O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

18 de novembro de 2017

Uma Escola do Olhar

Uma Arte de Cuidar - O Estilo Alexandrino

Eis a importância da prática da transdisciplinaridade . Saber que há diferentes pontos de vista sobre uma mesma realidade. E que precisamos de todos eles para ver melhor.
Os Antigos Terapeutas [de Alexandria] buscavam despertar, em si, o que chamamos o olho do Querubim. O Querubim, na tradição antiga, é um estado de visão, representado como asas repletas de olhos. Essa imagem é encontrada em diversas culturas, particularmente na tradição da Etiópia, onde há querubins nos tetos das igrejas: olhos que nos olham.
Certa vez, quando adoeci na Etiópia, fiquei surpreso ao ver um médico me dar um pequeno rolinho e dizer: - Seu remédio. Ao desenrolar vi que havia nele asas com olhos. Tocou-me profundamente porque compreendi que tratava-se de colocar outro olhar sobre a doença.
Há a visão do médico, do psicólogo, dos amigos, mas há também o olhar do Anjo. Esse olhar que vê o que acontece segundo um outro ponto de vista, de outra profundidade e que contempla a nossa doença ou sintomas não somente como os olhos humanos são capazes. Então pode se abrir, talvez, uma outra interpretação sobre aquilo que nos ocorre.
Assim, convido-o a imaginar um olho, com facetas, como o de uma abelha. Como ele nos veria nesse momento? Não tem nada a ver com a nossa maneira habitual de olhar. Ou um cavalo – você já pensou em mirar alguém com o olhar de um cavalo? Aparecemos com uma forma completamente diferente. Trago essas imagens para nos lembrar que a visão do mundo que temos é ligada ao nosso instrumento de percepção e no olho de um cavalo ou de uma abelha há todo um outro mundo. A maneira de ver alguém pode mudar, segundo a qualidade do nosso olhar.
Então, a tarefa é despertar em nós essas diferentes facetas. Isso me faz pensar nas diferentes áreas do cérebro, nas diferentes capacidades de apreender o mundo.
Vou propor o olhar dos Antigos Terapeutas que possui sete olhos. Geralmente paramos no terceiro olho.

O primeiro olhar é o do ver – eu vejo.

O segundo é o olhar da ciência – eu observo, eu analiso. E´um olhar apoiado, aprofundado.

O terceiro olhar é o que pergunta – eu interrogo. O que é esse sintoma? O que ele manifesta? O quê? O que é?

O quarto olhar é o que se pergunta – eu me interrogo. Como é que eu vejo? E´o olho da filosofia metafísica. O que é o Ser? O que é o ser humano? Trata-se do como eu conheço. Esta é a filosofia de Kant , por exemplo, que se interroga sobre como a ciência é possível. Eu conheço muitas coisas, mas não apreendo o instrumento através do qual eu conheço as coisas. Para um Terapeuta há uma questão muito importante: Qual é o instrumento por meio do qual ele conhece o outro e interpreta sua doença? E´necessário purificar este instrumento e ver que, segundo o modo de percepção que adotamos, a realidade dos sintomas pode ser completamente diferente. Não somente interrogo o real, esse corpo que acompanho, mas também sobre minha maneira de conhece-lo.

O quinto olhar se abre para o sentido – eu acolho o sentido.
Por intermédio dos sintomas, dos sonhos, da fala, simplesmente acolho o sentido, antes de interpreta-lo.

O sexto olhar é o da interpretação – eu interpreto. Essa interpretação pode ser criadora. Após o exercício de todos esses olhos da observação, da análise, da interrogação, da escuta acolhedora, me torno capaz de interpretar e dar um sentido ao que a pessoa está vivendo.

O sétimo olhar é o que direciona e liberta – vá com sentido! Da mesma maneira que dizemos:- Vá com Deus! Poderíamos dizer: - Vá com sentido! Vá com a interpretação da sua doença, não apenas na sua dimensão mental; também com os meios de cura-la, de cuidar de você. Essa é a grande palavra dos Terapeutas: Vá em direção a você mesmo, eu estou com você! Esta foi a palavra de Deus dirigida a Abraão”

Uma Arte de Cuidar - O Estilo Alexandrino
 Jean Yves Leloup
(Para aprofundar consultar o livro de mesmo nome do autor)

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