O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

8 de fevereiro de 2020

Até qualquer hora meu caro Max


É curioso como o passado às vezes nos encontra de repente e se faz vivo na memória, misturando a saudade com as lembranças de um tempo que ficou perdido lá atrás.
Hoje, o amigo Bruno me deu há pouco a notícia de que o ex-padre Max voou para a eternidade.
Max fez parte de minha adolescência naqueles atribulados anos sessenta, especialmente no final da década, quando politicamente as coisas eram bem quentes, até o AI-5 vir nos golpear de morte. Na época ela era seminarista e estagiava na Matriz da Tijuca onde tínhamos o nosso grupo de jovens. Algo meio clandestino, no porão da Igreja, a despeito de existir um grupo de jovens oficial da paróquia que acontecia na igreja o mesmo horário. Max se dividia nos dois grupos. Mas era lá ,na naquele misto de capela e “catacumba cristã”, que nos reuníamos todo domingo para celebrar uma missa, da qual até hoje, cinquenta anos depois, eu sinto uma enorme saudade, pela profundidade da mística espiritual que tínhamos lá. Assessorados pelo padre Bruno Trombetta, que também já não está entre nós, e pelo padre Max trabalhávamos para como dizia o Dom, para não deixar a profecia cair.
Lembro até hoje do dia que juntos choramos com a decretação do AI-5, da revpolta por saber da prisão do Frei Betto e da morte dos irmãos da Fátima pela ditadura, no episódio que ficou conhecido como a chacina de Quintino.
Max sofreu bastante depois de ordenado com D. Eugenio. Foi envolvido num escândalo da época com a filha de um investigador, porque se recusou a revelar um segredo de confissão. O investigador tentou envolve-lo e ele quis processar o investigador, mas foi proibido pelo bispo que ainda o transferiu para uma paróquia no subúrbio. Mas ele logo virou notícia porque resolveu cuidar da terceira idade com aulas de dança e mais uma vez o bispo não gostou e o mandou para uma outra paróquia.
Nunca mais soube dele, lamentavelmente a vida nos dispersou.
Muito tempo depois soube por amigos que ele havia abandonado o sacerdócio.
Há poucos anos atrás encontrei o vídeo abaixo, na internet,  em que ele fala daquela época e relembra alguns fatos e pessoas.
Max junto com o padre Bruno foram pessoas que considero formadores de minha vida pessoal e espiritual, a quem sou infinitamente grato. Peço ao bom Deus que o Max possa encontrar o caminho de casa e lá se reunir com os que já foram e festejar, como ele gostava.
Uma das coisas que jamais esqueci, é uma frase que ele sempre nos dizia, em meio a uma gostosa gargalhada, quando nos reuníamos, muitas vezes num bar, após a missa.
“ Voces são jovens muito revolucionários, a maioria de seus pais são extremamente reacionários, mas  não se enganem, a história é cíclica e no futuro, vocês vão ver jovens tão reacionários como seus país” E não é que ele estava certo.

Vá em paz meu caro amigo Max e de lá do alto reze por nós e pelo nosso Brasil por quem tanto sonhamos e lutamos.
Um grande e saudoso abraço.