Piere Teilhard de Chardin foi padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo. Nascido na França tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia. Através de suas obras, legou para a sua posteridade uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência. Do lado da Igreja Católica, por sua vez, foi proibido de lecionar, de publicar suas obras teológicas e submetido a um quase exílio na China.
"Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um
movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão
substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram
falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa
altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à
medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente
de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver
de se resolver o conflito."
(Teilhard de CHARDIN, O Fenómeno Humano)
Criado em uma família profundamente católica, Chardin entrou para o noviciado daCompanhia de Jesus em Aix-en-Provence no ano de 1899 e para o juniorado em 1900, em Laval. Era a época das reformas liberais de Waldeck-Rousseau, que retirara das universidades católicas o direito de conceder graus e posteriormente dissolveu as ordens religiosas e expulsou vinte mil religiosos da França. Por este motivo, teve que deixar a França e os seus estudos prosseguiram na ilha de Jersey, Inglaterra, onde cursou filosofia e letras. Licenciou-se neste curso em 1902. Entre 1905 e 1908 foi professor de física e química no colégio jesuíta da Sagrada Família do Cairo, no Egito, onde teve oportunidade de continuar suas pesquisas geológicas, iniciadas na Inglaterra. Seus estudos de teologia foram retomados em Ore Place, de 1908 a 1912. Ordenou-se sacerdote em 1911.
Entre 1912 e 1914 cursou paleontologia no Museu de História Natural de Paris.
Foi a sua porta de entrada na comunidade científica. Durante seus estudos teve
a oportunidade de visitar os sítios pré-históricos do noroeste da Espanha,
entre eles, a Caverna de Altamira.
Durante a Primeira Guerra Mundial, foi carregador de
maca dos feridos e depois capelão em
diversas frentes de batalha.
Passada a Guerra, retomou os
estudos em Paris, onde obteve o doutorado em
22 de março de 1922 na Universidade de Sorbonne com a tese: Os mamíferos do
eoceno inferior francês e seus sítios. Em 1920 tornara-se professor de geologia
no Instituto Católico de Paris. O ambiente
intelectual de Paris proporcionou-lhe encontros fecundos para o exercício
intelectual. Costumava apresentar suas ideias a plateias de jovens leigos, seminaristas e
professores. Do ponto de vista teológico, já assumira as ideias evolucionistas e
realizava uma síntese original entre a ciência e a fé cristã.
Em 1922, escreveu Nota sobre
algumas representações históricas possíveis do pecado original, que gerou um
dossiê pela Santa Sé, acusando-o de negar o dogma do pecado
original. Teve que assinar um texto que exprimia este dogma do ponto
de vista ortodoxo e foi obrigado a abandonar a cátedra em
Paris e embarcar para Tianjin na China. Este fato marcará
uma nova etapa da sua vida: o silêncio sobre temas eclesiais e teológicos que
duraria o resto da sua vida. Foi-lhe permitido trabalhar em pesquisas
científicas e suas publicações deveriam ser cuidadosamente revisadas.
Embora proibido de escrever sobre
temas eclesiais e teológicos, seus superiores imediatos estimularam suas
pesquisas e escritos, desde que sua ortodoxia fosse
assegurada por uma séria revisão, com a esperança de uma publicação posterior.
Em Pequim,
realizou diversas expedições paleontológicas, e em 1929 participou da
descoberta e estudo do sinantropo - o homem de
Pequim. Também realizou pesquisas em diversos lugares do continente
asiático, como o Turquestão,
a Índia e
a Birmânia.
Entre novembro de 1926 e março de
1927, estimulado pelo editor da coleção de espiritualidade Museum
Lessianum, escreveu O Meio Divino a partir de suas notas de retiro. A obra foi
submetida a dois censores romanos, que a consideraram aceitável. Ao ser
submetida ao Imprimatur, o cônego encarregado submete a obra a teólogos
romanos, que a consideraram suspeita pela originalidade. Apesar disto, cópias
inéditas da obra passaram a circular, datilografadas e policopiadas.
Em Pequim,
escreveu sua obra prima: O Fenômeno Humano. Encaminhou a obra a Romaem 1940, que prometeu
o exame por teólogos competentes. Várias revisões foram encaminhadas sem que
o nihil obstat fosse concedido.
Em 1946 retornou a Paris. Seus textos mimeografados continuavam
a circular e suas conferências lotavam os auditórios. Foi convidado a lecionar
no Collège de France. Diante de ameaças de novas
sanções pela Santa Sé, dirige-se a Roma em 1948. A visita foi inútil: foi
proibido de ensinar no Colégio da França e a publicação do Fenômeno
Humano não foi autorizada.
Entre 1949 e 1950 deu cursos na
Sorbonne que geraram a obra O grupo zoológico humano. Em 1950 foi eleito
membro da Academia de Ciências do Instituto de Paris.
Em 1950, foi promulgada a
encíclica Humani Generis pelo papa Pio XII,
que na opinião de Chardin, bombardeava as primeiras linhas de seu trabalho.
Em 1951, mudou-se para Nova York,
a convite da Fundação Wenner-Gren, que patrocinou duas expedições científicas
na África para
pesquisar sobre as origens do homem sob sua coordenação.
Pierre Teilhard de Chardin
faleceu em 10 de abril de 1955, num domingo de Páscoa,
em Nova York.
No campo científico deixou uma obra vasta: cerca de
quatrocentos trabalhos em vinte revistas científicas.
No campo filosófico, seu
pensamento pode ser editado por um comitê internacional porque ele deixou do
direito de suas obras para um colega, não para a sua ordem religiosa. No mesmo
ano de sua morte, as Éditions du Seuil lançaram o primeiro volume
das Ouevres de Teilhard de Chardin.
O Santo Ofício solicitou
ao Arcebispo de
Paris que detivesse a publicação das obras. Em 1957, um decreto deste mesmo
órgão decidiu que estes livros fossem retirados das bibliotecas dos seminários
e institutos religiosos, não fossem vendidos nas livrarias católicas e não
fossem traduzidos. Este decreto não teve muita adesão. Cinco anos mais tarde,
uma advertência foi publicada, solicitando aos padres, superiores de Institutos
Religiosos, seminários, reitores das Universidades que protejam os
espíritos, principalmente o dos jovens, contra os perigos da obra de Teilhard
de Chardin e seus discípulos. Segundo esta advertência, "sem fazer
nenhum juízo sobre o que se refere às ciências positivas, é bem manifesto que,
no plano filosófico e teológico, estas obras regurgitam de ambiguidades tais e
até de erros graves que ofendem a doutrina católica".
A sua obra continuou a ser editada,
chegando ao décimo terceiro volume em 1976, pelas Éditions du Seuil e foi
traduzida em diversos idiomas. Seu trabalho teve grande repercussão, gerando
diversos estudos a cerca de sua obra até nos dias atuais.
Em 12 de maio de 1981, por
ocasião da comemoração do centenário do seu nascimento, Chardin teve sua obra
reconhecida pela Igreja através de uma carta enviada pelo cardeal Agostino
Casaroli, secretário de Estado do Vaticano, ao reitor do Instituto Católico de
Paris. A carta afirma:
Sem dúvida, o nosso tempo
recordará, para além das dificuldades da concepção e das deficiências da
expressão dessa audaciosa tentativa de síntese, o testemunho da vida unificada
de um homem aferrado por Cristo nas profundezas do seu ser, e que teve a
preocupação de honrar, ao mesmo tempo, a fé e a razão, respondendo quase que
antecipadamente a João Paulo II: "Não tenham medo, abram, escancarem as
portas a Cristo, os imensos campos da cultura, da civilização, do
desenvolvimento"
Suas ideias foram sendo
incorporadas ao discurso oficial da Igreja, como depreende-se da mensagem
do Papa Bento XVI por ocasião da Festa
da Santíssima Trindade de 2009, dirigida aos
fieis em Roma: "Em tudo o que existe, encontra-se impresso, em certo
sentido, o "nome" da Santíssima Trindade, pois todo o ser, até as
últimas partículas, é ser em relação, e deste modo se transluz o Deus-relação;
transluz-se, em última instância, o Amor criador. Tudo procede do amor, tende
ao amor e se move empurrado pelo amor, naturalmente, segundo diferentes níveis
de consciência e de liberdade."… "Utilizando uma analogia
sugerida pela biologia, diríamos que o ser humano tem no próprio
"genoma" um profundo selo da Trindade, do Deus-Amor".3 E
ainda mais claro, no dia 24 de Julho em Aosta, Itália o Papa Bento
XVI diz: "Nós mesmos, com todo o nosso ser, temos que
ser adoração e sacrifício, restituir o nosso mundo a Deus e assim transformar o
mundo. A função do sacerdócio é consagrar o mundo a fim de que se torne hóstia
viva, para que o mundo se torne liturgia: que a liturgia não seja algo ao lado
da realidade do mundo, mas que o próprio mundo se torne hóstia viva, se torne
liturgia. É a grande visão que depois teve também Teilhard de Chardin: no final
teremos uma verdadeira liturgia cósmica, onde o cosmos se torne hóstia
viva."
Como geopaleontólogo, Teilhard de Chardin estava familiarizado com as evidências geológicas e fósseis da evolução do planeta e da espécie humana. Como sacerdote cristão e católico, tinha consciência da necessidade de um meta-cristianismo que contribuísse para a sobrevivência do planeta e da humanidade sobre ele . No cerne da questão está a visão filosófica, teológica e mística de Teilhard de Chardin a respeito da evolução de todo o Universo, do caos primordial até o despertar da consciência humana sobre a Terra, estágio esse que, segundo ele, será seguido por uma Noogenese, a integração de todo o pensamento humano em uma única rede inteligente que acrescentará mais uma camada em volta da Terra: a Noosfera, que recobrirá todo o Biosfera Terrestre. A orientar todo esse processo, existe uma força que age a partir de dentro da matéria, que orienta a evolução em direcção a um ponto de convergência: o Ponto Ômega. Teilhard sustentava a ideia de um Panenteísmo cósmico: a crença de que Deus e o Universo mantém uma criativa e dinâmica relação de progressiva evolução.
Como escritor, a sua obra-prima
é O Fenômeno Humano, além de centenas de outros escritos sobre a
condição humana. Como paleontólogo, esteve presente na descoberta do Homem de
Pequim. Ainda que ele estivesse presente depois do descobrimento do
“Piltdown Man” a evidência aponta a o fato que ele nunca perdeu prestígio com a
falsificação de um suposto fóssil "O Homem de Piltdown". Como
Teilhard disse em 1920: "anatomicamente as partes não cabem."
Segundo Chardin, a Terra seria composta de várias camadas esféricas:
Barisfera ou núcleo metálico
terrestre;
Litosfera ou
camada de rochas;
Hidrosfera ou
camada de água;
Atmosfera ou
camada de ar;
Biosfera ou
esfera da vida;
Noosfera ou
esfera do pensamento ou espírito humano:
Obras de Teilhard de Chardin
Cartas
a Léontine Zanta
Cartas
de Viagem
Cartas
do Egipto
Ciência
e Cristo
O
Fenómeno Humano
Hino
do Universo
Lugar
do Homem no Universo
O
Meio Divino
A
Minha Fé
Reflexões
e Orações no Espaço-Tempo
Sobre a Felicidade
/ Sobre o Amor
Obras Publicadas sobre Teilhard de Chardin
Rideau, Émile, s.j.
- A favor de Teilhard ou contra?
Silvestre, José Gomes
- Acção e sentido em Teilhard de Chardin
Cuénot, Claude
- Aventura e Visão de Teilhard de Chardin
Barjon (L.) + Leroy
(P.) - A Carreira Científica de Teilhard de Chardin
Arnould, Jacques
- Darwin, Teilhard de Chardin, a Igreja e a evolução
JANEIRA, Ana Luísa
- Energética no pensamento de Pierre Teilhard de Chardin
Lessa, Almerindo
- As Estradas espirituais das ciências
Colomer, Eusébio,
s.j. - A Evolução segundo Teilhard de Chardin
Tresmontant, Claude
- Introdução ao Pensamento de T. de Chardin
Patrício, Manuel
Ferreira - Leonardo Coimbra e Teilhard de Chardin
Demoulin, J.P. +
autres - O Tempo e o Modo – Teilhard de Chardin
Lubac, Henri de
- Oração (A) de Teilhard de Chardin
Mortier, Jeanne-Marie
- Pierre Teilhard de Chardin Pensador Universal
Sebastião, Luís
Miguel - Possibilidade de Fundamentação da Educação no Pensamento de
Teilhard de Chardin
Dupleix, André
- Quinze dias com Teilhard de Chardin
Fragata, Júlio
- Revista Portuguesa de Filosofia – Teilhard de Chardin (entre out.)
Magalhães s.j., Vasco
- Revista Portuguesa de Filosofia - Teilhard de Chardin (Braga)
Wildiers, N.M.
- Teilhard de Chardin
L.Salleron+A.Monestier
- Teilhard de Chardin - pró/contra
Noël Martin-Deslias
- Teilhard de Chardin , aventureiro do espírito
Coffy, Robert - Teilhard
de Chardin e o socialismo
(diversos autores)
- Teilhard de Chardin, Evolução e Esperança
Nunes, J. Paulo
- Teilhard de Chardin, o S. Tomás do século XX
Reimão, Cassiano
- Teilhard de Chardin: evolução e esperança
Reis, António do
Carmo - A Visão da história em Teilhard de Chardin
Pasolini, Piero
- O Futuro melhor do que qualquer passado
Boff, Leonardo
- Evangelho Do Cristo Cósmico
Nenhum comentário:
Postar um comentário