vez por calúnia, foi castigado por seu superior, Santo Afonso de Ligório, que o proibiu de comungar. Contam que em sonho ele recebia regularmente o sacramento, até que a mentira tivesse sido desfeita e ele liberado. São muitas as histórias e muitos os relatos de situações extraordinárias. Talvez por isso seja um santo com tantos devotos, especialmente entre os necessitados e os perseguidos.

Ele era o “doidinho de Deus”, era assim que o chamavam, o “louquinho”, rejeitadoe tido como inútil, que nos convida a ir além das etiquetas e dos padrões para fazer a vontade daquele seu particular amigo, Jesus.
Jesus para ele era o prisioneiro do sacrário... posso dizer que foi ele que me apresentou a esse modo de se referir a Jesus: "O prisioneiro do altar", "o prisioneiro do sacrário". Dai o nome do blog que eventualmente publico algumas reflexões    https://prisoneirodoaltar.blogspot.com/
ou aqui mesmo neste blog :https://oabsurdoeagraca.blogspot.com/search/label/As%20Conversas%20com%20o%20prisioneiro%20do%20altar

 Que Geraldo nos inspire com sua vida completamente incomum, toda ela dedicada ao amor aos “pequeninos” de Jesus.

15 de outubro de 2019

Ainda há muita vida para ser vivida




Quando hoje eu vi que os livros esperando para serem lidos, estavam se empilhando, e que nos últimos dois meses eu tinha lido apenas metade de um único livro, vi que alguma coisa estava errada. Muito errada.

Ainda estou tentando descobrir quando foi que me perdi. Desde quando esse estado de loucura alucinada , que a todos nós tem envolvido, começou a nos afastar de nós mesmos. As redes certamente tem muito a ver com isso.
Eu estou começando a perceber que os dias estão passando muito rápido. Todos estamos muito ocupados em protestar, discutir e nos "informar"(?) Sobre o que fazem, dizem e determinam a famíglia que assumiu o poder.

Inimizades, paranóias, desarticulação, ódio, mal entendidos,mentiras...

Não vou chegar a lugar algum. Não conseguiremos tirar leite de pedras, por mais que se pretenda ordenhá-las.

Me lembrei do Vander Lee:
"Sabe o que eu (quero) agora meu bem,
Morar no interior do meu interior..."

É pra lá que eu estou me mudando.

Faces, zaps, instas, twitters... Estes só vão ter que se contentar com alguns poucos minutos diários..

Tenho muiiiitos livros reclamando leitura, muitas orquídeas cobrando cuidados, netas esperando que eu me sente a seu lado pra contar histórias...

 Tenho muita vida pra viver.ainda.

12 de outubro de 2019

A Mãe surgida das águas. Uma mãe de Deus morena, como o povo desta nossa terra.



Hoje Mãe quero te venerar assim, simples, sem manto e coroa, como teu povo sofrido, os teus devotos que não tem o que vestir. Um povo que vive por teimosia e que mesmo lutando para sobreviver não cansa de te agradecer. Quero te venerar do jeito que você escolheu se apresentar aoteu povo.




Mãe negra, Yá querida, chegaste pelas mãos de simples pecadores, certamente os poderosos não te aceitariam, danificada, sem cabeça. Mas insististe, e num segundo arremesso, entregou sua cabeça aos pescadores assustados com tamanha Graça.



Foram perseguidos, caluniados e até precisaram te esconder da fúria dos sacerdotes oficiais e dos poderosos. Mas não cansaste de nos dar sinais, e como que por pura provocação, em um milagre, fez romper as correntes de um cativo, mostrando o teu horror pela escravidão.
Neste dia em que todos se voltam para tí, inspira àqueles que vão te reverenciar com a repugnância a todo tipo de escravidão, inspira a todos nós com os ideais da libertação.



Hoje somos todos caipiras, pescadores e ardentes devotos de tí Mãe que se fez negra para mostrar que a mãe de Deus não tem cor, ela tem todas as cores porque a sua verdadeira cor é a cor do amor.
Salve a mãe do Céu Morena, a senhora Aparecida!


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