O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

31 de dezembro de 2009

2010 - Renova-se a esperança


Um novo tempo ( Ivan Lins)
"No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça"

Que este novo tempo nos encontre unidos na luta por um mundo mais fraterno,mais igual com a certeza de que trilhamos o caminho da luz em direção à construção do Reino. Feliz novo tempo! Feliz 2010 !

Cosmogênese Quotidiana

(J. Ricardo A de Oliveira)

Cosmogênese Quotidiana
(Ou Manvantara & Pralaya do dia a dia)


Transcender todo o tédio
Vencer o medo, o nojo, o ódio.
Vomitar a amargura
Lutar,
Até as últimas forças,
E,
Exaurido quedar...

Transcender a inércia
Vencer a pressa, a urgência o pânico...
Recolher os pedaços da luta
Recompor o universo desfeito em cacos
Cacos mortos...
Cal sobre os cacos,
Caos !...

Reiniciar o movimento/
Organizar o sentimento...
Emoção,
Caos,
Théos,
Deus ?
Luz !
Fiat !

23 de dezembro de 2009

A verdadeira história do Natal em cordel


21 de dezembro de 2009

Podem me chamar de sonhador, mas não sou o único.

Natal é tempo de Paz,
e uma das canções mais fantásticas sobre a Paz
é sem dúvida "Imagine."
O vídeo que vamos ver é especial,
em todos os sentidos...
Trata-se de um coral de surdos...
deixe que a emoção fale mais alto,
não se envergonhe se uma lágrima insitir em rolar pela sua face,
é sinal de que,
mesmo rodeado por tanta indiferença e consumismo,
o seu coração está preservado e muito VIVO.

http://www.youtube.com/watch?v=cSlGocYJ2Dk

20 de dezembro de 2009

“Jesuses” cotidianos

J. RIcardo A. de Oliveira
.
No alto de um morro,
em meio a favela,
num barracão qualquer,
ele chegou.

Não houve hospital.
Nem médico,
nenhum luxo,
nasceu quase no lixo.
De uma negra sofrida
De nome Maria,
Que como tantas Marias,
De ventre crescido,
sofrendo e sorrindo,
mesmo faminta ela ria
Para o reizinho que vinha.

Uma estrela brilhou,
No silencio,
Um choro se ouviu
E, apesar de tanta dor,
Maria era feliz.

No alto de um morro
Uma estrela a brilhar,
No Brasil
Num qualquer lugar
Esquecido ficou,
E como sempre acontece,
com os milagres de vida
Ninguém noticiou!

Mas naquele dia,
Quando aquela estela brilhou
Algo muito importante,
No quase silencio ocorreueu.
É que o negro menino
De Maria sem homem,
Lavadeira com fome,
Era pobre
E,
Mais que projeto de homem,

Era um Deus.

7 de dezembro de 2009

Conferência de Copenhague


A 15.ª Conferência das Partes acontece entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009, em Copenhagen, Capital da Dinamarca. O encontro é considerado o mais importante da história recente dos acordos multilaterais ambientais pois tem por objetivo estabelecer o tratado que substituirá o Protocolo de Quioto, vigente de 2008 a 2012.
Escolho para marcar esse importante evento um vídeo proibido nos EUA do cantor Michael Jackson muito sugestivo.
A Música chama-se"EARTH SONG" o clipe foi censurado nos Estados Unidos .
Esta gravação faz parte do filme "This is it".
Esta foi a última mensagem que ele deixou e que iria passar durante a tourné mundial que ia fazer...morreu dias antes...
O vídeo é do single de maior sucesso de Michael Jackson no Reino Unido, que não foi nem "Billie Jean", nem "Beat it", e sim a ecológica "Earth Song", de 1996.
A letra fala sobre desmatamento, pesca, poluição, e, por um pequeno detalhe, talvez você nunca terá a oportunidade de assistir na televisão.
"Earth Song" nunca foi lançada como single nos Estados Unidos, historicamente o maior poluidor do planeta.
Por isso a maioria de nós nunca teve acesso ao clipe. Ou seja, o que não passa nos Estados Unidos ... pelo visto não passa em boa parte do resto do mundo.

Veja, então, o que os americanos não mostraram de Michael Jackson.
Filmado na Africa, Amazonia, Croácia e New York.



O Meio ambiente
é
o meio d'agente

26 de novembro de 2009

A Flor e a Náusea

(Carlos Drumond de Andrade)
.


Preso à minha classe e a algumas roupas,

Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:

Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.

Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?

Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.

Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.

Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu. "

6 de novembro de 2009

aquele que em mim, insiste em sorrir...

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Há um menino,

há um moleque

Morando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto balança

Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente

Um sol bem quente lá no meu quintal

Toda vez que a bruxa me assombra

O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas

Que eu acredito que não deixarão de existir

Amizade, palavra, respeito

Caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso, não devo, não quero

Viver como toda essa gente insiste em viver

E não posso aceitar sossegado

Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude

O solitário não quer solidão

Toda vez que a tristeza me alcança

O menino me dá a mão...



As vezes me assusto como o profeta Milton expressa tão bem aquilo que sinto...

Há dias que só mesmo esse menino e esse moleque me fazem suportar tanta mediocrdade
que somos obrigados a conviver em nossos dias atuais...

30 de outubro de 2009

Memória de Santo Dias da Silva 30 de Outubro

(Colaboração Graça Ribeiro)





Santo Dias da Silva foi um autêntico operário cristão (22/02/42 - 30/10/79), assassinado em defesa do povo oprimido. Conheceu, de perto, os problemas dos sem-terra. Foi lavrador e meeiro em Terra Roxa (SP), onde nasceu. Como metalúrgico, conheceu também os problemas das pessoas que moram na cidade. Teve participação ativa em Sindicato, Sociedade de Amigos de Bairro, Pastoral Operária, Comunidade Eclesial de Base (...)

O ano de 1979 foi um ano agitado. Em agosto, depois de vários anos de intensa movimentação popular exigindo anistia aos presos políticos e exilados, o governo editou a Lei de Anistia, estendendo-a também a torturadores e participantes do aparato repressivo.

Em março, a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo fez seu primeiro congresso definindo como princípios de sua atividade uma frente de sindicalistas que lutavam pela mudança da estrutura sindical, que entendiam deveria ser independente do Estado e organizada a partir das comissões de fábrica.

Santo Dias participa desse processo agora mais amadurecido pela prática. De 31 de maio a 2 de setembro, o 1o. Congresso da Mulher Metalúrgica reforçou as teses da Oposição. Em outubro, os metalúrgicos começam nova campanha salarial. Desta vez, a reivindicação era 83% de aumento dos salários, não aceita pelos patrões.

Uma assembléia com seis mil trabalhadores na rua do Carmo decidiu, numa sexta-feira, iniciar a greve. No primeiro dia da paralisação, 28 de outubro, as subsedes do Sindicato, abertas para abrigar os comandos de greve, foram invadidas pela Polícia Militar, que prendeu mais de 130 pessoas. Sem o apoio do sindicato e com a intensa repressão policial sobre sua ação, os metalúrgicos passaram a se reunir na Capela do Socorro, sendo a Zona Sul a região de maior concentração da categoria.
No dia 30, Santo Dias, como parte do comando de greve, saiu da Capela do Socorro, para engrossar um piquete na frente da fábrica Sylvânia e discutir com os operários que entravam no turno das 14h00. Viaturas da PM chegam e Santo Dias tenta dialogar com os policiais para libertar companheiros presos.
A polícia agiu com brutalidade e o PM Herculano Leonel atirou em Santo Dias pelas costas. Ele foi levado pelos policiais para o Pronto Socorro de Santo Amaro, mas já estava morto. O corpo de Santo Dias só não “desapareceu” por conta da coragem de Ana Maria, sua esposa.
Ela entrou no carro que transportava seu corpo para o Instituto Médico Legal, apesar de abalada emocionalmente e pressionada pelos policiais a descer, não cedeu. Divulgada a notícia de sua morte pelos vários meios de comunicação, seu corpo seguiu para o velório na Igreja da Consolação.
No dia 31 de outubro, 30 mil pessoas saíram às ruas da Capital para acompanhar o enterro e protestar contra a morte do líder operário, pelo livre direito de associação sindical e de greve e contra a ditadura.
Fonte:
http://www.cebs-sul1.com.br/sp-1/noticias/memoria-de-santo-dias

29 de outubro de 2009

A Igreja católica Imperial - Livro "A Igreja Católica "

continuando o resumo da obra de H Küng:

Através de um sonho, Constantino, imperador de Roma viu no “Deus dos Cristãos” e no “símbolo da Cruz” o motivo de sua vitória e sua ascensão ao trono de Roma. Sendo assim em 313 dc concedeu a liberdade de religião ilimitada a todo império. Em 315 aboliu o castigo de crucifixão. Em 321 o domingo foi introduzido como feriado e a igreja foi autorizada a receber legados.
Em 325 Constantino tornou-se soberano único do Império Romano e convocou o I Concílio Ecumênico, realizado em sua residência em Nicéa.

Com a liberdade religiosa no império romano as tensões internas no cristianismo, já presentes há muito tempo vieram à luz. A Cristologia interpretada em termos helenísticos, ou seja, o mistério do filho e do pai, cada vez mais feriam o monoteísmo. Pareciam 2 deuses e não um só.

Ário (presbítero Alexandrino Ário) criador do Arianismo, afirmava que embora o filho, o Cristo, tivesse sido criado antes de todas as coisas e de todos os tempos, ainda assim era uma criatura. Por temer uma grande separação em seu império, que com tanta dificuldade estava unificando, Constantino Convocou o Concilio de Nicéa.

No concílio todo o poder de decisão era do imperador.
O bispo de Roma não foi sequer convidado!
Por fim Constantino tornou as suas decisões oficiais, transformando-as em leis da igreja e do império. Com isso aproveitou para unir a igreja com o seu império.
Muitas das leis da igreja ate hoje em uso vem de decisões do Imperador Constantino, dentre elas a obrigatoriedade de “ouvir missas aos domingos e dias santos de guarda”.

O império passou a ter então a sua religião oficial, e uma “igreja imperial”.
É deste primeiro concílio que a igreja passou a ter um credo oficial, lei da igreja e do império, para todas as igrejas.
O credo dizia: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, mas não criado, “c o n s u b s t a n c i a l “ ao Pai...
Constantino fez questão de inserir a palavra “consubstancial”. A palavra foi enxertada !

A igreja primitiva via Jesus como subordinado ao Pai (o Único)
Essa idéia é oposta a inclusão por parte de Constantino do termo
consubstancial= mesma substancia no credo Niceno.( de Nicéa)

Mesmo fazendo todas estas modificações e determinando artigos de fé e doutrina, o imperador feria um dos princípios mais caros e iniciais do cristianismo, ele não era batizado. Portanto não havia recebido os mistérios, o que nos faz pensar em uma atuação de fora para dentro da comunidade cristã apostólica.
É possível até pensar-se em um “golpe” ...
Constantino só foi batizado, já no final de sua vida, que ocorreu em 337.
Com a morte de Constantino o reino foi dividido.

Constancio
senhor do oriente adotou uma política fanática contra os pagãos. As outras religiões foram erradicadas a força, já que o cristianismo era a religião oficial.

Teodósio
imperador do séc IV tornou a heresia um crime contra o estado ( crime de “lesa majestade” ).


Em menos de um século a igreja passa de perseguida a perseguidora !

A partir desta época a igreja rejeita praticamente suas raízes judaicas Os judeus passam a ser um povo maldito: o povo escolhido que quebrou a aliança com Deus.

Segundo Concilio Ecumênico de Constantinopla
Convocado por Teodósio em 381, definiu a identidade de substancia do Espírito Santo com o Pai e o Filho ( SS.Trindade).
Estes conceitos foram então suplementados ao credo Niceno, que passou então a chamar-se Credo Niceno-Constantinopolitano.
Basílio o grande, Gregório Nazianzeno e Grigório de Nissa - os três Capadócios elaboraram a fórmula ortodoxa da Santíssima Trindade, a saber: um único ser divino em 3 pessoas.

Com a Morte de Teosdósio em 395 o Império sedivide em Império do oriente e Império do ocisente. Apesar de Roma ser a principal sede do império o ponto focal da igreja estava no oriente.

Em 451, no IV Concilio Ecumênico de Calcedônia criou-se a fórmula cristológica Clássica: Jesus Cristo = uma pessoa divina com duas naturezas uma divina e outra humana.
Neste concílio foram discutidas e deliberadas decisões mais políticas do que teológicas.
Em um cânon solene foi concedido a Constantinopla o status semelhante a Roma: “A nova Roma”.
Entre 381 e 451 foram formados os 5 patriarcados clássicos, que exiistem até hoje e que obedeciam a uma hierarquia.
Roma – Patriarcado do Ocidente
Nova Roma – Constantinopla
Alexandria
Antioquia
Jerusalém

Embora Roma possa se arvorar em ser a primaz, todas as igrejas fundadas pelos apóstolos estavam no oriente, e com o maior número de cristãos.
O Cristianismo latino parecia nesta época (381-451) um apêndice do cristianismo Romano Oriental Bizantino, que era a liderança espiritual. Era justamente o Império do Oriente quem transmitia o paradigma ecumênico da igreja inicial. ( é por essa razão que as igrejas Ortodoxas , separadas de Roma posteriormente, reclamam para si até hoje, autenticidade dos verdadeiros ritos e do verdadeiro carisma cristão).
Em 1453, com a queda de Constantinopla, a segunda Roma, o paradigma passaria para os eslavos e Moscou seria finalmente a 3ª Roma.
A Igreja Russa tem até hoje profundas marcas Bizantinas.

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25 de outubro de 2009

A igreja Cristã inicial do livro " A Igreja Católica"

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Ainda baseado no livro " A Igreja Católica" de H Küng, segue mais um trecho.

A Palavra Católico - “Katholikos” não é usada no novo testamento, não há menção sobre uma “igreja Católica” nas escrituras.
É Sto. Inácio, bispo de Antioquia que em sua carta á comunidade de Esmirna que primeiro registra este termo, mas no sentido de “igreja inteira”, toda a igreja, em oposição a igrejas individuais e locais. Esta expressão que mais tarde será “eclésia cathólica” ou “universalis” denota a igreja universal e abrangente.

É curioso que em 1ª Coríntios, Paulo (um legalista por excelência) ache normal que a Eucaristia seja celebrada sem que qualquer pessoa tenha sido designada para isso.

Vem dai a idéia de que o batismo qualifica o batizado como sacerdote, que foi abandonada mais tarde com a formação do clero.

É no ano 100 em Antioquia que pela primeira vez aparece a tríplice hierarquia: Bispo, presbítero, diácono. A Eucaristia não podia mais ser celebrada sem o bispo.
Passa então a ser muito clara a divisão entre o clero e o povo.

Ser Cristão significava estar disposto a aceitar o martírio.
Importante é entender que aceitar não é buscar.

O Cristianismo aparece como verdadeira filosofia com Justino, um dos apologistas (165 DC).
No centro do cristianismo estava o “logos” divino, o “verbo” eterno implantado em cada ser humano como “semente da verdade” que iluminou os profetas de Israel e também os sábios da Grécia e finalmente se fez homem em Jesus de Nazaré.
Esta foi a concepção adotada por Orígenes de Alexandria no séc III. Ele é considerado como inventor da teologia como ciência.
Para ele a encarnação de Deus, em última análise, levava a divinização dos seres humanos.

Do ponto de vista de suas origens (hebraicas) a verdade cristã não era para ser teorizada e sim praticada, vivenciada. Por isso que em João 14,16, Jesus é chamado de O caminho, a verdade e a vida.

Com o “cristianismo helenista” as discussões foram tornando-se menos práticas.
Essa teorização esta cristologia do Logos foi afastando-se do ideal hebraico formulado pelo próprio Jesus, que era eminentemente prático em suas ações.
Começa a nascer uma doutrina que acaba por tranformar-se no “dogma do Deus encarnado”.
O termo católico ( inteiro,universal, abrangente) que na sua origem nada tinha de polêmico, passou a ser usado com enfoque de “crença verdadeira - única verdade”.

No séc. II a grande discussão era a gnose, para quem havia a crença da descida da centelha divina da vida ao corpo humano que precisava ser libertada para subir-ascender novamente, ou seja, do mundo divino da luz para o mundo mau da matéria e deste novamente para mundo divino da luz.

Irineu de Lyon defendia a fé (Pitis) simples da comunidade cristã.
Ele defendia os evangelhos, os mandamentos e os ritos simples em face do “Conhecimento” supostamente superior e puramente espiritual baseado em revelações, mitos, tradições secretas e sistemas de mundo específicos em combinação com rituais misteriosos e procedimentos mágicos e marcado por uma mitologização sincrética e uma hostilidade ao mundo, à matéria e ao corpo.

A IGREJA CATÓLICA, agora já uma instituição recusou-se a aceitar essa tendência gnóstica e reagiu com um conjunto de normas.
1) Adotou um credo sumário que era de costume no batismo que poderia ser suplementado com definições e dogmas que determinava os limites da “crença correta e ortodoxa”.

2) Foi estabelecido um cânone de escrituras do novo testamento baseado na Bíblia Hebraica para os escritos que eram “permitidos” e reconhecidos para a liturgia”.

3) Criação do cargo de “Episkopos”, ou bispo. Originalmente este se relacionava mais com a organização, mas gradativamente se ocuparia mais e mais com o ensino que deveria ser correto e apostólico com base na sucessão apostólica. Listas de Bispos e sínodos de bispos. A tradição, tornavam-se cada vez mais importante, o poder dos bispos crescia cada vez mais.
Os bispos tomaram lugar dos professores carismáticos e dos profetas e profetisas.
Estabeleceu-se uma estrutura hierárquica que impediu a emancipação e ordenação das mulheres ( até hoje observada na ICAR), desaparecem as diaconisas.
Passa-se a observar a hostilidade á sexualidade, um fenômeno generalizado no final da antiguidade, que assume uma marca especial no cristianismo.

O gênero masculino assume o poder da dominação no âmbito do sagrado – bispos e teólogos advogam a inferioridade feminina, mais tarde vão acrescentar a impureza como característica das mulheres.
Contra tudo que se observava nas primeiras comunidades primitivas, as mulheres estavam então excluídas, passavam a ser meras coadjuvantes.
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17 de outubro de 2009

Os Primórdios da Igreja. do Livro "A Igreja Catolica"

Já por mais de uma vez me pedem que eu escreva alguma coisa sobre a História do cristianiasmo e sobre o maravilhoso livro de Hans Küng esse teólogo fantástico de nossa época que escreveu inúmeras obras sobre o assunto, dentre eles "A Igreja Catolica" que serve de base para estes resumos.


Baseado na obra de Hans Küng de nome " A Igreja Católica “
Ed Objetiva/2001, Rio de Janeiro

Os Primórdios da Igreja.

Fundada por Jesus?

O Homem de Nazaré nunca usou o termo “igreja”. Jesus nunca proclamou uma igreja, nem a si mesmo, mas o “Reino de Deus”.
Ele convocou um grande movimento escatológico coletivo. Os 12 eram um sinal da restauração das 12 tribos de Israel.
Para irritação de beatos e tradicionalistas ortodoxos convidou também pessoas de diversas crenças ( Samaritanos), pessoas politicamente comprometidos (Coletores de impostos), pessoas que falharam moralmente ( adúlteros), pessoas exploradas sexualmente ( prostitutas).
Jesus era um grande crítico de seu tempo, da religião oficial de sua época, mas não fundou nenhuma igreja durante a sua vida.
A igreja surgiu depois de sua morte e ressurreição. De qualquer forma a “Eklesia” nunca foi uma organização de funcionários espirituais e sim uma comunidade que se reunia em hora e locais específicos para uma ação específica.

A grande pergunta que surge é se Jesus era católico.
A ICAR diz que sim, mas a questão que se coloca é: poder-se-ia imaginar Jesus de Nazaré, participando de uma missa papal, em S. Pedro em Roma?
Ou será que as pessoas ali presentes perguntariam como o grande inquisidor de Dostoievski; “Por que vens? Para nos perturbar?”.
Além disso, é difícil imaginar o Jesus do evangelho participando de uma hierarquia patriarcal.
Dificilmente alguém que lavou os pés dos seus discípulos e ensinou a servir e disse que: “o que dentre vós é o maior, torne-se o último”, pode ter desejado estruturas aristocráticas e monárquicas para sua comunidade de discípulos.
O espírito da igreja nascente ( comunidade de apóstolos) era Diakonia + serviço. Não havia autoridade hierárquica, Jesus sempre se manifestou claramente contra essa forma de estruturação.

A palavra sacerdote no novo testamento é designada para outras religiões nunca para a comunidade de cristãos. A palavra usada é “Presbítero” ou seja ancião.
Desde tempos imemoriais que as comunidades Judaicas eram (são) encabeçadas por anciãos (presbíteros). Certamente as primeiras comunidades tinham seus anciãos, como pode-se constatar nos Atos dos apóstolos.
Curiosamente Pedro era o discípulo mais velho, um ancião e logicamente o presbítero...

16 de outubro de 2009

Um depoimento sobre o querido Geraldo Magela

Graça é uma amiga virtual, dessas que mesmo sem nunca termos nos visto parece que já nos conhecemos há muito tempo. É uma pessoa muito bonita, uma militante das Comunidades Eclesiais de base lá de Sampa, fermento na massa, trabalhadora da construção do Reino.
Ela me escrevei falando de Gedraldo e do que ele tinha feito na vida dela e eu não resistí, pedi a ela para colocar odepoimento aqui no Blog, como ela permitiu, aí vai.
Que Geraldo interceda por vocês sempre, e se puderem leiam "o bêbado de Deus" uma história de um santo muito especial.

Fala Graça:

Zeh, a história é muito longa, maior que a entrevista do Boff. Bem, quando meu filho caçula nasceu, o neonatologista foi claro, o diâmetro da cabeça indicava problemas. Ele chorava muito, custou a andar e falar, bem diferente dos irmãos mais velhos, só se destacava por sua grande inteligência, começou a ler aos dois anos de idade, como isso aconteceu? Não sabemos... Os neurologistas diziam que ele tinha um alto QI e um baixo QE. Sempre foi o "patinho feio", não conseguia escrever e na escola era o"bobo" da turma, nunca conseguiu nadar ou andar de bicicleta. Resultado: super protegido pela mãe e pela família. Até que um dia, eu "a super mãe", fui a capela do bairro, e ali recebi o convite para ler a vida do santo padroeiro da paróquia. Não conhecia nada sobre o santo e não pude ler antes da celebração, então, de primeira, comecei a ler a vida de São Geraldo Magela. Á medida que lia, me identificava com o história, até que chegou a parte da mãe de São Geraldo (Dona Benedita) que o prende em casa para que ele não seguisse os redentoristas e Geraldo foge pela janela. Depois a carta de encaminhamento de Geraldo, escrita pelo Pe. Cáfaro para o Santo Afonso : AÍ SEGUE UM SERVO INÚTIL. Parei por aí e comecei a chorar, ninguém entendeu nada, mas sai dali disposta a mudar. Literalmente, "joguei meu filho no mundo". Claro que contei com o apoio da família e da equipe multidisciplinar que o acompanhava, mas foi muito difícil. Hj o meu patinho feio já se transformou num lindo cisne negro (mãe é coruja mesmo). Lembro que conseguiu amarrar o cadarço do tênis aos 12 anos e foi um acontecimento, nesse dia ajoelhei diante da imagem de São Geraldo e agradeci. O mais importante é que ele aprendeu a conviver com algumas das limitações e a superar outras tantas. Sei que foi o "dedo de Deus" que me indicou para aquela leitura e foi São Geraldo quem me "chacoalhou" para que eu acordasse e descobrisse que os "especiais" tb são amados por Deus e só precisam de oportunidades, não de super proteção. Este ano meu filho forma-se por uma conceituada universidade e já trabalha no serviço público como funcionário concursado.
É tão sereno e determinado quanto São Geraldo, seu padrinho.

Valeu minha amiga.

14 de outubro de 2009

A revolucionária Teresa D’Ávila

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Nada te perturbe.
Nada te espante.
Tudo passa.
A paciência tudo alcança.


Nada me perturbe.
Nada me espante.
A quem tem Deus nada falta.
Só Deus basta.

Ela nasceu no dia 28 de março de 1515 e foi batizada Tereza de Cepeda Y Ahumada , em Avila, Castilha, Espanha. Era filha de Alonso Sanchez de Cepeda e Beatrice Davila y Ahumada. Tereza foi educada pelas irmãs Agostinianas até 1532 quando ela voltou para casa por causa de sua saúde. Quatro anos mais tarde ela entrou para o Convento das Carmelitas Descalças, em Ávila, um estabelecimento que era negligente com relação pobreza e a clausura.
Ela voltou de novo para casa em 1536 por dois anos devido a sua saúde.
De 1555 a 1556 ela teve visões e ouviu vozes. No ano seguinte São Pedro de Alcântara passou a ser o seu diretor espiritual e ajudou-a sobremaneira em seu apostolado religioso. Desejosa de ser uma freira que obedecesse com austeridade a regra das Carmelitas, Santa Tereza fundou em 1567 o convento de São José em Ávila onde ela foi seguida por outras irmãs que desejavam uma vida mais austera.
Em 1568 ela recebeu permissão do Pior Geral da Ordem das Carmelitas para continuar no seu trabalho e ela fundou 16 outros conventos ,recebendo o apelido e "a freira ambulante " devido as suas freqüentes viagens.
Tereza se encontrou com São João da Cruz outro Carmelita buscando a reforma, em Medino del Campo, local do seu segundo convento. Ela fundou ainda um monastério para homens em Duruelo em 1568 , mas passou a responsabilidade dirigir e reformar ou fundar outros novos monastérios para São João da Cruz.

A oposição se desenvolveu entre as Carmelitas (calçadas)e membros da Ordem original e o Consilho de Piacenza em 1575 restringiu muito as suas atividades. A rixa continuou até que o Papa Gregório XIII (1572-1585) a pedido do Rei Felipe II, da Espanha, reconheceu as Reformadas Carmelitas Descalças como uma província separada da Ordem das Carmelitas originais. Nesta altura a maturidade espiritual de Santa Tereza era evidente e os seu livros e cartas foram sendo conhecidos e passaram a se tornar clássicos da literatura espiritual e logo incluíram sua autobiografia chamada "O caminho da Perfeição" e o seu livro "Castelo Interior" como clássicos da teologia espiritual.
Santa Tereza foi reverenciada como uma grande mística, tendo notável senso de humor e bom senso, combinando uma deslumbrante atividade, com uma mística contemplação.
Ela morreu no dia 4 de outubro de 1582 (14 de outubro pelo calendário Gregoriano que passou a vigorar no dia seguinte a sua morte, e avançou o calendário por 10 dias).
Foi canonizada em 1622 pelo Papa Gregório XV e declarada Doutora da Igreja em 1970 pelo Papa Paulo VI.




Não deixe que Morra !

J. Ricardo A de Oliveira
Vista hoje, quase 40 anos depois esta música de 1971 de Hurricane Smith, que embalou os passos nos bailes de muitos dos sessentões atuais, poderia ser encarada como profética.
Certamente imaginávamos que vivíamos sob a ameaça de uma 3ª Guerra mundial, de uma destruição atômica, mas não imaginávamos que poderíamos sofrer risco de extinção por nossas ações inconsequentes.
Mas, ainda é tempo !
Pequenas ações podem fazer toda a diferença. Algo simples como separar lixo orgânico do lixo do reciclável. Ou repensar o gasto de água potável, fechando a torneira emquanto se ensaboa. Ou talvez simplesmente apagando as luzes ao sair de um cômodo.
São pequenas ações, feitas por um grande número de pessoas que podem não deixar morrer o nosso sonho.

4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa nos deixou

..
Mercedes Sosa nos deixou,

neste domingo 4/10/09, aos 74 anos,

a voz da luta pelos direitos dos povos,

alguém que gritava

pelos os oprimidos da América Latina

calou-se.



(Mercedes Soza e Beth Carvalho)


"Solo le pido a Dios

Que el dolor no me sea indiferente,

Que la reseca Muerta no me encuentre


Vacia y sola sin haber hecho lo suficiente."

Mercedes Sosa
“La Negra”

.



1 de outubro de 2009

Maria Clara L. Bingemer - O Pacto das catacumbas

(Maria Clara Lucchetti Bingemer)

Neste ano em que se celebra o centenário de Dom Helder Câmara, muitaslembranças e recordações do grande Dom, que foi um dos presentes maiores deDeus à Igreja do Brasil têm sido desentranhados e trazidos à luz novamente.Limpos da poeira do esquecimento por nossa às vezes curta e ingrata memória,brilham como estrelas de primeira grandeza realimentando nossa vidaespiritual e nossa capacidade ética.

Talvez um dos mais importantes seja a re-visita do chamado Pacto dasCatacumbas.
No dia 16 de novembro de 1965, poucos dias antes da clausura do Concílio Vaticano II, cerca de 40 Padres Conciliares celebraram umaEucaristia nas catacumbas de Domitila, em Roma, pedindo fidelidade aoEspírito de Jesus. Após essa celebração, firmaram o "Pacto das Catacumbas".
O documento é um desafio aos "irmãos no Episcopado" - aos bispos presentes,portanto, - a levarem uma "vida de pobreza", a construir uma Igreja que sequeria "servidora e pobre", como sugeriu o papa João XXIII. Os signatários -dentre eles, muitos brasileiros e latino-americanos, sendo que mais tardeoutros também se uniram ao pacto - se comprometiam a viver na pobreza, arejeitar todos os símbolos ou os privilégios do poder e a colocar os pobresno centro do seu ministério pastoral.
O texto teve forte influência sobre a Teologia da Libertação, quedespontaria e floresceria nos anos seguintes.Um dos signatários,propositores e mesmo articuladores do Pacto foi Dom Hélder Câmara.
O belo texto do Pacto é altamente inspirador para toda a Igreja hoje comoontem. Aqui o transcrevemos do livro "Concílio Vaticano II", Vol. V, QuartaSessão (Vozes, 1966), organizado por Dom Boaventura Kloppenburg, pp.526-528.

PACTO DAS CATACUMBAS DA IGREJA SERVA E POBRE

Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre asdeficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados unspelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar asingularidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado;contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com aoração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses;colocando-nos, pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante daIgreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, nahumildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda adeterminação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça,comprometemo-nos ao que se segue:

1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no queconcerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daíse segue.. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.

2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza,especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias dematéria preciosa (devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc6,9; Mt 10,9s; At 3,6. Nem ouro nem prata.

3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., emnosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome dadiocese, ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s..

4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e materialem nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seupapel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores eapóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.

5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulosque signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...).Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28;23,6-11; Jo 13,12-15.

6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquiloque pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferênciaqualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos,classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.

7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quemquer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou porqualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suasdádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na açãosocial. Cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4.

8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração,meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos gruposlaboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que issoprejudique as outras pessoas e grupos da diocese.
Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chamaa evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e otrabalho. Cf. Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e9,1-27.

9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relaçõesmútuas, procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociaisbaseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas asexigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes. Cf.Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s.

10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelosnossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturase as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e aodesenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, poraí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem edos filhos de Deus.. Cf. At. 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim5, 16.

11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica naassunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física,cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos:
· A participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentesdos episcopados das nações pobres;
· A requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mastestemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção deestruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletáriasnum mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem desua miséria.

12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida comnossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nossoministério constitua um verdadeiro serviço; assim:
· Esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles;
· Suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundoo espírito, do que uns chefes segundo o mundo;
· Procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...;
· Mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião.Cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1Tim 3,8-10.

13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossosdiocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão,seu concurso e suas preces.
AJUDE-NOS DEUS A SERMOS FIÉIS. Com essas humildes e fervorosas palavrasterminavam os bispos seu pacto. Elas precediam suas assinaturas. Que amesma prece habite nosso coração e que o pacto das catacumbas, devidamenteadaptado a nosso estado de vida, quer sejamos leigos, religiosos ouclérigos, possa ser o norte de nossas vidas.

Fonte:
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=13407http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=13407&cod_canal=47> &cod_canal=47

31 de agosto de 2009

Quando entrar setembro

(Beto Guedes)


http://www.youtube.com/watch?v=6oeMm4KGsmA





Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez


Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar


Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer


Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender
Aprender

20 de agosto de 2009

Marina e a repercussão internacional de sua candidatura

Os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições presidenciais de 2010 podem sofrer turbulências com a possibilidade da candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva pelo Partido Verde à presidência do País, segundo afirma o jornal espanhol El País.

Marina já admitiu que foi sondada pelo PV, o que teria "chacoalhado" o PT, seu atual partido, segundo o jornal. No entanto, ela não confirmou se aceitará a proposta do PV.
A ex-ministra deixou o governo em maio de 2008, em virtude da incompatibilidade de ideias com o governo de Lula.

Segundo o jornal, caso Marina decidisse disputar as eleições de 2010, poderia ocorrer uma "revolução" nos planos de Lula, uma vez que sua pré-candidata, a Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi escolhida principalmente por ser mulher. A participação de Marina no processo eleitoral poderia criar uma divisão nos votos do eleitorado feminino.

Segundo o jornal, apesar de Dilma ser uma "ex-guerrilheira" que lutou contra ditadura, Marina é negra, filha de pais pobres e trabalhou como seringueira porque não tinha como estudar.
Ela se tornou uma ferrenha defensora da floresta amazônica, além de ter criados laços de amizade com o ecologista assassinado Chico Mendes. Hoje, ela é vista como uma referência internacional em assuntos relativos a novas energias, segundo o El País.

O PV está na expectativa da resposta de Marina, e Lula deve usar seu poder de persuasão para evitar a saída da ex-ministra do PT. Marina disse que vai decidir pelo que é melhor para o Brasil dentro do que sempre defendeu em sua vida.

11 de agosto de 2009

alerta para futuro terrível sem acordo climático

Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon
Chefe da ONU alerta para futuro terrível sem acordo climático


SEUL (Reuters) - O fracasso em agir rapidamente para combater as mudanças climáticas pode provocar o aumento da violência e uma grande instabilidade no mundo, uma vez que os padrões climáticos globais mudam drasticamente, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nesta terça-feira.


"Se nós falharmos em agir, a mudança climática vai intensificar as secas, as enchentes e outros desastres naturais", disse Ban em um fórum próximo de Seul que acontece semanas antes de uma conferência do próprio secretário-geral sobre as mudanças climáticas, em setembro.

"A falta de água vai afetar centenas de milhões de pessoas. A subnutrição vai tragar grandes partes do mundo em desenvolvimento. As tensões vão piorar. A instabilidade social - incluindo a violência - pode acontecer", afirmou Ban no evento em Incheon.

As emissões de gases causadores do efeito estufa são consideradas a principal causa para o aquecimento global. Os países vão se reunir em Copenhague em dezembro para trabalhar em um novo acordo climático global para reduzir as emissões que substituirá o Protocolo de Kyoto, que termina em 2012.

Ban, que considerou a mudança climática um tema fundamental para a humanidade, pediu que líderes mundiais atuem rapidamente para que um acordo possa ser alcançado em Copenhague.

Esta semana representantes de 180 países se reúnem em Bonn, Alemanha, para negociar sobre o clima, em meio a alertas de que o tempo está passando para que um acordo bastante completo seja concretizado até o fim do ano.

(Por Jon Herskovitz; com reportagem de Alister Doyle em Bonn)

29 de julho de 2009

Uma anciã chamada Igreja

autor: Víctor Codina, S.J.

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Todos desejaríamos que a Igreja fosse jovem, forte, vigorosa, ousada, criativa, primaveril, atraente… mas nós a encontramos cansada, pressionada, silenciosa, medrosa, quase muda. Parece-nos muito velha, às vezes quase tememos que tenha Alzheimer: recorda o passado, repete-o, mas parece que o que ocorre no momento lhe escapa, é quase míope para compreender as novas luzes que brilham e que exigem resposta. Outras vezes nos parece surda, não escuta os gritos e o vozerio de um mundo agitado e turbulento.

Os jovens a abandonam cansados de ver seu estado deplorável; tão calada, tão passiva, tão torpe, tão pouco acolhedora. Outros a atacam violentamente, ferem-na, inclusive anunciam sua morte próxima: "é questão de tempo, é do passado, é uma relíquia anacrônica, é um objeto de antiquário". Outros querem rejuvenescê-la com técnicas artificiais, antioxidantes, contra as rugas. Mas ela não se deixa. Outros a vêem suja, manchada, descuidada, abandonada, desprezada, como se ninguém cuidasse dela, tentando ajudá-la com carinho, é tão velha a pobre…

Mas ela fica calada, medita em seu interior, recorda o passado, quando era jovem e pobre, quando a perseguiram, quando a coroaram como rainha e mestra, quando a uniram a príncipes e reis, quando todos diziam ser seus filhos. E ela sorri, pois sempre quis ser como no começo, fiel ao Espírito, singela, pobre, transparente, aberta a todos, fecunda, livre, evangélica, como seu Esposo, o Senhor. Agradece a seus filhos que quiseram que ela voltasse às suas origens, aos seus filhos fiéis, que nunca procuravam seu próprio proveito senão o do Senhor.

É sábia, cheia de experiência, experiente em humanidade, sabe que há primaveras e também invernos; agora é inverno. Muitos se afastam dela escandalizados, mas sabe que depois do inverno virá o verão, tem boa memória. Não tem medo, tempos melhores virão, haverá filhos proféticos e corajosos que lhe devolverão o brilho evangélico de suas origens; tornar-se-á pobre, evangélica e pascoal. Tem paciência, espera, não se desanima, o Senhor, seu Esposo, está ausente, mas voltará; enquanto isso possui a presença vivificante de seu Espírito.

Ela é muito antiga, tem séculos de história, dos tempos de Adão, Abel, como os velhos Santos Padres pressentiram e por isso a chamaram de "anciã". Os impérios passam, reis e ditadores cairão, mas ela continua firme, silenciosa, com passo lento, caminhando para um fim sem ocaso. Espera sempre, sabe que o Senhor falou de sementes pequenas, mas que crescem, de pouco fermento, mas que fará a massa crescer, sabe também que o joio está com o trigo, por isso não quer arrancá-lo, pois todas as vezes que seus filhos tentaram fazer isso inquisitorialmente, foi um fracasso. Prefere usar a misericórdia, a paciência, o entendimento, o perdão e a indulgência, a excomungar e lançar anátemas.

Não quer pressionar, não quer forçar nada como alguns gostariam, não pretende ser cada vez mais numerosa e forte, não deseja ser poderosa e rica, pois os que isso queriam arruinaram-na. Não pretende saber tudo, não quer dar normas a todos, como alguns fizeram em outros tempos e ainda querem que continue fazendo agora. Ela prefere dialogar, mas muitos de seus filhos têm medo do diálogo. Os tempos mudaram, ela prefere silenciar, oferecer a água pura de sua verdade como as fontes dos povoados que oferecem água ao sedento, sem obrigar ninguém a beber. Quer abrir janelas, sacudir o pó de imperadores e reinos passados, quer respirar ares novos repletos de oxigênio mesmo sendo muito velha, mas muitos fecham apressados suas janelas, "com medo de que a velha se resfríe..."

Ainda que pareça silenciosa, muda e surda, no fundo escuta uma voz interior que lhe sussurra palavras de vida eterna. Quando nos parece cega, na realidade tem os olhos voltados para dentro, para o Senhor, seu Esposo que lhe dá força, dá-lhe seu Espírito para que nunca se desanime, não decaia, não perca a esperança, para aprender a viver novos tempos. Ainda deve percorrer um longo caminho, como aconteceu ao velho e cansado Elías no deserto.

Parece sofrer Alzheimer, mas na realidade o que ela quer é que nós a cuidemos, como um esposo carinhoso que cuida de sua esposa enferma, ela quer ser amada, atendida e que nós façamos uma reflexão sobre o que fizemos com ela, por que a deixamos nesta situação, por que a abandonamos procurando outras ideologias, outras religiões, outras cosmovisões, outras espiritualidades, mais atraentes e sedutoras, que nos deixam mais satisfeitos, mas que talvez não nos questionem tanto. Quem é o responsável por ela se encontrar assim hoje em dia? Quem é o culpado por ela parecer tão suja e imunda? Quem lhe arrebatou suas jóias para brilhar com elas? Quem foram as pessoas que se apropriaram dela, utilizando-a, manipulando-a, dizendo que eles "são" a Igreja, que a representam e falam em seu nome? Aquele que não tiver culpa que lance a primeira pedra, começando pelos mais velhos…

Esta Igreja com tanta idade atravessa fases como a lua, segundo alguns Santos Padres. Há momentos minguantes, de escuridão, de eclipse: agora estamos num deles. Mas, logo chegarão momentos de claridade e de luz crescente. Ela brilha com a luz do Sol que é o Senhor, não com luz própria. Deve esperar, ter paciência.
Essa velha senhora é visitada pelos pobres, crianças, mulheres fiéis, gente insignificante, que não lhe temem, que gostam dela, levam-lhe flores, sabem que seu coração está vivo e alegre e embora seja anciã é fértil. Sentem-se bem com ela, mesmo falando pouco ou ficando calada, escutam seu silêncio como uma música branca, sabem que seu coração é terno e jovem, misericordioso, que os compreende e que os ama. Ela agradece, sorri e acaricia-lhes suas mãos com carinho maternal.

Pessoas ilustres não a visitam, não recebe visitas de pessoas importantes e poderosas, pois já não podem tirar proveito dela, já extrairam tudo o que foi possível, abusaram dela. Ela agora já não serve, é lixo, uma velharia. São todos aqueles que com a desculpa de servi-la, se serviram dela para seus interesses, "em seu nome". E assim a deixaram, desprestigiada, com péssima fama. Utilizaram seu nome, invocaram a civilização cristã para se enriquecerem. Esta velha anciã cheia de achaques já não lhes serve.

Outros dizem que aceitam Jesus, seu Esposo mas não a velha e caduca Igreja, como se o Espírito de Jesus não animasse o corpo da Igreja. A velha Igreja sabe disso, dói em sua alma esta preterição, pois ninguém poderá ir a Jesus se não passar por ela, ninguém poderá separá-la de seu Esposo. É tentação, é orgulho. Mas ela se cala e espera, um dia talvez percebam e voltem para a velha Igreja. Ela tem um grande tesouro para comunicar à humanidade: chama-se Jesus de Nazaré, morto e ressuscitado por nosso bem, para termos vida em abundância. Ela o entrega generosa aos que a procuram com simplicidade de coração, mesmo sendo idosa ou talvez por isso mesmo.

Um dia o Senhor regressará e embelezará sua fiel Esposa com luz resplandecente e vestidos novos; a Igreja voltará a ser jovem e bonita e Ele lhe agradecerá por ter tido tanta paciência e tanta resistência durante muitos anos, por haver sido a velha Igreja silenciosa e meio surda, sofrendo de uma doença que parecia incurável mas que na realidade não passava de um momento de debilidade, uma fase passageira da anciã Igreja, sempre jovem pela força do Espírito. Mas, até chegar esse dia, haverá alguém que queira cuidar desta senhora idosa chamada Igreja?

Autor: Víctor Codina, S.J. é professor de eclesiologia na Universidade Católica Boliviana de Cochabamba

20 de julho de 2009

Amigo,amigos,amizade...

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Eu nunca fui muito ligado nestas datas inventadas. Não sei porque mas sempre tenho a impressão de que há algo comercial sendo gestado por trás da boa intenção das pessoas.
Mas lendo essa crônica do Rubem Alves achei que serria uma boa maneira de marcar a data e de certa forma abraçar virtualmente os meus amigos e amigas.
Sintam-se então abraçados, meus amigos e amigas.
J. Ricardo


"...Dei-me conta, com uma intensidade incomum, da coisa rara que é a amizade.
E, no entanto, é a coisa mais alegre que a vida nos dá.
A beleza da poesia, da música, da natureza, as delícias da boa comida e
bebida perdem o gosto e ficam meio tristes quando não temos um amigo com quem
compartilhá-las. Acho mesmo que tudo o que fazemos na vida pode se resumir
nisto: a busca de um amigo, uma luta contra a solidão...

(...)A experiência da amizade parece ter suas raízes fora do tempo, na
eternidade. Um amigo é alguém com quem estivemos desde sempre. Pela
primeira vez, estando com alguém, não sentia a necessidade de falar. Bastava
a alegria de estarem juntos um ao lado do outro.

(...)Amigo é aquela pessoa em cuja companhia não é preciso falar. Temos aqui
um teste para saber quantos amigos temos. Se o silencio entre vocês dois lhe
causa ansiedade, se qdo. o assunto foge você se põe a procurar palavras para
encher o vazio, e manter a conversa animada, então a pessoa com quem você
está não é sua amiga. porque um amigo é alguém cuja presença procuramos não
por causa daquilo que se vai fazer juntos, seja bater papo, comer, jogar ou
transar. Até que tudo isso pode acontecer. Mas a diferença está em que, qdo.
a pessoa não é amiga, terminado o alegre e animado programa, vem o silencio
e o vazio - que são insuportaveis. Nesse momento o outro se transforma num
incomodo que entulha o espaço e cuja despedida se espera com ansiedade.
Com o amigo é diferente. Não é preciso falar. Basta a alegria de estarem
juntos, um ao lado do outro. Amigo é alguém cuja simples presença traz
alegria independentemente do que se faça ou diga. A amizade anda por
caminhos que não passam pelos programas.
Uma estória oriental conta de uma arvore solitária que se via no alto da
montanha. Não tinha sido sempre assim. Em tempos passados a montanha
estivera coberta de arvores maravilhosas, altas esguias, que os lenhadores
cortaram e venderam. Mas aquela árvore era torta, não podia ser
transformada em tábuas. inútil para os seus propósitos, os lenhadores a
deixaram lá. Depois vieram os caçadores de essências em busca de madeiras
perfumadas. Mas a arvore torta, por não ter cheiro foi desprezada e lá
ficou. Por ser inútil, sobreviveu. Hoje ela está sozinha na montanha. Os
viajantes se assentam sob a sua sombra e descansam.
Um amigo é como aquela árvore. Vive de sua inutilidade. Pode até ser útil
eventualmente, mas não é isso que o torna um amigo. Sua inútil de fiel
presença silenciosa torna a nossa solidão uma experiência de comunhão.
Diante do amigo sabemos que não estamos sós.
E alegria maior não pode existir."

Rubem Alves

Como já disse o velho Milton," amigo é coisa pra se guardar do lado
esquerdo do peito.."

22 de junho de 2009

O Profeta no deserto

Marcelo Barros *
Adital -

Nestes dias, a cultura popular brasileira é tomada pela memória do nascimento de São João Batista. Muitos cânticos tradicionais recordam o que conta o início do evangelho de Lucas. Trata-se de uma linguagem narrativa, como os mestres judeus costumavam comentar passagens bíblicas do primeiro testamento. Os grupos de novena e de folia sabem que o importante destas tradições é a proclamação de que começou um tempo novo. O útero da mulher estéril (Isabel) tornou-se fértil e o pai mudo começou a profetizar. São sinais de uma transformação que, durante toda a sua vida, João Batista, como profeta, anunciou e pelo qual trabalhou.Conforme a espiritualidade cristã, João Batista é uma figura paradigmática de todos os tempos e não apenas um santo que viveu há mais de dois mil anos. Como os profetas de todos os tempos, ele nos recorda que o deserto pode ser fértil e, como dizem profetas populares de movimentos messiânicos brasileiros, "o mar vai virar sertão". Hoje, a sociedade tende a nos tornar meros consumidores de um mundo banalizado como imenso centro comercial. E a natureza sofre as conseqüências de ser tratada como mercadoria. Neste contexto, a figura do profeta toma outro contorno. Ao ressaltar no deserto o rio Jordão e o batismo como mergulho em uma vida nova, nos chama a valorizar a água como sinal de vida e a descobrir, mesmo na aridez, oásis de fertilidade e caminhos de vida nova e sadia. João Batista nos ajuda a descobrir que, em meio a todas as dificuldades e como profetas no deserto, podemos ser pessoas mergulhadas no divino (é isso que quer dizer batizadas) e testemunhas da ação divina de transformação do mundo. Há quem se espante que tanto João como Jesus de Nazaré reuniram mais pessoas consideradas socialmente pecadoras do que os religiosos de sua época que, aliás, não os aceitaram. Existe um tipo de espiritualidade que põe as pessoas em uma espécie de elite sagrada, a se impor uma série de ideais e metas que as pessoas tentam alcançar através de exercícios espirituais e orações. Este tipo de espiritualidade tem seu valor porque aponta um alto objetivo que as pessoas devem alcançar. O risco é que muita gente não enfrenta o negativo presente em suas vidas. Então, o edifício espiritual fica construído como se fosse uma casa sem alicerce. A qualquer momento, aquilo que é negado, mas nem por isso deixa de existir, assoma e toma conta da casa. Faz parte essencial da espiritualidade, nos lembra João Batista, assumir nossas negatividades e trabalhá-las, nos descobrindo frágeis e divididos, mas objetos prediletos do carinho divino. Um monge antigo do Oriente dizia que o céu, mas também o inferno, estão dentro de nós mesmos. A espiritualidade da Bíblia não idealiza profetas nem se concentra em ideais e metas muito altas. Assume as ambigüidades de Abraão, capaz de, para escapar com vida, entregar a própria mulher a um rei estrangeiro como concubina. Não nega a esperteza mentirosa de Jacó para roubar do irmão Esaú o direito à primogenitura. Não disfarça que Moisés, ao encontrar com Deus no Horeb, estava fugido, porque tinha assassinado um egípcio. Não idealiza Davi que, por gostar de mulheres, é capaz de mandar matar um auxiliar que lhe servia. Não desconhece a inconstância de Salomão e assim por diante. Nos evangelhos, Jesus lida com a impetuosidade de Pedro, com a ambição de poder dos discípulos e a enorme fragilidade da adesão dos amigos. Corrige o que precisa ser corrigido, mas não nega a realidade e sim parte dela para caminhar. É isso que faz João ao batizar o povo e dizer "No meio de vós, (em vós), está Alguém que não conheceis". É quando Jesus mergulha nas águas do rio Jordão, carregadas dos pecados de todo o povo batizado por João, que o Espírito Divino desce sobre ele e o Pai manifesta o seu imenso bem querer por Jesus e pela humanidade, chamada a escutá-lo e acolhê-lo como testemunha do amor e mestre de vida.Corremos o risco de transformar o mundo inteiro em deserto e precisamos ser instrumentos da profecia que anuncia a transformação dos desertos em jardins floridos. Mas, o deserto geográfico nos mostra que temos também um deserto interior, um espaço de solidão e silêncio no qual precisamos entrar para nos encontrar e para reconhecer a realidade interior a partir da qual podemos acolher o divino e ser transformados por ele. Carl Jung dizia que somos apenas o estábulo, no qual Deus se digna nascer. Mas, isso é muito e precisa ser descoberto e valorizado.

* Monge beneditino e escritor

20 de junho de 2009

O maravilhoso mundo moderno

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Um jovem que estava assistindo a um jogo de futebol, tomou para si a responsabilidade de explicar a um senhor, já maduro, próximo dele, por que era impossível a alguém da velha geração entender esta nova geração:

“Vocês cresceram em um mundo diferente, um mundo quase primitivo”, o estudante disse alto e claro de modo que todos em volta pudessem ouvi-lo.

“Nós, os jovens de hoje, crescemos com televisão, aviões a jato, viagens espaciais, homens caminhando na Lua, nossas espaçonaves tendo visitado Marte.
Nós temos energia nuclear, carros elétricos e a hidrogênio, telefones celulares, computadores com grande capacidade de processamento e...,
fez uma pausa para tomar outro gole de cerveja.
Então o senhor se aproveitou do intervalo do gole para interromper a liturgia do estudante em sua ladainha e disse:
“-Você está certo, filho.
Nós não tivemos essas coisas quando nós éramos jovens...


Por isso nós as inventamos!!!
E você, seu rapazinho arrogante dos dias de hoje, o que você está fazendo para a próxima geração?”

"Todo mundo pensa em deixar um planeta melhor para nossos filhos...
Já é hora de pensarmos em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"


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19 de junho de 2009

Enfim Energia Limpa !

Brasil pode ter uma Itaipu dos ventos


A energia tirada dos ventos é tida, para muitos, como a união a fome com a vontade de comer. O Brasil tem, principalmente em seu litoral, uma forte incidência de ventos e há investidores que querem explorar esse potencial. O problema é a falta de um marco regulatório sobre essa atividade. “Do dia para a noite a regulação muda ou cria-se uma regra nova”, ressalta Luis Pescarmona, diretor geral da IMPSA, empresa argentina que atual no setor, e que participou dos debates sobre o tema na Conferência Ethos 2009.
A reportagem é de Glória Vasconcelos e publicada pela Agência Envolverde, 18-06-2009.


A IMPSA já atua em diversas regiões do Brasil e, segundo o seu diretor, tem obtido resultados muito positivos, não apenas nos seus resultados em termos de produção de energia, mas também no que se refere ao nível de desenvolvimento das comunidades em que está presente. “Não é apenas instalar as hélices. Temos visto pessoas que eram cortadores de cana, crescerem e produzerem coisas maravilhosas, com treinamentos e educação”, diz o empresário, explicando que o mercado de energia eólica é visto com bons olhos, pois gera, para cada 1500 MW produzidos, em média 2 mil empregos.
Até recentemente havia outras barreiras para o aproveitamento desse tipo de energia limpa, no Brasil, mas a maior delas, que era a tecnológica, já está superada, conta Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace Brasil. Outra dificuldade é a questão do preço da energia, que atualmente é definido em leilões promovidos pela Aneel.
Comentando o leilão programado para novembro, Pescarmona observa que até o momento as regras ainda não estão claras. Não sabemos o quanto será pago pela energia, que precisa ser um preço justo. “Ninguém vai investir se as regras para competição não forem claras”, ressalta. Na Europa para cada euro investido em estudo e tecnologia o retorno é cinco vezes maior. “Investimento é grande, mas o retorno é enorme” completa Pescarmona.
Hoje a energia eólica movimenta cerca de 50 bilhões por ano no Brasil segundo relatório do Pnuma divulgado recentemente. De acordo com Furtado, do Greenpeace, não há vontade política para regularizar o setor apesar de esse tipo de energia ser vista como uma solução mesmo com as mudanças climáticas.
Hoje o Greenpeace apoia o projeto de lei do deputado Edson Duarte (PV-BA), que incentiva as energias renováveis baseado no mecanismo tarifário feed-in, modelo que garante acesso dos geradores à rede e determina um preço justo e fixo pela venda dessa energia em contratos de longo prazo. E pode ser aprovado ainda este ano no Senado

17 de junho de 2009

“Sujeitos do Novo”

Carlos Signorelli Presidente do CNLB

[Curiosamente até setores da igreja de Roma que sempre se mantiveram à margem de discussãoes sobre mudanças e mudanças de paradigma parece que não podem mais ficar em cima do muro. (J Ricardo)]


Imaginemo-nos numa ponte pênsil, aquela feita de cordas e madeiras, e que une dois pontos separados por um despenhadeiro profundo.
Estamos em conjunto, uma multidão, caminhando de um lugar que conhecíamos e que estamos deixando para trás e rumando para um lugar, do outro lado do precipício, desconhecido para nós.
A ponte balança, as pessoas sentem-se mal, algumas temem por não saber onde vão chegar, como é o lugar, outras choram por se perceberem deslocadas do lugar que conheciam tanto. Por isso algumas param, sentam-se e negam-se a continuar. Outras decidem voltar, mas percebem que quanto mais caminham para o lugar de saída mais este vai se distanciando. Outros ainda, caminham como se nada estivesse acontecendo. Por fim, alguns decidem caminhar firmemente, acreditando que, onde quer que cheguem, ali vão construir a sua vida, a partir de sua utopia de vida.
Esta metáfora da ponte pênsil nos representa, ou seja, representa a todos os homens e mulheres que vivem agora neste Planeta. Estamos no processo de transição de um modelo civilizatório pra outro, ou seja, estamos em processo de mudança de paradigma de civilização.
O Documento de Aparecida chama isso de Mudança de Época, e para afirmar o seu sentido diz que não é apenas uma época de mudanças. Isto significa dizer é que este momento é o momento de transição de um conjunto de regras, costumes, valores, signos, estruturas e instituições sob as quais nascemos e às quais nos acostumamos, para outro, do qual nada sabemos, pois tudo está em processo de construção.
Tudo está em crise: o Estado, a forma de democracia que temos, a sustentabilidade do Planeta Terra, os símbolos todos, também os religiosos e, portanto, todas as religiões e suas instituições, inclusive a nossa Igreja. A educação está em crise, e a família, tão cara a muitos de nós, está em fase rápida de mudanças radicais.
Está se forjando um novo paradigma civilizacional, com um novo conjunto de valores e instituições. Nada está ainda dado de concreto desse novo. Mas sabemos que os valores da prática de Jesus devem estar presentes neste Novo. E estes valores só farão parte do novo se nós os plantarmos lá.
Eis a nossa responsabilidade como cristãos e cristãs: construirmos o Novo, nele plantando os valores que se originam da prática e da palavra de Jesus, e que queremos chamar de cristianismo.