O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

31 de julho de 2012

Discussão sobre o posicionamento de Frei Clodovis Boff sobre a Teologia da Libertação



Meu caro H. A

Mas uma vez  fico preocupado com essa nossa discussão neste espaço, de tantos  participantes calados, não sei se atentos, ausentes ou simplesmente tímidos.
Confesso que este assunto e esta discussão me agrada e é algo que faço com certa constância seja no aqui no Blog e em algumas comunidades do Orkut, ou ainda, na lista de Teologia e libertação do Yahoo.
Não sei se vamos abrir nossos telhados para que atirem pedras ou, quem sabe conseguir uma maior participação, o que seria maravilhoso.
Ousemos, portanto.


Li o artigo do Frei Clodovis Boff e confesso que fiquei bastante confuso e preocupado. Não reconheci o homem claro e lúcido que conheci há algum tempo atrás.
Eu realmente tive muita dificuldade para entender a questão que ele quer colocar.
Claro que entendi o que ele diz, ou seja, na sua visão  a teologia da Libertação estaria deslocando a   centralidade de seu objeto de Jesus para o Pobre.
 Mas certamente li e reli o  artigo mas, não consegui divisar “onde” se aplica a sua critica.
Ele  diz que sua critica não se aplica aos históricos autores da TdL.  Mais adiante  diz que concorda com a repreensão a Jon Sobrino, mas Sobrino é considerado um dos autores históricos.
Mas parece-me que frei Clodovis, ao mesmo tempo em que  pretende discutir a centralidade da questão do Pobre na TdL, concorda , a menos que desconsidere toda a sua produção literária, a importância do pobre/ excluído na TdL .
Achei que alguma coisa ficou sem ser dita claramente ou o frei está reformulando sua visão da TdL, será?
Devo confessar que em meus conhecimentos rudimentares de teologia não consigo ver esta mudança de foco da TdL. A menos que ele queira incluir os movimentos políticos que tentam se agregar à tdl   (especialmente o PT e o PSOL) para angariar votos.
Mas isso não tem nada a ver com TEOLOGIA.

Mas, para iniciar esta discussão acho que  seria interessante verificar o que eu entendo por “ser cristão” e no que discordo do frei, se é que consegui entender a critica dele à TdL. E onde se encaixa a teologia da libertação nesta minha maneira de ser cristão.

 Era esta a tua proposta?
Se for vamos em frente.


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Resposta do amigo H.A
Olá Ricardo.


Cada fórum virtual tem o seu perfil, assim como também cada comunidade "real". Sobre isso, o que escrevi alguns anos atrás ainda está valendo na minha opinião. Ter gente tímida, que gosta apenas de ler, que espia ou desconfia, isso tudo faz parte, acho normal mesmo. Como não peguei nenhuma pastoral com a internet a pleno vapor, pode ser que eu tentaria o inverso... protagonistas reais se encontrariam no plano virtual e não o contrário. Mas isso já é outro assunto...

Quanto ao fato da reflexão sobre o escrito, podemos exercitar, por exemplo o pensar de Santo Agostinho que dizia: "Se a fé não é pensada, não é nada."

Confesso que não sou um entusiasta do tema a muitos anos. O que me chamou a atenção foi mesmo essa refutação meio "histórica".
  
Não tenho a íntegra do texto original que deu origem a tudo, apenas a réplica (que é bastante longa) e alguns questionamentos de autores também "de dentro". No mais eu não havia pensado em nenhuma proposta pensada, a não ser compartilhar algumas colocações para que o assunto se tornasse mais fluido, visando a melhor compreensão (de minha própria parte) com o decorrer.

Eu também percebi a insistência na repetição sobre a importância de uma "cristologia cristocêntrica" (termo meu)... sim é isso mesmo... redundância. Ou talvez o autor estivesse querendo dizer algo ao (re)afirmar o resgate de algo tão básico a todo pensamento teológico cristão. Ou talvez por não estar mais convicto de que a cristologia da libertação do pobre e dos oprimidos seja tão Cristocêntrica assim.

A questão é que encontrei pontos e afirmações interessantes de ambas as partes. Eu não diria que toda a produção teológica anterior não valeria mais para nada. Apenas que o próprio frei achou que não foi tão "feliz" assim, em certos momentos - própria observação dele. Não sei, pois tenho pouquíssima leitura da obra biográfica dele no decorrer destes anos.
  
Já o Documento de Aparecida, apenas passei uma vista bem rápida. Ainda não li e - sinceramente - nem sei se terminarei a leitura. Pois os textos sempre tendem a se distanciar da práxis - naturalmente - e também por desinteresse pastoral e pessoal. Os documentos "falam" uma coisa e a práxis pastoral "diz" outra. Isso cansa, ao menos me cansou. É meio que um paradoxo (pois documentar é muito importante), mas acho que acaba, de certo modo, burocratizando a práxis cristã. Esta acaba se 'esquecendo' das coisas simples e primárias vista nos Atos dos Apóstolos, por exemplo.

Na crítica do frei, encontrei alguns pontos plausíveis sim, não achei tudo "delírio teológico" não. Por exemplo, ele ao falar do *risco* de "ONGnização" dos grupos pastorais, me fez lembrar imediatamente do 7º Interclesial de CEBs, em 1989, na Catedral de Caxias. Eu estava lá, mais a caráter de curiosidade mesmo. Infelizmente não lembro detalhadamente muita coisa, mas o que não esqueço é que durante a missa de encerramento, quando eu olhava para trás na igreja via uma cortina de bandeiras vermelhas...rs. Eram bandeiras de vários tamanhos, do PT, MST, CUT e sei lá mais o que. Um olhar ao passado e outro ao momento presente... podemos dizer que os movimentos se desvirtuaram da motivação e "berço cristão"??? Creio que comentar sobre o MST e sua práxis e métodos (não sobre a causa da reforma agrária) é perceber estampada uma visível mudança... Antes existiam traços cristãos ligados não só a TdL, mas a demais movimentos da Igreja, como a CNBB... - vide por exemplo o documentário (que gosto muito) "Pé na Caminhada" - hoje esse vínculo praticamente se não se desfez quase que totalmente, se desvirtuou e muito. Hoje a influência da Pastoral da Terra sobre o movimento não é como era a alguns anos atrás. Por isso não acho um delírio do frei ao apontar essa possibilidade.


"O Documento de Aparecida, cujas características, segundo o teólogo (frei Clodovis), são a leveza, a clareza, a positividade, o estímulo e a serenidade, reassume a “opção preferencial pelos pobres” na perspectiva da fé-encontro. ‘O Documento não se detém nas dificuldades e crises de nosso tempo, nem na complexidade da sociedade atual”, escreve o teólogo, mas “aposta, antes, no Cristo vivo, presente na Igreja, com sua inspiração e sua força. Poderíamos dizer: os bispos ‘põem fé na Fé’ ”.

Ainda no Documento de Aparecida nº 160:
"Quando cresce no cristão a consciência de se pertencer a Cristo, em razão da gratuidade e alegria que produz, cresce também o ímpeto de comunicar a todos o dom desse encontro. A missão não se limita a um programa ou projeto, mas em compartilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo, testemunha-lo e anuncia-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade e da Igreja a todos os confins do mundo (cf. At 1,8).
161. Bento XVI nos recorda que: “o discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra de Deus, sente-se motivado a levar a Boa Nova da salvação a seus irmãos. Discipulado e missão são como os dois lados de uma mesma moeda: quando o discípulo está enamorado de Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele salva (cf. At 4,12). Na realidade, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” 52. Esta é a tarefa essencial da evangelização, que inclui a opção preferencial pelos pobres, a promoção humana integral e a autêntica libertação cristã."

- Grifos meus -

Pensava eu com os meus botões. Por que a TdL não poderia ser "revista"? Assim como as visões teológicas se adaptam aos tempos, os planos pastorais gerais também sempre se reeditam para melhor se ajustarem aos anseios, por que algo semelhante não poderia acontecer com a TdL? Será que ela não precisaria? Será que isso poderia aproximar o pensamento que diverge e torna-lo mais UNO com o todo? Uma aproximação não fortaleceria e aproximaria o discurso da prática?

Várias colocações. E apenas coloco mesmo, pois não trago respostas para todos esses pontos.

Apenas penso a minha fé, como exortou Santo Agostinho. Penso que as "teologias" cristãs - no caso as católicas - sejam elas pentecostais "renovadas", de libertação, de comunhão, marianas, corintianas, eruditas, preferênciais, etc. etc.  Independente de sua espiritualidade, deveriam sempre manter intimamente inserido a sua práxis primeira o pensamento de Santa Clara, cheio da sabedoria do perfume franciscano: "Nunca perca de vista o seu ponto de partida".

Seja esse ponto o excluído, ou seja a presença mística da imagem e semelhança de Cristo no pequenino. O que o mundo precisa é de uma overdose de caridade, de abraço, de ternura desinteressados em "vender o próprio peixe", apenas em amar o próximo no silêncio que um gesto breve, simples e verdadeiro pode ter.
  
Shalom caro irmão!
Que o Senhor guarde a todos nós.

* ps:

- separei apenas os tópicos gerais da estrutura do texto da réplica , para tentar facilitar o entendimento do pensamento do articulista para quem não teve tempo nem saco de ler tudo:


1. A questão do fundamento primeiro da teologia: a fé no Cristo Senhor

- Importância máxima da questão do fundamento
- O que está em jogo: Cristo como fundamento da teologia
- Cristo Senhor: princípio vivo e pré-teológico
- A fé como princípio operativo, também na vida do teólogo
- Pobres como questão derivada da questão primeira: Cristo
- O “retorno dialético” da ótica do pobre sobre a da fé
- O pobre inclui Cristo, mas Este, antes ainda, inclui o pobre
- O princípio-Cristo admitido na TdL, mas sem “operar” efetivamente


2. A Teologia da Libertação atual continua ambígua

- Confirmação da ambigüidade metodológica
- Argumentação dogmatizadora e perpetuadora dos pobres
- A contradição metodológica e outros equívocos
- A dialética meramente circular
- A estranha lógica da centralidade do pobre
- Teologia a que falta a firmeza de seu pressuposto: o ato de fé
- Por que a TdL reluta em admitir sem equívocos a Cristo como fundamento
- Caridade, sim, mas também verdade
- Resistências à TdL por conta de sua ambigüidade de fundo
- Por uma renovada paidéia filosófico-teológica


3. Por uma “volta ao fundamento” da Teologia da Libertação

- Renovar a TdL, partindo de Cristo, para melhor servir os pobres
- Enriquecer qualitativamente a idéia de pobre
- Necessidade de tematizar o “humano” para articular Cristo e pobre
- A atual TdL corre o risco de ficar superada
- Refundar a TdL sobre o Cristo da fé, fundamento perene de toda teologia




Minha segunda resposta  (J. Ricardo)

Helio,
Gostaria de ler essa réplica ao texto do Frei Clodovis que vc citou. Se vc tiver me mande por favor, acho que não tenho.

Em principio concordo com você. E como disse,  a inclusão dos grupos político partidarios na TdL é um desvio grave e se for isso que ele está se referindo acho a sua crítica muito oportuna.
Mas não sei, acho que há algo mais que não foi explicitado que também não iremos saber se ele não vier a público esclarecer.

Frei Clodovis não cita nomes e não dá nenhuma referência, sobre que  obras de  autores que seriam incriminados. Não cita as páginas em que estão os erros.
A acusação é a seguinte: a teologia da libertação substituiu Cristo pelo pobre. O pobre ocupa o lugar de Cristo do cristianismo.
 No dizer do Padre José Comblin “essa acusação é espantosa. Suprimir o lugar central de Cristo é deixar de ser cristão. Na palavra de Clodovis os teólogos da libertação - cujos nomes não aparecem - já não são cristãos. Já estão fora da Igreja. Os sacramentos que celebram ou recebem são sacrilégios.  Frei Clodovis é muito mais severo do que a Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, porque condena muitos de uma vez.
O Pe Comblin continua:
“Clodovis quer salientar que o fundo da teologia é professar: "Cristo é o Senhor". Acho que todos os teólogos sabem disso e ninguém vai discutir.  Mas o problema é outro. O problema é "quem diz "Cristo é Senhor"? Onde? Quando?
O general Videla dizia "Cristo é Senhor". O general Pinochet dizia "Cristo é Senhor" Era fé? Ou era blasfêmia? A elite latino-americana que oprimiu os povos durante 500 anos sempre proclamou: "Cristo é Senhor". Era ato de fé? Ainda é ato de fé? Este é o nosso problema. Os teólogos latino-americanos afirmaram: quem pode dizer "Cristo é Senhor" com sinceridade, como expressão de toda a sua vida, são os pobres. Daí o lugar central dos pobres, que não afeta em nada o lugar central de Cristo, pelo contrário, o confirma.
Os poderosos proclamam "Cristo é Senhor", mas a sua vida diz: "O Senhor, sou eu!" O grito de Paulo "Cristo é Senhor" é um protesto contra todos os "Senhores", uma denúncia da opressão, um desafio lançado contra os que se acham os Senhores. É uma negação de todos os poderes opressores.”
 Há somente um Senhor, Jesus. Somente quem se despojou de tudo pode dizer isso com propriedade, porque os evangelhos e a própria vida de Jesus assim o demosntra.

Você pergunta se a TdL não pode ser revista, e eu acho que ela está sendo revista e vem mudando  e ampliando-se  com o tempo.

Quanto ao fundamento da verdadeira TdL ele é e não poderia deixar de ser O Cristo e seu mistério de salvação (libertação) de toda a humanidade.

A questão do pobre que parece preocupar Frei Clodovis está muito bem explicita tanto no documento de Aparecida (que também acho indigesto para ler de uma tacada só) quanto nos evangelhos.
Para ficar mais claro o que penso, começo pelo que entendo por ser cristão, ou seja, seguir o chamamento e cumprir o envio de Jesus a todos nós.

Coloco como fundamental  para o meu ser cristão alguns textos da sagrada escritura que muito cedo me tocaram e orientam a minha busca e prática Cristã:
Sem ordem de importância:

JO 20:19,23

19. Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco!
20. Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor.
21. Disse-lhes outra vez:
A paz esteja convosco!
Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.
22. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.
23. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.


JO13:34,35

34. Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.
35. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos
, se vos amardes uns aos outros.

Mt 5: 1,17 – 38,48
1.Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.
2. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
3. Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
4. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
5. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
6. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
8. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
9. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
10. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!
11. Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
12. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
13. Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.
14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha
15. nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.
16. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
17. Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.

....
38. Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente.
39. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra.
40. Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa.
41. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil.
42. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado.
43. Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo.
44. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem.
45. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
46. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?
47. Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?
48. Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.

Mt 6:1,15 – 19,34
1. Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
2. Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
3. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
4. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
5. Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
6. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
7. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.
8. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
9. Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome;
10. venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
11. O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
12. perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam;
13. e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
14. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
15. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.
...
19. Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam.
20. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam.
21. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração.
22. O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado.
23. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!
24. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.
25. Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes?
26. Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?
27. Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
28. E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam.
29. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles.
30. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
31. Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?
32. São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.
33. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.
34. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias.
A cada dia basta o seu cuidado.

MT 25: 31,ss
31. Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
32. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
34. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
35. porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;
36. nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.
37. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?
38. Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?
39. Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?
40. Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.
41. Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.
42. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;
43. era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
44. Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos?
45. E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.
46. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna.


AT 2:38,47
38. Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
39. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus.
40. Ainda com muitas outras palavras exortava-os, dizendo: Salvai-vos do meio dessa geração perversa!
4l Os que receberam a sua palavra foram batizados. E naquele dia elevou-se a mais ou menos três mil o número dos adeptos.
42. Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações.
43. De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também muitos prodígios e milagres em Jerusalém e o temor estava em todos os corações.
44. Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum.
45. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um.
46. Unidos de coração freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração,
47. louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação.

Ef 6:11,18
11. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio.
12. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares.
13. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever.
14. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça,
15. e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz.
16. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
17. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.
18. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos.

Jo19,24
19. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que és profeta!...
20. Nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar.
21. Jesus respondeu: Mulher, acredita-me, vem a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém.
22. Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.
23. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja.
24. Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade.


Gn3 :1,10
  1. Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Um dia em que conduzira o rebanho para além do deserto, chegou até a montanha de Deus, Horeb.
    2. O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama (que saía) do meio a uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia.
    3. “Vou me aproximar, disse ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.”
    4. Vendo o Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça: “Moisés, Moisés!” “Eis-me aqui!” respondeu ele.
    5. E Deus: “Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa.
    6. Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Moisés escondeu o rosto, e não ousava olhar para Deus.
    7. O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos.
    8. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus.
    9. Agora, eis que os clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios.
    10. Vai, eu te envio ao faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo”.
2 Cor: 1,10
1. Na qualidade de colaboradores seus, exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão.
2. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação.
3. A ninguém damos qualquer motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja criticado.
4. Mas em todas as coisas nos apresentamos como ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias,
5. nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações;
6. pela pureza, pela ciência, pela longanimidade, pela bondade, pelo Espírito Santo, por uma caridade sincera,
7. pela palavra da verdade, pelo poder de Deus; pelas armas da justiça ofensivas e defensivas,
8. através da honra e da desonra, da boa e da má fama.
9. Tidos por impostores, somos, no entanto, sinceros; por desconhecidos, somos bem conhecidos; por agonizantes, estamos com vida; por condenados e, no entanto, estamos livres da morte.
10. Somos julgados tristes, nós que estamos sempre contentes; indigentes, porém enriquecendo a muitos; sem posses, nós que tudo possuímos!


Espero não estar sendo cansativo, mas estes são alguns dos textos, talvez os mais significativos para mim e que desde muito cedo marcaram a minha vida e nortearam a minha crença e também me custaram muitas  vigílias de questionamentos justamente sobre essa minha fé no jovem filho do carpinteiro de Nazaré.

Eu vivi a época das mudanças e ainda muito jovem assisti missas em latim onde via as senhoras rezando seus terços enquanto o padre rezava uma língua estranha de costas no altar e levantávamos e sentávamos sem que eu conseguisse compreender bem porque.
Mais tarde quando a novidade chegou e descobri que era possível participar da missa tudo mudou e nasceu um interesse em conhecer o que estava por traz de todas aquelas orações. Eu descobri então a fé e o interesse em conhecer cada vez mais. Cheguei a entrar para o seminário menor, mas meu pai não gostou muito da idéia e assim que eu já no primeiro ano comecei a reclamar ele me tirou do seminário.  Meu Pai também era José, e curiosamente carpinteiro, mas não gostava da igreja, ele dizia que os podres não gostavam de pobres e não sei por que situações ele tinha passado, mas ele não era muito propenso a algo além das missas dominicais por obrigação.

A minha forma de ser cristão foi moldada exatamente neste caldeirão. É fácil entender como a pregação de D. Helder, na época da minha juventude, Bispo auxiliar do Rio e diretor espiritual da JEC calou fundo em mim, um filho de operário que lutava e era incentivado a sair  das dificuldades que vivíamos.
É então que entra em cena o concilio Vaticano II e as reuniões do CELAN, a teologia da Libertação, o Pe. Bruno Trombeta, o Pe.Alfonso Garcia e os movimentos estudantis de 68... E a ditadura militar, a perda de muitos amigos de militância católica, os padres dominicanos Frei Betto, Frei Paulo e muitos grupos de estudo do Catecismo Holandês e uma identidade cristã que nunca mais fui capaz de apagar.

Eu concordo plenamente com você quando afirma o quê o mundo precisa em nosso tempo.
De minha parte o que busco é justamente uma fé simples que atinja os simples. Sem maiores complicações de muitos documentos e  tantas outras coisas. Penso justamente como S Paulo: se não houver amor (caridade) de nada adianta. Apenas penso que é preciso pensar o que é esta caridade porque podemos cair na cilada do posicionamento empertigado que acha que caridade é promover chás beneficentes que ajudam, mas não mudam a realidade. A verdadeira caridade é a que busca a unidade, ou pelo menos a proximidade, essa é afinal a nossa utopia que Isaias nos mostra com as belas imagens do lobo e o cordeiro que comem juntos e do boi e o leão pastando na mesma relva.

Que o senhor da Paz possa nos abençoar hoje e sempre!
Abração,

J Ricardo

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