O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

21 de fevereiro de 2013

A importância do fortalecimento da identidade para evitar o fanatismo



“...Falamos também da importância de ser sujeito. Porque se não formos sujeitos, um outro poderá sê-lo em nosso lugar. Se nossa identidade falta, uma autoridade exterior pensará em nosso lugar. Quando o Ego é deficitário, um Super-Ego se apossa dele. Em certos meios é um líder, um führer ou um patrão carismático que se apodera da consciência das pessoas. Suas palavras, seus ensinamentos, serão recebidos sem crítica, sem julgamento. O que se nota em certas formas de fanatismo é que o Ego de pessoas fanáticas não existe por si mesmo.

A Bíblia nos não ensina que a vida quer que nos tornemos sujeitos. Que não sejamos simplesmente objetos das circunstâncias. Que não nos tornemos objetos de uma doutrina. Que não percamos nossa identidade. E o papel de um terapeuta é o de devolver à pessoa que ele cuida a sua palavra. Não apenas a palavra aprendida, mas a palavra que exprime verdadeiramente o que ela pensa, o que realmente deseja.
Françoise Dolto, neuropsiquiatra e psicanalista francesa, dizia: ‘Ser terapeuta é escutar alguém para que ele possa se compreender melhor, para que ele possa escutar sua própria palavra, seu próprio desejo.”

Para libertar o mundo do fanatismo e do terrorismo que dele resulta será preciso devolver a cada um sua própria liberdade de pensamento, para que ele não se torne objeto de uma exaltação, de um pensamento ou de uma doutrina.
Sua questão é: Como trabalhar isso? ...

Como me tornar cada vez mais eu mesmo? Em primeiro lugar preciso sair da ignorância. A causa de muitos sofrimentos é a ignorância, é a ignorância do outro. É muito fácil dizer que o outro é o Satã e se eximir da compreender a diferença entre eu e o outro.

Em seguida vem a educação do desejo. Será que minha felicidade poderá ser encontrada destruindo o outro? Destruir o outro não é também me destruir? Esta é uma questão de educação. Em certos países, é dramático que se eduque as crianças no ódio do outro e que se faça do seu martírio algo que agrade a Deus. Porque finalmente isso só agrada a alguns dirigentes que querem o poder e a dominação.
Haveria muitos fatos a lembrar sobre a manipulação das multidões. Sempre que estamos em um grupo importante, nosso espírito crítico diminui. Como que perdemos nossa identidade e uma certa palavra pôde nos manipular. Por isso, qualquer que seja o ensinamento recebido, é preciso colocar sem cessar a questão: Esse ensinamento me torna mais inteligente, mas da minha própria inteligência? Esse ensinamento nutre minha própria reflexão? Esse ensinamento torna-me mais amoroso ou mais desconfiado? Torna-me desconfiado daquele que é diferente da coletividade, que crê diferente de mim? Torna-me desconfiado daqueles que são chamados de hereges, infiéis ou impuros? Porque, neste caso, essa doutrina, em lugar de me abrir, me aprisiona.

Pode-se também perguntar se esse ensinamento me torna mais vivo e mais livre. Ou, pelo contrário, se esse ensinamento me torna cada vez mais dependente, dependente da pessoa que fala, dependente do livro que eu estudo, do texto sagrado que eu medito. Esse texto sagrado me torna mais inteligente, mais amoroso, mais livre? Creio que são perguntas pequenas como essas que evitarão que nos tornemos objetos de um poder exterior.

O que me impede de me afirmar? O que me impede de dizer Eu, de poder dizer minha própria palavra, de poder expressar meu próprio desejo, sem ter medo do outro? Porque, mesmo pensando diferente, devo respeitar o pensamento do outro.
Como me tornar sujeito? Creio que existe uma resposta particular para cada um.
......
Então a palavra inicial é “Vá em direção a você mesmo”. E esta palavra jamais será encontrada em qualquer forma de fanatismo. O fanatismo prega sempre: “Esqueça-se de você mesmo e siga as diretrizes”. Por isso nos grandes processos que tiveram lugar após a Primeira Guerra cada um dizia: “Eu apenas obedeci. Não é culpa minha, não tenho responsabilidade sobre isso, apenas segui ordens”. Deus não quer fazer de nós soldadinhos, porque crianças muito obedientes podem tornar-se adultos muito perigosos que se isentam de saber o que fazem. Este perigo é sempre atual.

Vá para você mesmo!”

“Livro das Bem-Aventuranças e do Pai-Nosso” de Jean-Yves Leloup.

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