O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

25 de outubro de 2022

Não há o que temer para quem segue o Deus verdadeiro e sabe reconhecê-lo em sua intimidade.

 

Tenho ouvido relatos de oposição ao Papa Francisco e á ala progressista da igreja, que segue literalmente o discurso que encontramos no cap 25 do evangelho de Mateus. O que se vê hoje acontecendo em várias dioceses e nas comunidades chamadas de Vida e Aliança é algo que envergonha qualquer cristão consciente. Mas não podemos nos iludir, isso de certa forma, acontece há muitos séculos.

A igreja, em sua maioria, desde que se tornou “religião oficial”, esteve do lado oposto da mensagem Jesus. Ela se colocou do lado dos poderosos.  Houve tempos em que ela mesma era a poderosa e se ocupava mais dos bens, do que do Bem. Na verdade, os pequenos grupos que se alinham à mensagem dos evangelhos sempre foram perseguidos.  Muitos foram considerados heréticos e chegaram a ser exterminados pelas cruzadas. O próprio Francisco em Assis foi muito mal visto e acusado de desencaminhar jovens, de atentar contra a ordem.  E isso é muito antigo. Os padres do deserto, os eremitas, na verdade foram os primeiros a sofrer perseguição, exatamente por isso se isolaram e enterraram boa parte dos manuscritos que não tinham sido aceitos pela igreja "oficial". Aliás essa ideia de igreja oficial é algo bem diferente das comunidades autocéfalas dos primeiros tempos, e a convocação do primeiro concilio, o de Jerusalém, mostra bem, isso.

É muito triste ver que o Espírito Santo suscitou um papa para tentar colocar a igreja mais próxima e fiel à mensagem original, e ele seja tão criticado e desrespeitado.
A mensagem de Jesus não é muito palatável em um mundo que prefere o individualismo e a exterioridade, ela é muito questionadora e propõe que se saia em direção ao outro. O Amar ao próximo como a ti mesmo é algo muito descabido para um mundo de “leis de Gerson” e que se pauta por uma razão cínica. A própria estrutura monárquica da igreja, sofreria por parte do Nazareno, sérias e severas críticas.

Mas se pensarmos que se o filho de Deus não foi poupado, porque o mundo iria poupar quem resolve segui-lo? O mundo prefere o luxo, a pompa e o exagero de cardeais de longas caudas vermelhas, as celebrações espetaculosas que mostram bem com quem está o poder material. Comunidades como a Canção Nova entre  outras, com seus templos e pregações sentimentais e de um falso piedosismo recheado de ameaças de condenação eterna, para garantir o que sempre foi instrumento de poder na igreja, o medo e a culpa. E tudo isso com um apoio às vezes bem explicito a quem dissemina a morte, o genocídio, o preconceito e toda sorte de ódio. Neste cenário vamos encontrar  sacerdotes falastrões que sabem muito bem acusar, mas que ninguém lhes investigue a conduta, preocupados com a imagem, a vaidade e o sucesso financeiro para que angariem cada vez mais alma$$$.
Grandes santuários que diferem radicalmente de alguém que afirmava: não ter nem lugar onde repousar a cabeça, são evidencias de quanto se está distante do incômodo Galileu, que ousou desafiar os sacerdotes e poderosos de seu tempo.


Pensar  as vezes é algo doloroso. É um exercício que pode nos levar a conclusões como se sentir enganado, ou ter sido enganado por toda uma vida. Mas é necessário, porque apesar do desalento, no que se refere a espiritualidade, essa dor, esse desapontamento pode nos levar a um vazio, um grande vazio, mas é neste vazio, que pode-se encontrar aquele que simplesmente Éque não tem nome, e é como na música do Milton:
 O “Que todos os meus nervos estão a rogar/ Que todos os meus órgãos estão a aclamar
Que uma aflição medonha me faz implorar /O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá/ O que não tem juízo.
Esse é o Deus que busco seguir, é a Ele que eu adoro em Pneuma e Alethéia, em espírito e em verdade. Ele não habita em templos feitos por mãos, ele está e sempre estará, no meio de nós.

Quando se segue e se adora Àquele que disse que o Reino de Deus está no meio de nós, não há o que temer. Se Ele habita em mim e em todos os de BOA VONTADE, ele jamais compactuará com a morte, a mentira, o preconceito, o ódio e o desprezo pela vida. O Deus da minha fé, é o Deus do AMOR, o Deus que a TODOS inclui sem nenhuma distinção,