Vida, essa eterna companheira passageira,
Se me permitem a alegoria.
No início os anos verdes, tudo à espera de se desenvolver.
Muito sentimento, razão pouca e quase nenhuma sabedoria,
Quase tudo ainda está por aprender.
Chegam os anos quentes, de uma vitalidade imensa
Busca-se muito, mas geralmente não se sabe bem o quê...
E ela, a vida, essa incansável passageira,
continua o seu passar.
E eis que se chega à metade dela,
Os anos, nem quentes nem frios.
São como mormaço úmido,
Como uma sequência de outonos,
Céus sem nuvens, expectantes,
Muitas dúvidas quanto às noites frias,
Começa-se a avaliar a possibilidade do inverno.
Mais adiante, sem que se perceba com clareza,
Descobre-se que a vida inicia um lento caminhar.
A chegada do inverno sentencia,
Já não é mais possível correr com facilidade.
Parece que a leveza deu lugar a algo frágil...
O céu já não está tão limpo,
Os dias ensolarados já não são uma constante,
Há dias em que as nuvens se apresentam mais escuras
Chegam as dúvidas quando a possíveis temporais.
Depois de poder ver o sol,
Retornar ao mesmo ponto inicial,
Por setenta e duas vezes, posso perceber,
Que nesta longa caminhada muita vida foi vivida.
Muitas lágrimas foram derramadas,
Mas muito mais sorrisos foram possíveis.
É neste ponto do caminho que parei para meditar...
Inquieto, volto a perguntar como já o fiz tantas vezes:
O que mais passará ainda, amiga vida?
Que ela me seja sempre companheira.
Que as lembranças, o medo e a dúvida,
Não sufoquem a experiência da descoberta
De que uma espécie de nova infância se aproxima.
De recuperar a simplicidade e a ingenuidade infantis,
Depois de ter experimentado o exercício da razão,
E de ter sido merecedor da sabedoria.
Peço a Deus que me dê a humildade
Para perceber o momento exato,
De saber pedir ajuda,
De precisar ser cuidado,
Sem revoltas ou rancor.
Quero então estar preparado, amiga vida,
Para quando chegar a hora, que espero ainda demore,
Que o momento me seja suave, leve
E repleto de gratidão pela sua companhia.
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