Tenho a impressão que Frei Clodovis foi acometido de alguma transformação que o fez esquecer do que está
escrito em Mt 25,31 –ss. Se é o próprio Cristo quem diz que : “ o que fizerdes
a um desses meus pequeninos é a mim que o fareis” como ele pode pensar que a
Teologia da Libertação está fazendo uma troca entre Jesus e as questões sociais, ou os pobres
como ele literalmente diz na entrevista? Ou que ela já tenha cumprido o seu
papel? Ora parece que o Frei Clodovis
acha que já se resolveu a questão social, que não há mais famintos (“Eu tive
fome e não me deste de comer”) ou sedentos (“eu tive sede e não me saciastes!”)
ou doentes(“estive doente e não me visistastes!”) presos... desempregads...
oprimidos... excluídos...
A tarefa da
Teologia da Libertação penso eu, é levar a igreja de Cristo de volta ao seu
eixo, o eixo que era a razão de ser dos
apóstolos e das primeiras comunidades, e que foi gradativamente sendo
abandonado pela igreja a medida em que ela se imperializou, se rendeu ao
Império romano, absorvendo os hábitos pagãos dos deuses romanos, suas praticas
e seus sacríficos. Precisando inclusive produzir profundas modificações na
doutrina para que ficasse mais palatável aos neo-convertidos, à força, por
decreto de Constantino. Tudo isso piorou quando transformaram a “ceia”, o “ágape
fraterno”, em sacrifício incruento, mesmo sabendo que os sacrifícios haviam
terminado com a vitima perfeita, o Cristo, que se entregou para salvação de TODOS
os pecados e pecadores.
Acho que o
brilhante frei encontrou alguma realidade
paralela e passou a achar que a missão da TdL já está cumprida, ou talvez tenha
passado para o lado, o dos teólogos acomodados que vivem repetindo a frase de
Jesus , fora do contexto atual, de que “pobres sempre o tereis”.
É triste
perceber essa atuação de frei Clodovis, em um momento tão importante para a
igreja, quando depois de muito tempo pode-se perceber a ação clara do Espírito
Santo atuando e se servindo do papa Francisco para recolocar a igreja nos objetivos
propostos por Jesus.
Mas até
Pedro negou Jesus, cabe a nós aguardar os acontecimentos e esperar. E ficar
atentos ao que o Espírito Santo vai operar e nos cobrar quanto ao grande
objetivo de Jesus, aquilo que ele nos incumbiu de realizar: construir o Reino de seu Pai a começar aqui na
terra. Para isso é fundamental que se compreenda que para que o Reino aconteça
não poderá mais haver justificativas na hora que Jesus nos perguntar. Deus
queira que nesta hora tenhamos uma resposta convincente para que ele não diga
em alto e bom som:
“- Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e
aos seus anjos. 42.Porque tive
fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;43.era peregrino e não me acolhestes;
nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
...- Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um
destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.”(Mt 25,41-43, 45).entretanto fico pensando se esta atitude do Frei não é na realidade fruto da enorme pressão que a estrutura da igreja faz. Coim o irmão Leonardo o espremeram até que ele pediu para sair. Embora não lhe tenham dado a resposta ele seguiu de fotma mais loivre o seu caminho, e continua brilhante em seus artigos e livros. Fico me perguntando se é apropriado se chamar essa hierarquia de cristã. O estrago psicológico que todo esse rolo compressor produz nas pessoas, leigos e sacerdotes é assustador.
J. Ricardo A. de Oliveira
*********************************************************************************
Entrevista de Frei Clodovis Boff
-
Adital
Frei
Clodovis Boff: só é possível uma Teologia da Libertação sob a condição de
começar e acabar no horizonte da fé
Já
faz algum tempo que se fala sobre uma crise da Teologia da Libertação
(TdL), corrente teológica fundada há 42 anos, que se caracteriza por uma opção preferencial pelos pobres e pela luta por justiça social. Nas
palavras do Frei Clodovis Boff - religioso da ordem dos Servos de Maria, que
juntamente com seu irmão mais famoso, Leonardo Boff, foi um dos principais
teólogos da TdL -, esse modo de teologizar "deu
o que tinha que dar”, ou seja, conscientizou a Igreja sobre a opção
preferencial pelos pobres, contudo
"não tem mais futuro dentro da igreja” e por isso está perdendo cada vez
mais espaço dentro dela.
Mesmo tendo participado da fundação da TdL, Frei Clodovis
assegura que já tinha suas reservas em
virtude da falta de rigor teórico e da priorização "do político às
expensas da fé”. Com o passar dos anos, vendo que essa prioridade não
mudava, mas se firmava cada vez mais, decidiu abrir suas críticas. Hoje, o
religioso defende que é desaparecendo no
caudal maior da teologia cristã que a Teologia da Libertação cumpre sua missão
histórica. A ADITAL conversou com Frei Clodovis sobre o
assunto. Confira a primeira de uma série especial de entrevistas a ser
publicada todas as sextas-feiras pela Adital.
Quarenta e dois anos depois, a Teologia da
Libertação ainda vive?
Ela ainda faz sentido nos dias atuais?
Ela ainda faz sentido nos dias atuais?
Frei Clodovis M. Boff- Sim, existem teólogos da libertação
que se reúnem e escrevem. Mas
seu declínio como tendência à parte é inegável. A meu ver, a Teologia da
Libertação "prescreveu” historicamente. Deu o que tinha que dar:
conscientizar a Igreja sobre a opção preferencial pelos pobres. Ora,
isso foi fundamentalmente incorporado, sem mais discussão, pelo discurso normal
da Igreja. Assim, a corrente liberacionista reentra, finalmente, na
grande correnteza da teologia católica ou universal, reforçando e atualizando
aquilo que foi sempre uma riqueza da Igreja: o amor preferencial pelos
sofredores de toda a sorte. A Teologia da Libertação poderia até permanecer
como um espécimen da chamada "teologia do genitivo”, teologia
necessariamente parcial, como quando se fala na "teologia da graça”, na
"teologia do casamento” ou ainda na "teologia de São Paulo”. Essas
teologias particulares são apenas tematizações de um aspecto da fé. Foi nesse
sentido, como teologia parcial, sintonizada com o todo da fé, que a Teologia da Libertação foi declarada por
João Paulo II, em Carta aos Bispos do Brasil (09/04/1986) "oportuna, útil
e necessária” (n. 5). Mas até que a Teologia da Libertação pretende ser uma
teologia completa, ela não tem futuro dentro da Igreja. Ela, de fato, vai
perdendo cada vez espaço dentro dela.
"Quer-se
mostrar aqui que a Teologia da Libertação partiu bem, mas, devido à sua ambiguidade
epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de
Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco:
instrumentalização da fé "para” a libertação. Erros fatais, por
comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia” (artigo de 16.8.2008). Em
qual momento e por que você se tornou um dos grandes críticos da Teologia da
Libertação?
Fr. Clodovis M. Boff- Desde sempre, tive reservas em relação à
Teologia da Libertação, quer por causa de sua falta de rigor teórico, quer devido ao seu pendor ideológico: o
de priorizar o político às expensas da
fé. Embora, em minha tese doutoral "Teologia e prática”,
publicada há mais de 40 anos (Vozes, 1978), eu já tivesse
estabelecido claramente a prioridade da fé sobre a política (especialmente na
II Seção, cap. I), imaginei que a prioridade conferida ao político fosse coisa
transitória, seja pelo urgentismo social,
que se vivia naqueles tempos difíceis
(ditadura e capitalismo selvagem), seja por se mostrar uma doença infantil,
normal para todo movimento histórico novo. Mas quando, com o passar do tempo,
fui me dando conta de que, desgraçadamente, aquela prioridade, em vez de refluir, ia se afirmando cada vez mais,
com grave dano para a identidade da fé, a missão própria da Igreja e o destino
último do ser humano, decidi então explicitar, sem rebuços, minhas críticas.
Em quais pontos há divergências entre os
teólogos da TdL?
Fr. Clodovis M. Boff- As divergências não são de pouca monta, mas
fundamentais, tocando os princípios mesmos da fé. Quem é Senhor da Igreja? Quem
ocupa seus pensamentos? Cristo ou os pobres? Se dizemos: Cristo, é
garantido, em princípio, que os pobres terão na Igreja seu "lugar
eminente”, para falar como Bossuet. Mas
se dizemos: os pobres, então Cristo pode ser facilmente despedido da sociedade
e da vida, como foi com o marxismo.
Em
alguns textos você fala em desgaste e crise da TdL. Como esse "modo de
teologizar” pode enfrentar a crise e seguir forte?
Fr. Clodovis M. Boff-
Como disse acima, é paradoxalmente
desaparecendo no caudal maior da teologia cristã que a Teologia da Libertação
cumpre sua missão histórica. É como o torrão
de açúcar, que só existe para se dissolver no café: continuará aí presente,
adoçando todo o café, mas invisível. Ou, numa metáfora mais bíblica, é como
João Batista, que disse: "Importa
que Ele cresça e eu diminua”, ao contrário dos judeus que, chamados a
acolher o Messias, se recusaram a ser o que deveriam se tornar. Deveriam ter
feito como Saulo, que só cumpriu seu destino tornando-se Paulo. Tal também
deveria ser o termo final da Teologia da Libertação: tornar-se teologia cristã
sem mais, depois de ter contribuído para seu enriquecimento.
Os teólogos da libertação estão envelhecendo,
o senhor acredita em uma renovação?
Fr. Clodovis M. Boff- Quando
se leem as produções atuais dos chamados "teólogos da libertação”, nota-se
aí que o discurso se repete ad
nauseam. São "variações sobre o mesmo tema”: os
pobres socioeconômicos e sua libertação social. Insisto: só é possível uma
Teologia da Libertação, como, aliás, qualquer outra espécie de teologia, sob a
condição de começar e também acabar no horizonte transcendente da fé.
Fora disso, a Teologia da Libertação só produzirá "mais do mesmo”. E,
assim como o Papa Francisco costuma dizer que uma Igreja sem a fé incondicional
no Cristo é uma "ONG piedosa”, assim também uma Teologia da Libertação (ou
qualquer outra), sem essa mesma fé primacial no Cristo, é uma ideologia
religiosa, concorrendo ou então colaborando com outras ideologias. Torna-se,
com isso, cada vez mais irrelevante, pois, de ideologias o mundo atual está
cansado.
A abertura que o Papa Francisco vem dando a
teólogos da TdL pode ajudar a revigorá-la?
Fr. Clodovis M. Boff- O
discurso e, mais ainda, o exemplo do Papa atual poderia servir de exemplo para
um cristianismo que não precisa de ideologia, mesmo sob um rótulo teológico,
para se ocupar a sério com os pobres. A Teologia da Libertação só pode se
revigorar dentro da Igreja, no seio de seu pluralismo teológico, a título,
portanto, de uma teologia particular.
Como os teólogos da libertação têm trabalhado
e como deveriam pensar questões polêmicas como aborto, diversidade (união
homoafetiva) e participação da mulher na igreja?
Fr. Clodovis M. Boff -Como
para a questão do pobre, central na Teologia da Libertação, todas essas outras
questões devem ser tratadas por qualquer teólogo a partir dos princípios
perenes da fé. Mas, é claro – e esta é a função próprio do teólogo na Igreja –,
esses princípios devem ser bem compreendidos e postos em confrontos com a
experiência da história, que tem muito a ensinar à Igreja, como reconhece o
Vaticano II na Gaudium et Spes (cf. GS 44).
E no caso da Igreja Católica, quais são seus
desafios atuais diante de tantas demandas sociais, políticas e econômicas?
Fr. Clodovis M. Boff-
Certamente, a Igreja já está fazendo muito no campo social, e precisará fazer
mais. Mas, é preciso que fique claro: não
é essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete
expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão
social é, antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da
primeira, que é de natureza "religiosa”. Essa lição nunca foi bem compreendida pelo pensamento laico. Foram os Iluministas que queriam reduzir a
missão da Igreja à mera função social. Daí terem cometido o crime,
inclusive cultural, de destruírem celebres mosteiros e proibido a existência de
ordens religiosas, por acharem tudo isso coisa completamente inútil,
mentalidade essa ainda forte na sociedade e até mesmo dentro da Igreja. Agora,
se perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder: É o maior
desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que transcende
tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que, porém, hoje, nos
pós-moderno, tornou-se, particularmente angustiante e generalizada. É, em
primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente existencial e hoje
caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder, como, aliás, todas
as religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as "especialistas
do sentido”. Quem não viu a gravidade desse desafio, ao mesmo tempo existencial
e histórico, e insiste em ver na questão
social "a grande questão”, está "desantenado” não só da teologia, mas
também da história.
Tenho
a ligeira impressão que Frei Clodovis foi acometido de alguma transformação que o fez esquecer do que está
escrito em Mt 35,31 –ss. Se é o próprio Cristo quem diz que : “ o que fizerdes
a um desses meus pequeninos é a mim que o fareis” como ele pode pensar que a
Teologia da Libertação está fazendo uma troca entre Jesus e as questões sociais, ou os pobres
como ele literalmente diz na entrevista? Ou que ela já tenha cumprido o seu
papael? Ora parece que o Frei Clodovis
acha que já se resolveu a questão social, que não há mais famintos (“Eu tive
fome e não me deste de comer”) ou sedentos( “eu tive sede e não me saciastes!”)
ou doentes( “estive doente e não me visistastes!”) presos... desempregads...
oprimidos... excluídos...
A
tarefa da Teologia da Libertação penso eu, é levar a igreja de Cristo de volta
ao seu eixo, o eixo que era a razão de
ser dos apóstolos e das primeiras comunidades, e que foi gradativamente sendo
abandonado pela igreja a medida em que ela se imperializou, se rendeu ao
Império romano, absorvendo os hábitos pagãos dos deuses romanos, suas praticas
e seus sacríficos. Precisando inclusive produzir profundas modificações na
doutrina para que ficase mais palatável aos neo-convertidos, à força, por
decreto de Constantino. Tudo isso piorou quando transformaram a “ceia”, o “ágape
fraterno”, em sacrifício incruento, mesmo sabendo que os sacrifícios haviam
terminado com a vitima perfeita, o Cristo, que se entregou para salvação de TODOS
os pecados e pecadores.
Acho
que o brilhante frei encontrou alguma
realidade paralela e passou a achar que a missão da TdL já está cumprida, ou
talvez tenha passado para o lado, o dos teólogos acomodados que vivem repetindo
a frase de Jesus , fora do contexto atual, de que “pobres sempre o tereis”.
É
triste perceber essa atuação de frei Clodovis, em um momento tão importante
para a igreja, quando depois de muito tempo pode-se perceber a ação clara do Espírito
Santo atuando e se servindo do papa Francisco para recolocar a igreja nos objetivos
propostos por Jesus.
Mas
até Pedro negou Jesus, cabe a nós aguardar os acontecimentos e esperar. E ficar
atentos ao que o Espírito Santo vai operar e nos cobrar quanto ao grande
objetivo de Jesus, aquilo que ele nos incumbiu de realizar: construir o Reino de seu Pai a começar aqui na
terra. Para isso é fundamental que se compreenda que para que o Reino aconteça
não poderá mais haver justificativas na hora que Jesus nos perguntar. Deus
queira que nesta hora tenhamos uma resposta convincente para que ele não diga
em alto e bom som:
“- Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. 42.Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;43.era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
...- Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.”(Mt 25,41-43, 45)
“- Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. 42.Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;43.era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
...- Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.”(Mt 25,41-43, 45)
Gostaria de comentar apenas um trecho, que acho eu, sintetiza o resto. Disse nosso irmão Clodovis: "Certamente, a Igreja já está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais. Mas, é preciso que fique claro: não é essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é, antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é de natureza "religiosa”.
ResponderExcluirPois bem, se pudesse, faria minha colação em forma de pergunta:
O Cristo foi um religioso preso a regulamentos e templos, ou um socialista mergulhado nas causas importantes do mundo?