O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

21 de dezembro de 2012

Natal é coisa de criança...


J Ricardo A de Oliveira



Sem dúvida, afinal a festa gira em torno de um menino que veio  ensinar que só há uma lei : Amar. 
Ninguém está  mais propenso a se entregar de cabeça no amor do que as crianças. Criança não tem preconceito, não discrimina, não pensa antes de falar, não tem censura para amar a quem quer que seja.
Já repararam como as crianças ficam agitadas e felizes com a proximidade  do Natal? Certamente elas guardam mais de perto a memória do convívio com o aniversariante. Tenho um amigo que  diz que é porque elas saíram recentemente da fábrica...
O natal traz em nós um gosto de infância, a espera do presente, a dúvida se o Noel vai atender ao pedido, se o comportamento durante o ano vai mesmo ser levado em consideração...
Quando se é criança e tivemos a graça de viver em uma família onde o amor é o sentimento mais presente e também o mais cultivado, o Natal é uma festa da realização deste ideal. Tive Natais muito felizes.  As lembranças que chegam à minha mente, vem com a casa cheia de primos, tios e uma grande algazarra de crianças. Mas vem também o cheiro da manteiga batida e rebatida que a vovó Bebel  usava para fazer seus "mantecais". Eram quilos e quilos para que ninguém ficasse sem os deliciosos biscoitões típicos de sua aldeia Malagueña na época do Natal. Eram feitos com muito carinho e a participação da Tia belinha e da Tia Nair, as quituteiras mais competentes da famila que a essa altura devem estar preparando a ceia de natal lá no céu.

Me salta na lembrança também, avó Corintha, a que me criou , essa de descendência  lusitana,  preparando o mexido ou formigos. Era um tal de esfarelar miolos de pães dormidos que eram molhados e  levados para a panela de barro ao fogo e por horas eram mexidos e remexidos enquanto eram acrescentados os ovos, as amêndoas, o mel, o vinho e sei lá eu mais quantas iguarias eram postas naquilo que virava uma espécie de um creme, delicioso, servido solenemente na ceia.
Quantas lembranças e quanta saudade! Quanto AMOR!  Mas Natal é fundamentalmente isso: Amor.
A minha criança interna se enche de ansiedade nesta época.  Sinto falta das grandes mesas cheias de coisas gostosas, das brincadeiras, do riso farto, a felicidade contagiando e unindo os nossos corações. Sinto falta da briga depois do almoço para decidir quem ia lavar a louça. Todas, minha mãe e tias queriam lavar e participar da arrumação. Quando o amor está presente , todo serviço é feito com alegria e prazer.
Eram muitos netos e depois do almoço, invariavelmente havia para alegria da vovó Bebel, o jogo de víspora. Ela sentava-se ao lado dos netos, cada qual com seus cartões e os  montinhos de grãos de feijão para marcar. Aos poucos o vovô Zezé, cantava os números: dois patinhos na lagoa ( 22), bico de pato (4), terminou o jogo (99) , vai começar a  brincadeira ( 1) . E, de repente alguém gritava: Duque de ponta! E parava tudo para o vovô conferir. E a tarde seguia animada e muito alegre. Acho curioso que as lembranças mais vivas não são dos presentes, mas da alegria do convívio daqueles a quem tanto amávamos.
Hoje essas lembranças me fazem rir sozinho como a criança daquele tempo que faço força para que  continue viva em mim, apesar dos muitos anos. Junto com o riso, as lágrimas também insistem em rolar pelo meu rosto, fruto da grande saudade que  também tempera a alma da criança que sente a  ausência de quase todas aquelas presenças, nas festas de final de ano. Consola-me saber que foram comemorar o Natal junto do aniversariante. Fora isso é muito bom além de relembrar sentir-se que se está criando memória junto aos mais novos que hoje são as atuais crianças do Natal.

Um feliz e abençoado Natal, que o “Menino Eterno” renasça sempre no nosso coração, e que o  Natal ,  nos lembre sempre  que é preciso ser criança para entrar no Reino de justiça, Paz e amor que o Pai os reservou.

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