O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

3 de agosto de 2014

Dia 4 de agosto dia do Padre



A Igreja comemora neste 4 de agosto o dia do sacerdote. Quero neste dia, em primeiro lugar deixar um abraço fraterno para todos os meus amigos que abraçaram  o sacerdócio nas igrejas cristãs, seja a Ortodoxa, a Romana, a Anglicana, na Igreja Católica Brasileira e na Igreja Católica Liberal.

Entretanto acho que é  oportuno refletirmos sobre o sacerdócio nas igrejas. Atualmente  tão carente nas igrejas e, em especial neste momento em que temos na igreja de Roma um papa bem mais afinado com o Concilio Ecumênico Vaticano II. Na verdade o concilio  determinou que o papel de ministro, ou padres, não está limitado aos ordenados, mas é um chamado a todos os batizados.
O Papa Bento XVI declarou em junho de 2009 como o começo do Ano Sacerdotal.
Bento 16 proclamou na época em que instituiu o ano sacerdotal que, "sem o ministério presbiteral, não haveria Eucaristia, não haveria missão e nem mesmo Igreja".
Infelizmente não é bem assim: a Eucaristia, a missão e a Igreja já existiam bem antes do surgimento do sacerdócio. De acordo com os Evangelhos, Jesus não era um padre, nem os seus discípulos. Vemos referências a Jesus como sacerdote na Carta aos Hebreus. O autor usa a palavra para se referir a Jesus como o novo e último "Sumo Sacerdote", encerrando uma grande sucessão de líderes judeus. O autor afirma que os sacerdotes não são mais necessários, porque não se precisa mais de sacrifícios. Jesus foi o sacrifício último e é o nosso sumo sacerdote último.  Talvez o Papa tenha esquecido que Jesus não estava focado no sacerdócio. Ele estava focado no ministério. Ele chamou as pessoas a ministrar junto com ele, independentemente de seu status na sociedade. Ele chamou pescadores e coletores de impostos e a mulher com sete demônios. Todos eram responsáveis pela edificação do Reino de Deus. Todos eram convidados a ministrar, e fizeram isso com vários títulos dados a eles pela comunidade, baseados em seus dons. Alguns eram chamados de profetas, outros, de mestres, e outros ainda de apóstolos. Foi apenas depois que se começou a ver a emergência de uma estrutura ministerial formal com uma terminologia correspondente, quando os seguidores de Jesus foram influenciados e integrados ao Império Romano. 




Até 215 d.C., não temos evidências de uma ordenação ritual de bispos, padres e diáconos.O surgimento de uma estrutura clerical levou, eventualmente, à divisão da fé cristã em "clero" e "leigos". Nos primeiros anos do surgimento do cristianismo, porém, Paulo lembrou os seguidores de Jesus: "Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3, 28).Depois do surgimento da ordenação e do sacerdócio, desenvolveu-se uma ordem hierárquica entre os fiéis. A palavra "ordenação" deriva do latim "ordinare", que significa "criar ordem". Desenvolveu-se do uso romano da palavra "ordines", que se referia às classes de pessoas de Roma de acordo com a sua elegibilidade para as posições de governo. Os leigos se tornaram "des-ordenados" do clero. A palavra "leigo" se origina da palavra "laikoi", que se refere àqueles que, na sociedade greco-romana, não eram "ordenados" no âmbito da estrutura política estabelecida. O termo "clero" vem da palavra "kleros", que significa "grupo separado". Enquanto muitos cristãos continuaram a ministrar dentro da Igreja, e até algumas mulheres sustentavam os títulos de diaconisas, sacerdotisas e bispas, muitos dos que possuíam esses títulos faziam parte de um grupo limitado de homens pertencentes ao contexto de uma ordem sócio-política e religiosa particular. Isso perdurou até 1964, quando o Concílio Vaticano II lembrou para a Igreja que o papel de ministro, ou padres, não estava limitado aos ordenados, mas era um chamado a todos os batizados. O documento "Lumen Gentium" proclamava que os leigos se tornavam " participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, e exercem, pela parte que lhes toca, a missão de todo o Povo cristão na Igreja se no mundo" (31). O presbiterato, que deriva do fundamento dos ministérios primitivos dos seguidores de Jesus, voltou então para todos os cristãos. Todas as pessoas são novamente chamadas ao ministério. Todos os cristãos são chamados a participar dos papéis proféticos, soberanos e, sim, até mesmo sacerdotais dentro da missão da Igreja




A Eucaristia, a missão e a Igreja existiam bem antes do sacerdócio, todos os fiéis cristãos devem refletir sobre o ministério presbiteral e, fazendo isso, reivindicar o nosso próprio ministério.

Este artigo baseia-se na publicação  de Nicole Sotelo, autora de "Women Healing from Abuse: Meditations for Finding Peace" (Paulist Press), e coordenadora do sítio www. Womenhealing .com. E foi publicado  em  National Catholic Reporter, 11-06-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto e foi distribuído pela Unisinos  

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