O absurdo e a Graça

Na vida hoje caminhamos entre uma fome que condena ao sofrimento uma enorme parcela da humanidade e uma tecnologia moderníssima que garante um padrão de conforto e bem estar nunca antes imaginado. Um bilhão de seres humanos estão abaixo da linha da pobreza, na mais absoluta miséria, passam FOME ! Com a tecnologia que foi inventada seria possível produzir alimentos e acabar com TODA a fome no mundo, não fossem os interesses de alguns grupos detentores da tecnologia e do poder. "Para mim, o absurdo e a graça não estão mais separados. Dizer que "tudo é absurdo" ou dizer que "tudo é graça " é igualmente mentir ou trapacear... "Hoje a graça e o absurdo caminham, em mim lado a lado, não mais estranhos, mas estranhamente amigos" A cada dia, nas situações que se nos apresentam podemos decidir entre perpetuar o absurdo, ou promover a Graça. (Jean Yves Leloup) * O Blog tem o mesmo nome do livro autobiográfico de Jean Yves Leloup, e é uma forma de homenagear a quem muito tem me ensinado em seus livros retiros, seminários e workshops *

16 de março de 2024

‘todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes." Mt 25, 31-40



Hoje, agora pela manhã, comecei a ouvir não muito longe um canto, aos poucos foi ficando mais perto, e pude distinguir claramente o que cantavam.

Reconheci o canto:

"Coroamos, a ti oh Rei Jesus, invocamos o teu nome, nos tendemos aos teus pés / consagramos todo nosso ser a ti".

Fui até a janela e pude ver uns 20 homens de terno preto, caminhando e cantando.

Pararam à frente do prédio do outro lado da rua, e começaram a "orar", todos a uma só voz, pela família, pela saúde, prosperidade daquela família... Pude perceber no primeiro andar, na sacada da varanda, a senhorinha que costumava colocar o jornal da Universal, na caixa de correio da minha casa... Ela agora bem idosa, acho que não sai mais de casa...

Eram 15 pastores, eu pude perceber. Cantaram, rezaram, acenaram para a senhorinha e foram embora caminhando em silêncio...

Fiquei pensando, não é sem motivo que as igrejas evangélicas que tanto criticamos não param de crescer.

Quando foi que vimos um grupo de padres católicos, ou até mesmo um grupo de leigos, se preocupar com os velhos e doentes, que não conseguem mais ir em suas igrejas, e vão até eles fazer uma oração ?

Não falo dos agentes da pastoral da saude, esses incansáveis,mas solitários fazem um.pouco desse serviço.

Fui muitos anos MECE, participava da pastoral da saúde, visitava doentes, e levava comunhão até eles. Muitos doentes pediam para confessar...

Mas, era difícil conseguir um sacerdote, para visitá-los.

Criei na década de 90 a pastoral da acolhida, na paróquia que frequentava.ja naquela época, me chamavam a atenção as igrejas evangélicas e os centros espíritas que tinham esse tipo de preocupação com seus frequentadores.

O projeto era bem abrangente, uma das propostas, era justamente a visitação aos paroquianos, e na igreja, a presença de duplas que se dispusessem a conversar com as pessoas e ver as necessidades delas, e ir a suas casas, para fazer orações e dar apoio. O projeto foi implantado as pessoas foram treinadas, mas com a mudança de pároco, os agentes viraram meros entregadores de folhetos de missa aos domingos.

"O que fizerdes a um dos meus pequeninos, é a mim que o fareis"

Lembro que no tempo em que as CEBs não eram perseguidas, e nos lugares que ainda sobrevivem esse trabalho aos pequeninos era muito bem feito.

Por isso,quando vejo críticas ao crescimento das igrejas protestantes eu fico pensando, o quanto os católicos não são responsáveis por seu acomodamento e apatia por esta situação.


 

5 de março de 2024

Pra onde iria eu sem o Teu amor,

 

Para onde iria eu sem o Teu amor,

Se até o ar que inunda meus pulmões
Vem de Ti, não é meu?
O que fazer se a tua expiração
é o meu inspirar?
E se quando expiro,
És Tu que sorves meu alento,
para renová-lo com VIDA.

Para onde iria eu, se como disse Tomé,
Que embora incrédulo,
Certamente era mais crédulo do que eu,
Só Tu Senhor tens palavras de vida eterna.
Sem Ti Senhor nada tem sentido,
Nada sobrevive,
Na tua ausência só há escuridão e desalento.

Permita Senhor, saborear de Ti a Clara Luz
e assim me inundar do Teu amor.
Para que como um rio, levar este amor,
a todos que queiram nele saciar-se.

Fica conosco Senhor, hoje e sempre
Aqui, agora eternamente...

(psicografia Bernardo de Assis)

21 de fevereiro de 2024

Lição de Vida

 Não conheço o autor e nem sei se a história é real, mas isso pouco importa.
acho que é uma excelente reflexão para todos nós.
Boa leitura!

 

Viver como se fosse o último dia



A mulher chegou em casa depois de uma das consultas médicas e disse aos familiares:

- Pedi franqueza ao meu médico e que não me poupasse de saber a verdade sobre meu estado de saúde, pois sinto que me resta pouco tempo.
O marido e os filhos estavam na sala ansiosos.
O marido então perguntou:
- E o que eles disseram? ?
Ela falou:
- Os médicos me disseram que estou com uma doença incurável e que tenho poucos dias de vida.
A filha mais velha, já chorando, perguntou:
- E a senhora nos conta isso com essa naturalidade, mamãe?
Mas ela continuou falando normalmente.
- Ora, eu tenho um bom tempo para fazer tudo o que já devia ter feito algum tempo atrás.
Vou arrumar toda a minha casa, colocar belas cortinas em todas as janelas, assim, elas me impedirão de ficar olhando a vida dos outros.
Todos os dias tirarei o pó da casa e durante esse trabalho pensarei:
"Estou me livrando das sujeiras que guardei do passado".
Ela continuava falando, enquanto sua família, se surpreendia a cada frase.
- Vou deixar todos os meus armários organizados, guardar o que realmente uso e o resto jogarei fora ou doarei a quem precisa.
Evitarei assistir ou escutar más notícias.
Vou alimentar o meu espírito com leituras saudáveis, conversas amigáveis, dispensarei fofocas e não criticarei mais ninguém.
Pensarei naqueles que já me magoaram e, com sinceridade, vou perdoar a todos.
Então fez uma pausa e depois continuou:
- Todas as noites vou agradecer a Deus por tudo o que estarei conseguindo fazer nestes dias que me restam.
Todas as manhãs, quando acordar, vou me perguntar:
"O que posso fazer para tornar o dia de hoje um dia melhor?
" Farei de tudo para transmitir felicidade para aqueles que se aproximarem de mim.
E a cada dia que passar farei pelo menos uma boa ação, portanto, quando eu fechar os olhos para nunca mais abri-los, terei feito inúmeras boas ações.
Todos que a ouviam falando, pouco a pouco saíam, cada um para um canto da casa, chorar sozinho.
Mas ela ficou ali no meio da sala, e nos seus olhos havia um brilho de alegria.
Ela dizia para si mesma:
- "Não posso curar meu corpo, mas posso mudar a vida que me resta.
A minha tarefa de casa é grande, porém, vale a pena todo e qualquer esforço.
Vou conseguir realizar.
Quero transformar meu mundo interior.
Me tornarei uma pessoa totalmente diferente daquela que fui até ontem".
O tempo passou.
E o mais curioso e extraordinário dessa história foi o que aconteceu ...
Ela conseguiu cumprir plenamente todos os compromissos que tinha assumido consigo mesma.

E dos poucos dias de vida que lhe restavam, ela viveu ainda por mais longos e saborosos vinte e três anos.
Ela curou a sua própria alma.
A sua doença desapareceu.
Morreu de velhice...

Não espere para mudar o que está errado em sua vida.
Trace metas em sua vida, que esteja em seu alcance...
E lembre-se comece hoje a viver como se fosse o último dia...

20 de fevereiro de 2024

Quem controla o meu comportamento ?

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Dois amigos, ao se dirigirem para o trabalho, resolveram comprar um jornal.

Um deles sugeriu que fossem até a banca do outro lado da rua, onde diariamente comprava seu jornal.

Cumprimentou animadamente o dono da banca, que respondeu friamente e nem sequer levantou os olhos.
Pagou o jornal e se despediu com o mesmo entusiasmo.
A resposta à despedida nem foi ouvida.

O amigo comentou:
- Você compra jornal aqui todos os dias e este cara lhe trata assim?
- E'. Sempre mal-humorado.
- E você o trata com tanta educação?
- Claro! Não deixo que ele defina a maneira como vou me comportar.

Não importa se a pessoa é educada ou não.
Eu posso me comportar da maneira que gosto, com base nas minhas crenças e valores.
Se me torno agressivo sempre que alguém me agride, estou permitindo que ela controle o meu comportamento.
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19 de fevereiro de 2024

Arrebatamento, Apocalipse e outras ameaças em tempos sombrios.




Como pediram a minha opinião, vou tentar dar a minha visão dessa loucura que estamos vivendo.


Pra começar temos que tentar separar o que e luta material, do que seja uma possível luta espiritual. Neste momento vejo que a luta material é a mais intensa.
Há um crescimento da ganância em todas as correntes pseudo espirituais. Isso as vezes de forma clara, outras de forma velada.
É difícil atualmente separar o que é informação de credibilidade e o que é manipulação com os fins mais variados.
Todo mundo tem revelações, e lógico, vão dar um curso pago onde te ensina osrão como se comportar. Vide Dra Mônica Medeiros, padres, pastores, astrólogos.
É a febre do "saiba mais" e do "assista o vídeo até o fim, dê seu like e compartilhe".
Já reparou? E isso porque o objetivo é monetizar a informação em proveito próprio.
A estratégia é sempre a mesma: espalhar medo e promover o sentimento de culpa, para gerar pessoas submissas que não questionem muito. A igreja católica sempre usou essa estratégia e mais modernamente, o protestantismo e atualmente o espiritismo também. 
E como funciona.
Nós fomos formados desta forma, a educação que tivemos foi e ainda é, baseada neste binômio. 

Muito bem, vamos ao que estamos assistindo neste manicômio da atualidade.
Todo mundo já deve ter ouvido,  já há alguns anos, a tal da "Nova ordem mundial". Isso vem se desenvolvendo com cada vez mais força, e por todos os lugares. 
Há uma guerra por dominio. 
Um só governo mundial, uma só religião, uma só escala de valores e por aí vai, essa fantasia perigosa de pasteurização de consciências. É isso que o Joscimar da UNB, chama de teologia de domínio.




Vamos então agora falar de Apocalipse e arrebatamento. 
A maioria dos que andam falando dessas coisas, dizem que se baseiam na Bíblia.
E a Bíblia é bem clara quanto a isso: ninguem sabe além do Pai quando será, só o Pai.
Jesus disse que nem ele sabe! Só o Pai.
Então o primeiro ponto é que QQ um pode falar sobre esses assuntos mas não pode se referenciar na Bíblia.
A maioria desses crentes além de usar o famoso binômio medo /culpa, diz que é baseado na sagrada escritura que afirmam suas sandices.
Dizem que serão arrebatados os que seguem fielmente a palavra? Mas que palavra? Certamente não é a Bíblia. Seguir fielmente implica em não comer crustáceos, não usar roupas com tecidos diferentes, não trabalhar ou se distanciar aos sábados, os homens não raspar a barba,não cortar os cabelos e mais um monte de outros quesitos, para atualidade um absurdo. Ou seja se o critério for esse, ninguém, nenhum deles,  vai ser arrebatado.
O livro do Apocalipse é um livro simbólico, cheio de metáforas e que se refere ao que viviam os cristãos na época, e à dominação do império Romano.
Há vários livros, inclusive  dois do Jean Yves. Mas sem dúvida pode se tornar estratégico, especialmente útil para quem quiser espalhar medo para seus objetivos religiosos.

Chegamos então na Baby, que na minha visão está a serviço de uma igreja de orientação ligada a tal Nova ordem. Ela depois que se converteu, bem como sua filha, que hj é pastora (Sara Sheeva) seguem nessa linha perigosa. Aliás são muitas as igrejas que seguem neste caminho.
Não questiono a seriedade de uma emergência espiritual, embora eu tenha dúvidas, se ela realmente teve, ou se utiliza disso para seus interesses.
Eu particularmente não acredito em um Deus cruel, punidor e rancoroso. Não faz sentido, qdo comparo com o evangelho, e o que Jesus falava sobre o legalismo da Torá. O Deus que eu acredito, é o que deu a mão a mulher que ia ser apedrejada, e disse aos carrascos que se eles não tivessem pecados, que atirassem as pedras. 

Por isso,não relaciono os contratempos do carro da Ivete, as duas quedas do carro da 
Mangueira e outros tantos acidentes no carnaval, com punição de Deus.

São tempos muito difíceis no outro dia vi um vídeo de uma pastora que dizia que o Brasil vivia um momento de trevas, porque estavam perseguindo as pessoas que queriam transformar o país numa terra de bençãos, e o novo governo estava implantando o comunismo demoníaco.

É esse tipo de gente que vê coerência em distribuir armas para a população, negar à pessoas em desvio a possibilidade de ressocialização, que faz restrição a negros, indígenas, homoafetivos, mulheres etc etc com a mensagem de Jesus.

Para finalizar penso que Baby não estava por acaso ali, tudo deve ter sido pensado para atingir o objetivo que alcançou.
Só se fala disso nas redes.
Ela que estava esquecida, veio a tona e aproveitou para lançar uma pulga na orelha dos mais desavisados.
Ponto para eles.

O pior é ver,  não só evangélicos levando adiante esse discurso, mas católicos, e até espiritas aventando a possibilidade de relacionar apocalipse com transição planetária.
Tristes tempos. Mas não podemos nos enganar de que a humanidade nunca passou por momentos tão tenebrosos. Se buscarmos na história vamos encontrar, império Romano, Gregos, Egípcios, as guerras no antigo testamento...
Imagine a cena de cristãos sendo queimados ao logo das vias de Roma, como tochas, para iluminar, ou jogados na arena para os leões...
Foram muitos os períodos de terror, violência e insanidade ,os atuais só são os que estão mais perto de nós e por isso nos assustam tanto
O importante é manter a esperança e construir um bom caminho para nossas almas.





6 de janeiro de 2024

Guiados pela luz da estrela seguiram


“Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem busca. Importa, pois, buscar com mente pura e sempre atenta aos sinais dos tempos como o fizeram os reis magos.’’
(Leonardo Boff)



E eles viram uma estrela e seguiram, porque a estrela indicava algo grandioso.
Mas que estrela era essa?
Na verdade não era uma e sim duas estrelas; a rigor nem eram estrelas eram planetas: Saturno e Júpiter. Planetas revestidos de simbolismos e significados que hoje o moderno cristianismo satanizou. Mas naqueles tempos a astronomia e a astrologia andavam de mãos dadas e eram uma só ciência muito respeitada.

E foram os magos (senhores de um conhecimento mágico) que interpretaram que algo grandioso, que algo maior que todos os acontecimentos da terra estava chegando para promover uma grande síntese. E há como comprovar, (Kepler 1630 fez cálculos astronômicos e mostrou efetivamente que cientificamente Jesus nasceu no ano VI antes da era cristã e justamente neste ano houve uma grande conjunção entre Júpiter e Saturno que fazia com que parecesse uma grande e luminosa estrela. Mas toda esta luz para um leigo seria apenas um fenômeno ou, para o comum dos mortais, não passaria de algo belo e interessante. Mas para os magos, para astrólogos acostumados a perscrutar o céu em busca de sinais essa conjunção revelava algo muito importante.
Astrologicamente naquela época Júpiter simbolizava o grande Senhor do Mundo. Já Saturno era tido como a estrela do povo Judeu. Os Magos interpretaram que no povo judeu nasceria o senhor do mundo e puseram-se a caminho.


Que como os Magos nós possamos aprender a olhar o céu, entender os sinais que lá estão. Que possamos ter a mesma disposição para interpretar as mensagens que Deus nos manda através da natureza e que ultrapassando toda dúvida, todo medo e todo preconceito possamos seguir e frente em direção do grande arquétipo da síntese, que uniu a terra ao céu, o humano ao cósmico a criatura ao criador marcando de uma vez por todas toda a criação como obra de amor e fraternidade.
Que como os magos que geralmente nunca se dobram, possamos nos ajoelhar diante da grande Luz, do grande senhor, que escolheu se apresentar como um menino e adorá-lo em espírito e em verdade, em pneuma e alethéia, no sopro e na atenção.

8 de dezembro de 2023

Tempo de transição

 


Todo cuidado é pouco quando a mentira impera, especialmente quando ela vem pela imprensa e de organizações que deveriam zelar pela verdade.

Estamos em plena crise de transição de paradigmas.
O mundo parece estar em trabalho de parto, com contrações por todo lado
Há guerras por todo lado.  Há tretas prá onde quer que se olhe.
A civilização parece que esclerosou, demenciou.

Isso já aconteceu antes. Suméria, Egito, Assíria, Grécia, Roma...

                       

De minha parte ouvi sobre isso a primeira vez em 1971, quando um professor colocou no quadro um desenho, e que o F.Cappra viria publicar algo muito próximo na década de 80, no seu livro "O Ponto de Mutação" (O Grafico que está acima).

Em algum momento, acho que não é para nós, algum de nossos descendentes vão conhecer uma nova forma de viver, uma nova civilização, que atualmente está em dores de parto, está para nascer. Quando? Como disse Jesus, " não sabeis o tempo e a hora"

Mas virá.

Somos esquecidos, e desatentos, mas tivemos, recentemente uma mostra com a Pandemia.

O processo veio forte, denunciou que os valores estavam em processo de mudança
 A prepotência ficou estremecida. A conta bancária já não servia para salvar a vida, o dinheiro não foi capaz de comprar leitos em CTIs lotados. O título de nobreza não imunizava ninguém. O vírus não distinguia raça, posição social.  Atingiu milhões de pessoas pelo mundo. Matou indiscriminadamente a quem ele conseguisse infectar gravemente. Só entre nós, em números oficiais, foram 700 mil mortos, e ainda hoje temos milhares de pessoas com sequelas.
Aos poucos, aqueles que não conseguiram abrir mão de seu lucro, tiveram que conviver com a possibilidade da falência. Muitos faliram, fecharam seus negócios. Aquele locador que não abriu mão de nenhum centavo para o inquilino, descobriu que o imóvel vazio lhe dava mais despesas e nenhum lucro. Empresários foram obrigados a perceber que na recessão, ou abaixava os preços e diminuía o lucro, ou não teria nada.

Mas passada a crise, parece que tudo ficou esquecido e rapidamente voltamos aso velhos hábitos egoístas, belicosos, prepotentes... Tenho duvidas se não ficamos um pouco piores.
Não fomos capazes de como civilização erceber a oportunidade de mudança, a sugestão para uma avida mais simples e mais honesta, com valores mais fraternos.
Os conflitos estão na ordem do dia. As mentiras tem sido o prato principal desse banquete de horrores. As guerras voltaram com força aos noticiários.  Há um forte odor de decadência
no ar.
Vamos ter uma longa e demorada jornada antes de uma nova Renascença. Sei que não verei a concretização, mas me sinto grato por estar tendo consciência desse momento e poder meditar e refletir sobre como me posicionar. Tenho momentos de apreensão, dúvida, tristeza e revolta, Confesso. Mas tenho me esforçado para promover a tal reforma íntima, tão necessária e urgente para todos nós.

Consigo perceber que começamos a ultrapassar o ponto de mutação, de que o Cappra falava.
São novos valores que timidamente irão substituir os velhos padrões, há certamente muita resistência, e quanto maior ela for, maior será também a dor deste parto.

Por hora, cabe a nós, aprender a lidar com essa nova realidade.  Não nos entregar ao medo e ao desespero; não nos deixar cooptar pela raiva e pelo ódio que tentam a todo momento nos seduzir.  Precisamos nos manter firmes, em busca da fraternidade universal.

E como sempre aconteceu, quem tiver a melhor capacidade de se adaptar ultrapassará com sucesso, os que resistirem estarão condenados a extinção.
Quem viver verá...

 

7 de dezembro de 2023

Maria: a mãe da humanidade


Ela é Maria, de muitos nomes e apelidos, mas sempre a mesma Maria. Não importa o manto que use, se branco ou Azul. Nem faz diferença se é negra e a chamam de Aparecida ou branca conhecida como senhora de Nazaré. Se ela é de Fátima ou de Lourdes, ou de lugares outros pouco conhecidos.


Ela é sempre a mesma mãe, seja a mãe zelosa católica do Perpétuo Socorro ou a mãe das águas, ora salgadas reverenciada como Yemanja, Odô Yá !  Ou até mesmo as águas doces que correm nos riachos e cascatas pelo imenso Brasil cultuada como Oxum, Ora Yê Yê Ô!


 Ela sempre será a mãe, a que disse SIM, e se tornou referência nos momentos de dor. A figura que transmite a ternura, a doçura, mas que guarda em si a força e a autoridade de quem

 “... dispersa os soberbos; derruba os poderosos de seus tronos/e eleva os humildes;/ sacia de bens os famintos, / despede os ricos sem nada. ” (Magnificat – Lucas 1:52-53)
Como diz o grande cantor e compositor Altay Veloso:
Esta Maria é “ cheia de Raça...não teve de graça o que recebeu
Quando alguém é um rio que gera um oceano
Não há nenhum tirano que arranque o que é seu
Um ventre quando se transforma em um santuário é revolucionário a meu modo de ver
Ninguém vai do parto ao santo sudário sem saber porque
Tem que ter a luz da humildade/ Cumplicidade, amor e revelia
Ninguém se torna mãe da cristandade sem a santa ousadia ...” 
( Altay Veloso, Estrela Luminosa in Alabê de Jeruzalém)

Ela é a Maria que nos adotou como filhos, nos fazendo irmãos de seu filho redentor. Ela tomou para si a tarefa de defensora de cada um dos humanos no tribunal da eternidade.




Que ela nos inspire sempre por sua força de permanecer de pé diante do sofrimento por ver covardia a que seu filho foi submetido.

“Divina mãe...estrela luminosa que perpetuou Belém
Guerreira mãe...nos dias de trevas nas ruas de Jerusalém...
Olhai por nós nas horas de tristezas, nos momentos de aflição
E derramai a poderosa força de vontade em nosso coração. ”  

( Altay Veloso, Estrela Luminosa in Alabê de Jeruzalém)

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22 de setembro de 2023

Primvera

 


São a serenidade e a Paz que nos conduzirão
pelos caminhos tenebrosos da escuridão.

 Não podemos e não devemos permitir que nos tirem do sério,
porque esta é a artimanha que usam para nos enfraquecer.
Querem que nos exasperemos, que nos tornemos violentos
para que possam responder com a única arma que sabem usar,
a violência, a força bruta. 

Nós temos a nosso favor a inteligência
e o fato de que somos capazes de pensar,
desenvolver estratégias.
Sigamos através dos caminhos da Paz
e seremos capazes de transformar a realidade 

e o mundo que nos cerca.

É o AMOR e não o TEMOR
que nos impulsiona para a vitória.

Não podemos esquecer que
 "um mais um é sempre mais que dois" 

e que "para melhor juntar as nossas forças,
é só repartir melhor o pão"

O Inverno terminou.

             

É primavera, a vida e o amor estão no comando.

Não importa o quanto pode demorar,
a luz se fará presente.

Paz e Luz a todos!

15 de setembro de 2023

Maria

 


Maria

Do silêncio,
De tantas graças,
Que aparece a pescadores...
Maria de tantos lugares,
Que socorre os pecadores.
Maria
De inúmeros nomes.
Que desata os nós,
Que passa a frente,
Que é nosso socorro perpétuo.
Que é mãe de todos nós.
Quem dera Mãe
eu fosse capaz
De amenizar as tuas dores.
Mas na verdade, com teu amor
És tu senhora ,
Quem alivia e nos socorre
em todas as nossas dores.
Enxuga tuas lágrimas mãe,
Acalma a tua dor,
Como Ele prometeu,
Ele voltou a viver,
E esse mãe,
É e foi, o melhor presente
Que nos poderia acontecer.
Nossa Senhora das Dores,
Que no silêncio, e com sabedoria,
Foi capaz de transformar
Dor em Amor,
Ajuda-nos Mãe também,
A transmutar a nossa dor
E encher esse mundo de alegria.

29 de agosto de 2023

Uma viagem pelo tempo, ou os 72 ciclos em torno do sol

Vida, essa eterna companheira passageira,
Se me permitem a alegoria.
No início os anos verdes, tudo à espera de se desenvolver.
Muito sentimento, razão pouca e quase nenhuma sabedoria,
Quase tudo ainda está por aprender.

 A vida passa, segue o seu caminhar...
Chegam os anos quentes, de uma vitalidade imensa
Busca-se muito, mas geralmente não se sabe bem o quê...

E ela, a vida, essa incansável passageira,
continua o seu passar.
E eis que se chega à metade dela,
Os anos, nem quentes nem frios.
São como mormaço úmido,
Como uma sequência de outonos,
Céus sem nuvens, expectantes,
Muitas dúvidas quanto às noites frias,
Começa-se a avaliar a possibilidade do inverno.



Mais adiante, sem que se perceba com clareza,
Descobre-se que a vida inicia um lento caminhar.
A chegada do inverno sentencia,
Já não é mais possível correr com facilidade.
Parece que a leveza deu lugar a algo frágil...
O céu já não está tão limpo,
Os dias ensolarados já não são uma constante,
Há dias em que as nuvens se apresentam mais escuras
Chegam as dúvidas quando a possíveis temporais. 



Depois de poder ver o sol,
Retornar ao mesmo ponto inicial,
Por setenta e duas vezes, posso perceber,
Que nesta longa caminhada muita vida foi vivida.
Muitas lágrimas foram derramadas,
Mas muito mais sorrisos foram possíveis.
É neste ponto do caminho que parei para meditar...
Inquieto, volto a perguntar como já o fiz tantas vezes:
O que mais passará ainda, amiga vida?



Que a esperança, não me abandone neste caminho
Que ela me seja sempre companheira.
Que as lembranças, o medo e a dúvida,
Não sufoquem a experiência da descoberta
De que uma espécie de nova infância se aproxima.

 Ah, amiga vida, não quero perder nenhuma oportunidade,
De recuperar a simplicidade e a ingenuidade infantis,
Depois de ter experimentado o exercício da razão,
E de ter sido merecedor da sabedoria.

Peço a Deus que me dê a humildade
Para perceber o momento exato,
De saber pedir ajuda,
De precisar ser cuidado,
Sem revoltas ou rancor.

Quero então estar preparado, amiga vida,
Para quando chegar a hora, que espero ainda demore,
Que o momento me seja suave, leve
E repleto de gratidão pela sua companhia.




27 de julho de 2023

A sabedoria de Castañeda

 "De todos os presentes que recebemos, a importância pessoal é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um pobre diabo arrogante e sem graça".


"Por causa de nossa importância, nós estamos cheios até as bordas de rancores, invejas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos da tarefa de nos conhecer a nós mesmos com pretextos como: 'me dá preguiça' ou 'que cansaço!'. Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural".

(Don Juan Matus,xamã indígena, mestre de Castañeda)
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26 de julho de 2023

A minha avó dizia...





A minha avó dizia...
Quem nunca disse esta frase?
Avós, essa materno-paternidade dupla, uma mistura de ternura e sabedoria. Avós são pais que atingiram a capacidade de educar através do amor.
Mas avós estragam as crianças lhes fazendo as vontades dizem alguns. Será?
Os pais geralmente estão preocupados com as regras e as disciplinas com a aprendizagem, a fixação de conceitos. Os avós já não têm esse compromisso, estão sempre mais atentos em passar aos netos a sabedoria adquirida enquanto seus cabelos embranqueciam. A minha avó dizia... Quanto de sabedoria essa frase esconde em nossas vidas. Quanta saudade nos traz.
Fico imaginando os avós daquele menino divino na distante e pobre Nazaré da Galileia: Ana e Joaquim. Infelizmente a tradição não nos informou os nomes dos pais de S José. Mas como terá sido a infância e o convívio de Jesus com seus avós? Tenho para mim que além dos valores que aprendeu com seus pais, Maria e José, valores de honestidade, firmeza, humildade, a mansidão, a doçura e o amor devem ter sido o legado de Joaquim e Ana àquele menino tão esperto e sábio.
Com as dificuldades do mundo moderno os avós têm sido chamados a exercer o desafio de cumprir um papel de substitutos dos pais. Pais que precisam trabalhar e até mesmo, pais que abrem mão de seus filhos fazem com que os avós assumam o duplo papel de avós e pais. Certamente estas serão crianças que terão a oportunidade de vivenciar uma maneira nova de aprendizagem da vida. Para os avós esse é um bom desafio que lhes ajudará a retardar a velhice e atravessar essa fase da vida de maneira mais jovial e ativa.
De tudo o mais importante é que a essência da sabedoria dos nossos mais velhos possa ser transmitida, com amor, às novas gerações. Se você tem avós vivos não deixe de dar um beijo carinhoso neles neste dia 26 de julho, se já se adiantaram no caminho transforme em oração o beijo, mas tenha a lembrança deles sempre viva em sua memória.
 S Joaquim e Sant’Ana, intercedei junto a Jesus por nós.


21 de junho de 2023

Mudança cósmica / Solstício de inverno.

Vivemos, mesmo que muitos nem saibam, um momento cósmico especial, o Solstício de Inverno (no hemisfério Sul), que nos remete aos ciclos de “claro” e “escuro”, atividade e repouso. É o dia mais curto e, claro, a noite mais longa do ano.

A mãe natureza nos brinda com uma Luz adicional para vermos melhor o caminho.
Ela sempre nos mostra a lição a aprender , mesmo que para muitos de nós não esteja assim tão evidente , mas está sempre lá diante de nós, e às vezes, é ainda muito difícil perceber as evidências cósmicas, da alternância do claro e escuro que maravilhosamente, fazem com que a Dança da Vida aconteça. Mesmo assim continuamos a ter medo do escuro, embora já tendo experienciado que ele é somente a contra parte, o oposto complementar do claro.
Com o solstício iniciamos o Inverno que nos convida a hibernar, ao recolhimento, à meditação, à interiorização para processar o que vivenciamos no último ciclo e nos preparar para o novo ciclo de Luz que logo retornará.
É preciso estar atento para o fato de que a partir de agora as noites gradativamente irão diminuir e os dias irão aumentar até chegarmos na estação das flores, do desabrochar das consciências, que passaram o inverno meditando e revendo seus processos de vida.
Estar de acordo com os ciclos da natureza é uma sabedoria que foi sendo deixada de lado e precisa ser resgatada.
Que nossos dias de inverno possam nos trazer o frio necessário para nos manter quietos e interiorizados, e por isso devemos agradecer por essa ajuda da natureza.
Que cada um de nós encontre a sua forma de meditar e refletir, e que possamos celebrar sempre os ciclos cósmicos e resgatar a sabedoria de nossos ancestrais que foram se perdendo com o avanço da tecnologia e dos sistemas mais preocupados em valorizar o TER, em detrimento do SER.



7 de junho de 2023

Corpus Christi-como será que anda este corpo de Deus revelado em nós?

     De que forma devemos comemorar esse Corpus Christi ?


Um pouco de história:

A festa religiosa começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade belga de Liège, tendo sido alargada à Igreja universal pelo Papa Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.

Até ao século XI, a linguagem sobre a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia não tinha conotação fisicista, ou seja, não se cogitava a hipótese da transubstanciação.

Utilizava-se normalmente a designação de corpo real de Cristo para a Igreja e Corpo místico para a Eucaristia.                                                       
Não deixa de ser curioso notar que no século XI se opera uma mudança radical, ao ponto de se inverterem os termos.

Esta mudança foi desencadeada por um teólogo chamado Berengário.

Ao tratar dos sacramentos, Berengário diz que estes são símbolos. O pão e o vinho, portanto, são símbolos do corpo e sangue de Cristo. Berengário é acusado de herege e teve de se retratar, a fim de não ser queimado como acontecia a todos os que eram considerados hereges.Berengário acaba por assinar um documento que continha a síntese doutrinal, a qual é o começo da linguagem fisicista posterior.
Para a Bíblia, a Humanidade forma um todo orgânico cuja cabeça era Adão.
 Quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga. É este o sentido do pecado de Adão que atinge a Humanidade inteira. O pecado original, na visão bíblica, é uma mutilação ou uma distorção operada na Humanidade por Adão, sua cabeça. 
O Novo Testamento vê em Cristo o Novo Adão. Assim como pelo primeiro Adão  veio a morte, diz São Paulo, pelo segundo veio a vitória sobre a morte(Rm 5, 17-19).
 
Esta visão bíblica desaparece da linguagem teológica e é substituída pela linguagem das filosofias platonica e aristotélica. O documento assinado por Berengário é um texto elaborado em linguagem tipicamente aristotélica. 

Nos primórdios do século XIII, Inocêncio III diz que o pão e o vinho da Eucaristia são o verdadeiro corpo e sangue de Jesus Cristo. O acto da consagração é visto como um rito com efeitos automáticos que opera, pelas palavras de Cristo, a mudança da substância do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Cristo. Como o corpo e a alma são inseparáveis da divindade de Cristo, a divindade de Cristo está também presente na Eucaristia. 

O Concílio de Latrão utiliza a terminologia “substância” e “espécies”. Espécie é aquilo que não subsiste por si e é variável. O corpo de Cristo permanece oculto sob as espécies do pão e do vinho [Denz. 430]. 

Segundo o aristotelismo, as espécies não podem subsistir sem a sua substância própria. Aqui, a substância muda e as espécies permanecem. 


Naturalmente que é fácil resolver este problema, dizendo que se trata de um milagre.

Urbano IV diz que a Eucaristia é a comemoração de Cristo. Nesta comemoração, o Senhor torna-Se presente com a Sua substância [Denz. 459]. Neste tipo de linguagem já não existe a noção de que a Eucaristia não é uma questão biologica mas sim espiritual. Por outras palavras, a Eucaristia que corporiza o Cristo histórico, mas o Cristo ressuscitado, como diz o evangelho de São João: “Isto escandaliza-vos? E se virdes o filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é quem dá vida, a carne não serve para nada. Ora, as palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63). 
No século XV, o Concílio de Constança diz que sob o véu do pão e do vinho, está o próprio Jesus que sofreu na cruz e está sentado à direita do Pai [Denz. 666].

Por seu lado, o Concílio de Florença afirma que, em cada pedacinho da hóstia consagrada, bem como em cada gota do vinho, está Cristo inteiro [Denz. 698].


Não acredito que seja importante discutir a transubstanciação a esta altura da história. São mais de mil anos repetindo a fórmula e colocando na mente do povo essa verdadeira imagem arquetípica.
 

Mesmo que não houvesse transubstanciação, Jesus ama tanto o seu povo que Ele se faz presente nas espécies consagradas, mesmo que esta não tenha sido a sua ideia original. O seu amor é tanto que ele passou a estar presente em cada celebração, para não desapontar o seus fiéis e para ter mais essa oportunidade concreta de amá-los.


A leitura sacrificial da Eucaristia representa um retorno ao culto sacrificial do Antigo Testamento. Esta interpretação sacrificial da Eucaristia é fruto da sacerdotização do ministério.
Como sacerdotes, os ministros da Eucaristia estão dotados de um poder que os capacita para fazerem este sacrifício cultual.Como consequência desta leitura, a presença dos fiéis não é fundamental. Em rigor, o padre pode realizar este culto sacrificial sozinho.
No sacrifício da missa Jesus Cristo oferece-se todos os dias como vítima de propiciação a Deus, a fim de o aplacar e obter o perdão dos pecados, tanto para os vivos como para os mortos
Trata-se, portanto, de um sacrifício propiciatório, a fim de tornar Deus benévolo aos homens.
Esta linguagem do Concílio de Trento contraria a linguagem do Novo Testamento. 

A Carta aos Hebreus diz expressamente que os
crentes da Nova Aliança já não têm necessidade de oferecer sacrifícios pelos pecados(Heb,10-18)
Além disso, afirma que Cristo não entrou no santuário definitivo, isto é, no Céu, para se oferecer muitas vezes:“Cristo não entrou num santuário feito por mão do homem, o qual é apenas figura do verdadeiro. Ele entrou no próprio céu, para Se apresentar agora diante de Deus por nós.E não entrou para se oferecer muitas vezes a si mesmo, como o sumo-sacerdote entra, cada ano, no santuário com sangue alheio. Nesse caso, ser-lhe-ia necessário padecer muitas vezes desde o início do mundo” (Heb 9, 24-26).
São Paulo defende esta mesma perspectiva. Cristo ressuscitado já não morre mais, diz ele.Quanto ao morrer pelo pecado, ele morreu apenas uma vez. Agora,a Sua vida é uma vida com e para Deus (Rm 6, 9).
Temos de dizer que a perspectiva teológica da Eucaristia como sacrifício se desvia da visão do Novo Testamento.

A teologia tradicional fez da Eucaristia um sacrifício para justificar o ministério como sacerdócio.
No século XII Inocêncio III diz que o sacrifício da missa só pode ser oferecido pelo presbítero ordenado pelo bispo [Denz. 424].
Só o presbítero é sacerdote. Portanto, só ele pode oferecer o sacrifício do altar.Além disso, o Concílio de Trento diz que, na última ceia, Cristo instituiu o sacrifício da missa.Citando a Carta aos Hebreus, Trento diz que o sacerdócio levítico foi insuficiente. Por isso, Deus anunciou um outro sacerdócio segundo a ordem de Melquisedec (cf. Gen 14, 18; Sl 110, 4; Heb 7, 11).
Este sacerdote foi Cristo, diz o Concílio. No entanto, para que não se extinguisse com a sua morte, constituiu, na última ceia, os apóstolos como sacerdotes (Denz. 938).  

É curioso que:
 A 
argumentação do Concílio de Trento vai no sentido contrário ao da Carta aos Hebreus.
Esta diz que, enquanto esteve na terra, Cristo nem sequer tinha funções sacerdotais.
Já existiam os sacerdotes levitas que exerciam essas funções segundo a Lei (Heb 8, 4).
Cristo foi constituído sumo-sacerdote pela ressurreição (Heb 7, 
).
Ele não precisa de substitutos, pois está eternamente junto de Deus como único medianeiro entre Deus e os homens (1Tim 2,5)

Jesus Cristo, continua a Carta aos Hebreus, não pertencia à tribo sacerdotal, isto é, à tribo de Levi.Pelo contrário, ele pertencia à tribo de Judá.
Ora, como sabemos, os membros desta tribo não tinham funções cultuais (Heb 7, 13-14).Mas, pela sua ressurreição, Cristo foi constituído sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec e não segundo a ordem de Aarão (Heb 7, 11).Mudado o sacerdócio, devia mudar-se também a lei e as normas (Heb 7, 12).
Esta mudança consistiu em abolir os sacrifícios, os quais foram superados pela morte e ressurreição de Cristo (Heb 10, 5-10)
.

Deste modo, Cristo estabeleceu o novo culto que é fazer a vontade de Deus (Heb 10, 8-9).

Este novo culto não consiste em oferecer vítimas a Deus para o aplacar e obter o perdão do pecado, mas é um culto em Espírito e Verdade, diz o evangelho de São João (Jo 4, 22-23).
A primeira carta de São Pedro diz que a comunidade é o templo da Nova Aliança.

O  sacramento dos altares é também a vitima oferecida para aplacar um Deus, que Jesus apresentou como Pai amoroso. 

Mas um Deus Pai amoroso precisa ser aplacado?

Diante disto, como fica a festa do Corpo de Deus ?



Quando Deus criou o homem, Ele disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Gn: 1,26

 Então se o homem tem uma forma 
ela é uma réplica daquela que lhe serviu de modelo

O corpo de Deus !.

Quando nos referimos ao Corpo de Deus,
normalmente pensamos na Sagrada Eucaristia.

Mas será que o corpo do Deus vivo
está somente na Eucaristia sobre o altar? 
.
Lembro-me de uma música, cuja letra é bem oportuna:
.
"TU NÃO HABITAS EM TENDAS,
NEM EM TEMPLOS FEITOS POR MÃOS.
ETERNO, PERFEITO, PRINCÍPIO E FIM,
ACIMA DAS RELIGIÕES.
NÃO HÁ NADA NO CÉU,
NA TERRA OU NO MAR,
SEMELHANTE A TI, SENHOR.
TUA IMAGEM ESTÁ, REVELADA EM NÓS
EXPRESSÃO DO TEU AMOR
INCOMPARÁVEL,
SENHOR TU ÉS
MINH'ALMA ESTÁ APEGADA A TI,
SENHOR INCOMPARÁVEL ÉS. "
.


Sendo assim como será que anda
este corpo de Deus revelado em nós ?



Como podemos permitir que esta seja
a imagem e semelhança de nosso Deus?
.
.
 Se onde há amor e caridade, Deus aí está,
porque que andamos espantando Deus ?
.
.
"Em verdade eu vos declaro:
todas as vezes que fizestes isto
a um destes meus irmãos mais pequeninos,
foi a mim mesmo que o fizestes"
Mt 25,40


Que mãos seriam dignas de tocar 
este corpo de Deus?


.


Mãos feridas e imundas  de um cortador de cana? 







Estarão limpas as nossas mãos ?


Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados.


Teu nome é santificado
naqueles que morrem defendendo a vida,
Teu nome é glorificado,
quando a justiça é nossa medida
Teu reino é de liberdade,
de fraternidade, paz e comunhão
Maldita toda a violência
que devora a vida pela repressão.
Queremos fazer Tua vontade,
és o verdadeiro Deus libertador,
Não vamos seguir as doutrinas
corrompidas pelo poder opressor.
Pedimos-Te o pão da vida,
o pão da segurança,
o pão das multidões.
O pão que traz humanidade,
que constrói o homem em vez de canhões
Perdoa-nos quando por medo
ficamos calados diante da morte,
Perdoa e destrói os reinos
em que a corrupção é mais forte.
Protege-nos da crueldade,
do esquadrão da morte,
dos prevalecidos
Pai nosso revolucionário,
parceiro dos pobres,
Deus dos oprimidos
Pai nosso, revolucionário,
parceiro dos pobres,
Deus dos oprimidos.

Pai nosso,
dos pobres marginalizados
Pai nosso,
dos mártires, dos torturados.


   De que forma devemos então 
comemorar esse   Corpus Christi  ?