O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

28 de março de 2011

Como o profeta Amós, Padre José Comblin incomodava

Carlos Mesters

Padre José Comblin morreu. Um bispo o criticou, como: "Comblin, homem cansado e pessimista". O pessoal das Comunidades por onde ele andava não o chamava de Comblin, mas sim de "Padre José". Padre Comblin incomodava as pessoas de poder, mas era amado pelos pobres que o acolhiam carinhosamente como Padre José.

Padre José Comblin nasceu na Bélgica nos anos 20 do século passado e nos anos 50 veio trabalhar e anunciar a Boa Nova aqui no Brasil. O profeta Amós era de Judá no Sul e foi trabalhar e anunciar a Boa Nova de Deus em Israel no Norte, no santuário de Betel. Amasias, o sacerdote de Betel, não gostou e denunciou o profeta junto ao rei Jeroboão, dizendo que já não se podia tolerar as palavras de Amós. E mandou dizer ao próprio Amós: "Ó, seu profeta, vá embora daqui. Retire-se para sua terra Judá. Vá ganhar sua vida por lá com suas profecias. Mas não me venha mais fazer suas profecias aqui em Betel, pois isto aqui é o santuário do Rei e o templo do Rei". Amós mandou dizer: "Eu não sou profeta nem filho de profeta. Sou camponês, criador de gado e cultivador de sicômoros. Foi Javé que me tirou de trás do rebanho e me ordenou, ‘Vá profetizar ao meu povo Israel'!" (Amós 7,10-15).

Como o profeta Amós, Padre José Comblin incomodava aos homens do poder no tempo da ditadura e foi expulso várias vezes. Incomodava também aos que exercem o poder na Igreja. Alguns deles chegaram a dizer que já não se podia tolerar as coisas que ele dizia, e eles proibiram a fala dele várias vezes em vários lugares.
Como o profeta Amós, Padre José, ele mesmo, nunca se apresentou como profeta. Ele se apresentava como ser humano cristão e sacerdote, cumpridor fiel do seu dever. Posso testemunhar: convidado para falar nas comunidades e nos grupos do CEBI, Padre José convencia as pessoas pela simplicidade do seu jeito de conversar e dialogar, pelo testemunho da sua sinceridade e profundidade de vida e pela quantidade enorme de informações de que dispunha para confirmar as coisas que dizia e as denúncias que fazia.

Mesmo ausente ele continua presente. Como o profeta Amós, "seu corpo foi sepultado em paz, mas o seu nome viverá através das gerações" (Eclo 44,14). Eternamente grato.


*Frei Carlos Mesters, 0.Carm. Convento do Carmo, São Paulo, 28 de março-2011.
Biblista popular, Carlos Mesters é um dos fundadores do CEBI.


http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=1&noticiaId=1885

27 de março de 2011

O nosso já Saudoso, Comblin...



Morre
um dos maiores teólogos pensadores

da Teologia da Libertação

* 22 de março de 1923 + 27 de março de 2011

Morreu hoje cedo 27/3/2011, na cidade de Pedro Simões, interior da Bahia, o padre José Comblin, 88 anos, um dos mais importantes e polêmicos teóricos da Teologia da Libertação, e autor de vários livros, entre os quais A Teologia da Enxada, sobre a vivência cristã e teológica nas comunidades rurais.

Comblin estava dando um curso para comunidades de base em Pedro Simões. Foi encontrado morto, sentado, em seu quarto, quando era esperado para a oração da manhã e não apareceu na capela. Ele tinha problemas cardíacos e usava marcapasso. Apesar da doença, parecia bem disposto e estava trabalhando.

Nascido em Bruxelas, em 22 de março de 1923, padre Comblin veio para o Brasil em 1958, atendendo a apelo do papa Pio XII, que no documento Fidei donum (O Dom da Fé) pedia missionários voluntários para regiões com falta de sacerdotes.

Depois de trabalhar em Campinas e, em seguida, passar uma temporada no Chile, foi para Pernambuco, em 1964, quando D. Helder Câmara foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Perseguido pelo regime militar, foi detido e deportado, em 1972, ao desembarcar no aeroporto de volta de uma viagem à Europa. Religioso foi perseguido pelo regime militar brasileiro, chegando a exilar-se no Chile

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,morre-padre-belga-jose-comblin-da-teologia-da-libertacao,697964,0.htm
Trechos de uma entrevista do Pe. Comblain.
Quando o senhor fala de mudar o mundo, fala de revolução social?

Não, de mudar a humanidade, a forma de se relacionar entre as pessoas, isso é o que é preciso mudar. Como fizeram as comunas medievais, as comunidades de base, as empresas cooperativas, em que todos participam. No final, o império cairá como todos os anteriores, e os oprimidos se libertarão graças à sua luta.

Como o senhor caracteriza Jesus Cristo?

Ele vem mostrar em sua vida o que é a nova humanidade e anunciar a transformação. Busca os que sofrem, os doentes, os que não tiveram sorte. Depois, anuncia aos pobres que a situação mudará, que tenham confiança e força, porque eles têm a sabedoria de Deus e a entendem. Por outro lado, os ricos e poderosos nunca entendem e não querem entender. Eles defendem seus privilégios e nada mais. Depois, ele reuniu uma comunidade e lhes deu uma recomendação básica fundamental: que ninguém queira ser mais do que os outros. Isso basta, é a única instrução. Se respeitarem isso, todo o resto funciona. Depois, denunciou a todos os que mantêm o sistema de dominação, e que o defendem, porque lhes beneficia. Por fidelidade a essa mensagem, todas as autoridades de Israel querem matá-lo e vão pôr-se de acordo com o governador romano que, de fato, sente que ele é um revolucionário que ameaça seu sistema e ao qual é melhor suprimir. Jesus mostrou o caminho para construir um mundo novo, não só para salvar a alma, que é mais fácil.

24 de março de 2011

Mais um ano sem São Oscar Romero

São Oscar Romero, mártir.
Rogai por nós !




Trecho da última Oração Eucarística
celebrada por São Oscar Romero

”... Vocês acabam de ouvir, no Evangelho de Cristo, que as pessoas não devem amar tanto a si mesmas e cercarem-se de cuidados para evitar os riscos da vida que a história nos exige, pois quem quiser afastar de si o perigo acabará perdendo a sua vida. Em contrapartida, aquele que se entrega por amor a Cristo a serviço dos outros viverá como o grão de trigo que morre, mas só morre aparentemente. Se não morresse, permaneceria só. Mas a colheita só existe porque ele morre, deixa-se imolar nesta terra, desfazendo-se – e só se desfazendo é que ele produz a colheita.
... Esta santa missa, esta Eucaristia, portanto, é precisamente um ato de fé: pela fé cristã, parece que neste momento a voz da diatribe converte-se no corpo do Senhor, que se ofereceu pela redenção do mundo, e neste cálice, cujo vinho se transforma no sangue que foi o preço da salvação. Que este corpo imolado e este sangue sacrificado pelos homens nos alimentem, para que, como Cristo, também saibamos dar nosso corpo e nosso sangue no sofrimento e na dor, não por nós mesmos, mas para trazer justiça e paz para o nosso povo. Na fé e na esperança, unamo-nos intimamente neste momento de oração, por dona Sarita e por nós mesmos...”

(NESSE MOMENTO, SOOU "O COVARDE" DISPARO MORTAL...)

24 de março de 1980

23 de março de 2011

A Igreja ainda pode ser salva? O novo livro de Hans Küng

“Na presente situação não posso assumir a responsabilidade de silenciar”, diz Hans Küng: A Igreja católica está enferma, talvez moribunda. Em vez de minimizar, ocultar, silenciar, é preciso assumir um honesto diagnóstico e propor terapias eficazes.

Essa proposta está presente no mais recente livro de Küng, Ist die Kirche noch zu retten? [A Igreja ainda pode ser salva?], recém publicado pela editora alemã Piper.

Durante toda a sua vida Hans Küng serviu a Igreja católica (em todo o caso, nem sempre para alegria dos papas): como teólogo mundialmente respeitado, como sacerdote e autor muito lido.

Agora ele novamente presta à Igreja um serviço, enquanto expressa claramente de que a Igreja está enferma, por que enfermidade ela está afetada. Sua crise ultrapassa muitíssimo os casos de abuso e seu acobertamento: trata-se de uma crise sistêmica básica. Uma Igreja que continua atendo-se ao seu monopólio de poder e de verdade, em uma inimizade sexual e com as mulheres, que se recusa às reformas e ao mundo moderno esclarecido, não poderá sobreviver – esse é o diagnóstico de Hans Küng. Por isso ele propõe uma agenda para um “diálogo futuro”, explicitada em seu novo livro.

Hans Küng, nascido em 1928 em Sursee, Suíça, é professor emérito de teologia ecumênica da Universidade de Tübingen e presidente da Fundação Ética Mundial, cujo escritório brasileiro encontra-se no Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Ultimamente, foram publicados sua obra mais pessoal, Was ich glaube [O que creio], assim como Anständig wirtschaften. Warum Ökonomie Moral braucht[Negociar honestamente. Por que a economia necessita de moral].

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=41627

19 de março de 2011

Natureza, ''o corpo cósmico de Cristo''.


Marcelo Barros

Natureza, ''o corpo cósmico de Cristo''. Por uma espiritualidade ecológica. Entrevista especial com Marcelo Barros

Defensor de uma espiritualidade ecológica, o monge beneditino Marcelo Barros nesta entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail, afirma que todas as tradições espirituais, com linguagens diferentes e acentuações próprias, ensinam uma contemplação da presença e da atuação divinas no mundo.

Para abordar a relevância da relação entre espiritualidade e ecologia, Barros estará presente em dois momentos do programa Páscoa IHU 2011, que inicia no próximo dia 30 de março. O primeiro deles é a palestra Diálogo Inter-Religioso e Ecologia, das 17h30min às 19h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros - IHU, na Unisinos. E o segundo encontro é o painel das religiões Espiritualidade e Ecologia. Uma Perspectiva Inter-Religiosa, promovido em conjunto com o Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo - Gdirec, das 19h30min às 22h, no Auditório Central da Unisinos.

Segundo ele, é importante saber-nos jardineiros do universo, e não seus donos. Em termos cristãos, é preciso "olhar toda a natureza como uma espécie de 'corpo cósmico do Cristo'", ilustra. "O cuidado com a natureza é sagrado, como é a hóstia consagrada".

Além da presença de Marcelo Barros, a Páscoa IHU 2011 aprofunda a reflexão sobre o cuidado da vida na cultura contemporânea por meio da exibição dos filmes A Era da Estupidez, de Franny Armstrong (2009, 98 min.), no dia 30 de março, das 19h30min às 22h, e de Home – Nosso Planeta, Nossa Casa, de Yann Arthus-Bertrand (2009, 90 min.), no dia 26 de abril, no mesmo horário. Ambos serão exibidos na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros - IHU.

Marcelo Barros é monge beneditino, teólogo e escritor. Membro da Comissão Latino-americana da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo - ASETT, assessora as comunidades eclesiais de base e movimentos populares. Tem 37 livros publicados, dentre os quaisO Amor Fecunda o Universo (Ed. Agir, 2009), de coautoria de Frei Betto. Estão no preloDom Hélder Câmara, Profeta para os Nossos Dias (Ed. Paulus) e Espiritualidade Socialista para o Século XXI (Ed. Nhanduti).

Confira a entrevista

IHU On-Line – Em sua opinião, o que é e como pode ser vivida uma espiritualidade ecológica e ecumênica?

Marcelo Barros – A espiritualidade é o caminho de intimidade com o Espírito Divino. O evangelho fala em “se deixar conduzir pelo Espírito”. Isso é graça, é dom. Um modo de se viver isso é se exercitar no amor, na aceitação, no diálogo e no aprendizado com os diferentes – pessoas de outras Igrejas, religiões e tradições espirituais. Isso é a espiritualidade ecumênica. E viver a relação amorosa com todo ser vivo, como expressão da presença divina no universo – a espiritualidade ecológica.

IHU On-Line – Que aspectos da espiritualidade cristã, como vivenciada hoje, podem apresentar sinais “não ecológicos”? Como torná-la cada vez mais ecológica, individual e comunitariamente?

Marcelo Barros – A espiritualidade cristã surgiu do contexto cultural judaico, que teve de se libertar de antigas culturas que adoravam os astros e a natureza e legitimavam opressões, escravidão etc. Por isso, insistiu que Deus se revela na história e deu menos importância à presença divina na natureza. Uma coisa que temos de mudar é certa separação que parecia haver entre Criação e Salvação, natureza e história. Quando eu era pequeno, me ensinaram a orar fechando os olhos. Isso tem um valor – ajuda a nos concentrar –, mas, na espiritualidade ecológica, aprendi a orar abrindo os olhos para a beleza do mundo e da vida.

IHU On-Line – No debate ecológico, parece haver dois contrapontos: os que defendem que as mudanças climáticas não existem e que a natureza está ao dispor do desenvolvimento humano (antropocentrismo); e aqueles que a colocam acima das necessidades humanas (ecocentrismo). É possível encontrar um meio termo?

Marcelo Barros – Não me parece que se trata de meio termo e sim de superar essa noção de qual é o centro ou o mais importante, como se fosse concorrente – ou o ser humano ou a natureza, ou o desenvolvimento ou a preservação. Penso que o mais sagrado é a vida, e a comunidade da vida é o mais importante. De um lado, superar a noção do crescimento ou desenvolvimento como meta acima de tudo. Nem sempre crescer é o melhor. O câncer é o crescimento desorganizado das células e mata. Não é bom.

De outro lado, é certo que o ser humano tem uma missão no universo e não podemos advogar uma ecologia preservacionista que diz: "Se o homem desaparecer da terra, a natureza agradece". Essa não é a visão de uma espiritualidade nem bíblica, nem budista, nem afro ou indígena. O importante é a humanidade não querer ser dona de tudo e sim gerente ou jardineira do universo.

IHU On-Line – O que o relato bíblico da Criação pode nos inspirar acerca de uma espiritualidade ecológica?

Marcelo Barros – Na Bíblia, há vários relatos da Criação. Há alguns nos profetas (Isaías, por exemplo), outros nos livros da Sabedoria e há os dois do Gênesis. A idéia de Criação surgiu na Bíblia como argumento para dizer que Deus é libertador. Em épocas nas quais o povo estava oprimido, os profetas diziam: se ele criou com tanto amor, vai nos salvar. Creio que os relatos da Criação sublinham o amor divino que criou tudo, a missão humana de ser como Deus é para nós, e assim nós sermos para os outros, e a vivência da vocação de defender a vida e de sermos livres e felizes.

IHU On-Line – Que outras narrações religiosas nos ajudam a alimentar e fomentar a mística e a contemplação de Deus presente na natureza?

Marcelo Barros – A mística judaica – dos rabinos – fala em Deus como Mãe, e do universo como saído do útero divino (rabino Luriá, século XVI). A mística do Candomblé diz queOdodua ou Olorum criou nos tornando criadores. Os índios Maya dizem que o ser humano foi criado do milho para ser flexível e um ser alimento de vida para o outro crescer. Penso que todas as tradições espirituais, com linguagens diferentes e acentuações próprias, indicam essa contemplação da presença e da atuação divinas no mundo.

IHU On-Line – Você fala de uma "teologia ecológica da eucaristia", em que a presença de Cristo se dá pelos elementos fundamentais da natureza. Que implicações isso tem para a vivência da fé cristã?

Marcelo Barros – Ajuda a olhar toda a natureza como uma espécie de "corpo cósmico doCristo". Assim como ele nos ensinou que quem dá um copo d’água a um pobre, é a ele que dá, e quem socorre uma pessoa necessitada, é a ele que socorre, assim também o cuidado com a natureza é sagrado, como é a hóstia consagrada.

IHU On-Line – "A criação geme em dores de parto": nos últimos dias, trágicos acontecimentos naturais, como as enchentes no Sul do Brasil e o maremoto do Japão, chocaram a opinião pública. Como analisar, teológica e ecologicamente, esses fatos?

Marcelo Barros – Em horas assim de sofrimento e nas quais temos muitos irmãos e irmãs chorando a dor de entes queridos e países como o Japão e o Haiti, precisando ser reconstruídos, não é justo tirarmos lições frias ou como quem diz: "A gente não tinha avisado?".

Nas enchentes e inundações em várias regiões brasileiras, são sempre os pobres que sofrem mais. Diante de tanta dor, vamos simplesmente nos mobilizar e ser solidários e sofrer com o outro. Todo mundo sabe que a natureza sempre teve esses fenômenos, mas nunca com tanta intensidade e tanta frequência como agora. É preciso mudar os padrões de civilização. Vários países estão se perguntando: podemos continuar a mesma política energética? Construir mais centrais nucleares apostando na segurança que uma vez ou outra falha?

Nada de leituras fundamentalistas – castigo divino ou fim do mundo – e nada de catastrofismo. Mas, sim, partir do sofrimento para nos organizar melhor e aprender a conviver melhor com a terra e com os seus ritmos próprios. Não podemos continuar a construir casas em lugares perigosos, a edificar cidades tomando o lugar do mar e assim por diante. O Apocalipse(capítulos 21 e 22) diz que, na Nova Jerusalém, natureza e técnica humana, construção urbana, têm de ser muito mais harmônicas e casadas.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=41514

12 de março de 2011

Marcelo Barros: Eu me acuso II - sobre a profecia de Comblin

Marcelo Barros

Alguns órgãos de comunicação ligados à pastoral popular divulgaram uma recente conferência feita pelo padre José Comblin no Chile e uma entrevista-resumo que o padre Comblin deu logo depois. Diante deste material, Dom Redovino Rizzardi, bispo católico de Dourados, reagiu com um texto no qual afirma que o padre Comblin está ressentido. Segundo ele, isso se deveria ao seu envelhecimento e sua posição é pessimista e negativa. O seu texto tem um título pesado: José Comblin: crepúsculo de um profeta?

José Comblin é um teólogo famoso no mundo inteiro e um pastor dedicado ao melhor da inserção junto aos pobres. Viveu isso a sua vida inteira e continua vivendo-o hoje. Não precisa de defesa minha nem de ninguém. Provavelmente entre os católicos conscientes de hoje, se encontram muitos que estão a favor de tudo o que o padre Comblin disse e ainda de outras coisas mais. É claro que em um debate aberto e democrático, a reação de Dom Redovino é até bem-vinda, desde que ele se coloque na discussão e não comece desmerecendo quem pensa diferente dele. Lamento que ele não respondeu ao padre Comblin com argumentos. O quadro que o padre Comblin pinta da centralização hierárquica romana é ou não verdade? Neste contexto autoritário, existe ou não o controle do pensamento e da ação? E o que Comblin diz sobre os dois últimos papas é real ou não? Sem entrar propriamente no mérito das questões, Dom Redovino simplesmente cita o texto do profeta Elias no Horeb, (1 Reis 19), tirando-o do contexto histórico e pinçando dele apenas o elemento da brisa silenciosa. No texto bíblico, a brisa é sinal da presença e da nova revelacao divina. Nesta reação ao padre Comblin, se torna elemento ou fator de mudança (eclesial?).

Na primeira metade dos anos 80, em um diário nacional, um importante companheiro do CEBI foi acusado por um bispo brasileiro de fazer leitura redutiva da Bíblia e de outros "erros". Julguei ser minha obrigação vir a público e escrevi um artigo intitulado "Eu me acuso!". Neste texto, eu dizia que tudo aquilo do qual o irmão em questão era criticado, podiam também dizer de mim. Então, não seria justo deixá-lo sozinho na arena dos leões. Agora me sinto obrigado a escrever um "Eu me acuso número 2" para dizer que, embora eu tenha outro temperamento e outro estilo pessoal, a maioria das coisas que o padre Comblin disse, eu penso exatamente assim e assinaria embaixo. Não tenho 87 anos (tenho 66) e penso que quem me conhece sabe que não sou de natureza pessimista nem digo isso por amar menos a Igreja. Ao contrário, a amo como minha mãe. Mas, isso me obriga a ser ainda mais exigente e sincero em querer vê-la "sem rugas nem manchas".

Quando escuto críticas dizendo que o padre Comblin é pessimista ou que realça mais o negativo, me lembro do saudoso padre Alfredinho (Alfredo Kunz) que, nos anos 70, em Crateús, comparava os profetas bíblicos com os urubus que via nos telhados das casas de periferia. Ele dizia: "Normalmente, ninguém gosta de urubu e entretanto das aves é a mais útil no sertão do Nordeste a cuidar da higiene e da limpeza pública".

Já que foi citado o primeiro livro dos Reis, é bom lembrar que no capítulo 22 deste mesmo livro, os reis de Judá e de Israel querem consultar um profeta de Deus e o rei Josafá pergunta ao seu colega de Israel: Será que aqui não tem ao menos um profeta do Senhor? E o rei responde: "Só tem o profeta Miquéias, filho de Jemla, mas eu o detesto, porque ele so profetiza desgraças e só diz coisas negativas". O relato conta que o profeta é obrigado a dizer o que Deus lhe inspira e por isso é esmurrado, preso e mantido a pão e água. A maioria dos profetas bíblicos viveu isso e mereceu a mesma crítica feita ao meu mestre padre Comblin. Jeremias denuncia os profetas falsos como sendo aqueles que dizem "Está tudo bem! Estamos em paz!" quando de fato está tudo mal (Cf. Jr 14, 13- 15 e outros). Através do profeta, Deus pergunta: "Por acaso a minha Palavra não é como um fogo que queima, um martelo que fende até rocha?" (Jr 23, 29).

Eu e todos os que conhecemos o padre Comblin sabemos que ele se mantém sempre jovial e bem-humorado, assim como ativo na sua inserção junto aos mais pobres e na sua dedicação às Igrejas locais que o Concílio Vaticano II afirmou serem Igrejas no sentido pleno do termo. É o modo dele obedecer à proposta da conferência episcopal de Medellin que pedia: darmos à nossa Igreja o rosto de uma Igreja pobre e despojada de poder, missionária e pascal, comprometida com a libertação da humanidade toda e de cada ser humano em sua integralidade" (Med 5, 15). Deus o mantenha entre nós por muito tempo, lúcido como está, com a mesma coragem profética de nos dizer as coisas e sempre fiel ao que o Espírito diz hoje às Igrejas.

Ao publicar esse artigo de Marcelo Barros, o CEBI reafirma seu compromisso com o sonho e a profecia de José Comblin e testemunha sua lucidez e a sua fidelidade ao Evangelho. O CEBI também reafirma que acredita na possibilidade de uma Igeja fraterna, plural, sem discrinações ou abusos de poder.

A não-violência e o amor aos inimigos

José Comblin


(Reflexões com base em Mt 5,38-48 e Lc 6,27-37)

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O presente artigo é desenvolvido de forma mais ampla no livro Ser é poder. Organizada por Luiz Dietrich, a obra inclui as contribuições de Sebastião Gameleira (Somos poder), Edênio Valle (Dimensões psicológicas nas relações de poder) e Selvino Hech (A cidadania e a questão de poder). Pedidos paravendas@cebi.org.br


“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam...”

A não violência e o amor ao inimigo são, com certeza, as maiores características dos discípulos de Jesus e, também, as mais discutidas. Foram, muitas vezes, entendidas de forma errada ou negadas, com força, não somente por não-cristãos, mas também por cristãos que querem tornar a mensagem de Jesus mais aceitável. Nietzsche considerava essa doutrina uma moral de escravos e a entendia como uma reação de rancor e ressentimento de derrotados que não querem enfrentar a situação. Seria a expressão da covardia. Claro está que ela pode ser invocada por pessoas que realmente são covardes e querem legitimar a covardia. No entanto, quando se tomam os textos no seu sentido original, não se trata de covardia. Cabe a cada um de nós e a cada comunidade examinar como essa doutrina se aplica nos conflitos da vida cotidiana.

O lugar social do amor ao inimigo e da renúncia à violência

No texto de Mateus (Mt 5,38-48), o contexto mostra que o texto convém no quadro das comunidades depois da guerra da Judéia (66-70). A derrota dos judeus foi completa. Estava tudo arrasado, as comunidades de Mateus, ligadas ao judaísmo, podiam sentir-se totalmente esmagadas. O que fazer, o que pensar ou sentir nessa oportunidade? O inimigo está triunfando, e desapareceu toda esperança de resistência. “Nessa situação de opressão, o texto de Mateus expressa a consciência da possibilidade de agüentar a situação com amor ao inimigo e renúncia à violência e, assim, estar em superioridade quanto aos adversários, os gentios. Olhar para eles torna-se compreensível no seguinte raciocínio: Há uma diferença entre olhar [para baixo] para aqueles aos quais, de qualquer modo, se é superior e entre o fato de a pessoa subjugada preservar a sua honra, sabendo-se interiormente superior ao vencedor. A idéia de um Deus que está acima do bem e do mal permite suspeitar que essa postura seja um ressentimento”.Como textos que constituem esse contexto de um povo subjugado, citamos Mt 5,41 que se refere às prestações de serviço obrigatório impostas pelos soldados como serviço ao estado; também Mt 5,39 com os quatro exemplos de reações não-violentas, o que se explica diante do desastre do ano 70; também a comparação entre Mt 5,44 e 5,9.Há duas particularidades no texto de Lucas (Lc 6,27-37).

A primeira é a representação de uma sociedade urbana em que as relações de reciprocidade são comuns e respondem a uma ética tradicional. É preciso tratar os outros sem ódio se queremos ser tratados sem ódio. Essa regra de ouro, a regra da reciprocidade, já era comum entre os filósofos gregos. Não é novidade cristã.A segunda particularidade é a grande insistência de Lucas no dinheiro. O princípio geral é : “Dá a todo o que te pede”. Perdoar é perdoar a dívida, não cobrar a dívida (Lc 6,37-38). Aqui o inimigo é o devedor. Amar o inimigo é perdoar a dívida.

Dessa maneira, tanto Mateus como Lucas aplicam as palavras de Jesus a casos particulares, dando-lhes sentidos bem específicos. Eles não inventaram as palavras de Jesus. Receberam-nas de uma tradição comum. Essa mesma tradição deriva de Jesus. Como saber o que havia na tradição comum e o que o próprio Jesus pensava?

A tradição primitiva dos textos e o pensamento de Jesus

O estudo dos textos insinua que a tradição comum dos ditos vem da Palestina antes da guerra. O grupo que mais freqüentemente se refere aos ditos seriam os missionários itinerantes. Eles são os que vão encontrar ladrões no caminho. As alusões ao sol e aos lírios provêm de pessoas que andam pelo campo. A falta de preocupação com comida e bebida também se refere a missionários itinerantes. O mesmo vale para a alusão às perseguições. Uma vez perseguidos, os missionários vão para outro povoado. Tudo se aplica muito bem às condições de vida dos missionários itinerantes.

Cabe-nos fazer a aplicação a nós mesmos, que, de modo geral, não somos missionários itinerantes (ainda que haja alguns).A condição de missionário itinerante combina bastante bem com a condição do próprio Jesus. O amor ao inimigo deriva de Jesus e também a negação da violência. Os missionários itinerantes aprenderam esses temas de Jesus, da sua conduta e dos seus ditos.

A não-violência não é pura novidade de Jesus. Ele mesmo pôde inspirar-se em fatos da história de Israel. Por exemplo, no ano de 26/27, quando Jesus estava prestes a começar o seu ministério, houve um incidente esclarecedor na Judéia. Pilatos, assumindo o governo na Judéia, quis levar imagens de César para dentro de Jerusalém. Para os judeus, eram ídolos. Foi um alvoroço em Jerusalém. Milhares de judeus foram ao palácio de Pilatos em Cesaréia. Lá, de joelhos, ficaram cinco dias e cinco noites sem mover-se do lugar. Pilatos acabou permitindo que entrassem no palácio. Ele mandou cercar os judeus com três fileiras de soldados. Mesmo assim, os judeus negaram-se a aceitar as imagens. Pilatos descontrolou-se e os ameaçou de morte. Ordenou que os soldados sacassem suas espadas. Os judeus deitaram-se lado a lado no chão, ofereceram seus pescoços e gritavam que preferiam morrer a transgredir as leis dos pais. Profundamente impressionado, Pilatos ordenou que as imagens fossem retiradas de Jerusalém. Jesus devia conhecer esse fato ocorrido poucos meses antes que ele mesmo começasse a sua missão. Ali ele tinha um exemplo de não-violência, e, nesse caso, a não-violência tinha sido vitoriosa.

Jesus generalizou esse comportamento e definiu o amor aos inimigos em geral. O mandamento é geral. Não leva em conta as circunstâncias particulares, nem a eventual eficácia. Depois dele, os cristãos procuraram adaptar o mandamento às novas circunstâncias. Vieram os missionários itinerantes que tiveram um papel importante na transmissão dos ditos e fatos de Jesus. As comunidades de Mateus aplicaram os ditos à situação dos judeus esmagados pela guerra. As comunidades de Lucas relacionaram-nos com os problemas econômicos das cidades gregas, sobretudo com o problema fundamental das dívidas.

Agora o problema é nosso. Quais são os casos em que somos chamados a aplicar os mandamentos da não-violência e do amor aos inimigos? De que maneira se faz a aplicação?

Fonte:
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8 de março de 2011

Crepúsculo de um profeta?

José Comblin


Transcrevemos abaixo matéria do site IHU, segundo a qual Comblin denuncia as manipulações nas eleições dos dois últimos papas da Igreja Católica. Na sequênica, transcrevemos do site da CNBB, a resposta de Dom Redovino, bispo católico de Dourados/MS.

Uma análise mais profunda feita por Comblin acerca da situação atual da Igreja Católica pode ser lida no artigo É preciso sonhar, conferência proferida na Universidade Centro-Americana em San Salvador, em 14/11/2010.

''A Igreja abandonou as classes populares'', afirma José Comblin

José Coblin, um dos criadores da Teologia da Libertação, afirmou que a eleição de João Paulo II e de Bento XVI foi manejada pelo Opus Dei "praticando a chantagem, intimidando os cardeais", e que na América Latina o Papa "é mais divino do que Deus". Comblin, belga que vive no Brasil e acaba de visitar o Chile, país em que esteve exilado em 1972, durante o governo da Unidade Popular, explicou ainda que os teólogos da libertação têm hoje mais de 80 anos e "não apareceu uma nova geração" que desse continuidade a esse pensamento.

A reportagem é do sítio Religión Digital, 05-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"A repressão foi muito forte, terrível, e a ditadura do Papa aqui na América Latina é total e global. Aqui, pode-se criticar Deus, mas não o Papa. O Papa é mais divino do que Deus", asseverou o teólogo.

Segundo Comblin, a Igreja Católica "abandonou as classes populares, salvo os velhos e algumas relíquias do passado".

"Hoje, as universidades e os colégios católicos são para a burguesia. O porvir da América Latina é ser um continente evangélico protestante, salvo sua classe alta. Assim, a Opus Dei e os Legionários de Cristo e todas essas associações que existem de ultradireita vão crescendo nesse setor", opinou, em declarações no Chile à revista El Periodista.

"Onde há um ou dois bispos da Opus Dei no episcopado, intimidam a todos os demais. Os outros ficam calados e só um fala. Esse é um problema de psicologia típico de ditaduras", defendeu.

Segundo Comblin, "foi a Opus el que elegeu João Paulo II e o atual, praticando a chantagem, intimidando os cardeais. O próximo Papa será igual porque a Opus tem um poder muito forte".

O teólogo, de 87 anos, defende que Deus está "em La Victoria e em La Legua (dois bairros populares de Santiago) e na prisão, mas de Roma desapareceu há muito tempo".

"Agora, sempre fica mais claro que o problema é o Papa, ou seja, a função do Papa, uma ditadura implacável com muitas formas de doçura e amabilidade, mas implacável", defendeu.

Comblin defendeu que "o porvir do cristianismo está na China, Coreia, Filipinas, Indonésia. Estima-se que só na China há 130 milhões de cristãos martirizados, porque estão praticamenteperseguidos".

O teólogo criticou a eventual canonização de João Paulo II porque seu papado "foi catastrófico".

"Todos os que fizeram sua carreira com ele puderam ser cardeais, apesar de sua mediocridade pessoal. Não mereciam nada, mas ele os promoveu. Claro que agora querem canonizá-lo! Uma vez que canonizaram Escrivá, todo mundo sabe que se pode ser santo sem ter virtude alguma", destacou.

Sobre a Opus Dei e os Legionários de Cristo, Comblin afirmou que "têm a confiança da Cúria Romana e depois representam a plena liberdade dada a personalidades que são como os grandes Rockefeller, os conquistadores".

"Como Escrivá de Balaguer, que era um capitalista, o homem que vai triunfar, que vai desfrutar o mundo, que vai ganhar, ser rico, poderoso e que é capaz de criar pessoas totalmente subordinadas, soldados com mentalidade de soldado, esses são todos homens deformados psicologicamente, como são os futuros ditadores", detalhou.

Depois de recordar que do mexicano Marcial Maciel, dos Legionários de Cristo, foi descoberta uma vida paralela e uma fortuna de 50 bilhões de dólares, afirmou que "sua chantagem, sua palavra e sua exigência chegaram aos milionários".

"Hoje, os que trabalharam com ele, seus colaboradores, todos dizem e afirmam que não sabiam nada da vida paralela (de Maciel). Como? Trabalham 40 anos com ele e não sabem de nada, que ele tem uma família, três filhos, que praticou a pedofilia com as crianças, alunos de sua formação, de seus colégios, que tinha um mundo de amantes. Não sabiam de tudo isso? Supõe-se, então, que eles são cúmplices e também têm uma vida paralela", concluiu.

Pe José Comblin: Crepúsculo de um projeta?

Dom Redovino Rizzardo, bispo católico de Dourados

Causou-me tristeza a entrevista concedida pelo Pe. José Comblin no Chile, onde esteve no início de 2011. Conheço-o e admiro-o desde os meus primeiros anos de ministério presbiteral, quando o via como um incansável batalhador por uma Igreja mais fiel ao projeto de Jesus e às necessidades do povo.

Mas, ultimamente, percebo-o triste e ressentido, talvez contaminado pelo vírus que afeta a maior parte das pessoas que ultrapassam a casa dos 70 anos (ele chegou aos 87!) -, etapa da vida caracterizada pela saudade dos "bons tempos antigos" e pelas queixas contra a superficialidade e a apatia da sociedade atual.

A entrevista faz eco a inúmeros outros artigos escritos por ele nestes últimos anos. Neles, são comuns e acerbas as críticas contra o modelo de Igreja incentivado pelos Papas João Paulo II e Bento XVI, em aberto contraste com a Teologia da Libertação: «Na América Latina, a repressão foi terrível. A ditadura do Papa é total. Pode-se criticar Deus, mas não o Papa».

Outra sua reclamação é dirigida aos Institutos, Movimentos Eclesiais e Comunidades de Vida nascidos nas últimas décadas. Ele os vê como os grandes culpados pela letargia em que jaz a Igreja, depois dos anos gloriosos das Comunidades Eclesiais de Base: «O futuro da América Latina é ser um continente evangélico. O Opus Dei, os Legionários de Cristo e todas as demais associações de ultradireita crescem a olhos vistos».

Sua dor não nasce apenas do fato de lhe parecer que «a Igreja Católica abandonou as classes populares», mas também de saber que «os teólogos da libertação têm hoje mais de 80 anos, e não apareceu ainda uma nova geração disposta a dar-lhes continuidade».

Para Comblin, a Igreja se teria transformado numa instituição como qualquer outra, sujeita a conchavos e politicagem: «Foi o Opus Dei que elegeu João Paulo II e o Papa atual, praticando a chantagem e intimidando os cardeais». Por isso, não é de se admirar que «Deus esteja presente em "La Victoria" e em "La Legua" (dois bairros populares de Santiago) e nos presídios, mas de Roma ele se afastou há muito tempo».

Nenhuma esperança, portanto? Para o teólogo belga, «o futuro do cristianismo está na China, na Coreia, nas Filipinas e na Indonésia. Supõe-se que, na China, vivam 130 milhões de cristãos em contínuo estado de perseguição». Sem dúvida, uma novidade, já que na década 1970/1980, no auge da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base, tinha-se por certo que o futuro da Igreja Católica seria a América Latina...

O Pe. Comblin encerra a entrevista criticando a eventual canonização de João Paulo II, cujo papado, para ele, foi simplesmente «catastrófico. Todos os eclesiásticos que fizeram carreira com ele chegaram ao cardinalato, apesar de sua mediocridade pessoal. Nada mereciam, mas ele os promoveu. Evidentemente, agora querem canonizá-lo! Mas, uma vez que canonizaram José Maria Escrivá, todo mundo sabe que se pode ser santo sem ter virtude alguma».

Nascido em Bruxelas no dia 22 de março de 1923 e formado pela Universidade de Lovaina, o Pe. José Comblin veio ao Brasil em 1958, como resposta ao apelo do Papa Pio XII, preocupado com a falta de sacerdotes na América Latina. Autor de inúmeros e renomados livros de teologia e de formação popular, tomou várias iniciativas no intuito de aproximar a Igreja das classes trabalhadoras e campesinas. A Teologia da Enxada, os Missionários do Campo e as Missionárias do Meio Popular são algumas delas.

Apesar do ressentimento que lhe ofusca a "melhor idade", o Pe. Comblin batalhou por uma Igreja em constante estado de conversão, como deixou claro num artigo de 3 de agosto de 2007, poucos meses após a Assembleia da Conferência do Episcopado Latino Americano, em Aparecida: «A história mostra que todas as mudanças profundas na Igreja foram realizadas por pessoas novas, formando grupos novos e criando um novo estilo de vida, sempre a partir de uma opção de vida na pobreza». Seu pecado, talvez, tenha sido esquecer que esta renovação não nasce da força prepotente e demolidora do furacão, mas da brisa suave da comunhão e da humildade (Cf. 1Rs, 19,11) de quem acredita que também os "outros", começando pelos Papas, amam a Igreja e trabalham por ela... pelo menos tanto como ele!

7 de março de 2011

É preciso sonhar

José Comblin

O texto abaixo é a transcrição da conferência proferida na Universidade Centro-Americana em San Salvador, em 14/11/2010

"Boa tarde a todas e todos.

Não é a primeira vez que falo neste lugar, mas agradeço muito a amizade de Jon Sobrino. Nós nos conhecemos há muito tempo e eu o estimo como uma das cabeças mais lúcidas deste tempo que renovou completamente a Cristologia.

Bom... As perguntas de ontem me deram a impressão de que em muitas pessoas há certo desconcerto em relação à situação atual da Igreja. Ou seja, uma sensação de insegurança. Como dizia Santa Teresa, por "não saber nada a respeito, que nada provoque temor". Quando era jovem eu conheci algo semelhante e, talvez, pior. Era o pontificado de Pio XII. Ele havia condenado todos os teólogos importantes, havia condenado todos os movimentos sociais importantes, por exemplo, a experiência dos padres operários na França, Bélgica e outros países. Aí nós, jovens seminaristas e depois jovens sacerdotes, estávamos mais que desconcertados, perguntando-nos: mas, ainda há futuro? Eu me lembro que naquela época tinha lido uma biografia de um autor austríaco do papa Pio XII. E aí contava algumas palavras que havia escrito o Pe. Liber, jesuíta, professor de História da Igreja na Gregoriana. O Pe. Liber era confessor do Papa. Sabia tudo o que passava na cabeça de Pio XII e então dizia: "Hoje a situação da Igreja católica é igual a um castelo medieval, cercado de água, levantaram a ponte e jogaram as chaves na água. Já não há como sair (risos). Ou seja, a Igreja está cortada do mundo, não tem mais nenhuma possibilidade de entrar". Isso foi dito pelo confessor do Papa, que tinha motivos para saber essas coisas. Depois disso veio João XXIII e aí, todos os que haviam sido perseguidos, de repente são as luzes no Concílio e de repente todas as proibições são levantadas. Aí renasceu a esperança. Digo isto para que não se perturbem. Algo virá. Algo virá que não se sabe o que, mas algo sempre acontece.

Como explicar essas situações que ainda podem recomeçar? Porque estamos nos aproximando da fase final da cristandade. Já faz muitos séculos que anunciaram a morte da cristandade... que está agonizando já faz cerca de 200 anos, mas ainda pode continuar sua agonia durante algumas décadas ou alguns anos. Ou seja, deixou de ser a consciência do mundo ocidental. Deixou de ser a força que anima, estimula, esclarece, explica a fonte da cultura, da economia, de tudo o que foi durante o tempo da cristandade. Tudo isso foi sendo destruído progressivamente desde a Revolução Francesa e aqui desde a independência, desde a separação do império espanhol. Então, pouco a pouco, apareceram muitos profetas que disseram que a cristandade morreu... já faz 200 anos. Mas agora creio que a cristandade está entrando em suas fases finais. Querem um sinal? A Encíclica Caritas et Veritate. Não sei quantas pessoas aqui leram a Encíclica. Se se vê a repercussão que teve no mundo: impressionante silêncio... Talvez silêncio respeitoso, mas mais provavelmente silêncio de indiferença. A doutrina social da Igreja não importa mais a ninguém, que também deixou de se interessar pelo que acontece na realidade concreta.

Há alguns anos, um sociólogo jesuíta muito importante, o Pe. Calvez, que teve um papel importantíssimo na criação e manutenção da Doutrina Social da Igreja, publicou um livro intitulado: "Os silêncios da Doutrina Social da Igreja". Ainda está em silêncio. Deixa de entrar com força nos problemas do mundo atual. Fica com teorias tão vagas, tão abstratas, tão genéricas... A carta Caritas in Veritate poderia ser assinada pelo Fundo Monetário Internacional (risos), pelo Banco Mundial... sem nenhum problema. Não há absolutamente nada que incomode esse pessoal. Então, para quê? Esse é o sinal.

Querem outro sinal? A Conferência de Aparecida disse muitíssimas coisas boas. Quer transformar a Igreja em uma missão, passar de uma Igreja de "conservação" a uma Igreja de "missão". Só que pensa que isso será feito pelas mesmas instituições que não são de missão, mas de conservação. Isso será feito pelas dioceses, pela paróquia, pelos seminários, pelas Congregações Religiosas. Estes aqui, de repente e por milagre, vão se transformar em missionários. Já se passaram três anos e o que aconteceu em sua diocese? Como se aplicou a opção pelos pobres? Não sei como é aqui, mas no Brasil não vejo muita transformação. Ou seja, a cristandade está se dissolvendo progressivamente, mas o problema é o depois. O que vem depois? Como? Daí a insegurança porque não sabemos o que vem depois. Isto aconteceu muitas vezes na história e ainda vai acontecer provavelmente muitas vezes. É preciso aprender a resistir, a suportar, a não se deixar desanimar ou perder a esperança pelo que vem acontecendo.

O que acontece é que em Roma não estão convencidos de que a cristandade está morta. Acreditam que as Encíclicas iluminam o mundo, que as instituições eclesiásticas iluminam e conduzem o mundo. Ou seja, é um mundo fechado, que de fato vive em um castelo medieval, cercado de água. E então, o que acontece? Vamos ver como interpretar, como ver o que está acontecendo. E então ver qual é o "método teológico" que convém para isso.

O Evangelho vem de Jesus Cristo. A religião não vem de Jesus Cristo

É preciso partir de uma distinção básica que agora vários teólogos já propuseram entre o Evangelho e a religião. O Evangelho vem de Jesus Cristo. A religião não vem de Jesus Cristo. O Evangelho não é religioso. Jesus não fundou nenhuma religião. Não fundou ritos, não ensinou doutrinas, não organizou um sistema de governo. Nada disso. Ele se dedicou a anunciar, a promover o Reino de Deus. Ou seja, uma mudança radical de toda a humanidade em todos os seus aspectos. Uma mudança, e uma mudança cujos autores serão os pobres. Dirige-se aos pobres pensando que somente eles são capazes de agir com essa sinceridade, com essa autenticidade para promover um mundo novo. Seria essa uma mensagem política? Não é política no sentido de que propõe um plano, uma maneira... não, para isso a inteligência humana é suficiente; mas como meta política, porque isto é uma orientação dada a toda a humanidade.

E a religião? Aah! Jesus não fundou uma religião, mas seus discípulos criaram uma religião a partir dEle. Por quê? Porque a religião é algo indispensável aos seres humanos. Não se pode viver sem religião. Se a religião atual aqui se desintegra... Há 38.000 religiões registradas nos Estados Unidos! Ou seja, não faltam religiões, elas aparecem constantemente. O ser humano não pode viver sem religião, mesmo que se afaste das grandes religiões tradicionais. Então, a religião é uma criação humana. Entre a religião cristã e as demais religiões, a estrutura é igual. É uma mitologia. Assim como há uma mitologia cristã, há uma mitologia hinduísta, xintoísta, confucionista. Isso é parte indispensável para a humanidade. Ou seja, como interpretar todo o incompreensível da humanidade pela intervenção de seres com entidades sobrenaturais, fora deste mundo, que estão dirigindo esta realidade.

Em segundo lugar, uma religião é feita de ritos. Ritos para afastar as ameaças e para acercar-se dos benefícios. Todas as religiões têm ritos. E todas têm pessoas separadas, preparadas, para administrar os ritos, para ensinar a mitologia. Isto é comum a todas. Então, isto devia acontecer com os cristãos também. Devia acontecer. Como poderiam viver sem religião?

Como começou essa religião? Deve ter começado quando Jesus se transformou em objeto de culto. O que aconteceu bastante cedo, sobretudo entre os discípulos que não o conheceram, que não haviam vivido com ele, que não haviam estado próximos dele. Então, a geração seguinte ou aqueles que viviam mais distantes, mais afastados, para eles Jesus se transformou em objeto de culto. Com isso se desumanizou progressivamente. O culto de Jesus vai substituindo o seguimento de Jesus. Jesus nunca havia pedido aos discípulos um ato de culto. Nunca havia pedido que lhe oferecessem um rito... nunca. Mas queria o seguimento, seu seguimento. Essa dualidade começa a aparecer cedo. 30 anos, 40 anos depois da morte de Jesus, já aparece com força suficiente para que Marcos escrevesse em seu Evangelho precisamente para protestar contra essas tendências de desumanização, ou seja, de fazer de Jesus um objeto de culto. Este Evangelho é precisamente para recordar uma palavra de profeta: Não! Jesus era isso. Jesus fez isso, viveu aqui neste mundo! Viveu aqui nesta terra.

Com o desenvolvimento da religião cristã que se fez - aqui problema para os teólogos -, progressivamente essa tentação reapareceu. Nasceu um começo de doutrina, o Símbolo dos Apóstolos. E o que diz o Símbolo dos Apóstolos sobre Jesus? Aah... diz que nasceu e morreu. Nada mais. Como se as outras coisas não tivessem importância, como se a revelação de Deus não fosse justamente a própria vida de Jesus, seus atos, seus projetos, todo o seu destino terrestre. Essa é a revelação, mas isso já vai se perdendo de vista. Os Símbolos de Niceia e Constantinopla, da mesma maneira: Cristo nasceu e morreu. O Concílio de Calcedônia define que Jesus tem uma natureza divina e uma natureza humana. Mas, o que é uma natureza? Um ser humano não é uma natureza. Um ser humano é uma vida, é um projeto, é um desafio, é uma luta, é uma convivência em meio a muitos outros. Isso é o fundamental se queremos fazer o seguimento de Jesus.

A religião: distinção entre o sagrado e o profano

Progressivamente, aparece a partir dos primeiros Concílios um distanciamento entre a religião que se forma. Com Niceia e Constantinopla já há um núcleo de ensinamento e de teologia e a Igreja vai se dedicar a defender, promover, aumentar essa teologia. Já se organizaram as grandes liturgias de Basílio e outros, e já se organizou um clero. O clero como classe separada é uma invenção de Constantino. Até Constantino não havia distinção entre pessoas sagradas e pessoas profanas. Eram todos leigos. Porque Jesus apartou a classe sacerdotal e não tinha previsto nenhuma maneira que aparecesse outra classe sacerdotal, porque todos são iguais. E não há pessoas sagradas e pessoas não sagradas, porque para Jesus não há diferença entre sagrado e profano. Tudo é sagrado ou tudo é profano.

Agora, na religião há uma distinção básica entre sagrado e profano. Em todas as religiões. E há um clero que se dedica ao que é sagrado. E os outros que estão no profano, na religião são receptores, não são atores. Não têm nenhum papel ativo. Para ter um papel ativo é preciso ser realmente consagrado. Isso começa no tempo de Constantino.

E a partir daquilo vão aparecer duas linhas na história cristã. Os que, como o Evangelho de Marcos quer recordar: Não, Jesus veio para mostrar o caminho, para que o sigamos. Isso é o básico, o fundamental. Uma linha que vai renovar, aplicar em diversas épocas históricas o que foi a vida de Jesus e como ele o ensinou. E em toda a história podemos seguir. Claro que não sabemos tudo, porque a grande maioria dos que seguiu o caminho de Jesus foram pobres, dos quais nunca se falou nos livros de história e, portanto, não deixaram nenhum documento. Mas há pessoas que deixaram documentos e com isso podemos acompanhar onde, na história da Igreja cristã, aparece o Evangelho. Onde se buscou primeiramente a vivência do Evangelho. Os que buscaram radicalmente o caminho do Evangelho foram sempre minorias, como dizia Helder Câmara, "minorias abraãmicas".

A maioria está no outro pólo, na religião. Ou seja, dedicando-se à doutrina. Ensinando a doutrina, defendendo a doutrina contra os hereges e as heresias... Essa foi uma das grandes tarefas, praticar os ritos e formar a classe sagrada, a classe sacerdotal. Isso nos leva a uma distinção que vai se manifestar em toda a história. O pólo "Evangelho" está em luta com o pólo "religião" e "religião" com o pólo "Evangelho". Em toda a história. Toda a história cristã é uma contradição permanente e constante entre aqueles que se dedicam à religião e aqueles que se dedicam ao Evangelho. Claro que há intermediários e assim não há pólos totais. Mas na história há visivelmente duas histórias, dois grupos que se manifestam. A história oficial: quando eu era jovem nos davam aulas de História da Igreja que era "história da instituição eclesiástica" e ali só se falava da religião, supondo que a religião era a introdução ao Evangelho. Mas isso é uma suposição: que tudo o que nasceu no sistema católico vem de Jesus, como se dizia na teologia tradicional em tempos da cristandade, que tudo o que existe na Igreja Católica Romana, ao final, vem de Jesus. Com muitos malabarismos teológicos se consegue mostrar que tudo tem finalmente sua raiz em Jesus. Não têm sua raiz em outras religiões, em outras culturas. Como se os cristãos que se convertem à Igreja fossem totalmente puros de toda cultura e toda religião. Todos trazem sua cultura e sua religião, e introduzem em sua vida cristã elementos que são de sua religião e cultura anterior e por isso resulta uma religião que é sempre ambígua, complexa. É inevitável, porque os seres humanos que entram na Igreja não são anjos. Eles estão carregados de séculos e séculos de história e de transmissão cultural e tudo isso entra, naturalmente, na Igreja. Daí uma oposição que em matéria política, por exemplo, se mostra claramente. Se diz: o Evangelho procede de Deus e, portanto, não pode mudar. A religião é criação humana, portanto, pode e deve mudar segundo a evolução da cultura, das condições de vida dos povos em geral. Se a religião fica apegada ao seu passado, ela é pouco a pouco abandonada a favor de outra religião mais adaptada. O que é muito compreensível.

O Evangelho é vivido na vida concreta, material, social. A religião vive em um mundo simbólico. Tudo é simbólico - doutrina, ritos, sacerdotes... -, todos são entidades simbólicas, que não entram na realidade material. O Evangelho é universal, porque não traz nenhuma cultura e não está associado a nenhuma cultura, a nenhuma religião. As religiões estão sempre associadas a uma cultura. Por exemplo, a religião católica atual está ligada à subcultura clerical romana que a modernidade marginalizou, que está em plena decadência porque seus membros não quiseram entrar na cultura moderna. O Evangelho é renúncia ao poder e a todos os poderes que existem na sociedade. A religião busca o poder e o apoio do poder em todas as formas de poder. E são tão visíveis!

O poder... Lembro que na época da prisão dos bispos em Riobamba o núncio dizia: "se a Igreja não tem o apoio dos governantes, não pode evangelizar" (risos). Pode-se pensar o contrário: que caso se tenha o apoio dos poderes será difícil evangelizar. Mas essa é uma mentalidade que ainda é remanescente na cristandade entre a Igreja fundida em uma realidade político-religiosa e então naturalmente estavam unidas todas as autoridades: o clero e o governo; o clero e o Exército - tudo unido. Renunciar a isso é muito difícil. Renunciar à associação com o poder é muito difícil. Vou dar um exemplo. Meu atual bispo na Bahia é um franciscano, se chama Luis Flavio Cappio. Ficou famoso no Brasil por duas greves de fome que fez para protestar contra um projeto faraônico do governo, baseado em uma imensa mentira. Não há tempo para contar toda a história, mas se tornou conhecido e foi convidado para o Kirchentag da Igreja alemã. Depois do convite falou em várias cidades da Alemanha. Um grupo se aproximou dizendo que vinham para entregar-lhe uma doação, uma ajuda para as suas obras. E era bastante: cerca de 100 mil dólares. Ele perguntou: "De onde vem esse dinheiro?" Disseram-lhe que são algumas empresas, alguns executivos que o recolheram. Então disse: "Não aceito. Não quero aceitar o dinheiro que foi roubado dos trabalhadores, dos compradores de material". Não aceitou nenhuma aliança com o poder econômico. Eu não sei quantos no clero não aceitariam (aplausos). Esse bispo é um franciscano igual a São Francisco. Toda a sua vida foi assim. Por isso fui morar ali para santificar-me um pouquinho em contato com uma pessoa tão evangélica...

Então, como nasceu a Igreja? A Igreja de que se fala: essa realidade histórica, concreta de que temos experiência. Para o povo em geral a Igreja é o Papa, os bispos, os padres, as religiosas, religiosos... esse conjunto institucional de que se fala e que provoca também tanta incerteza, como vimos. Como nasceu a Igreja? Jesus não fundou nenhuma igreja. O próprio Jesus se considerava um judeu. Era o povo de Israel renovado e os primeiros discípulos também; Os doze apóstolos são os patriarcas da Igreja do Israel renovado. A primeira consciência era da continuação de Israel, a perfeição, a correção de Israel. Mas uma vez que o Evangelho penetrou no mundo grego, aí Israel não significava muitas coisas para eles e então Paulo inventa outro nome. Dá às comunidades que funda nas cidades o nome de "ekklesia", o que se traduziu por "igreja". O que é a ekklesia? O único sentido que tem no grego é "a assembleia do povo reunido que governa a cidade". Na prática eram as pessoas mais poderosas, mas enfim é que na cidade grega o povo se governa a si mesmo e o faz em reuniões que são "ecclesias". Paulo não dá nenhum nome religioso às comunidades; os vê como um grupo destinado a ser a animação. A mensagem de transformação de todas as cidades, de tal maneira que estão constituindo o começo de uma humanidade nova. E é uma humanidade onde todos são iguais, todos governam a todos. Depois vem a Carta aos Efésios em que se fala da Igreja como tradução de "kahal" dos judeus, ou seja, é o novo Israel. E a ecclesia é aí também o novo Israel. Ou seja, todos os discípulos de Jesus unidos em muitas comunidades, mas não unidos institucionalmente, mas unidos pela mesma fé. Todos constituem a "ecclesia", a grande Igreja que é o corpo de Cristo. Ainda não existem instituições.

Mas, naturalmente, não podia continuar assim. Os judeus que aceitaram o cristianismo não abandonaram todos o judaísmo. E quando o número de cristãos cresceu, o número de comunidades, ali começaram a penetrar algumas estruturas. No tempo de Paulo ainda não há presbíteros, mesmo que São Lucas diga o contrário. Mas São Lucas não tem nenhum valor histórico; isso todo o mundo já sabe. Atribui a Paulo o que se fazia em seu tempo. Então imagina que Paulo fundou presbíteros, conselhos presbiterais. Como se justificaria um bispo sem ordenar sacerdotes? Então, parece evidente um começo de separação ainda muito simples, porque ainda não há sacralidade, não há nada sagrado. Os presbíteros não são sagrados, assim como os presbíteros das sinagogas não eram sagrados. Eles tinham uma função, uma missão de governo, de administração, mas não uma função ritual, ou uma função de ensino de uma doutrina.

Depois apareceram os bispos. No final do século II se estima que o esquema episcopal esteja generalizado, mas demorou bastante. Clemente de Roma, quando publica e escreve sua Carta aos Coríntios, diz "presbíteros", o que não é bispo. Ainda em Roma não há bispo, só presbíteros. Mas se organizou o esquema episcopal. É provável que para as lutas contra as heresias, contra o gnosticismo, se necessitasse de uma autoridade mais forte, para poder enfrentar o gnosticismo e todas as novas religiões sincréticas que aparecem naquele tempo.

E a Igreja como instituição universal, quando aparece? Houve, no século III, Concílios regionais: bispos de várias cidades que se reuniam. Mas uma entidade para institucionalizar tudo não existia. Quem inventou esta Igreja universal foi o imperador Constantino. Ele reuniu todos os bispos que havia no mundo com viagens pagas por ele, alimentação também paga por ele, e toda a organização do Concílio foi dirigida pelo imperador e os delegados do imperador. Isto constitui um precedente histórico. Até hoje não estamos livres disso: que a Igreja universal como instituição tenha nascido com o imperador.

Depois, na história ocidental caiu o imperador romano e então progressivamente o papa conseguiu chegar à função imperial. Houve muitas lutas na Idade Média entre o papa e o imperador, mas sempre o papa se estimava superior ao imperador. Nas cruzadas, o papa era generalíssimo de todos os exércitos cristãos. Era uma personalidade militar - comandante em chefe do exército cristão. E dentro da linha dos Estados pontifícios, isto ainda se mantém.

Quando o papa perdeu o poder temporal, reforçou seu poder sobre as Igrejas: e governa as igrejas como um imperador, ou seja, todos os poderes são centralizados em uma única mão e com todas as vantagens de uma corte. Por que se não há nada de democracia na Igreja, quem são aqueles que orientam o papa? A corte! Os cortesãos, os que estão ali próximos. Claro que ele não pode fazer tudo, mas enfim uma corte separada do povo cristão. Ainda estamos sofrendo as consequências daquilo. O Papa Paulo VI disse em alguns momentos que realmente teria que mudar a função atual do Papa, ou seja, o que o Papa faz. João Paulo II na "Unum sint" disse também que é preciso dar-se conta de que o grande obstáculo no mundo de hoje é essa concentração de todos os poderes no Papa. Seria preciso encontrar outra maneira de exercer isso. Isso para dizer que tudo isto pertence à religião.

Tarefa da teologia: no Evangelho e na religião

A partir disso, qual é a tarefa da teologia? É complexa, justamente porque tem uma tarefa no Evangelho e uma tarefa na religião. A teologia foi durante séculos a ideologia oficial da Igreja. Seu papel era justificar tudo o que a Igreja diz e faz com argumentos bíblicos, com argumentos da tradição, liturgia, e um monte de coisas que eu aprendi quando estava no seminário. Claro que não acreditava nisso (risos), mas a maioria ainda crê nisso. Então, o que acontece?

Primeira tarefa: o que diz o Evangelho?

Primeira tarefa: o que diz o Evangelho? O que é de Jesus? O que é penetração do judaísmo, de outra cultura, de outro tipo de religião? O que vem de Jesus segundo o Novo Testamento? Todo o Novo Testamento não vem de Jesus? Não, as Epístolas pastorais que falam, por exemplo, dos presbíteros, isso não vem de Jesus. Então, a tarefa da teologia consistirá em dizer o que é de Jesus, o que realmente quis, o que realmente fez e em que consiste realmente o seguimento de Jesus.

Vendo a história, quais foram as manifestações, onde, em formas diferentes - porque as situações culturais eram diferente -, onde podemos reconhecer a continuidade dessa linha Evangélica? Porque se quisermos penetrar no mundo de hoje e apresentar o cristianismo ao mundo de hoje, tudo o que é religioso não interessa. O que pode interessar é justamente o Evangelho e o testemunho evangélico. Ninguém vai se converter pela teologia. Você pode fazer todas as melhores aulas, ninguém vai se fazer cristão por causa da teologia. Por isso, me pergunto: por que nos seminários se crê que a formação sacerdotal é ensinar a teologia? Eu não entendo, não entendo. Não há outra coisa necessária para evangelizar? Não é muito mais complexo? Por isso faz 30 anos que decidi, na presença de Deus, nunca mais trabalhar em seminários (risos).

Então, a linha evangélica é essa - São Francisco. São Francisco era um extremista. Não queria que seus irmãos tivessem livros: nada de livros. Com o Evangelho basta, não se necessita nada mais. Ele próprio dizia: "Eu, o que ensino, não aprendi de ninguém, nem do papa; o aprendi de Jesus diretamente, por seu Evangelho". Bom, isso é o que pode convencer o mundo de hoje que está em uma perturbação completa e que se afasta sempre mais das Igrejas institucionais antigas, tradicionais. Quase todas as grandes religiões nasceram entre os anos 1.000 e 500 antes de Cristo, salvo o Islã que apareceu depois, mas que é um ramo da tradição judeu-cristã.

O que fazer com a religião?

Segundo, a religião. O que fazer com a religião? É preciso examinar em todo o sistema de religião, o que ajuda, o que realmente ajuda a entender, a compreender, a agir segundo o Evangelho. Isso terá nascido por inspiração do Espírito em monges, por exemplo? Se você olha a vida dos monges do deserto no Egito, isso não é uma mensagem. Não é uma mensagem e também não vem do Evangelho. Ou seja, muitas coisas vêm não se sabe de que tradição, talvez pode ter sido do budismo ou outras coisas assim. Então, examinar o que é o que ainda vale hoje, e sinceramente.

Jesus não instituiu 7 sacramentos. Até o século XII se discutia se eram 10, 7, 5, 9, 4. Não havia acordo. Finalmente, decidiram que havia 7. Bom, por motivos dos 7 dias do Gênesis, 7 planetas, o número 7... mas há coisas que visivelmente já não falam para as pessoas de hoje. Por exemplo, o sacramento da penitência com confissão a um sacerdote. Quantos se confessam atualmente? Há 20 anos, eu atendia na Semana Santa, em uma paróquia popular, 2.000 confissões, e o pároco outras tantas. Atualmente, 20, 30, ou seja, as pessoas já não respondem mais. Isso foi definido no século XII, XIII. Por que manter algo que já não tem nenhum significado e, ao contrário, provoca muita recusa? Ou seja, que alguém necessite falar com alguém, que o pecador goste de falar com alguém, mas não justamente ao sacerdote. Há muitas pessoas, muitas mulheres, que podem exercer esse ofício muito melhor, com mais equilíbrio, sem atemorizar como fazem os sacerdotes. Isso é uma coisa.

Mas há um monte de coisas que é necessário revisar porque não têm futuro. É inútil querer defender ou manter algo que já é obstáculo para a evangelização e que não ajuda absolutamente em nada. Nas liturgias há muitas coisas que mudar. A teoria do sacrifício foi introduzida pelos judeus, naturalmente. No templo se oferece sacrifícios, os sacerdotes são pessoas sagradas que oferecem o sacrifício. Toda essa teoria, atualmente não significa absolutamente nada. Que o padre seja dedicado ao sagrado para oferecer o sacrifício e que a Eucaristia seja um sacrifício, tudo isto vem de Jesus? Ah, não vem de Jesus. Então, é preciso ver se isso vale ou não vale. Para que manter algo que não vale?

E depois há também a outra parte: o que não ajuda, o que tem sido infiltração de outras tendências, outras correntes. Por exemplo, a vida ascética dos monges irlandeses. A Irlanda foi a ilha dos monges. Ali os bispos não tinham autoridade. Serviam apenas para ordenar sacerdotes, mas para as outras coisas podiam descansar. Quem mandava eram os monges. Os mosteiros eram os centros, o que é a diocese atualmente. Esses monges irlandeses viviam uma vida ascética, mas tão extraordinariamente desumana para nós que isso é impossível que venha de Jesus, é impossível que isso ajude, porque esses homens ali eram super-homens, mas não existem mais homens assim hoje. Um exercício de penitência que faziam, por exemplo, era entrar no rio - na Irlanda os rios são frios - e ficar nu para rezar todos os salmos (risos)... Essa maneira de entender a vida, não, não devemos considerar que isso seja cristão. Também não é marca de santidade. Não é assim que a santidade se manifesta. Examinar tudo o que vem de lá.

Todas as congregações femininas sabem o quanto é preciso lutar para mudar costumes, tradições que não são evangélicos. Quantos debates! Eu conheço uma série de congregações femininas e quanto tempo se gasta em discussões, disputas entre aquelas que querem conservar tudo e aquelas que querem abandonar o que não serve mais e encontrar outro modo de viver mais adaptado à situação atual! Então, a tarefa da teologia, claro que é mudar, isso muda a tradição, deixa de ser a ideologia de todo o sistema romano, mas essa não tem futuro. Esse tipo de teologia já faz tempo que foi progressivamente abandonado.

Na América Latina apareceu algo. Conhecemos um novo franciscanismo, ou seja, uma nova etapa, mas radical, de vida evangélica. Quando nasceu? Falei dos bispos que participaram disso e que animaram Medellín e da opção pelos pobres, dos santos padres da América Latina. E vocês os conhecem. Se for preciso marcar a origem do novo evangelismo da Igreja latino-americana, eu diria - não se esqueçam - dia 16 de novembro de 1965. Nesse dia, em uma catacumba de Roma, 40 bispos, a maioria latino-americanos, incitados por Helder Câmara, se juntaram e assinaram o que se chamou de "Pacto das Catacumbas". Ali se comprometeram a viver pobres, na alimentação. Se comprometeram e, de fato o fizeram depois, uma vez que chegaram às suas dioceses. E depois, priorizar em todas as suas atividades o que é dos pobres, ou seja, deixando muitas coisas para se dedicar prioritariamente aos pobres e uma série de coisas que vão no mesmo sentido. Foram eles que animaram a Conferência de Medellín. Ou seja, nasceu aqui.

E tiveram um contexto favorável. O Espírito Santo já naquele tempo havia suscitado uma série de pessoas evangélicas. As Comunidades Eclesiais de Base já tinham nascido. Já havia religiosas inseridas nas comunidades populares. Mas, eram poucos e se sentiam um pouco marginalizados no meio dos outros. Medellín lhes deu como que legitimidade e ao mesmo tempo uma animação muito grande, e se expandiu. Foi toda a Igreja latino-americana? Claro que não. Sempre é uma minoria. Um dia, me lembro, um jornalista perguntou ao cardeal Arns - um santo, com quem vivemos muito boas relações de amizade: "você, senhor cardeal, aqui em São Paulo tem muita sorte, toda a Igreja se fez Igreja dos pobres, as monjas todas a serviço dos pobres, que coisa magnífica!". Aí, Dom Paulo disse: "Sim, pois, aqui em São Paulo 20% das religiosas foram às comunidades pobres; 80% ficaram com os ricos". Era muito. Atualmente, não há 20%.

Isto foi uma época de criação, uma dessas épocas em que há, às vezes, na história com uma efusão muito grande do Espírito. Mas temos que viver essa herança. É uma herança que é preciso manter, conservar preciosamente porque isso não vai reaparecer. Às vezes me perguntam: Por que hoje os bispos não são como naquele tempo? Porque aquele tempo foi uma exceção, ou seja, na história da Igreja é exceção. De vez em quando o Espírito Santo manda exceções.

E quem vai evangelizar o mundo de hoje? Para mim, são os leigos. E já aparecem muitos grupinhos de jovens que justamente praticam uma vida muito mais pobre, livre de toda organização exterior, vivendo em contato permanente com o mundo dos pobres. Já existem. Haveria mais se se falasse mais, se fossem mais conhecidos. Pode ser uma tarefa também auxiliar da teologia: divulgar o que está realmente acontecendo, onde o Evangelho está sendo vivido neste momento, para dá-lo a conhecer, para que se conheçam mutuamente, porque do contrário podem perder ânimo ou não ter muitas perspectivas. Uma vez que se unam, formem associações, cada qual com sua tendência, seu modo de espiritualidade. Não espero muito do clero. Então é uma situação histórica nova.

Mas acontece que os leigos deixaram de ser analfabetos; isso já faz tempo. Eles têm uma formação humana, uma formação cultural, uma formação de sua personalidade que é muito superior ao que se ensina nos seminários. Ou seja, têm mais preparação para agir no mundo, mesmo que não tenham muita teologia. Se poderia dar mais teologia, mas isso é outro assunto. Agora, não vamos pensar que amanhã quem vai colocar em prática o programa de Aparecida serão os sacerdotes. Eu não conheço tudo, mas levando em conta os seminários que eu conheço, as dioceses que eu conheço, seriam necessários 30 anos para formar um clero novo. E quem vai formá-lo? Para os leigos é diferente. Há muitíssimas pessoas dispostas, e pessoas com formação humana, com capacidade de pensar, de refletir, de entrar em relação e contatos, de dirigir grupos, comunidades... Mas muitos ainda não se atrevem, não se atrevem. Mas aí está o futuro.

Para terminar, uma anedota: me chamaram para ir a Fortaleza, no nordeste do Brasil. Atualmente, Fortaleza é uma cidade muito grande - um milhão de habitantes (sic!). A Santa Sé havia afastado, marginalizado o cardeal Aloísio Lorscheider, mandando-o ao exílio em Aparecida, que é um lugar de castigo para os bispos que não agradam. Então, veio um sucessor, Dom Cláudio Hummes, que agora é cardeal em Roma. Cláudio Hummes suprimiu tudo o que havia de social na diocese, despediu todos: 300 pessoas com a longa trajetória de serviço, com capacidade humana. Um dia me chamaram: eram 300, chorando, lamentando: "e agora não podemos fazer nada. E agora, o que vai acontecer?". Eu lhes disse: "mas, vocês são pessoas perfeitamente humanizadas, desenvolvidas, com uma personalidade forte. Tiveram êxito em sua família, tiveram êxito em suas carreiras, em seus trabalhos profissionais. Do que agora se preocupam se o bispo quer ou não quer? Por que se preocupam se o pároco quer ou não quer? Vocês têm formação suficiente e a capacidade. Por que não agem, não formam uma associação, um grupo, de forma independente? Porque o Direito Canônico - o que muitos católicos não sabem - permite a formação de associações independentes do bispo, independentes do pároco. Isso não se ensina muito nas paróquias, mas é justamente algo que é importante. Então, vocês podem muito bem reunir 4, 5 pessoas para organizar um sistema de comunicação, um sistema de espiritualidade, um sistema de organização de presença na vida pública, na vida política, na vida social: 300 pessoas com esse valor. Se paga, tem que pagar a 5, cada um vai gastar nem sequer 2% do que ganha, ou seja, podem muito bem manter 5 pessoas dedicadas a isso. E vão escolhê-los entre 25 e 30 anos porque essa é a época criativa. Até os 25 o ser humano se busca. A partir deste momento termina seus estudos e já conseguiu um trabalho. Então já quer definir sua vida: estes são os que têm capacidade de inventar. Todas as grandes invenções se deram por gente com essa idade". Mas não o fizeram. Por quê? O que acontece? Por que tanta timidez? "Vocês que são tão capazes no mundo, na Igreja nada!" Não se sentiam capazes, necessitavam do bispo que lhes dissesse o que fazer, necessitam de sacerdotes que lhes digam o que fazer. Como é possível? Certamente, não se lhes ensinou. Podem ser adultos na vida civil e crianças na vida religiosa.

Mas nós podemos! Nós podemos fazê-lo e multiplicá-lo em todas as regiões que vamos conhecer. Então, o futuro depende de grupos de leigos semelhantes, que já existem mesmo que ainda estejam muito dispersos. O futuro está aí, é tarefa de todos, começando pelos jovens. No Brasil há neste momento seis milhões de estudantes universitários. Dois milhões, são de famílias pobres - são pobres os que ganham menos de três salários mínimos, porque com menos disso não se pode viver decentemente. Dois milhões. E qual é a presença do clero? Pouquíssima. Alguns religiosos. Das dioceses? Nada. E ali está o futuro. São jovens que estão descobrindo o mundo. Claro, há alguns que entram no mundo das drogas, que se corrompem, mas é uma minoria. Ou seja, o conjunto são pessoas que querem fazer algo na vida. Se não conhecem o Evangelho não vão viver como cristãos. É preciso explicar, mas não explicar com cursos de teologia, mas explicar fazendo, participando de atividades que de fato são realmente serviços aos pobres. Isso é possível fazer.

Tarefa da teologia. Então será preciso mudar um pouquinho: menos acadêmico, mais orientado para o mundo exterior... com todos os que não estão mais na rede de influxo da Igreja, que não recebem. Mas, presença nisso. E uma teologia que se possa ler, sem ter formação escolástica, porque anteriormente se não se tinha formação aristotélica não se podia entender nada dessa teologia tradicional. Bom, a filosofia aristotélica morreu, ou seja, os filósofos do século XX a enterraram. Agora temos liberdade para ver no mundo como nos abrimos.

Obrigado pela atenção de vocês!"

Conferência transcrita por Enrique A. Orellanae no dia 14-11-2010.

Fonte:

http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=15&noticiaId=1817