O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

17 de dezembro de 2019

No final o cordeiro vencerá.



Uma reflexão para esse nosso tempo baseada no Apocalipse de João

No centro está o cordeiro.
O livro do Apocalipse nos indica e descreve a perversão das faculdades e das qualidades humanas. É sem dúvida um livro riquíssimo por seu conteúdo simbólico.

Na verdade ele descreve  muito mais que os quatro vivente /cavaleiros diferentes, que são na verdade eventos diferentes que marcam a ação do Anticristo ( o predomínio do EGO) na terra, ou ainda os quatro estados involutivos da humanidade. Pode ser visto também como as quatro possibilidades de crescimento ou, se estas forem negadas e/ou rejeitadas, as quatro degenerações da humanidade.


Os quatro viventes /os quatro cavaleiros.

O cavaleiro esbranquiçado ( Ap 6,2)
“Olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele tinha um arco;
e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vencendo, e para vencer.”

 – Á águia, a intuição, a Paz
Sua missão é iludir o mundo quanto a sua natureza perversa, a falsa Paz.

O Cavaleiro avermelhado (Ap 6,3-4)
 Quando ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: Vem!
E saiu outro cavalo, um cavalo vermelho; e ao que estava montado nele foi dado que tirasse a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.

– o Leão, o sentimento, a guerra
Sua missão é trazer a Guerra, acabar com a falsa Paz.

O cavaleiro  preto (Ap 6,5-6)
Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: Vem! E olhei, e eis um cavalo preto; e o que estava montado nele tinha uma balança na mão.
E ouvi como que uma voz no meio dos quatro seres viventes, que dizia: Um queniz de trigo por um denário, e três quenizes de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.

 – o touro, a sensação, a fome
Sua missão é trazer a fome e a escassez para a humanidade no pós guerra .

O cavaleiro amarelo/esverdeado ( Ap 6,7-8)
Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizer: Vem!
Olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava montado nele chamava-se Morte; e o hades seguia com ele; e foi-lhe dada autoridade sobre a quarta parte da terra, para matar com a espada, e com a fome, e com a peste, e com as feras da terra.
o ser humano, a razão, a morte
A este cavaleiro foi dado poder sobre a quarta parte do mundo, ou poder matar pela espada. Um período de grande privação para a humanidade.

Um ser de boa saúde é alguém que integra as 4 funções.  A doença ocorre quando uma delas é esquecida, rejeitada, ou não as integra o que dará nascimento á SOMBRA.


Rodeado pelos 4 viventes está o cordeiro, os viventes: a águia. o leão, o touro e o ser humano lhe prestam adoração. O cordeiro na realidade é o amor, ele está no centro da cena como vemos no apocalipse e ele é a forma invencível da energia criadora, o humilde amor.
 Quando integrados, os quatro vivente manifestados, ou as suas qualidades, as quatro funções:  intuição, sentimento, sensação e razão, integram o Eu ao self, são o símbolo do poder individual.
Quando as quatro funções, não estão orientadas desta maneira, não estão a serviço do amor, os quatro viventes se transformam nos quatro cavaleiros do Apocalipse que vão semear o pânico e destruição no mundo.

Quando a intuição não está voltada para o SER , ela se torna vontade de poder, o cavaleiro esbranquiçado.
No lugar do cordeiro está então o Dragão do Ego, o Eu separado do Self. A vontade de dominar. A intuição deixa de ser usada para iluminar o ser humano, e passa a manipulá-lo. É o poder do dragão.
 O dragão então pode tomar posse  da nossa afetividade e transformá-la em possessividade, ciúme e domínio do outro e de suas posses materiais. Surge então o cavaleiro vermelho ou, cavaleiro avermelhado, que  simboliza a guerra, o desejo de possuir e dominar, de se apropriar do que é do outro.
O crescer da guerra, gera a fome, o cavaleiro negro.
 O cavaleiro Negro simboliza a vontade de consumir, com compulsão, o que gera o consumismo. Consumir tudo, inclusive o outro, a terra e tudo que há, até o esgotamento.
O vivente indica a importância de comungar, o cavaleiro exige consumir.
 Consumir ou comungar são as duas formas de viver que nos levam ao inferno ou ao paraíso.
O Paraíso é exatamente a comunhão co
m o Ser e com todos os seres. O inferno é a consumação e o esgotamento do Eu, de tudo e de todos.
A necessidade de consumir advém da ausência, da falta  de intimidade com a presença que nos habita, a falta de atenção para com “Aquele que É em nós”.
É preciso aprender a desejar aquilo que se tem e o que se é, quando o mundo a nossa volta nos convida justamente o contrário, ou seja, desejar o que não se tem e o que não se é.
A vontade de poder, da possessão, de consumir conduz à destruição do mundo.

O último cavaleiro é o cavaleiro esverdeado, a cor da decomposição após a morte.
Quando a razão não é utilizada para iluminar, esclarecer e compreender ela se torna elemento de separação, dissecção e chegamos à dissolução do mundo.
A desagregação é o oposto da integração, a análise em oposição à síntese.

O Apocalipse pode ser tomado como uma descrição do mundo em que vivemos, o mundo em que nos encontramos. O que reina sobre nós e o poder do dragão, o poder do Ego que quer dominar e ser servido.
A águia, o touro, o leão e o ser humano em nós devem servir ao cordeiro, que é o “EU SOU” em nós. Quando isso acontece, a individuação segundo Jung se faz.

Quando isso não acontece quem é servido é o dragão, e quem está sendo servido é o EGO, não há crescimento nem evolução, porque o consumismo não  proporciona isso, somente a consumação ou extinção.


O cordeiro no Apocalipse está ferido. Em um salmo de Davi lê-se sobre o cordeiro que ele estava ferido e desfigurado, mas não abriu a boca. Mas não o fez por omissão ou por medo, mas por ter a consciência de que estava se doando se oferecendo para o todo e para todos.
 No Apocalipse o cordeiro degolado, permanece de pé.
 Não somos chamados a ser cordeiros subjugados, embora feridos, devemos permanecer de pé. Esse é o paradoxo do amor.
 Quanto maior for  essa qualidade em nós, mais nos ferirão aqueles que estão á nossa volta que estão a serviço do Dragão, submissos ao Ego.
Permanecer de pé, vulneráveis, mas invencíveis, guerreiros na luta pela Paz, orientados pelo amor é a única trilha que nos conduzirá à vitória, à individuação,  à integração de nossa sombra,  à vitória sobre o Ego.


Baseado no livro "O Apocalipse de João" traduzido e comentado por Jean Yves Leloup

Meditação Hesicasta - Oração do Coração


Hesicasmo  (em grego: ἡσυχασμός; transl.: hesychasmos, derivado de ἡσυχία, hesychia, "quietude, quieto, silêncio"  uma tradição de oração solitária na Igreja Ortodoxa e em algumas Igrejas Católicas Orientais, com as que seguem o rito bizantino, praticada pelo chamado hesicasta   (Ἡσυχαστής, hesychastes).

Nesta tradição  vale lembrar que na camara real, nos aposentos reais, no mais profundo de nosso coração habita aquele que não tem nome, AQUELE QUE É. o Eu sou.
É a ele que nos dirigimos quando praticamos a oração Hesicasta, ou a oração do coração.
Em Pneuma e Aletheia, no Sopro e na Atenção, em Espírito e em Verdade:

Neste tipo de espiritualidade, o silêncio é fundamental para que se possa perceber Aquele que nos habita.


 Oração do Coração:

Sente-se em silêncio.
Abaixe suavemente a cabeça, feche os olhos, respire suavemente, e imagine-se olhando para o seu próprio coração. Leve sua mente, ou seja, os seus pensamentos, de sua cabeça para o seu coração.
Ao inspirar, diga:
"Senhor Jesus Cristo",
ao expirar diga:
"tende piedade de mim." 
Ou numa outra tradução :
“ derrama sobre mim
a sua luz ”.
Diga movendo os lábios suavemente ou pode simplesmente dizer em sua mente.
Tente não reter seus pensamentos, deixe que passem. Se perceber que está seguindo algum pensamento, recompanha-se, com suavidade, sem culpa e recomece.
Tenha calma, seja paciente, e repita este exercício espiritual diariamente.
Procure manter o silêncio, para que, quem sabe ouvir, o que aquele que habita o seu mais intimo, tem a lhe dizer.

Comece com cinco minutos duas vezes por dia e vá aumentando a medida que perceber que lhe é agradável, até chegar a 20 minutos duas vezes ao dia.

Lembre-se não se trata de rezar e sim meditar.