O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

28 de março de 2020

Diante de Deus um homem que representa toda a humanidade




Era um fim de uma tarde fria, chovia. A  imensa praça estava totalmente vazia, como nunca antes esteve.
Mas  para os que tem olhos de fé, certamente não viam aquela figura branca, trôpega que  subia a rampa lentamente sozinho. Não, não estava só. Uma multidão de anjos o rodeavam e embora o ambiente irradiasse um silêncio absoluto, os que tem ouvidos de fé, podiam ouvir os cantos lindíssimos que invocavam O Sublime. Conforme ele subia a rampa em direção às escadas que o conduziriam ao altar, os anjos entoavam:
Kadoish, Kadoish Adonai Tsabaioz ! Santo, santo é o Senhor!


Do altar ouviram-se súplicas. Ele era naquele momento como que um ponto focal de toda a humanidade. Emocionado ele proclamou a palavra vinda do alto e que falava de homens simples, de uma fé, que vence as tempestades, e de um Jesus que dormia.  E ele clamou. 
Como no evangelho, toda a humanidade está com medo, a tempestade ameaça a todos.
No evangelho Jesus dormia...
E ele, no meio da praça clamou, e como Jesus havia dito aos discípulos, disse-nos que avivássemos a nossa fé.

Os meus olhos jamais esquecerão aquela figura frágil e abatida, como que carregando a tristeza das inúmeras mortes, que continuam acontecendo no mundo, intercedendo por toda a humanidade, alí. De pé sozinho diante da mãe e do filho, numa praça que de tão vazia parecia muito mais imensa do que ela já é.
Na praça repleta de anjos, prontos a espalhar pelo mundo a benção e a esperança vai também a certeza de que é tempo de mudanças, tempo de olhar para os pequeninos de Jesus e deixar de lado a loucura que estava dominando toda a humanidade: a sede de poder e de lucros.


Da cidade eterna para o mundo, Urbi et Orbi, mais que uma benção, um aviso, um recado:
é tempo de recobrar a fé, só ela nos fará vencer a tempestade.


12 de março de 2020

Por que os primeiros cristãos não gostavam da imagem de Jesus crucificado



A imagem de Jesus crucificado só começou a ser venerada séculos depois da morte dele, e foi o Concílio de Niceia, no ano 325, que autorizou oficialmente a imagem do crucifixo tal como o usamos hoje. Os seguidores dos primeiros séculos do cristianismo se envergonhavam de uma imagem que lhes recordava a morte atroz que os romanos infligiam aos grandes criminosos.
Desde que Paulo de Tarso declarou que “se Cristo não ressuscitou [...]é vã a nossa fé” (I Coríntios, 15), interessava aos cristãos o Jesus ressuscitado, não o sacrificado em uma madeira, como um assassino qualquer. Daí que nos primeiros séculos do cristianismo não existissem pinturas nem esculturas de Jesus crucificado, só um Cristo glorioso.
Nas catacumbas romanas, tanto nas de Santa Priscila como nas de São Calixto, onde se escondiam os cristãos para fugir da perseguição romana, não existem pinturas de Jesus na cruz. O líder dos cristãos aparece ou na imagem do Bom Pastor, ou celebrando a Última Ceia com os apóstolos, ou ainda criança nos braços da sua mãe. Nunca morto.
Lembro que no Instituto Bíblico de Roma nosso professor de idioma ugarítico, o jesuíta Follet, explicava-nos essa ausência da imagem de Jesus crucificado entre os primeiros cristãos: “Se o seu pai tivesse sido condenado à cadeira elétrica ou à guilhotina, certamente, por mais inocente que tivesse sido, vocês não levariam no pescoço uma efígie desses instrumentos de morte”, nos dizia ele. E acrescentava: “Ninguém conserva fotos dos seus familiares ou amigos quando mortos, e sim vivos e felizes”. Isso é o que ocorria com os cristãos: preferiam recordar Jesus em vida ou glorificado depois da sua morte.
Curiosamente, foi um imperador romano, o pagão Constantino, o Grande, quem introduziu a representação da cruz, mas sem o corpo de Jesus. Foi quando se converteu ao cristianismo, depois de ter tido um sonho, antes da batalha contra Magêncio, em que viu uma cruz e ouviu uma voz que dizia: “Com este signo vencerá”. O Império Romano começava a se debilitar, e o imperador percebeu a força da seita dos cristãos que se deixavam matar em vez de adorar seus deuses pagãos. Constantino quis conquistar aquela gente, e o cristianismo passou de açoitado a ser religião oficial. O imperador ganhou a batalha, e sacralizou-se o sinal da cruz, que foi aceito como símbolo cristão pelo Concílio de Niceia no ano 325.
Mesmo assim, trava-se apenas da cruz nua, sem o corpo de Cristo. Os primeiros crucifixos com o Jesus agonizante ou morto aparecem só no século V, e com muitas polêmicas. Os cristãos continuavam preferindo a imagem de Jesus vivo ou ressuscitado. Apenas na Idade Média, mais de mil anos depois da morte de Jesus, apareceram as primeiras representações dos crucifixos com o corpo dele mostrando os sinais de dor, sangrando pelas mãos, os pés e nas laterais.
A única pintura do crucifixo que aparece já no século I, considerada como a “primeira blasfêmia cristã”, é um grafite numa parede de gesso em Roma, ridicularizando os cristãos e Jesus. O crucificado aparece com a cabeça de um asno e a seguinte inscrição: “Alexamenos, adorando o seu deus”. Era uma zombaria com os primeiros cristãos, cujo deus os romanos haviam matado como um criminoso comum.
Isso significava, ensinavam-nos no Instituto Bíblico, que, sob a influência da conversão de Constantino, a Igreja começou também a se hierarquizar e a se revestir com os símbolos do poder mundano. Na verdade, se fez política e até mesmo drama com a crucificação para fomentar-se a teologia da cruz e do pecado, em detrimento da teologia da ressurreição e da esperança.
Para a Teologia da Libertação, por exemplo, a crucificação é o símbolo de todos os torturados e assassinados injustamente na história da humanidade, e a ressurreição é a grande esperança de todos os excluídos. Essa teologia, tão enraizada na América Latina, tentou ser uma volta ao cristianismo primitivo, no qual se destacava a imagem do Bom Pastor em vez da do crucificado. Entretanto, a Igreja, que até o papa Francisco ainda se revestia com os símbolos do poder dos imperadores romanos, preferiu inculcar a teologia do medo do inferno.
A Igreja do poder nunca se incomodou com o Jesus morto. Temeu mais ao Jesus vivo e encarnado, solidário com essa parte da humanidade que, como nos tempos do profeta crucificado, sempre acaba abandonada à própria sorte.

4 de março de 2020

Se nada muda, mudo eu.


Tenho a impressão que os últimos acontecimentos nos dão a medida do buraco em que fomos jogados. Seja pelo prefake que atribui aos moradores as mazelas da cidade, com um certo deboche, desdenhando de quem vive pendurado nas encostas, por total falta de opção, ou ainda por um governador que comemora com pulinhos e socos no ar, a morte de uma pessoa com sérios comprometimentos mentais. Sem falar de um chefe de governo, que parece debochar de quem votou nele, ja que nenhuma de suas promessas de campanha está sendo cumprida.

Para completar o deboche, ele ainda usa de um humorista para representá-lo numa entrevista à imprensa, no momento em que a bolsa despenca, dolar sobe e o PIB parece derreter.
E com tudo isso, o silênco das ruas é ensurdecedor...
eu me recuso a permanecer neste buraco!
Eu vou mudar de rumo, mudar de norte, pra ver se no fundo me sorri a sorte.
Vou seguir a sugestão do Vander Lee e tentar morar no interior do meu interior.
Investir em ser grato, distante de todo esse lixo recheado de agressividade, odio e desamor.
Vou cuidar e perseguir as virtudes filosóficas: O bom, o belo, o justo e o verdadeiro, afinal, Platão há milênios ja dizia que esse é o caminho.
Deixo aqui, junto com este desabafo, a minha saudade desse mineiro e de sua mineirice:
"Onde Deus possa me ouvir"
Quem sabe eu consigo ouvir Deus explicando motivo de tudo isso.